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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
CULTURA COMO FERRAMENTA DE DOMINAÇÃO DAS MASSAS.
dezembro 11, 2014
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por
Vinícius...
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* Por João Paulo Pereira
Ao longo da história do século XX, um grande debate permeou os setores da esquerda por todo mundo. Desde os primórdios do movimento popular, que intelectuais tem discutido a aplicação da cultura como ferramenta para construção ou de desconstrução da hegemonia política de uma classe social sobre outra. Mas quem primeiro se deu conta da importância da cultura para a garantia da hegemonia política de classes foi à burguesia, classe dominante do modo de produção capitalista, que desde o primeiro momento trouxe como ferramenta para a dominação das massas trabalhadoras aspectos relevantes da cultura popular, que garantiram ao longo de sua história, o domínio sobre a população que vive do trabalho.
Durante os primeiros momentos do capitalismo, ainda durante a Revolução Comercial, a burguesia, classe social nascente e que buscava se fortalecer na Europa Ocidental, pois a ordem feudal, não permitia o crescimento da nova classe social emergente, buscou superar o ambiente cultural instituído pela Igreja Católica secularmente, produzindo um novo paradigma cultural onde os princípios burgueses fossem atendidos. Para isso, iniciou um longo período de construção de um novo cenário, que teve inicio com a substituição da velha ordem feudal, onde o poder político era descentralizado, para o surgimento dos chamados “Estados Nacionais Absolutistas”, centralizando o poder e garantindo o “Direito Divino dos Reis”.
Em um segundo momento essa mesma burguesia, buscou a superação do “Escambo”, com o ressurgimento da moeda e do comércio, construindo um novo ambiente cultural, já que se mudam os mecanismos das relações comerciais, certamente afetará as relações de ordem cultural e social. Depois foi a vez de alterar radicalmente o conhecimento na Europa, para isso a nova classe buscou o que a história chamou de “Renascimento Cultural”, projeto que colocou em xeque toda a estrutura cultural desenvolvida pela Igreja Católica, durante a Idade Média, superando o Teocentrismo medieval e o substituindo-o, pelo Antropocentrismo, se utilizando do conhecimento clássico, Greco-romano, em substituição ao Idealismo Católico.
Por fim, essa mesma burguesia, tratou de dá um golpe final no catolicismo, quando se aproveitando dos erros cometidos por essa Igreja, promoveu a “Reforma Religiosa” dividindo o Cristianismo, criando uma religiosidade que ao contrario da Igreja Católica, respondesse às necessidades políticas e econômicas da nova classe social (burguesia), criando um ambiente social e religioso, favorável ao crescimento das políticas desenvolvidas pelo novo paradigma capitalista. Desta forma esse primeiro momento mostra claramente como a burguesia de forma pensada e com extrema competência se utilizou dos aspectos culturais da Europa para garantir gradativamente sua hegemonia na Europa e depois por todo o mundo.
À medida que a carruagem da história foi passando, percebemos que em todos os momentos de vitórias da classe burguesa, os aspectos culturais foram fundamentais para a consolidação desta vitória. Três séculos depois da construção do Mercantilismo ou Revolução Comercial, a burguesia, que já compreendia que o antigo regime não mais garantia o pleno desenvolvimento do modo de produção capitalista, criado por eles mesmos, a partir do século XIII, inaugura um novo ambiente cultural para a Europa, surge então o Iluminismo, que aliado a um novo projeto econômico, o Liberalismo Econômico, supera o Antigo Regime e garanti um novo momento para o capitalismo.
O fortalecimento do capitalismo liberal teve como base cultural, todo um aparato de ferramentas para dá o suporte as novas idéias, muitos intelectuais produziram teorias políticas, filosóficas, sociais, com o objetivo de fortalecer culturalmente o novo modelo de desenvolvimento, Thomas More, os Enciclopedistas, os Fisiocratas, Adam Smith, David Ricardo, entre outros foram os principais teóricos deste novo momento do capitalismo.
A partir do século XIX, o capital lança mão de tudo que estivesse ao seu alcance para garantir a hegemonia política e econômica do mundo, tudo o que podia servir como aparelho ideológico do Estado Burguês, foi utilizado na construção da nova ordem mundial, entra em cena o capitalismo monopolista, trazendo em seu âmago o imperialismo, o novo processo colonialista, agora sobre todo o globo terrestre.
Utilizando o discurso retórico de que estavam civilizando o mundo a partir da Europa, ou seja, a partir da ideologia capitalista, a grandes potencias européias, espalham seu poder pelo continente Africano, Asiático, Americano, utilizando sempre o discurso civilizatório, para esconder a opressão, a pilhagem dos recursos naturais, econômicos e sociais destes povos, bem como, a destruição de culturas secularmente estabelecidas, rompendo com tudo que foi pensado por estes povos e impondo a cultura européia como uma única verdade, como foi feito nas colônias americanas no período das grandes navegações.
É a partir deste momento que o grande capital, descobre a mídia de massa, com a invenção do “cinema”, neste momento a Escola de Frankfurt, sobretudo, os pensadores, Walter Benjamim e Theodor Adorno, desenvolve a teoria sobre “cultura de massa”. Até então a idéia de cultura popular, era aquilo que era produzida pelo povo no seu fazer histórico, cresce e ganha acento popular. Com o advento da “cultura de massa” e sua utilização pelo grande capital, isso ganha outro conceito. Cultura de Massa passa a ser aquilo que é produzido pelas elites dominantes, e imposto ao povo como cultura popular. E a partir do cinema a classe dominante (burguesia), lança mão da mídia de massa para impor ao povo aquilo que servia aos interesses da burguesia.
Desta forma a classe economicamente e politicamente dominante, passou a exercer o domínio também cultural sobre a sociedade, o cenário que passa a ser aceito por todos a partir deste momento histórico é o padrão social das elites dominantes, que cotidianamente vão introduzindo sua ideologia na história dos povos dominados, naturalizando a relação de exploração e produção de riquezas, bem como, a acumulação por parte de um grupo a cada dia menor de pessoas, desenvolvendo crenças, homogeneizando as sociedades, criando um único padrão cultural global e destruindo o regionalismo, as crendices originarias dos povos, estimulando a crença no novo, no moderno, apostando no consumo rápido para todos e estimulando o crescimento do capitalismo.
O advento tecnológico inaugurado a partir do século XX vai rapidamente ser incorporado ao projeto de conquista do planeta desenvolvido pela burguesia. Primeiro a imprensa escrita que ainda não era de massa, depois o cinema que passa a atingir um número maior de pessoas por todo o mundo, depois o rádio que populariza a comunicação, a partir de meados do século surge à televisão e aí o processo de dominação cultural se consolida, com a universalização do acesso a esse eletroeletrônico que rapidamente se torna parte indispensável de todos os lares do mundo.
Mas não é só a imprensa, responsável pela difusão da cultura de massa para a população e conseqüentemente responsável pela difusão da ideologia dominante, tudo passou a ser utilizada para manter a ordem burguesa e o processo de alienação das massas, a religião, a escola, a família, o grupo de amigos da rua ou do bairro, o capitalismo conseguiu transformar tudo em produto, tudo em função da manutenção de seu “status quo”, o que importa é apenas a manutenção do lucro e do poder da classe burguesa sobre o mercado, que controla todo o mundo, que controla o Estado, que controla o homem e a natureza.
E o papel da cultura passou a ser também fundamental para essa dominação. Toda a produção cultural desde os anos 50 do século passado tem uma função política e social clara, contribuir para o processo de aceitação do poder burguês sobre a sociedade e para manter a classe trabalhadora distante de uma consciência libertadora. No Brasil, desde o período em que Getulio Vargas chegou à direção do Estado Burguês, que a mídia de massa, foi transformada em ferramenta para a dominação cultural da população explorada. Foi durante o período getulista, que foi criada a primeira rádio nacional e com capacidade de chegar aos mais distantes rincões do país.
Essa emissora tinha a função de divulgar os feitos do governo, transformando Getúlio no grande líder do povo brasileiro, o que deu a ele o título de “pai dos pobres”, em função das reformas introduzidas por ele durante o período que dirigiu esse país, também é durante o seu governo que o cinema ganha projeção nacional, com a fundação da Atlântida, primeira companhia de cinema brasileira, que popularizou a sétima arte A partir de então, a classe dominante percebeu que era um mecanismo fundamental para a garantia do seu poder, já em 1950, é a vez da introdução da televisão, essa ferramenta muito rapidamente se torna parte orgânica das famílias brasileiras, principalmente após a ditadura militar, que a partir de 1970, desenvolve um projeto para facilitar a aquisição de aparelhos de TVs, para a população pobre do país, garantindo que a cultura de massa pudesse chegar a todos os lares brasileiros, tornando mais fácil a homogeneização da cultura ou ideologia burguesa.
Outro aspecto para ser observado é o desmanche das tradições culturais, sociais, religiosas da população, a classe dominante através da cultura de massa, criou uma categoria social, que aqui chamaremos de “lumpesinato cultural”. O processo de homogeneização da sociedade criou um novo paradigma cultural, independente das questões regionais, educacionais, econômicas, a cultura de massa vem construindo um cenário cultural, onde todos devem viver da mesma forma, travestido de progresso social e conduzido pelos avanços das tecnologias que se universalização mais e mais de geração para geração, o padrão desenvolvido pela cultura de massa, tem criado um modelo laboratorial de ser social, aqueles que se habituaram a seguir padrões pré-estabelecidos pela grande mídia, sem a capacidade crítica de questionar ou ao menos compreender o mundo em torno de sua existência.
Processo que dá para perceber em todos os aspectos da vida humana nas últimas duas décadas ao menos, quando a grande mídia tem instituído, padrões de comportamento, gostos musicais, ídolos esportivos forjados pelas grandes empresas patrocinadoras, com o objetivo de criar produtos de grande apelo comercial para incrementar o consumo destes produtos de massa, um ambiente sócio-político e econômico, favorável ao pleno desenvolvimento do capitalismo, tudo isso sem que o povo possa discutir e opinar sobre a qualidade do que está sendo vendido, nem mesmo, garantindo a oportunidade de escolha a uma população a cada dia mais dominada e alienada.
Ao mesmo tempo em que, garantem o modelo de sociedade e de ser humano ideal para a manutenção da ordem burguesa, a classe dominante brasileira, pode desenvolver um sentimento de negação a tudo que estiver no caminho de sua escalada pelo poder.
Utilizando da cultura de massa, pode-se também desconstruir imagens, transformar algo em bom ou ruim a partir das necessidades desta burguesia, desta forma o que é aliado do povo pode ser transformado em inimigo número um de uma população que não mais reflete sua realidade, e passa a aceitar a dominação como algo normal ou natural.
Esse é o papel da cultura, numa sociedade marcada a cada dia pelo consumo ou pelo domínio do pensar e fazer humano, onde o poder econômico e político de uma classe sobre a outra não se esgota no velho conflito capital x trabalho, mas essa relação se consolida na aceitação total da dominação por parte daqueles que historicamente deveriam representar a luta pelo novo, a transformação destes padrões estabelecidos secularmente por quem detém o poder político e econômico da sociedade e descobriu que através do domínio cultural, e, sobretudo, através da produção de uma cultura de massa e para as massas, podem cristalizar seu poder por todo o globo terrestre.
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