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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

CULTURA COMO FERRAMENTA DE DOMINAÇÃO DAS MASSAS.



* Por João Paulo Pereira 

Ao longo da história do século XX, um grande debate permeou os setores da esquerda por todo mundo. Desde os primórdios do movimento popular, que intelectuais tem discutido a aplicação da cultura como ferramenta para construção ou de desconstrução da hegemonia política de uma classe social sobre outra. Mas quem primeiro se deu conta da importância da cultura para a garantia da hegemonia política de classes foi à burguesia, classe dominante do modo de produção capitalista, que desde o primeiro momento trouxe como ferramenta para a dominação das massas trabalhadoras aspectos relevantes da cultura popular, que garantiram ao longo de sua história, o domínio sobre a população que vive do trabalho.


Durante os primeiros momentos do capitalismo, ainda durante a Revolução Comercial, a burguesia, classe social nascente e que buscava se fortalecer na Europa Ocidental, pois a ordem feudal, não permitia o crescimento da nova classe social emergente, buscou superar o ambiente cultural instituído pela Igreja Católica secularmente, produzindo um novo paradigma cultural onde os princípios burgueses fossem atendidos. Para isso, iniciou um longo período de construção de um novo cenário, que teve inicio com a substituição da velha ordem feudal, onde o poder político era descentralizado, para o surgimento dos chamados “Estados Nacionais Absolutistas”, centralizando o poder e garantindo o “Direito Divino dos Reis”.

Em um segundo momento essa mesma burguesia, buscou a superação do “Escambo”, com o ressurgimento da moeda e do comércio, construindo um novo ambiente cultural, já que se mudam os mecanismos das relações comerciais, certamente afetará as relações de ordem cultural e social. Depois foi a vez de alterar radicalmente o conhecimento na Europa, para isso a nova classe buscou o que a história chamou de “Renascimento Cultural”, projeto que colocou em xeque toda a estrutura cultural desenvolvida pela Igreja Católica, durante a Idade Média, superando o Teocentrismo medieval e o substituindo-o, pelo Antropocentrismo, se utilizando do conhecimento clássico, Greco-romano, em substituição ao Idealismo Católico.

Por fim, essa mesma burguesia, tratou de dá um golpe final no catolicismo, quando se aproveitando dos erros cometidos por essa Igreja, promoveu a “Reforma Religiosa” dividindo o Cristianismo, criando uma religiosidade que ao contrario da Igreja Católica, respondesse às necessidades políticas e econômicas da nova classe social (burguesia), criando um ambiente social e religioso, favorável ao crescimento das políticas desenvolvidas pelo novo paradigma capitalista. Desta forma esse primeiro momento mostra claramente como a burguesia de forma pensada e com extrema competência se utilizou dos aspectos culturais da Europa para garantir gradativamente sua hegemonia na Europa e depois por todo o mundo.

À medida que a carruagem da história foi passando, percebemos que em todos os momentos de vitórias da classe burguesa, os aspectos culturais foram fundamentais para a consolidação desta vitória. Três séculos depois da construção do Mercantilismo ou Revolução Comercial, a burguesia, que já compreendia que o antigo regime não mais garantia o pleno desenvolvimento do modo de produção capitalista, criado por eles mesmos, a partir do século XIII, inaugura um novo ambiente cultural para a Europa, surge então o Iluminismo, que aliado a um novo projeto econômico, o Liberalismo Econômico, supera o Antigo Regime e garanti um novo momento para o capitalismo.

O fortalecimento do capitalismo liberal teve como base cultural, todo um aparato de ferramentas para dá o suporte as novas idéias, muitos intelectuais produziram teorias políticas, filosóficas, sociais, com o objetivo de fortalecer culturalmente o novo modelo de desenvolvimento, Thomas More, os Enciclopedistas, os Fisiocratas, Adam Smith, David Ricardo, entre outros foram os principais teóricos deste novo momento do capitalismo.
A partir do século XIX, o capital lança mão de tudo que estivesse ao seu alcance para garantir a hegemonia política e econômica do mundo, tudo o que podia servir como aparelho ideológico do Estado Burguês, foi utilizado na construção da nova ordem mundial, entra em cena o capitalismo monopolista, trazendo em seu âmago o imperialismo, o novo processo colonialista, agora sobre todo o globo terrestre.

Utilizando o discurso retórico de que estavam civilizando o mundo a partir da Europa, ou seja, a partir da ideologia capitalista, a grandes potencias européias, espalham seu poder pelo continente Africano, Asiático, Americano, utilizando sempre o discurso civilizatório, para esconder a opressão, a pilhagem dos recursos naturais, econômicos e sociais destes povos, bem como, a destruição de culturas secularmente estabelecidas, rompendo com tudo que foi pensado por estes povos e impondo a cultura européia como uma única verdade, como foi feito nas colônias americanas no período das grandes navegações.
É a partir deste momento que o grande capital, descobre a mídia de massa, com a invenção do “cinema”, neste momento a Escola de Frankfurt, sobretudo, os pensadores, Walter Benjamim e Theodor Adorno, desenvolve a teoria sobre “cultura de massa”. Até então a idéia de cultura popular, era aquilo que era produzida pelo povo no seu fazer histórico, cresce e ganha acento popular. Com o advento da “cultura de massa” e sua utilização pelo grande capital, isso ganha outro conceito. Cultura de Massa passa a ser aquilo que é produzido pelas elites dominantes, e imposto ao povo como cultura popular. E a partir do cinema a classe dominante (burguesia), lança mão da mídia de massa para impor ao povo aquilo que servia aos interesses da burguesia. 

Desta forma a classe economicamente e politicamente dominante, passou a exercer o domínio também cultural sobre a sociedade, o cenário que passa a ser aceito por todos a partir deste momento histórico é o padrão social das elites dominantes, que cotidianamente vão introduzindo sua ideologia na história dos povos dominados, naturalizando a relação de exploração e produção de riquezas, bem como, a acumulação por parte de um grupo a cada dia menor de pessoas, desenvolvendo crenças, homogeneizando as sociedades, criando um único padrão cultural global e destruindo o regionalismo, as crendices originarias dos povos, estimulando a crença no novo, no moderno, apostando no consumo rápido para todos e estimulando o crescimento do capitalismo. 

O advento tecnológico inaugurado a partir do século XX vai rapidamente ser incorporado ao projeto de conquista do planeta desenvolvido pela burguesia. Primeiro a imprensa escrita que ainda não era de massa, depois o cinema que passa a atingir um número maior de pessoas por todo o mundo, depois o rádio que populariza a comunicação, a partir de meados do século surge à televisão e aí o processo de dominação cultural se consolida, com a universalização do acesso a esse eletroeletrônico que rapidamente se torna parte indispensável de todos os lares do mundo.

Mas não é só a imprensa, responsável pela difusão da cultura de massa para a população e conseqüentemente responsável pela difusão da ideologia dominante, tudo passou a ser utilizada para manter a ordem burguesa e o processo de alienação das massas, a religião, a escola, a família, o grupo de amigos da rua ou do bairro, o capitalismo conseguiu transformar tudo em produto, tudo em função da manutenção de seu “status quo”, o que importa é apenas a manutenção do lucro e do poder da classe burguesa sobre o mercado, que controla todo o mundo, que controla o Estado, que controla o homem e a natureza.
E o papel da cultura passou a ser também fundamental para essa dominação. Toda a produção cultural desde os anos 50 do século passado tem uma função política e social clara, contribuir para o processo de aceitação do poder burguês sobre a sociedade e para manter a classe trabalhadora distante de uma consciência libertadora. No Brasil, desde o período em que Getulio Vargas chegou à direção do Estado Burguês, que a mídia de massa, foi transformada em ferramenta para a dominação cultural da população explorada. Foi durante o período getulista, que foi criada a primeira rádio nacional e com capacidade de chegar aos mais distantes rincões do país.

Essa emissora tinha a função de divulgar os feitos do governo, transformando Getúlio no grande líder do povo brasileiro, o que deu a ele o título de “pai dos pobres”, em função das reformas introduzidas por ele durante o período que dirigiu esse país, também é durante o seu governo que o cinema ganha projeção nacional, com a fundação da Atlântida, primeira companhia de cinema brasileira, que popularizou a sétima arte A partir de então, a classe dominante percebeu que era um mecanismo fundamental para a garantia do seu poder, já em 1950, é a vez da introdução da televisão, essa ferramenta muito rapidamente se torna parte orgânica das famílias brasileiras, principalmente após a ditadura militar, que a partir de 1970, desenvolve um projeto para facilitar a aquisição de aparelhos de TVs, para a população pobre do país, garantindo que a cultura de massa pudesse chegar a todos os lares brasileiros, tornando mais fácil a homogeneização da cultura ou ideologia burguesa.

Outro aspecto para ser observado é o desmanche das tradições culturais, sociais, religiosas da população, a classe dominante através da cultura de massa, criou uma categoria social, que aqui chamaremos de “lumpesinato cultural”. O processo de homogeneização da sociedade criou um novo paradigma cultural, independente das questões regionais, educacionais, econômicas, a cultura de massa vem construindo um cenário cultural, onde todos devem viver da mesma forma, travestido de progresso social e conduzido pelos avanços das tecnologias que se universalização mais e mais de geração para geração, o padrão desenvolvido pela cultura de massa, tem criado um modelo laboratorial de ser social, aqueles que se habituaram a seguir padrões pré-estabelecidos pela grande mídia, sem a capacidade crítica de questionar ou ao menos compreender o mundo em torno de sua existência.

Processo que dá para perceber em todos os aspectos da vida humana nas últimas duas décadas ao menos, quando a grande mídia tem instituído, padrões de comportamento, gostos musicais, ídolos esportivos forjados pelas grandes empresas patrocinadoras, com o objetivo de criar produtos de grande apelo comercial para incrementar o consumo destes produtos de massa, um ambiente sócio-político e econômico, favorável ao pleno desenvolvimento do capitalismo, tudo isso sem que o povo possa discutir e opinar sobre a qualidade do que está sendo vendido, nem mesmo, garantindo a oportunidade de escolha a uma população a cada dia mais dominada e alienada.

Ao mesmo tempo em que, garantem o modelo de sociedade e de ser humano ideal para a manutenção da ordem burguesa, a classe dominante brasileira, pode desenvolver um sentimento de negação a tudo que estiver no caminho de sua escalada pelo poder.

 Utilizando da cultura de massa, pode-se também desconstruir imagens, transformar algo em bom ou ruim a partir das necessidades desta burguesia, desta forma o que é aliado do povo pode ser transformado em inimigo número um de uma população que não mais reflete sua realidade, e passa a aceitar a dominação como algo normal ou natural.

Esse é o papel da cultura, numa sociedade marcada a cada dia pelo consumo ou pelo domínio do pensar e fazer humano, onde o poder econômico e político de uma classe sobre a outra não se esgota no velho conflito capital x trabalho, mas essa relação se consolida na aceitação total da dominação por parte daqueles que historicamente deveriam representar a luta pelo novo, a transformação destes padrões estabelecidos secularmente por quem detém o poder político e econômico da sociedade e descobriu que através do domínio cultural, e, sobretudo, através da produção de uma cultura de massa e para as massas, podem cristalizar seu poder por todo o globo terrestre.

Bancada do PT solidariza-se com Maria do Rosário e repudia “ato torpe” de Bolsonaro

FOTO: SALU PARENTE/PT NA CÂMARA

* Por Equipe PT na Câmara


O líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho (SP), repudiou hoje (9), em plenário, o discurso do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) no qual fez apologia do estupro e ameaçou a deputada Maria do Rosário (PT-RS). ‘’Hoje este senhor cometeu mais um ato torpe ao declarar que ‘não estuprava a deputada Maria do Rosário porque ela não merece’ ”, disse Vicentinho. Para ele, essa conduta deixa transparecer que a Bolsonaro é “admissível a ideia de assumir o papel de estuprador’’, condicionada a agressão ao  “merecimento” da vítima’’. Na opinião do líder, a conduta de Bolsonaro evidencia a  “a covardia que é tão típica dos estupradores’’.


Ele anunciou que a Bancada do PT vai ingressar com representação no Conselho de Ética da Câmara, por quebra de decoro parlamentar, e também vai tomar todas as medidas judiciais cabíveis  contra Bolsonaro, que é ex-militar e declaradamente defensor de ditaduras. “No âmbito do Parlamento e do Judiciário, todas as iniciativas serão tomadas por nós, parlamentares da Bancada do PT, já que as declarações – ameaças – de Bolsonaro demonstram total desrespeito à condição de representante do povo deste País ’’.

Barbárie - Segundo Vicentinho, ‘’Bolsonaro é representante, no  Parlamento, de um outro estágio civilizatório: um que a sociedade brasileira felizmente superou, mas que não está enterrado porque tem nesse senhor sua cria, a destilar a grosseria, o ódio, o desrespeito  e a violência próprios dos tempos de barbárie’’.

O líder do PT lembrou que nesta quarta-feira, dia 10, comemora-se oDia Internacional dos Direitos Humanos, “um valor estranho a esse senhor: tudo o que está em sua mente e em sua boca é maldade e depravação, marcas indeléveis do regime de usurpadores e torturadores que ele tanto defende’’. Vicentinho  frisou que a Constituição brasileira prevê   punição para práticas discriminatórias que atentem contra os direitos e liberdade fundamentais.

“O artigo 1º da Carta Magna fundamenta-se, entre outros valores, na cidadania e na dignidade da pessoa humana e no pluralismo político’’,  disse. “A barbárie cometida hoje no plenário da Câmara ofende a cidadania brasileira e as consciências das pessoas que lutam por uma sociedade civilizada, tolerante e democrática”.

Regime militar – O discurso em que o deputadoex-militar  ofendeu a deputada Maria do Rosário, ex-ministra dos Direitos Humanos,  ocorreu depois que ela ressaltou na tribuna a importância da Comissão Nacional da Verdade – que investiga crimes políticos cometidos sobretudo durante o regime militar que vigorou entre 1964 e 1985.  Há alguns anos, como lembrou Vicentinho,  Bolsonaro ameaçou bater  na deputada Maria do Rosário.

As graves ofensas de Bolsonaro no discurso desta terça-feira  contra a deputada Maria do Rosário provocaram fortes reações de desagravo e indignação  na bancada feminina na Câmara. A deputada Iriny Lopes (PT-ES), vice-líder da Bancada,  reiterou que a postura de Bolsonaro será denunciada além das instâncias da Câmara dos Deputados.

“Vamos denunciar e pedir providências à polícia, ao Ministério Público e ao Judiciário para penalizar o deputado Bolsonaro porque  ele extrapolou a prerrogativa parlamentar de opinião para agredir, intimidar uma deputada. E isso o Regimento Interno não o protege. Vamos levar também para a Conselho de Ética da Casa, mas não é suficiente. Já fizemos  isso em outros episódios de agressão protagonizados por Jair Bolsonaro contra as mulheres parlamentares e não houve nenhuma punição ao deputado pelo comportamento criminoso. Queremos levá-lo aos tribunais”, enfatizou a deputada Iriny  Lopes.

UM RÁPIDO OLHAR SOBRE O PROCESSO POLÍTICO QUE CULMINOU COM A ELEIÇÃO EM 2014



* Por João Paulo Pereira 

Estamos no início do século XXI e o cenário sócio-histórico no Brasil ainda é o mesmo do início do século XX, claro que os agentes sociais são outros, mas a nossa sociedade não mudou muito no que tange as questões culturais, políticas e econômicas. Apesar do avanço das forças populares, de termos setores de esquerda dirigindo o Estado brasileiro, as relações sociais, políticas e econômicas, não se alteraram tanto, o poder político e econômico, continua nas mãos das mesmas elites que sempre estiveram à frente deste Estado, o povo continua desinformado e sendo conduzido pela mesma ideologia burguesa que determinava o pensamento no início do século passado, pouca coisa mudou e nada como os eventos históricos para retratar e deixar claro o papel da ideologia dominante burguesa em nossa sociedade.


Passamos agora por um processo eleitoral no país, o mais disputado desde a primeira eleição direta após o fim da ditadura militar, os dois lados que formam as classes sociais brasileiras lançaram suas candidaturas, mesmo sem defesas de projetos diferentes, já que os representantes da classe trabalhadora definiram pela adequação a ordem burguesa e a governabilidade dentro dos moldes traçados pela classe dominante, mas ficou claro que existem dois lados e que estes estão em disputas pela direção do Estado.

De um lado vimos claramente um projeto mais próximo dos trabalhadores, que mesmo propondo dirigir o Estado Burguês, deixou claro a opção por políticas que vise à melhoria da qualidade de vida dos milhões de trabalhadores pobres, que durante a história deste país, foi abandonado pelas elites dominantes (burguesia), visto apenas como produtores de riquezas para a acumulação de poucos bem nascidos, prontos para serem explorados pelo modelo de desenvolvimento capitalista. Por outro lado, vimos a maior organização, destas elites burguesas e capitalistas, apoiados pelo capital internacional, com todos seus organismos de poder, por uma mídia que claramente assumiu o lado da burguesia, desenvolvendo uma campanha odiosa, disseminando o ódio gratuito contra o Partido dos Trabalhadores, objetivando não só vencer uma eleição, mas, sobretudo, criar uma política e extermino deste partido e de toda a ideologia de oposição à ordem burguesa.

Assistimos a mais cruel política de difamação de uma instituição política dos últimos anos, não que isso não tenha tido precedentes na história deste país, desde que teve inicio a Indústria Colonial no Brasil, que todos aqueles e tudo aquilo que não serviam aos interesses dos setores dominantes foram tratados desta forma. Primeiro com os nossos povos originários (Índios), demonizados, transformados em habitantes do “inferno” na Terra, era assim que o nosso país era visto em um segundo momento pelo colonizador português.

Mas tarde, foi à vez da demonização do povo negro, arrancado de sua terra pátria, e trazido para o trabalho compulsório, forçado a trabalhar de forma sub-humana, para produzir riquezas para o nascente e crescente capitalismo português e consequentemente brasileiro. Na questão dos negros essa demonização ainda é mantida até os dias atuais, mesmo sendo um país miscigenado, etnicamente diverso, é claro e ficou mais claro com o processo eleitoral, como a classe dominante, pensa e ver os afrodescendentes ou os descendentes dos povos originários no país.

Esse processo vai se dá a partir de uma construção política, não se trata do “acaso histórico”, o preconceito étnico, não é somente uma questão de cor da pele, é na verdade um preconceito social que foi estabelecido a partir de um projeto político maior que as eleições para a Presidência da República ou para a Câmara de Deputados ou Senado, é uma postura política e estruturada dos setores que há 514 anos dirigem este país, e acreditam que este pedaço de terra, existe para manutenção do “status quo” desta burguesia historicamente constituída. A casa grande e a senzala no Brasil se tornou uma “instituição”. As elites dominantes construíram historicamente uma cultura de servidão, que foi embutida na consciência coletiva da população, independente do nível de formação escolar institucional.

O resultado disto é que podemos assistir a um espetáculo grotesco, de defesas despolitizadas de um modelo de direção do Estado burguês, que beira ao fascismo. Inicialmente com um discurso produzido pela mídia, que fez questão de instituir uma ideologia apartidária na classe média, discurso que também chegou às bocas da classe trabalhadora. Essas duas categorias sociais, mesmo de forma irracional absorveram esse debate de forma tão aguda, que aceitaram sem questionamentos, o discurso com fundamentação fascista, como sendo a solução para todos os problemas sociais que enfrentamos, sem se dá conta de que estes problemas são os frutos do próprio modelo de desenvolvimento capitalista, que infelizmente, não foi questionado pelo Partido dos Trabalhadores ao chegar à direção do Estado.

Outro paradigma construído pelas elites dominantes e aí exigiu, mas trabalho político foi o ódio ao PT. Desde o surgimento deste partido, ainda no início dos anos 80 do século passado, que a elite dominante brasileira (burguesia), procurou formas eficazes de desqualificar a existência deste partido. Inicialmente colocou o PT na mesma conta da “indústria do anticomunismo” norte americano, “o partido comunista que iria acabar com as liberdades democráticas do país”. Depois foi o momento de transformar este partido, na organização dos bagunceiros, dos vândalos que promovia a baderna e o caos social, com as terríveis greves de trabalhadores, destruidores da paz social e da harmonia entre ricos e pobres. Mesmo sofrendo forte oposição, o Partido dos Trabalhadores, conseguiu crescer no cenário político nacional, até em resposta ao fracasso dos governos de direita na pós-ditadura militar, que não conseguiu responder as necessidades fundamentais da população brasileira.

Até o final dos anos 80, na primeira eleição direta no país, o Partido dos Trabalhadores ainda defendia políticas com características de esquerda, apostando na ruptura com o Estado de Direito (burguês) e na construção de um novo modelo de Estado, onde a classe trabalhadora assumisse o papel de protagonista das mudanças estruturais necessárias para a construção de uma nova ordem social, política, econômica e cultural, capaz de garantir a igualdade entre todos, justiça social, e solidariedade entre a população. No inicio dos anos 90, o mundo começa a sofrer mudanças políticas e econômicas, que vai alterar toda a configuração das organizações de esquerdas e populares no planeta, e o Partido dos Trabalhadores, também começa o processo de mudanças de suas perspectivas políticas.

Com o advento da Perestroika e da glasnost na antiga União das Repúblicas Socialista Soviética, e com a “Queda do Muro de Berlim”, todo o movimento social, partidos de esquerda, sofreram um refluxo das perspectivas de construção do socialismo, já que a principal referencia destes modelos de desenvolvimento político e econômico, havia fracassado. É bom ressaltar que o Partido dos Trabalhadores historicamente, nunca defendeu o modelo soviético, entretanto, não dá para negar que as referencias para qualquer movimento de esquerda até os anos 90 do século XX, era a experiência real da revolução de 1917, apesar dos erros cometidos na condução do processo político, era a prova real de que o capitalismo poderia ser superado.

A partir deste momento histórico, os partidos de esquerda de todo o mundo, os movimentos sociais também de esquerda, passaram a elaborar um novo paradigma para a construção deste novo modelo de sociedade, para a superação do capitalismo, e para a construção de um novo momento na história da humanidade, que privilegiasse a toda a população, que superasse a divisão de classes e instaurasse uma nova ordem política, econômica e cultural, mas justa e mais humanizada.

Diante deste novo desafio o Partido dos Trabalhadores, inicia este novo momento, o que fazer nessa nova conjuntura mundial para garantir as transformações estruturais, que melhorasse a qualidade de vida do povo brasileiro, já que utopia do socialismo, havia se perdido no horizonte da história? Setores não hegemônicos do partido passaram a fazer uma leitura crítica dos acontecimentos dos anos 90, defendendo que o que havia sucumbido, não era o socialismo defendido pelo PT e que era preciso manter um programa de esquerda, que buscasse a superação do capitalismo e a instituição de uma sociedade socialista, enquanto, os setores hegemônicos do partido, desenvolveram em suas teses mecanismos de gestão do Estado Burguês, que privilegiasse a melhoria da qualidade de vida da classe que vive do trabalho, sem apostar na “luta de classes” e no enfrentamento com as elites dominantes nacionais e mundiais, tese que se sagrou vencedora nos debates internos do partido e culminou com a “carta ao povo brasileiro”, documento que marcou a conciliação de classes no Brasil e o direcionamento a gestão do bem burguês pelo PT, a partir de uma lógica da governabilidade burguesa.

Dirigir o Estado a partir da lógica da governabilidade burguesa era fazer o jogo da classe dominante, lutar dentro das regras que historicamente foram combatidas pelo Partido dos Trabalhadores. Esse novo momento na história deste partido acabou por construir e fortalecer o discurso antipetista. Medidas políticas, ações de governo, que visasse à garantia da governabilidade, se transformaram nas mãos da mídia burguesa em ferramentas para enlamear o nome e a história do Partido, colocando o partido que nasceu para ser a diferença política, na vala dos comuns, políticas de aliança com setores outrora combatidos, acrescentaram um tempero desastroso ao processo de transformações que este partido enfrentava para garantir a direção de Estado em todas as esferas de gestão da federação brasileira. E para ampliar o problema, o crescimento do partido nas esferas de poder atraiu para o interior deste, um número grande de filiados, que não mais compartilhava dos ideais que forjaram o nascimento do Partido dos Trabalhadores.

Os erros cometidos ao longo deste período que marca a ascensão do PT a direção do Estado Brasileiro, serviram como luva, para que o setor dominante do país fortalecido pela burguesia internacional trabalhasse incansavelmente na tarefa de transformar o PT em mais um partido brasileiro, tirando dele a importância histórica que trouxe consigo desde o nascimento.

Para a classe dominante brasileira, já foi difícil de aceitar a perda da direção política do país, pior foi o fato do Partido dos Trabalhadores, ter promovido reformas institucionais de base, no modus operandi de fazer política no país, invertendo prioridades, mexendo com conceitos historicamente consolidados por essa classe dominante, como preconceito racial, social, cultural, garantindo oportunidades de ascensão social a setores que sempre estiveram fora dos planos destas elites que se forjaram na “casa grande”, como índios, negros, LGBT e todos os excluídos de nossa sociedade, construída sobre bases segregadora, excludente, patriarcal e desumana. 

Do ponto de vista mundial, o Partido dos Trabalhadores, em função de posições políticas de esquerda, bem definidas, formou e em alguns momentos se tornou líder na luta contra o imperialismo norte-americano, assumindo posturas contrarias a ações de intervenção militar a país dissidentes dos interesses da grande potencia capitalista e de seus aliados históricos, formadores do G7. Ao mesmo tempo em que esse partido dirigindo o Estado brasileiro, fortaleceu setores da esquerda na América Latina, elegendo setores desta esquerda para direção dos Estados Nacionais, o que serviu para enfraquecer a hegemonia norte-americana sobre o continente.
 
Para completar o quadro exposto acima, o Brasil, junto com outros países emergentes, a exemplo da Rússia, China, Índia e África do Sul, criaram um bloco econômico, o BRICS, com força para competir com os países de ponta do capitalismo no mercado mundial, o que provocou e vem provocando a reação dos setores controladores do mercado, aumentando a preocupação deste com o crescimento deste país e com o futuro do modo de produção capitalista.

Esta posição assumida pelo Brasil e pelo Partido dos Trabalhadores colocou em alerta a burguesia mundial, que aliada à burguesia brasileira, encampou a tarefa de tirar da direção do Estado o Partido dos Trabalhadores. Com esse objetivo a classe dominante brasileira, a partir de sua mídia comercial e corporativa, com um discurso ideológico bem construído e se utilizando dos desvios de postura deste partido ao longo de sua história, incutiu no inconsciente coletivo do povo brasileiro, sobretudo, da juventude o “ódio ao PT”, sobretudo, no meio da juventude e nos setores de classe média, que historicamente sempre acreditaram que “político é tudo igual, e que a culpa de tudo é sempre dos governos”, um conceito ideológico criado secularmente no país e que mesmo com o avanço da educação escolar formal, não se alterou a lógica.

Para que esse discurso ganhasse vida, foi utilizada a máxima da “corrupção”, discurso que atende ao senso comum, ao empirismo político. No início do governo do presidente Lula, veio o “Mensalão”, onde membros da executiva nacional do partido e membros do primeiro escalão do governo, figuras importantes na história do partido, foram acusados de “formação de quadrilha”, de aliciamento de deputados para votarem projetos do executivo, de desvio de verbas publicas para compra de votos para aprovação de medidas políticas do governo.
 
Na jovem república brasileira é comum a compra de votos de legisladores, para aprovação de projetos do executivo, em todos os governos pelos quais passamos, sempre houve pagamento ao poder Legislativo. Infelizmente se transformou em prática comum na nossa história republicana, apesar de ser uma prática ilegal. Por ter assumido como projeto a governabilidade burguesa, o Partido dos Trabalhadores, acreditou que seria consigo, da mesma forma que foi com os partidos da burguesia. O setor hegemônico do Partido na década de 90 do século passado abandonou a luta de classes, acreditando que essa posição seria suficiente para que a burguesia também o fizesse, ledo engano, no primeiro desvio de conduta dos companheiros que chegaram a direção da maior esfera do Estado, a classe dominante, tratou de transformar em crime hediondo, o que feria mortalmente o PT, condenando figuras importantes historicamente para o pais, a ficarem conhecidos pelo rótulo de “Mensaleiros”, formadores de quadrilha, aliciadores, sendo condenados a prisão, mácula que feriu de morte a história do Partido dos Trabalhadores.

A partir deste momento a mídia burguesa de forma organizada, conduziu o atolamento deste partido, desconstruindo sua história e construindo um novo enredo para o novo tempo, fazendo do PT um partido igual a todos os outros, ampliando a velha máxima burguesa “que todo político é ladrão, que são todos iguais”. Desta forma foi sendo construído até mesmo nos setores mais esclarecidos da sociedade o senso comum de que não há jeito para o país, a máxima da “corrupção” passou a fazer parte do imaginário coletivo, como sendo o principal problema da sociedade brasileira. Paralelamente a isto, a burguesia nacional e internacional passou a divulgar a incansavelmente a idéia do apartidarismo, como sendo o caminho, sobretudo, para uma juventude a cada dia mais despolitizada, discurso que ouvimos comumente em todas as classes no meio juvenil.

Na esteira de um movimento que vem se desenvolvendo mundialmente, um discurso fascista também passa a fazer parte do ideário coletivo no Brasil. No cenário mundial, é perfeitamente visível a olhos nus, a construção via Estados Unidos da América, da retomada do Nazi-Fascismo como projeto para a gestão do Estado nesse início de século. Sinais claros estão brotando a cada episódio da história que estamos assistindo, nestes dias. Os levantes contra a Rússia, a eleição de setores nazistas na Índia, os levantes contra o Chavismo na Venezuela, dirigidos por lideres nazistas, os Blacks Blocs no Brasil, os movimentos de contestação do governo na Argentina, os movimentos que depuseram o presidente liberal da Ucrânia, o fortalecimento das idéias do fascismo na Europa em meio a uma grande crise econômica, a retomada da violência contra afro-descendentes nos Estados Unidos, os discursos homofóbicos, em defesa da pena de morte, sexistas, machistas, preconceituosos e de defesa do retorno da ditadura, que crescem por todo o país e por todos os países nas últimas duas décadas.

É preciso lembrar que o fascismo, é uma modelo de direção do Estado Burguês, que impede a mobilização da classe trabalhadora, pois se trata de uma ditadura civil, que apesar da rigidez das posturas em defesa dos ideais burgueses, no plano econômico desenvolvem políticas de caráter neoliberal.

Este cenário, foi utilizado para o desenrolar de mais um capítulo da história do Brasil, o processo eleitoral em 2014, se deu nesta conjuntura nacional e mundial, numa disputa desigual entre a classe trabalhadora e a burguesia. De um lado os trabalhadores, desinformados, alienados do processo político aprofundado, distante dos grandes debates que determinam os fatos históricos no mundo, servindo como ferramenta para a retomada da direção do Estado pela burguesia, do outro a burguesia competentemente articulada, internacionalmente unificada, com o objetivo de destruir uma das forças políticas capaz de fazer frente aos interesses imperialista e de manutenção da ordem burguesa. Não foi apenas uma eleição nacional, não foi apenas mais uma disputa eleitoral, entre o Partido dos Trabalhadores e o Partido da Social Democracia Brasileira. Esta eleição foi muito maior, implicou aí toda a luta pela conquista do futuro do capitalismo mundial.

A vitória do Partido dos Trabalhadores, pode ter significado em longo prazo uma transformação nas estruturas do poder econômico, político e social. O crescimento das forças populares no mundo ou o princípio de uma nova ordem social, mais humanizada, mais fraterna, mais solidaria, ao mesmo tempo, que pode ter significado mais compreensão na luta pela preservação ecológica, de preservação da vida, do meio ambiente. Da mesma forma, que pode não ter nenhuma ação prática na construção de uma nova ordem social, esse é um processo de gestação que só o futuro nos trará o resultado real disto, mas certamente a vitória do Partido dos Trabalhadores em uma eleição totalmente desigual, é um marco importante na luta por este novo mundo, esperemos que isso seja percebido pelas lideranças históricas e populares deste partido e que isso realmente se configure como um caminho para a humanidade.

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