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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

David Harvey: importância da imaginação pós-capitalista

O capital enfrenta essa pergunta,
 “trabalha-se pelo lado da oferta ou pelo lado da demanda?”


Como entender os fundamentos desse sistema agora em crise? Poucos pensadores geraram respostas mais influentes para essas perguntas que o geógrafo marxista David Harvey

Mês que vem completam-se cinco anos que Lehman Brothers foram protagonistas do maior caso de falência de banco na história dos EUA. O colapso sinalizou o início da Grande Depressão – a crise mais substancial do capitalismo mundial desde a 2ª Guerra Mundial. Como entender os fundamentos desse sistema agora em crise? E, com o sistema em guerra contra a classe trabalhadora, sob o disfarce da ‘austeridade, como imaginar um mundo depois disso?


Poucos pensadores geraram respostas mais influentes para essas perguntas que o geógrafo marxista David Harvey. Aqui, em entrevista recente, ele fala a Ronan Burtenshaw e Aubrey Robinson sobre esses problemas.

Red Pepper: Você está trabalhando agora num novo livro, The Seventeen Contradictions of Capitalism [As 17 contradições do capitalismo]. Por que focar essas contradições?

David Harvey: A análise do capitalismo sugere que são contradições significativas e fundamentais. Periodicamente essas contradições saem de controle e geram uma crise. Acabamos de passar por uma crise e acho importante perguntar que contradições nos levaram à crise? Como podemos analisar a crise em termos de contradições? Um dos grandes ditos de Marx foi que uma crise é sempre resultado das contradições subjacentes. Portanto, temos de lidar com elas próprias, não com os resultados delas.

Red Pepper: Uma das contradições a que você se dedica é a que há entre o valor de uso e o valor de troca de uma mercadoria. Por que essa contradição é tão fundamental para o capitalismo e por que você usa a moradia para ilustrá-la?

David Harvey: Temos de começar por entender que todas as mercadorias têm um valor de uso e um valor de troca. Se tenho um bife, o valor de uso é que posso comê-lo, e o valor de troca é quanto tenho de pagar para comê-lo.

A moradia é muito interessante, nesse sentido, porque se pode entender como valor de uso que ela garante abrigo, privacidade, um mundo de relações afetivas entre pessoas, uma lista enorme de coisas para as quais usamos a casa. Houve tempo em que cada um construía a própria casa e a casa não tinha valor de troca. Depois, do século 18 em diante, aparece a construção de casas para especulação – construíam-se sobrados georgianos [reinado do rei George, na Inglaterra] para serem vendidos. E as casas passaram a ser valores de troca para consumidores, como poupança. Se compro uma casa e pago a hipoteca, acabo proprietário da casa. Tenho, pois, um bem, um patrimônio. Assim se gera uma política curiosa – “não no meu quintal”, “não quero ter gente na porta ao lado que não se pareça comigo”. E começa a segregação nos mercados imobiliários, porque as pessoas querem proteger o valor de troca dos seus bens.

Então, há cerca de 30 anos, as pessoas começaram a usar a moradia como forma de obter ganhos de especulação. Você podia comprar uma casa e “passar adiante” – compra uma casa por £200 mil, depois de um ano consegue £250 mil por ela. Você ganha £50 mil, por que não? O valor de troca passou a ser dominante. E assim se chega ao boom especulativo. Em 2000, depois do colapso dos mercados globais de ações, o excesso de capital passou a fluir para a moradia. É um tipo interessante de mercado. Você compra uma casa, o preço da moradia sobe você diz “os preços das casas estão subindo, tenho de comprar uma casa”, mas outro compra antes de você. Gera-se uma bolha imobiliária. As pessoas ficam presas na bolha e a bolha explode. Então, de repente, muitas pessoas descobrem que já não podem usufruir do valor de uso da moradia, porque o sistema do valor de troca destruiu o valor de uso.

E surge a pergunta: é boa ideia permitir que o valor de uso da moradia, que é crucial para o povo, seja comandado por um sistema louco de valor de troca? O problema não surge só na moradia, mas em coisas como educação e atenção à saúde. Em vários desses campos, liberamos a dinâmica do valor de troca, sob a teoria de que ele garantirá o valor de uso, mas o que se vê frequentemente, é que ele faz explodir o valor de uso e as pessoas acabam sem receber boa atenção à saúde, boa educação e boa moradia. Por isso me parece tão importante prestar atenção à diferença entre valor de uso e valor de troca.

Red Pepper: Outra contradição que você comenta envolve um processo de alternar, ao longo do tempo, entre a ênfase na oferta, na produção, e ênfase na demanda, pelo consumo, que se vê no capitalismo. Pode falar sobre como esse processo apareceu no século 20 e por que é tão importante?

David Harvey: Uma grande questão é manter uma demanda adequada de mercado, de modo que seja possível absorver seja o que for que o capital esteja produzindo. Outra é criar as condições sob as quais o capital possa produzir com lucros.

Essas condições de produção lucrativa quase sempre significam suprimir a força de trabalho. Na medida em que se reduzem salários – pagando salários cada vez menores –, as taxas de lucro sobem. Portanto, do lado da produção, quanto mais arrochados os salários, melhor. Os lucros aumentam. Mas surge o problema: quem comprará o que é produzido? Com o trabalho arrochado, onde fica o mercado? Se o arrocho é excessivo, sobrevém uma crise, porque deixa de haver demanda suficiente que absorva o produto.

A certa altura, a interpretação generalizada dizia que o problema, na crise dos anos 1930s foi falta de demanda. Houve então uma mudança na direção de investimentos conduzidos pelo Estado, para construir novas estradas, o WPA [serviços públicos, sob o New Deal] e tudo aquilo. Diziam que “revitalizaremos a economia com demanda financiada por dívidas” e, ao fazer isso, viraram-se para a teoria Keynesiana. Saiu-se dos anos 1930s com uma nova e forte capacidade para gerenciar a demanda, com o Estado muito envolvido na economia. Resultado disso, houve fortes taxas de crescimento, mas as fortes taxas de crescimento vieram acompanhadas de maior poder para os trabalhadores, com salários crescentes e sindicatos fortes.

Sindicatos fortes e altos salários significam que as taxas de lucro começam a cair. O capital entra em crise, porque não está reprimindo suficientemente os trabalhadores. E o “automático” do sistema dá o alarme. Nos anos 1970s, voltaram-se na direção de Milton Friedman e da Escola de Chicago. Passou a ser dominante na teoria econômica, e as pessoas começaram a observar a ponta da oferta – sobretudo os salários. E veio o arrocho dos salários, que começou nos anos 1970s. Ronald Reagan ataca os controladores de tráfego aéreo; Margaret Thatcher caça os mineiros; Pinochet assassina militantes da esquerda. O trabalho é atacado por todos os lados – e a taxa de lucros sobe. Quando se chega aos anos 1980s, a taxa de lucro dá um salto, porque os salários estão sendo arrochados e o capital está se dando muito bem. Mas surge o problema: a quem vender aquela coisa toda que está sendo produzida.

Nos anos 1990s tudo isso foi recoberto pela economia do endividamento. Começaram a encorajar as pessoas a tomarem empréstimos – começou uma economia de cartão de crédito e uma economia de moradia pesadamente financiada por hipotecas. Assim se mascarou o fato de que, na realidade, não havia demanda alguma. Em 2007-8, esse arranjo também desmoronou.

Minha ideia, para um mundo anticapitalista, é que é preciso unificar tudo isso. Temos de voltar ao valor de uso. De que valores de uso as pessoas precisam e como organizar a produção de tal modo que satisfaça à demanda por aqueles valores de uso? Hoje, tudo indica que estamos em crise pelo lado da oferta. Mas a austeridade é tentativa de encontrar solução pelo lado da demanda. Como resolver isso?

É preciso diferenciar entre os interesses do capitalismo como um todo e o que é interesse especificamente da classe capitalista, ou de uma parte dela. Durante essa crise, a classe capitalista deu-se muitíssimo bem. Alguns saíram queimados, mas a maior parte saiu-se extremamente bem. Segundo estudo recente, nos países da OCDE a desigualdade econômica cresceu significativamente desde o início da crise, o que significa que os benefícios da crise concentraram-se nas classes mais ricas. Em outras palavras, os ricos não querem sair da crise, porque a crise lhes traz muitos lucros.

A população como um todo está sofrendo, o capitalismo como um todo não está saudável, mas a classe capitalista – sobretudo uma oligarquia que há ali – está muito bem. Há várias situações nas quais capitalistas individuais operando conforme os interesses de sua classe, podem de fato fazer coisas que agridem muito gravemente todo o sistema capitalista. Minha opinião é que, hoje, estamos vivendo uma dessas situações.

Red Pepper: Você tem repetido várias vezes, recentemente, que uma das coisas que a esquerda deveria estar fazendo é usar nossa imaginação pós-capitalista, e começar por perguntar como, afinal, será um mundo pós-capitalista. Por que isso lhe parece tão importante? E, em sua opinião, como, afinal, será um mundo pós-capitalista?

David Harvey: É importante, porque há muito tempo trombeteia-se nos nossos ouvidos que não há alternativa. Uma das primeiras coisas que temos de fazer é pensar a alternativa, para começar a andar na direção de criá-la.

A esquerda tornou-se tão cúmplice com o neoliberalismo, que já não se vê diferença entre os partidos políticos da esquerda e os da direita, se não em questões nacionais ou sociais. Na economia política não há grande diferença. Temos de encontrar uma economia política alternativa ao modo como funciona o capitalismo. E temos alguns princípios. Por isso as contradições são interessantes. Examina-se cada uma delas, por exemplo, a contradição entre valor de uso e valor de troca e se diz – “o mundo alternativo é mundo no qual se fornecem valores de uso”. Assim podemos nos concentrar nos valores de uso e tentar reduzir o papel dos valores de troca.

Ou, na questão monetária – claro que precisamos de dinheiro para que as mercadorias circulem. Mas o problema do dinheiro é que pessoas privadas podem apropriar-se dele. O dinheiro torna-se uma modalidade de poder pessoal e, em seguida, um desejo-fetiche. As pessoas mobilizam a vida na procura por esse dinheiro, até quem não sabe que o faz. Então, temos de mudar o sistema monetário – ou se taxam todas as mais-valias que as pessoas comecem a obter ou criamos um sistema monetário no qual a moeda se dissolve e não pode ser entesourada, como o sistema de milhagem aérea.

Mas para fazer isso, é preciso superar a dicotomia estado / propriedade privada, e propor um regime de propriedade comum. E, num dado momento, é preciso gerar uma renda básica para o povo, porque se você tem uma forma de dinheiro antipoupança é preciso dar garantia às pessoas. Você tem de dizer “você não precisa poupar para os dias de chuva, porque você sempre receberá essa renda básica, não importa o que aconteça”. É preciso dar segurança às pessoas desse modo, não por economias privadas, pessoais.

Mudando cada uma dessas coisas contraditórias chega-se a um tipo diferente de sociedade, que é muito mais racional que a que temos hoje. Hoje, o que acontece é que produzimos e, em seguida, tentamos persuadir os consumidores a consumir o que foi produzido, queiram ou não e precisem ou não do que é produzido. Em vez disso, temos de descobrir quais os desejos e vontades básicas das pessoas e mobilizar o sistema de produção para produzir aquilo. Se se elimina a dinâmica do valor de troca, é possível reorganizar todo o sistema de outro modo. Pode-se imaginar a direção na qual se moverá uma alternativa socialista, se nos afastamos da forma dominante da acumulação de capital que hoje comanda tudo.

Tags: capitalismo, Consumismo, David Harvey, entrevista com David Harvey, Escola de Chicago, marxismo, Milton Friedman, OCDE, pós-capitalismo

Entenda por que médicos cubanos não são escravos

Programa Mais Médicos foi uma iniciativa
do ministro da Saúde José Padilha
 (Foto: Agência Brasil)



Especialista em estudos cubanos, o jornalista Hélio Doyle explica por que a remuneração dos profissionais de saúde de Cuba é paga diretamente ao governo de Raúl Castro



Parece que o último argumento contra a contratação dos médicos cubanos é a remuneração que vão receber. Pois é ridículo, quando prevalecem fatos, indicadores internacionais e números, falar mal do sistema de saúde e da qualidade dos médicos de Cuba. A revalidação de diploma também não é argumento, pois os médicos estrangeiros trabalharão em atividades definidas e por tempo determinado, nos termos do programa do governo federal.
Não tem o menor sentido, também, dizer que os cubanos não se entenderão com os brasileiros por causa da língua – primeiro, porque vários deles falam o português e o portunhol, segundo porque os médicos cubanos estão acostumados a trabalhar em países em que a lingua falada é o inglês, o francês, o português e dialetos africanos, e nunca isso foi entrave.

Resta, assim, a forma de contratação e, mais uma vez sem medo do ridículo, falam até de trabalho escravo. Essa restrição também não tem procedência, nem por argumentos morais ou éticos (e em boa parte hipócritas), nem com base na legislação brasileira e internacional. Vamos a duas situações hipotéticas, embora ocorram rotineiramente.

1 – Uma empreiteira brasileira é contratada por um governo de país europeu para uma obra. Essa empreiteira vai receber euros por esse trabalho e levar àquele país, por tempo determinado, alguns engenheiros, geólogos, operários especializados e funcionários administrativos, todos eles empregados na empreiteira no Brasil. Encerrado o contrato no país europeu, todos voltarão ao Brasil com seus empregos assegurados. Quem vai definir a remuneração desses empregados da empreiteira e pagá-los, ela ou o governo do país europeu? É óbvio que é a empreiteira.

2 – Os governos do Brasil e de um país africano assinam um acordo para que uma empresa estatal brasileira envie profissionais de seu quadro àquele país para dar assistência técnica a pequenos agricultores. O governo brasileiro será remunerado em dólares pelo governo africano. A estatal brasileira designará alguns de seus funcionários para residir e trabalhar temporariamente no país africano. Quem vai definir a remuneração dos servidores da empresa estatal brasileira e lhes fará o pagamento, a estatal brasileira ou o governo do país africano? É óbvio que é a empresa estatal brasileira.

Por que, então, tem de ser diferente com os médicos cubanos? Eles não estão vindo para o Brasil como pessoas físicas, nem estão desempregados. São servidores públicos do governo de Cuba, trabalham para o Estado e por ele são remunerados. Quando termina a missão no Brasil (ou em qualquer outros dos mais de 60 países em que trabalham), voltam para Cuba e para seus empregos públicos.

Não teria o menor sentido, assim, que esses médicos, formados em Cuba e servidores públicos cubanos, fossem cedidos pelo governo de Cuba para trabalhar no Brasil como se fossem pessoas físicas sendo contratadas. Para isso, eles teriam de deixar seus postos no governo de Cuba. Como não faria sentido que os empregados da empreiteira contratada na Europa ou da estatal contratada na África assinassem contratos e fossem remunerados diretamente pelos governos desses países.  Trata-se de uma prestação de serviços por parte de Cuba, feita, como é natural, por profissionais dos quadros de saúde daquele país.

A outra crítica é quanto à remuneração dos médicos cubanos. Embora menor do que a que receberão os brasileiros e estrangeiros contratados como pessoas físicas, está dentro dos padrões de Cuba e não discrepa substancialmente do que recebem seus colegas que trabalham no arquipélago. É mais, mas não muito mais. Não tem o menor sentido, na realidade cubana, que um médico de seus serviços de saúde, trabalhando em outro país, receba R$ 10 mil mensais. E, embora os críticos não aceitem, há em Cuba uma clara aceitação, pela população, de que os recursos obtidos pela exportação de bens e serviços (entre os quais o turismo e os serviços de educação e saúde) sejam revertidos a todos, e não a uma minoria. O que Cuba ganha com suas exportações de bens e serviços, depois de pagar aos trabalhadores envolvidos, não vai para pessoas físicas, vai para o Estado.

A possibilidade de ganhar bem mais é que faz com que alguns médicos cubanos prefiram deixar Cuba e trabalhar em outros países como pessoas físicas. É normal que isso aconteça, em Cuba ou em qualquer país (não estamos recebendo portugueses e espanhóis?) e em qualquer atividade (quantos latino-americanos buscam emigrar para países mais desenvolvidos?). Como é normal que muitos dos médicos cubanos aprovem o sistema socialista em que vivem e se disponham a cumprir as “missões internacionalistas” em qualquer parte do mundo, independentemente de qual é o salário. Para eles, a medicina se caracteriza pelo humanismo e pela solidariedade, e não pelo lucro.

É difícil entender isso pelos que aceitam passivamente, aprovam ou se beneficiam da privatização e da mercantilização da medicina e da assistência à saúde no Brasil. 

* Autor de uma série de artigos sobre a vinda dos médicos cubanos, reunidos no 247 sob o título “O que você precisa saber sobre médicos cubanos”(leia mais aqui), o jornalista Hélio Doyle publicou neste domingo uma resposta clara aos jornalistas e críticos do programa Mais Médicos que apontam escravidão na vinda de profissionais de saúde daquele país.
sábado, 24 de agosto de 2013

Palco Alternativo: Carisma de Paulo Alabart encanta público do Forró Universitário.

Foto: Herberson de Sonkha
Cantor Paulo Alabert, Palco Altrenativo do Barracão Universitário da FAINOR

* Por Herberson de Sonkha

O Festival de Inverno, produto da Rede Bahia vem crescendo a cada ano e se consolidando no cenário de produção cultural do país. A Rede Bahia, patrocinadores e seus parceiros ao desenvolverem o bem sucedido projeto voltado para o mercado musical o fizeram num formato diferenciado de festival. Esta marca sólida de entretenimento possui a qualidade, a logística e a tecnologia da Rede Bahia e de empresas que atuam no mercado. Uma combinação necessária para atrair investimentos de setores da economia que investem alto e a aceitação do público baiano e de outras regiões do país é inquestionável  Por isso que o Festival de Inverno tornou-se uma opção para quem pretende curtir grandes nomes da musica brasileira, além de poder se divertir em palcos alternativos de Rock, Axé, Eletrônica e Forró.

Foto: Herberson de Sonkha
Alabart comanda a festa no Palco Alternativo do Barracão Universitário FAINOR

Nesta edição a organização do Festival de Inverno buscou aprimorar estes espaços tornando os palcos alternativos um lugar agradável e bem caracterizado com o estilo, a exemplo do Barracão Universitário FAINOR, que já conta com a aceitação do público, não só dos universitários como de todas as pessoas que passaram por lá, justamente porque gostam deste estilo dançante.

O Festival de Inverno contou mais uma vez com o palco do Forró e nesta edição a organização do festival inovou no estilo e consolidou o espaço alternativo da FAINOR para tocar forró e sertanejo universitário. Mesmo com o festival acontecendo no palco principal com mega-atrações conhecidas nacional e internacionalmente como Paula Fernandes, Humberto Gessinger e Saulo o palco alternativo do forró mandou bem ao embalar seu público cativo que optou por forrofiar ao som de canções dançantes e namoráveis.

Foto: Herberson de Sonkha
Mesmo com a sensação térmica de 8º graus, Paulinho Alabart e Banda, subiram em grande estilo ao palco do Barracão Universitário da FAINOR para fazer sua primeira grande apresentação no Palco Alternativo do Festival de Inverno. O perfil carismático do cantor Alabart e o excelente desempenho musical da Banda fizeram o público reviver momentos inesquecíveis. O espaço foi ocupado totalmente e não faltou quem embalasse ao ritmo do forró até as cinco da madrugada e saiu com a vontade de permanecer mais, pois o show foi bem produzido, sonorização adequada, iluminação na medida e o cantor se apresentou muito bem não obstante ser bom de palco e manteve o público animado.

Alabart cantou e encantou a platéia com sua habilidade com a voz e afeição levando-o a interagir freneticamente com a platéia que cantou, dançou e enamorou casais num clima de muita festa ao cantar Fala Mansa, Estaka Zero e outras músicas inéditas do repertório musical soteropolitano de 2013 e outros sucesso antigos, aliás, as mais tocadas nas principais rádios de Salvador.

Palco Principal: O Festival de Inverno é uma turnê poética e inesquecível com grandes nomes da MPB.

Foto: Herberson de Sonkha
Humberto Gessinger, ex-Engenheiros do Hawaii



* Por Herberson de Sonkha

O Festival de Inverno é plural em sua proposta porque visa atender aos mais variados gêneros e gostos musicais do seu público. Do ultra-romantismo dos vários personagens expressos em cada figurino trocado de Paula Fernandes aos impetuosos repiques da percussão baiana ritmada na voz melodiosa de Saulo, passando pelo emblemático Humberto Gessinger com seu controvertido poncho gaucho e canções de pop rock, a música é inquestionavelmente sintomática. Portanto, lugar comum a todos estes tripulantes desta nave psicodélica que embarcaram para viveram emoções capazes de levá-los ao frenesi. 


Herberson de Sonkha
Legiões de fãs, admiradores ignotos, intelectuais críticos, artistas e profissionais liberais, colaboradores diretos e indiretos da organização do festival ocuparam toda extensão da arena do Parque de Exposições para prestigiar artistas de suas preferências, na abertura do FIB. O Festival de Inverno também conta com lançamentos de Paula Fernandes, Humberto Gessinger e Saulo que cantaram seus mais recentes trabalhos. Gessinger, por ter mais tempo de estrada fez um mix de antigas canções de sua autoria, quando ainda fazia parte dos Engenheiros do Hawaii, em nova versão que surpreendeu aos seus fãs nesta sua nova carreira solo, explorando a cultura dos pampas.

Foto: Herberson de Sonkha
Para quem foi ao festival para apreciar a música, tomar alguma coisa, conhecer gente bonita e dançar, alguns pulavam de alegria, a noite de sexta (23) foi perfeita. Houve até quem observasse copiosamente a aparência extravagante com que os conquistenses se vestem. O rigoroso frio neste período dispensa maiores explicações quanto ao nome do festival, no entanto exige mais calor humano para deixar a cidade sorridente porquanto seu calor vem da convivência romanesca, portanto pronta para receber seus mais ilustres visitantes de braços abertos.

Foto: Herberson de Sonkha
Se a música aquece a alma, inexoravelmente o Festival de Inverno é o ambiente oportuno para quebrar o gelo. Cada apresentação é única e cria seu próprio momento de intensa agitação, que faz com que as pessoas possam vivenciar instantes mágicos e inesquecíveis. Os nômades desta nave louca nunca ficam sozinhos porque a música lhes faz companhia e afaga os sentimentos enrubescidos com tanto ardor que aflora a volição do aconchego da outra pessoa, mesmo que seja infinito enquanto dure um olhar, um aperto de mão, um abraço, um beijo, ou quiçá por longos anos de sua vida.
sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O PT PRECISA MUDAR

Quarta-feira dia 03/06/2013.
Plenária da militância petista no auditório do Sindicato dos Bancários.
Articulação de esquerda, tendência interna do PT.






1. Nas últimas semanas, as ruas de todo o País foram ocupadas por milhões de jovens brasileiros/as indignados/as. As manifestações começaram em Porto Alegre, seguido de Goiânia e São Paulo, e depois tomando as grandes capitais brasileiras. Em um primeiro momento, as reivindicações eram bem definidas: pela revogação dos aumentos das tarifas do transporte público. Na medida em que os protestos foram ganhando força, surgiram pautas mais amplas, como o fim da corrupção e a melhoria dos serviços públicos, como educação e saúde.  


2. Ainda que não fosse muito esperada por alguns, essa novidade no cenário político é conseqüência em grande parte pelas mudanças geracionais e sociologicas que ocorreram no país. Nos últimos anos, aumentou a renda e diminuiu a pobreza, aumentou o poder de consumo e diminuíram os juros, aumentou o emprego e diminuiu a informalidade no mercado de trabalho. Mas, ao mesmo tempo, a cultura politica e o pensamento de esquerda não acompanharam essas mudanças. O conservadorismo cresceu e as novas gerações não viveram a era FHC para compreender os avanços dos 10 anos de governo do PT.  

3. Assim, pensar sobre as atuais manifestações é considerar que o Brasil mudou. E o PT deve considerar que essas manifestações também são fruto das melhorias nas condições de vida do povo, que os nossos governos promoveram, e que isso permitiu a muitos poderem sonhar e voltar a lutar pelos seus sonhos.  

4. De maneira distorcida, alguns setores do partido avaliaram essas manifestações como uma conspiração/tentativa de golpe da direita. Porém, milhares e depois milhoes de pessoas nas ruas poderiam ser tudo menos uma conspiração. Decorrente desse raciocínio muitos encararam as manifestações como reacionárias, ilegítimas, equivocadas e, acima de tudo, contra o PT e o governo Dilma. Ledo engano, essa é a interpretação que os grandes meios de comunicação tentam dar aos fatos.  

5. Mas, aqueles e aquelas militantes do PT que foram às ruas, observavam a indignação da juventude, que exige mais serviços públicos - e não emprego e renda como a 12 anos atras eram as principais reivindicações da população. Só que pedir mais serviços públicos e com qualidade é também pedir mais Estado, algo historicamente pautado pela Esquerda. 

6. O que se pode afirmar é que os atos e mobilizações estão sendo disputados nos seus sentidos ideológico, cultural e político, por diferentes e divergentes setores da sociedade. Sabemos que conclusões, neste momento, são precipitadas, mas mesmo desconhecendo o curso final desta nova situação política, ela se apresenta ao Partido dos Trabalhadores como uma possibilidade de aprofundamento  das mudanças que iniciamos no país. Povo protestando é bom. Juventude discutindo politica é melhor ainda. E governo sendo pressionado pelas ruas e não pelo fisiológico parlamentar foi o que sempre quisemos.  

7. Nesse sentido, reafirmamos que o projeto do PT não deve buscar apenas administrar o Estado, deve sim transformar o Estado. O PT não deve se contentar apenas com a superação do neoliberalismo, mas continuar acumulando forças para a superação do capitalismo. É preciso mostrar de que lado estamos para nos diferenciar daqueles que defendem mais mercado como solução. Por isso, precisamos aprofundar e acelerar as mudanças. 


8. Mas, para efetivar esses objetivos o PT precisa mudar. A estratégia que nos levou ao governo federal não é mais suficiente para seguir mudando o PT precisa de uma outra estratégia. A forma de funcionamento do PT também é insuficiente, e as ruas nos mostraram uma rejeição que revela os limites atuais do partido, para seguir mudando o PT precisa de uma reforma politica interna, um novo modelo de funcionamento. E o PT precisa de uma tática pra 2014 que não apenas viabilize a vitoria, mas que também crie as condições de um segundo mandato Dilma superior ao primeiro. 

9. O atual momento é mais que oportuno para aprofundarmos às mudanças sociais, apesar das investidas feitas pela grande mídia nos últimos dias. É hora de o PT ajudar a ocupar as ruas. Fazer o enfrentamento necessário ao conservadorismo, romper com as alianças que confundem o povo sobre o lado das nossas lutas e, principalmente, ampliar a democracia real com a implementação das reformas estruturais, tão necessárias para mudar as desigualdades do nosso país, quanto para responder as vozes das ruas.



Que as manifestações não sejam passageiras e que os ventos das ruas reciclem o PT!

Mídia Ninja e Fora do Eixo: uma polêmica necessária

A entrevista de Pablo Capilé e Bruno Torturra para o Roda Viva





Primeiramente vou tentar fazer uma breve explicação sobre o que são os dois, já que ninguém é obrigado a saber tudo de antemão. 

O Fora do Eixo é uma rede de trabalhos criada por produtores culturais que estimulam a circulação de artistas e produtores, o intercâmbio de tecnologia de produção e o escoamento de produtos.

A Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) é um coletivo de jornalismo em rede que produz e distribui conteúdo de forma independente e dentro dos acontecimentos, sendo especializado na cobertura de mobilizações sociais.


Desde a criação destes coletivos eles estiveram rodeados de polêmicas, seja com direitistas defensores dos grandes conglomerados de produção e distribuição cultural e midiática, seja com setores mais ortodoxos da esquerda.

As acusações da direita são previsíveis, já que defendem o status quo: um modelo de cultura e comunicação em que toda a linha de produção e distribuição é voltada para o lucro e a reprodução do sistema, com a alienação objetiva (econômica) e subjetiva (da consciência, dos sentidos) das pessoas.

O que me surpreende é a postura defensiva de setores da esquerda, que reage assustada a estas novidades de uma forma que não contribui para que construamos sínteses, novos caminhos para a cultura, para as comunicações e para a sociedade como um todo.

Estes setores da esquerda criticam uma série de questões relativas ao funcionamento político interno e financiamento econômico do Fora do Eixo. Sobre o funcionamento político interno me abstenho de falar por puro desconhecimento. Sobre o financiamento econômico as críticas são várias, as duas principais me parecem ser a dependência do Estado e das empresas e a distribuição dos recursos obtidos.

Sobre a dependência do Estado e das empresas nenhuma novidade, vivemos em um sistema capitalista e todo mundo precisa comer. Artistas e comunicadores não são seres sobrenaturais que sobrevivem sem os meios concretos para tal. 

Não é possível viver à margem do sistema, tampouco criar alternativas dentro deste. A única alternativa verdadeiramente radical pressupõe necessariamente a superação do próprio sistema capitalista.

Não podemos exigir dos nossos artistas e comunicadores que morram de fome enquanto esperamos uma revolução social.

Nada mais justo que, enquanto não ocorre esta revolução social, os referidos coletivos busquem meios de financiamento público e privado para se sustentar e a seus integrantes de maneira profissional. Sempre devendo tomar o cuidado de manter sua independência.

Outro elemento que vem sendo colocado é sobre a distribuição dos recursos obtidos, que seriam destinados à própria rede. Esse me parece o argumento mais estranho vindo de pessoas de esquerda, já que o que a esquerda mais fez ao longo da História foi utilizar o tempo, as habilidades, subjetividades e mesmo os recursos financeiros dos indivíduos para financiar suas organizações.

Ou seja, não há pecado algum na destinação voluntária dos seus associados dos recursos obtidos para a sustentação da organização.

Sobre a disputa de hegemonia que o Fora do Eixo estaria realizando nos atos, assembleias e organizações, também não vejo isso como algo a ser criticado. O posicionamento político, a organização coletiva, a disputa de opinião, de espaços e de corações e mentes são saudáveis e devem ser feitos publicamente.

Na política o Fora do Eixo tem sido um aliado importante em pautas como a discussão dos direitos autorais, o Marco Civil da Internet, a democratização das comunicações, dentre tantas outras, sempre com posturas avançadas. Neste ponto devemos utilizar como critério de avaliação aquela máxima da prática como critério da verdade.

Minha crítica é que para conseguir avançar mesmo nestas pautas setoriais é preciso ter e se organizar numa visão sistêmica, discutindo o modelo político, econômico e social de forma ampla e global. O Fora do Eixo, Mídia Ninja e congêneres precisam avançar neste aspecto.

O Fora do Eixo me parece ser, em resumo, uma cooperativa. Não é um modelo tão revolucionário, mas também não é uma ferramenta a serviço do neoliberalismo e da exploração da mais valia como colocam alguns ultra ortodoxos.

Ao colocar as pessoas para morarem juntas, viajar, produzir, se integrar, se formar nas técnicas e no debate político e se doarem a uma organização coletiva, ele representa uma experiência válida e que deve ser apoiada e com a qual podemos aprender muito.

Registro o avanço que é terem formado uma universidade livre, fora das estruturas da tradicional e medieval universidade existente, e que ao meu ver precisa ser, senão superada, pelo menos radicalmente transformada.

Nas últimas décadas a esquerda tem se afastado desta questão da produção e distribuição cultural e de comunicação e da sustentação dos indivíduos envolvidos.

Os partidos e movimentos sociais se focaram em discussões nas conferências de políticas públicas, nos órgãos estatais e setoriais partidários, ou então resumiam a cultura a uma cobertura estética dos espaços de debate, como os shows e culturais que preenchem as noites de encontros estudantis ou sindicais. Na comunicação muitas vezes se via (e se vê) os profissionais de comunicação destas organizações e eventos como meras ferramentas de transmissão de informação em mão única.

Para termos uma nova sociedade precisamos construir uma nova cultura e uma comunicação nova. O Fora do Eixo e a Mídia Ninja não surgem com todas as respostas e não me parece se proporem a isso. Eu possuo uma série de críticas teóricas e estéticas ao trabalho deles, discordo de uma série de opiniões que eles tem colocado, mas eu prefiro fazer esse diálogo com eles, considerando-os aliados e buscando sínteses, do que empurrá-los para o outro lado do rio e me fechar nas alternativas auto proclamatórias já existentes.

Nos isolarmos em nossos coletivos e teorias é confortável, mas não nos levará a lugar algum. Precisamos experimentar, arriscar e criar novos rumos. Por ver esse pessoal experimentando e debatendo que eu sou um simpatizante do Fora do Eixo e da Mídia Ninja.

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* Yuri Soares Franco, Historiador e professor formado pela Universidade de Brasília
Secretário-Executivo do Conselho de Juventude do Distrito Federal.
quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Diálogo com Ruy Medeiros

Florisvaldo Bitencourt, Ruy Hermann Medeiros, Mitã Chalfun (UNE), Alexandre Garcia Araújo (Xandó do LPJ)


Dirigentes de várias entidades do Movimento Estudantil realizaram nesta terça (20) na UFBA de Vitória da Conquista uma discussão sobre a Comissão da Verdade de Vitória da Conquista, com objetivo de dialogar sobre a Memória e a Verdade, na Comissão Especial que trata do resgate da memória dos mortos e desaparecidos políticos conquistenses. O DCE-UFBA, CA’s, Levante Popular da Juventude, Enegrecer, Kizomba, UEB e UNE e o Mandato do Vereador Florisvaldo Bittencourt participaram da atividade e fizeram intervenções sobre a Comissão Nacional da Verdade e o Direito à Memória, Verdade e Justiça.
Este diálogo contou com a presença do autor da Lei que institui a Comissão da Verdade, o Vereador Florisvaldo Bittencourt, militante filiado ao PT desde os anos 80, egresso dos grupos de base da igreja católica; o Dirigente do Movimento Levante Popular da Juventude, graduado em Direito pela UESB, Alexandre Garcia Araújo (Xandó), autor de uma belíssima peça de conclusão de curso com o tema “Luz, Câmara, Escracho! O Protagonismo e a ousadia da juventude na luta pelo Direito à Memória, Verdade e Justiça”, cujo orientador foi o Professor Ruy Medeiros; o estudante de Educação Física da UFRJ Mitã Chalfun, petista (DS e Movimento Kizomba) e atualmente Vice-Presidente da UNE; A Diretora de Combate ao Racismo da UNE, a estudante Marcela Santos e Rui Medeiros, escritor, professor e militante político de esquerda estudioso da obra marxiana, Mestre em Memória: Linguagem e Sociedade pela UESB, graduado em Direito pela Universidade Católica do Salvador (1971), especialização em “Novos Direitos e Direitos Emergentes” (UESB), Professor da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e membro do Museu Pedagógico da UESB e uma das vitimas da ditadura militar, torturado, tendo seus direitos suspensos, expulso na universidade.  

Apesar da força das palavras de ordem, “a UNE somos nó! Nossa força e nossa voz!” que ecoaram pelos quatros cantos do país no decorrer das lutas da UNE, hoje parece opaca e cheia de controvérsia, pois a entidade atravessa momentos de desgastes, no entanto, quem pensa que a institucionalidade transformou todas as entidades do Movimento Estudantil, inclusive a UNE, em correia de transmissão de governos, parece que há polêmicas nesta afirmativa. As falas de seus dirigentes demonstraram que ainda há muita disposição e pauta com ressonância das ruas no transcurso da luta política presente e futura, deste líquido século XXI.

Mesmo tendo passado todos esses anos gloriosos, há quem diga que a moderna União Nacional dos Estudantes ufana-se deste passado longínquo para escamotear sua tão questionada práxis política no presente. O olhar de quem a conheceu no calor da luta contra a ditadura, inexoravelmente faz um inflexão sobre a mesma com um olhar crítico e o debate colocado por dirigentes da UNE reflete isso se comparado com a historicidade e a práxis política do Professor Ruy Hermenn Medeiros, que destoa coerentemente da toada dos atuais dirigentes da UNE, sem, no entanto negar as lutas atuais desenvolvidas pela UNE.

A análise do Professor Ruy Medeiros nos fez zanzar pela história da UNE trazendo a luz a necessidade de que é preciso dar conta de uma nova entidade com tarefas estranhas e incoerentes com a trajetória política da mesma e, pasmem alertar quanto à fluidez na compreensão política do campo majoritário e com o silencio de quem se opõe na UNE. O debate está atual porque permanece consistente e insolúvel porquanto exista o sistema de exploração do pelo home, os problemas persistem e decorrem do capitalismo. Em relação a UNE por conta da opção conveniente dos descaminhos do Estado burguês mantido pela institucionalidade (governabilidade).

As contradições extrínsecas a democracia liberal burguesa, ao Estado Burguês, a correlação de forças entre o capital e trabalho, as suas imbricadas relações de classes sociais antagônicas, movimento do capital ainda estão presentes e devem ser além de compreendidas, combatidas programaticamente. Embora isso não seja percebido nem sentido por grande parte dos estudantes universitários brasileiros que não se sentem representados pela UNE e isso não é uma questão de ame-o ou deixe-o...

Neste sentido, a mesa e a plenária era ocupada por jovens, dentre todos os presentes, principalmente aqueles que tiveram acento à mesa, o mais árduo jovem era aquele eterno estudante de cabelos brancos cujas palavras pululavam vigorosas em função da contemporaneidade do tema, muitas vezes, subsumidos pela falta de apetrechamento teórico capaz de orientar a luta. Lá estava ele, o jovem intelectual conquistense Ruy Hermann Medeiros, cuja intervenção ainda traz consigo o contentamento na expressão da primavera nos dentes, de quem recebeu a honrosa tarefa de cortar com os dentes aguçados os arquétipos neoliberais dos guardiões da riqueza e entregar aos seus sucessores no transcurso das lutas sociais o “segredo” que traduz os tempos e apetrecha os explorados e alienados deslindando o caminho para a desalienação e o fim último da exploração do homem pelo homem.

Assim, uma primorosa aula de economia política do Professor Ruy Hermann Medeiros deu ao debate a riqueza necessária ao entendimento da realidade cruel dos militares e mais que isso, dos capitalistas para quem os milicos servem. Isso possibilitou se apropriou do materialismo histórico, da dialética e da economia política marxiana que propõe romper com a alienação que enseja o estranhamento ocasionado pelo mercado capitalista e sua tese reducionista da teoria clássica liberal ressignificada como neoliberalismo burguês, que transforma o ser em Homo Economicus, e arrasta a tudo e todos ao lixo do submundo do consumismo.

O falacioso Estado de Direito como garantia de igualdade de direitos limita-se apenas ao mundo jurídico formal e, portanto a igualdade das pessoas torna-se uma mera abstração retórica da formalidade, em detrimento de depauperamento material e intelectual dos trabalhadores no âmbito econômico, social e político. Aliás, constitui-se a prisão, alienação, da classe trabalhadora.

Portanto, esta comissão especial se propõe reabrir arquivos e reescrever a historia da memória e da verdade acerca dos homicídios e desaparecimento dos militantes políticos apontando seus algozes e é justamente por isso que não se encerra na luta pela garantia do Estado de Direitos. Não obstante, saber que a polícia e seu aparato militar estão a serviço das elites na defesa dos bens e do capital e neste jogo torna-se indispensáveis para abater a classe trabalhadora, estudantes e movimentos sociais diversos que fazem o enfrentamento ao capital.

O aparelho de Estado, as Forças Armadas e a Polícia Civil e Militar são ferramentas de coerção instituídas pela própria legislação liberal burguesa para manter a ordem capitalista e não seria diferente sua postura frente a qualquer ameaçada dos trabalhadores, estudantes, organizações de classe e Movimentos Sociais, inexoravelmente a ditadura é brutalmente estabelecida. Não há uma agenda dos militares porque no mento não há esta demanda. A conjuntura dada não pede ainda um Estado de Sítio que abone a intervenção golpista, mas não devemos descartar esta possibilidade a médio e longo prazo, pois há milicos de plantão esperando a ordem para matar, torturar e interromper a frágil republica democrática liberal.
De que UNE estamos falando? Aqui a União Nacional dos Estudantes não pode ser vista como uma entidade sem história, por isso deve-se analisar o desenrolar da historia da UNE. No momento do golpe o presidente era o odioso José Serra que combateu a ditadura e viu os militares atear fogo na sede da UNE no Aterro do Flamengo, lutou contra a Lei Suplicy de Lacerda que coloca a UNE na ilegalidade, realizou na ilegalidade o Congresso XXVIII (1966) no porão da Igreja São Francisco de Assis contra o Acordo MEC-Usaid.

A UNE manifestou contra o fechamento do Restaurante Calabouço e se rebela contra o brutal homicídio do estudante Edson Luiz de Lima Couto, realiza também na clandestinidade o XXX Congresso da UNE em Ibiúna (1968), cominando com a prisão, morte e desaparecimento de varias lideranças nacionais da UNE, inclusive, o homicídio de Alexandre Vannucchi Leme que possibilita o grande movimento de massa com a missa na Catedral da Sé (SP, 1968) em que a policia dispersa a multidão com violência, prisão e tortura.

A UNE criou nos anos 1970 o Comitê de Defesa dos Presos Políticos na USP; após um período inoperante inicia-se um movimento pela reconstrução da entidade e até a “reabertura lenta e gradual” iniciada por Ernesto Geisel (1974-1979) e concluído por João Baptista Figueiredo (1979-1985); a Bahia (Salvador) vai sediar a reorganização da entidade a partir do XXXI Congresso intitulado de “Congresso da Reconstrução” dentro da legalidade e sem a presença dos militares prejudicada pela falta de divulgação e por isso não tão representativa.

A realização do XXXII Congresso da UNE (1980) aconteceu em Piracicaba (SP) com apoio do prefeito João Herrmann Neto, do reitor Professor Elias Boaventura da Universidade Metodista de Piracicaba coma presença de aproximadamente 4 mil estudantes ainda sob a égide dos militares e isso vai reforçar as imensas passeatas pelas Diretas Já para presidente; nos anos 90 organiza o enfrentamento ao neoliberalismo e a UNE assumi importante papel de mobilizador no Fora Collor e sob a presidência de Lindbergh Farias levanta a bandeira do impeachment contra o presidente Fernando Collor de Mello.

A UNE chega sem maiores acontecimento ao XXXVI Congresso que conta com a participação do presidente cubano Fidel Castro; lidera nos anos 90 grandes manifestações contras a privatizações realizadas pelo governo de Fernando Henrique Cardoso e após aprovação da LDB neoliberal do Ministro Paulo Renato lidera o “Fora FHC”.  Portanto, a UNE em finais da década de 90 e a primeira década do século XXI entra nos desgastes da famigerada carteirinha estudantil e aos poucos não se escuta mais os brados fortes da militância da UNE e gradualmente esvai em disputas internas pela hegemonia entre o PCdoB, tendências internas do PT, PCR e PSOL e na contramão segue o PSTU organizando um entidade alternativa a UNE que é a ANEL.

No que pese saber que a UNE não vive seus melhores dias de glória porque experimenta os desgastes “naturais” de quem opta por defender uma postura fluida e se ufana em dizer que o Estado, se bem gerido, garantirá o famigerado “Estado de Direito” a partir da radicalização da democracia como se está fosse o caminho perfeito à revolução, se é que ainda a persiga, tão propalada pela UNE nos anos que antecedem a crise do socialismo real do leste europeu.


A Comissão Especial possibilitará à população conquistense a reabertura de um diálogo franco com a história contemporânea deste país, no sentido de reconstruir minimamente uma lacuna no período criada pelos militares na historia recente do Brasil, visando reescrever esta página trágica trancafiada pelo regime militar na vida dos conquistenses, pesquisar e abordar os crimes contra militantes políticos, homicídios, nulidade dos direitos civis e políticos e holocausto realizado pelos militares em Vitória da Conquista desde que ocuparam o atual 9º Batalhão de Polícia, em 05 de maio de 1964.

Por que os homens inventam histórias?

"A autora aponta que, com este jogo, a criança elabora uma ficção que se situa entre o mundo interior e o exterior, instaurando a possibilidade mesma de conhecimento (esta dinâmica se repondo ao longo de toda a vida, não se restringindo a uma etapa inicial e ganhando contornos particulares, condicionados pela cultura e história de cada um)."

* Por Anita Martins R. de Moraes 

Ficção e razão: uma retomada das formas simples, de Suzi Frankl Sperber, apresenta uma teoria original acerca da necessidade humana de criar ficções. Ao mesmo tempo que expõe sua teoria, Suzi conduz o leitor pelo percurso reflexivo que a fundamenta, convidando-o a acompanhar seus questionamentos, a deles participar. O livro lida com questões filosóficas fundamentais, perguntando, por exemplo, se haveria aspectos humanos universais, comuns a pessoas de todas as épocas, culturas e grupos sociais, implicados numa atividade que hoje (muitos de nós) chamamos de “literatura”.
Se a resposta é positiva, como considera a autora (amparada na possibilidade da comunicação humana, mediante tradução e disposição dos interlocutores), quais aspectos seriam esses? Ou ainda: de que maneira a definição de diferença e igualdade entre os seres humanos tem se dado no âmbito dos estudos literários, destacando-se a distinção entre literatura escrita e oral, e com quais consequências ético-políticas e pedagógicas? Vale notar que o percurso investigativo de Suzi, que transita com acuidade por domínios como a antropologia, a psicanálise, a linguística, a psicologia analítica e a hermenêutica, imbrica pensamento reflexivo e ética, sendo o horizonte de sua contribuição teórica a possibilidade de se estabelecerem relações humanas mais justas, em âmbito individual e coletivo.


Composto por três volumes, Ficção e razão parte de uma discussão eminentemente teórica, desenvolvida no capítulo “Jogos de armar”, que abre o volume inicial, para então perseguir alguns de seus desdobramentos analíticos. Suzi configura um produtivo jogo entre reflexão teórica e leitura de obras literárias, não se tratando, assim, de apresentar uma teoria e testá-la depois, mas de elaborar problemas e caminhos reflexivos que serão enriquecidos pela investigação das possibilidades hermenêuticas que abrem. Em “Jogos de armar” Suzi formula o conceito-chave de sua teoria, o de “pulsão de ficção”, associando-o às pulsões de vida e morte (propostas por Freud) e relacionando-as respectivamente às formas narrativas “conto de fadas” e “mito”, que entende, retomando André Jolles, como sendo formas simples e inatas. Desenvolve, então, já no segundo capítulo do primeiro volume, “Presença dos contos de fadas”, e no segundo volume, “Presença do mito”, o estudo dessas formas a partir da abordagem de textos selecionados. O terceiro volume, “Casos, causos e outras coisas”, dedica-se ao estudo de outras formas simples propostas por Jolles, a adivinha, a fábula, a legenda e a saga. À medida que a autora trata de textos específicos (da tradição oral ou escrita, da literatura erudita ou popular, incluindo desenhos animados, quadrinhos, reportagens e mesmo textos infantis), retoma, desdobra e aprofunda sua teoria, já formulada na parte inicial do livro.


O conceito de “pulsão de ficção”, cerne da teoria proposta, aponta ser necessidade vital, de todos os seres humanos, a elaboração da experiência vivida por meio da efabulação. Suzi se volta ao caso fort-da (relatado por Freud em Além do princípio do prazer) e às análises freudiana e lacaniana do mesmo. Interessantemente, a estudiosa frisa que este evento é anterior à aquisição plena da linguagem, mobilizando outros dispositivos inatos: o imaginário e o simbólico (noções que ganham contornos próprios na teoria de Suzi, sendo que este “substrato comum”, particularmente o simbólico, será associado ao conceito junguiano de inconsciente coletivo). A autora aponta que, com este jogo, a criança elabora uma ficção que se situa entre o mundo interior e o exterior, instaurando a possibilidade mesma de conhecimento (esta dinâmica se repondo ao longo de toda a vida, não se restringindo a uma etapa inicial e ganhando contornos particulares, condicionados pela cultura e história de cada um). Como considera Antonio Candido, em nota de apresentação, este “livro pressupõe o trabalho de uma vida e ficará como marco importante na crítica universitária brasileira”. Ficção e razão enriquece o debate acerca da natureza do fenômeno literário, contribuindo com inteligência fina para a sua compreensão.

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Anita Martins R. de Moraes é pós-doutora em estudos comparados de literaturas de língua portuguesa na Universidade de São Paulo e autora de O inconsciente teórico(Annablume).

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

COMUNICAÇÃO ORGANIZADA: Blogueiros querem criar associação para fortalecer categoria



Blogueiros estão dispostos a criar entidade que os
represente e os organize em torno de objetivos comuns


Constituir um instrumento formal para fortalecimento de uma categoria que cresce e se consolida: este foi o objetivo de um encontro que reuniu representantes de diversos blogs de Vitória da Conquista na tarde desta terça (13). Entre outras coisas, ficou definido que será criada a Associação de Blogueiros de Conquista/ABC, cujo objetivo é aproximar esses meios de comunicação para um diálogo permanente acerca de temas comuns a todos.


Da reunião participaram o blog do Fábio Sena – que articulou o encontro –, o VCA NEWS, representado pelo jornalista Daniel Silva; o Blog do Carlos Dudé, o Blog da Bia Oliveira, Blitz Conquista, representado pelo seu editor Frarlei Nascimento; Blog do Marcelo, o Kadê Conquista, representado pelo jornalista Célio Santos, o Blog do Sonkha e o blog da Eliane Assunção. Também foram convidados e já afirmaram presença na próxima reunião o Blog do Paulo Nunes, o Blog do Rodrigo Ferraz, o Tribuna da Conquista (editado pelo jornalista Diego Gomes) e o Cidade Esportes.

Durante a reunião os blogueiros expuseram os problemas enfrentados pela categoria e falaram da importância da criação de uma associação legítima, reunindo os blogues não apenas de Vitória da Conquista, mas de toda a região, considerando uma iniciativa de grande importância, de forma a observar direitos e deveres, mas sobretudo para definir princípios que possam nortear a produção jornalística a partir das realidades políticas e sociais da região sudoeste.

Uma das questões levantadas foi a importância destes “jovens” meios de comunicação no processo de transformação da produção jornalística, pautando “os grandes”, influenciando e, muitas vezes, sendo decisivos na realidade política dos Estados Unidos, por exemplo, e no Brasil, particularmente, quando quase deram outro rumo à eleição que elegeu Dilma Rousseff em 2010. Considerando que todas as pautas não foram totalmente discutidas e que outros representantes de blogs não participaram da reunião, definiu-se por uma nova agenda, para ampliar as participações e definir os caminhos para formalização da entidade.

“Eu considero esta reunião como um marco na realidade da comunicação de Vitória da Conquista. Esta foi uma importante iniciativa e, com certeza, esta associação será um instrumento que vai fortalecer a ação desta mídia que colabora diretamente com a sociedade, levantando as questões de interesse público, respeitando a notícia e, sobretudo, vai garantir a união da categoria”, avaliou o jornalista Daniel Silva.

* A reprodução desta matéria foi autorizada, sendo que a produção do texto e a foto pertencem ao Blog do Fábio Sena.

EDUARDO BOAVENTURA: “Vivemos num Estado culturalmente decadente”

E quem nunca cantou o refrão mais popular de Boaventura, “essa tua cor da pele, essa tua cor da voz, essa tua cor do canto, que cantamos nós”, prêmio ONU, em 1986.



“Descobri que metade das pessoas que me cercam não acreditam no que eu falo e a outra metade não acredita no que eu faço, e se sozinho continuarei falando e fazendo, é que eu acredito que falo e faço pela paz de quem me quer e pela liberdade de quem me ama”



Nos anos 90, a ainda jovem TV Sudoeste prestava um grande favor à região sudoeste, apresentando em inserções musicais a produção autoral dos nossos artistas que ficaram registrados na memória coletiva, com belas peças musicais. À época, um rapaz esguio, com o violão ao colo e uma boina inconfundível se destacava com uma música bela em poesia e melodia, cujos versos iniciais eram: “o vento soprou a flauta, o céu choveu canções, sob a lua bailaram estrelas que até o sol saiu pra vê-las”. Era Eduardo Boaventura, artista sensível e inspirado nas mensagens de amor, que cantava A Flauta de um sul/realista.
O tempo passou e levou consigo o poeta e compositor Eduardo Boaventura, que foi para outras paragens distantes de Vitória da Conquista, indo morar no Rio de Janeiro e há nove anos não visita a cidade. O Blog do Fábio Sena, buscando notícias deste nobre músico, descobriu que o principado de Boaventura continua e via facebook conversou com o artista, que fala poeticamente sobre sua visão dos tempos atuais do ponto vista cultural e politico, suas novas apostas e se autodefine como “uma simples criatura que veio ao mundo pelo desígnio do Criador e se tornou cantador”.

Boaventura é dono de um clássico, já cantado em muitas vozes, e que bem poderia se tornar o hino na luta contra os preconceito racial. “Negra Menina África” é talvez a mais emblemática canção de protesto de Boaventura, que em Vitória da Conquista e região é lembrada com facilidade e executada em várias oportunidades nos bares e eventos musicais, cativa no repertório de muitas artistas. “Descobri que metade das pessoas que me cercam não acreditam no que eu falo e a outra metade não acredita no que eu faço, e se sozinho continuarei falando e fazendo, é que eu acredito que falo e faço pela paz de quem me quer e pela liberdade de quem me ama”, ensina Boaventura. Vamos ao bate papo.

BFS: Boaventura, fale um pouco sobre sua trajetória.

Boaventura: Sou de uma geração que viveu os românticos tempos do Jardim das Borboletas e não a praça Tancredo Neves. Estudei em colégio que não existe mais, o Instituto de Educação Clemente Viana, depois fui cobaia da reforma de ensino no I.E.E.D (Escola Normal) e era costume dos pais mandarem os filhos fazer Faculdade. Uns foram para salvador, creio que a maioria da minha época, outros para Belo Horizonte e alguns para Rio de Janeiro, que foi o meu caso, por acaso. Foi depois que deixei Vitória da Conquista que nunca mais a perdi de vista e voltei muitas vezes pra rever os meus pais e os amigos. Quanto aos meio mundo de fãs eu não tô sabendo pois sempre quando eu estava de férias aproveitava e fazia uma cantoria aí num teatro de arena que eu gostava, o Teatro Municipal Carlos Jehovah. Então eu me alegrava em rever os “fãs” amigos que conto nos dedos como Eunice, David Guimarães, José Vitorino, Valter Brito Cavalete, Evandro Correia, Gutemberg, Elomar, Evilasio Lacerda, Agda Dalila Mota Maia Nunes, Roberto Coelho, Maoré, Zeca Metal, e os que partiram fora do combinado, como o Jorge Luis, José Passos Costa Sobrinho e Eunápio Gusmão. Saí de Conquista para estudar Economia na década de 70 e me tornei músico. Há 9 anos não ando pelas ruas dessa cidade, já não reconheço o Jardim das Borboletas, sumiram com a fonte luminosa e a cidade dos pássaros, como me disse certa vez o escultor Cajaíba, essa Praça Tancredo Neves ficou uma Fazenda Moderna bonita…apesar de cortarem as minhas raízes, eu sigo por aí plantando sementes pelo mundo, conhecendo gente que me reconhece assim como você.

BFS: Qual a sua relação com Vitória da Conquista e o que esta cidade te ofereceu. Fale um pouco de quando e como foi esta estadia e parcerias.


Capa do vinil de Boaventura, guardado na memória da cidade
Boaventura: Sou Conquistense de coração, nasci no extremo Sul da Bahia, numa ilha chamada Canavieiras, mas plantei raízes no sudoeste. Vitória da Conquista toda a minha infância, Vitória da Conquista toda minha adolescência, Vitória da Conquista que me ofereceu Glauber Rocha, Elomar, Orlando Celino, André Cairo, Cajaíba, Tom Tom Flores, Xangai, Gutemba, Evandro Correia, Evilasio Lacerda, Dirlei Bonfim, Paulo Macedo, Papalo e muitos mais para minha formação musical. Essas parcerias foram desde sempre sempre nas minhas estadias quando eu ia e quando eu vinha no pó da poeira dessa Rio-Bahia.

BFS: Qual a sua relação com a música e qual o legado de Boaventura?

Boaventura: Minha relação com a música veio do berço, assim como a água do rio vem da nascente para matar a sede de tanta gente, o meu legado são as canções que faço e deixo meio mundo tão contente que ás vezes penso: quando comecei a compor pensava eu estar criando algo de útil para o bem da humanidade mas, observando tudo e todos dentro da realidade, descobri que metade das pessoas que me cercam não acreditam no que eu falo e a outra metade não acredita no que eu faço e se sozinho continuarei falando e fazendo, é que eu acredito que falo e faço pela paz de quem me quer e pela liberdade de quem me ama.

BFS: Qual a sua avaliação sobre o momento que a cultura vive? Acha que vivemos uma democracia cultura?

Boaventura: Não posso falar sobre democracia não fui apresentado a ela ainda, infelizmente, por isso não tenho nenhuma avaliação no momento. De um modo geral acho que vivemos num Estado sociologicamente enfermo, tecnologicamente poluído e culturalmente decadente. Certa feita eu dei meu voto “sem medo de ser feliz”, a oposição virou situação e veja que situação estamos. Agora estou com medo de ser infeliz. Conheço a geo-politica dos partido o suficiente para não me filiar a nenhum. Tenho um pensamento politico: “a próxima geração necessita que lhe digam que a verdadeira luta não é uma luta política, mas uma luta para terminar com a politica. Há que se ir da política à meta politica, da política à poesia.”

BFS: Uma curiosidade Boaventura. Como nasceu esta relação com a boina, que é a sua identidade?

Boaventura: Minha relação com a Boina não tem nenhum mistério. Eu sempre gostei de usar chapéus, mas certa feita, frequentando um espaço cultural chamado Casa da Poesia, na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, conheci um poeta que se tornou um grande amigo, seu nome é José Ignácio Enokbara. Ele era casado com uma Japonesa chamada Miti Enokbara e ao elogiar a boina que seu digníssimo marido estava usando, na semana seguinte, ao chegar na Casa da Poesia, ela presenteou-me com uma boina, pus na minha cabeça, e daquele dia em diante nunca mais usei chapéu, só boinas.



BFS: O que você anda produzindo?

Tributo a Gil. Foto: Renata Martinez
Boaventura: Atualmente estou fazendo uma serie de shows chamado Tributo em teatros. Venho fazendo essa série há uns 6 anos. Comecei o primeiro fazendo o Tributo Edu canta Raul, interpretando o repertório de Raul seixas, depois tributo a Belchior, Zé Ramalho, Roberto Carlos, que se chamou Dois banquinhos, dois violões e aquelas canções do Roberto, em dueto com meu parceiro Dinho Athayde. Ano passado fiz tributos a Milton Nascimento e este ano acabei de fazer a homenagem a Gilberto Gil e agora estou preparando o de Fagner. Entre um tributo e outro produzi um CD de Raggae que ainda não o lancei e está com o título provisório de Os in’tocáveis e/ou The Brazillian Reggae Band, com músicas eme parceria com Alexandre Bug, grande músico daqui, além de participações de Lívia Lopes, uma bela voz de Cachoeiraras de Macacu. Talvez final desse ano lanço mais um CD de canções inéditas que vai se chamar Du Topo do Uni-Verso.

BFS: Para concluir, o que tem a dizer sobre a cena cultural no Brasil?

Boaventura: A nossa cena musical cultural nunca mais será igual a Gonzaga, Sivuca ou Dominguinhos. São fins de semana sem Senna (que pena!) Vou ficando por aqui!!!! Grande abraço. Com admiração e respeito aos nossos sonhos.


* A reprodução desta entrevista (redação e as fotografias) pertencem ao Blog do Fábio Sena. Reprodução Autorizada!!

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