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terça-feira, 29 de maio de 2012

Carta a Mirella ou – faça como Severino de Aracaju: “Vou, mas levo tudo comigo”

* Por Fábio Sena
Mirella, você tornou-se o símbolo maior da degradação humana. De repente, da noite para o dia, foi transformada na besta-fera-mor do jornalismo baiano: tripudiada, achincalhada, perseguida, moralmente incinerada, violentamente excomungada, impiedosamente defenestrada. Sobre ti pesam as mais cruéis acusações; contra ti, os mais impublicáveis xingamentos; para ti, as mais sofisticadas manifestações de desamor, de injúria, de indignação. Li e ouvi a seu respeito coisas que fariam o próprio Satã subir das Profundezas das Trevas e clamar por Justiça, por comiseração. Como se diz na gíria por aqui: aplicaram o terror em você, não foi?
Merecido? Para ser honesto, sim. Merecidíssimo, Mirella. Vai parecer paradoxal, mas sua performance vulgar naquele programa de terceira me remeteu ao velho Vinicius: “Você abusou da regra três, onde menos vale mais”. Lembra? Vi e revi várias vezes, no Youtube, a comédia pastelão que você protagonizou. Fiquei a me indagar sobre que sentimentos funestos te conduziram àquele papelão vexaminoso? Que complexo (de superioridade?) te guiou ao auge da bestialidade para inscrever-se na história do jornalismo como aquela que tentou assassinar a ética? Você, simplesmente, extrapolou os limites do razoável, entende? Como vou dizer… você “pulou o corguin”.
Aquele rapaz, o Paulo Sérgio, antes de sua aparição, era apenas um suspeito; você o tirou dessa condição confortável para condená-lo, sumariamente. Você o submeteu a uma humilhante condenação pública e o envergonhou frente aos seus telespectadores – tudo para assegurar a famigerada audiência, não foi, Mirella? Tudo para ver seu nome correr Bahia afora e brilhar como a “repórter porreta” que enfrenta ladrão – uma glória estúpida, mas em todo caso… glória é glória.


Mas me diga, honestamente, Mirella, olhando agora à distância, assistindo-se no Youtube – onde você está bombando –: quem lhe parece mais marginal? O Paulo Sérgio, que não teve instrução, que foi criado nas ruas, que não teve carinho, ou você, que teve acesso à educação formal, que se sentou nos bancos da Faculdade de Comunicação e que, em casa, teve direito a chocolate e leite quente? Me diga mais: o Paulo Sérgio foi ou não educado com você? Foi ou não de uma extraordinária elegância, foi ou não sofisticado no trato? Digo isto porque eu, no lugar dele, teria dito coisas que você só esqueceria dezoito encarnações à frente. Coisas bastante desagradáveis.

Pode até não parecer, mas a verdade é que estou lhe dizendo todas essas coisas aparentemente duras apenas para lhe acalentar. Quero dizer que você não está só, Mirella. Gente da tua iguala povoa todo o jornalismo baiano e brasileiro. Aquelas cenas que você protagonizou se assemelham em tudo a muitas outras que se vê, por exemplo, no Se Liga, Bocão – para ficar apenas nesse exemplo funéreo. Pergunte aos seus desafetos, que te alfinetam no facebook: “Vocês não vêem, não assistem. Só prestaram atenção em mim?”.
Fiquei sabendo que houve representação contra sua pessoa. Pois eu, se fosse você, deixaria o Ministério Público Federal em polvorosa. Sabe o que eu faria, Mirella? Reuniria milhares de cenas em tudo semelhantes àquela que você protagonizou e faria um extraordinário acervo, exporia tudo no Youtube, mostrando que a lama é geral, que há muito mais podridão no Reino da Dinamarca. Eu, sendo você, acossada como está na garganta do diabo, me empenharia em reunir vídeos que mostram outros tantos suspeitos serem condenados e humilhados por colegas seus de profissão, sob o olhar beneplácito dos delegados, dos policiais, da Secretaria de Segurança Pública, do Governo estadual.
Não esqueça, em sua defesa, Mirella, de dizer que há por trás de cada repórter um programa, que há uma emissora de televisão, uma concessão pública cujo papel deveria ser promover o ser humano. Ao MPF, diga que você errou, mas que centenas de outros erraram antes de ti. Que a chacina, não foi você quem começou – e que não terá fim com a sua chacina pessoal. Lembre que você teve escola. A Band lhe foi ingrata, não, Mirella? Te jogou aos leões famintos da opinião pública com uma nota condenatória, isentando-se de todo o mal.
Não deixe que te peguem para Cristo, Mirella. Faça como Severino de Aracaju, do Auto da Compadecida. Brade em alto e bom som: “Vou, mas levo todo mundo comigo”.

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