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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
UM RÁPIDO OLHAR SOBRE O PROCESSO POLÍTICO QUE CULMINOU COM A ELEIÇÃO EM 2014
dezembro 11, 2014
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por
Vinícius...
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* Por João Paulo Pereira
Estamos no início do século XXI e o cenário sócio-histórico no Brasil ainda é o mesmo do início do século XX, claro que os agentes sociais são outros, mas a nossa sociedade não mudou muito no que tange as questões culturais, políticas e econômicas. Apesar do avanço das forças populares, de termos setores de esquerda dirigindo o Estado brasileiro, as relações sociais, políticas e econômicas, não se alteraram tanto, o poder político e econômico, continua nas mãos das mesmas elites que sempre estiveram à frente deste Estado, o povo continua desinformado e sendo conduzido pela mesma ideologia burguesa que determinava o pensamento no início do século passado, pouca coisa mudou e nada como os eventos históricos para retratar e deixar claro o papel da ideologia dominante burguesa em nossa sociedade.
Passamos agora por um processo eleitoral no país, o mais disputado desde a primeira eleição direta após o fim da ditadura militar, os dois lados que formam as classes sociais brasileiras lançaram suas candidaturas, mesmo sem defesas de projetos diferentes, já que os representantes da classe trabalhadora definiram pela adequação a ordem burguesa e a governabilidade dentro dos moldes traçados pela classe dominante, mas ficou claro que existem dois lados e que estes estão em disputas pela direção do Estado.
De um lado vimos claramente um projeto mais próximo dos trabalhadores, que mesmo propondo dirigir o Estado Burguês, deixou claro a opção por políticas que vise à melhoria da qualidade de vida dos milhões de trabalhadores pobres, que durante a história deste país, foi abandonado pelas elites dominantes (burguesia), visto apenas como produtores de riquezas para a acumulação de poucos bem nascidos, prontos para serem explorados pelo modelo de desenvolvimento capitalista. Por outro lado, vimos a maior organização, destas elites burguesas e capitalistas, apoiados pelo capital internacional, com todos seus organismos de poder, por uma mídia que claramente assumiu o lado da burguesia, desenvolvendo uma campanha odiosa, disseminando o ódio gratuito contra o Partido dos Trabalhadores, objetivando não só vencer uma eleição, mas, sobretudo, criar uma política e extermino deste partido e de toda a ideologia de oposição à ordem burguesa.
Assistimos a mais cruel política de difamação de uma instituição política dos últimos anos, não que isso não tenha tido precedentes na história deste país, desde que teve inicio a Indústria Colonial no Brasil, que todos aqueles e tudo aquilo que não serviam aos interesses dos setores dominantes foram tratados desta forma. Primeiro com os nossos povos originários (Índios), demonizados, transformados em habitantes do “inferno” na Terra, era assim que o nosso país era visto em um segundo momento pelo colonizador português.
Mas tarde, foi à vez da demonização do povo negro, arrancado de sua terra pátria, e trazido para o trabalho compulsório, forçado a trabalhar de forma sub-humana, para produzir riquezas para o nascente e crescente capitalismo português e consequentemente brasileiro. Na questão dos negros essa demonização ainda é mantida até os dias atuais, mesmo sendo um país miscigenado, etnicamente diverso, é claro e ficou mais claro com o processo eleitoral, como a classe dominante, pensa e ver os afrodescendentes ou os descendentes dos povos originários no país.
Esse processo vai se dá a partir de uma construção política, não se trata do “acaso histórico”, o preconceito étnico, não é somente uma questão de cor da pele, é na verdade um preconceito social que foi estabelecido a partir de um projeto político maior que as eleições para a Presidência da República ou para a Câmara de Deputados ou Senado, é uma postura política e estruturada dos setores que há 514 anos dirigem este país, e acreditam que este pedaço de terra, existe para manutenção do “status quo” desta burguesia historicamente constituída. A casa grande e a senzala no Brasil se tornou uma “instituição”. As elites dominantes construíram historicamente uma cultura de servidão, que foi embutida na consciência coletiva da população, independente do nível de formação escolar institucional.
O resultado disto é que podemos assistir a um espetáculo grotesco, de defesas despolitizadas de um modelo de direção do Estado burguês, que beira ao fascismo. Inicialmente com um discurso produzido pela mídia, que fez questão de instituir uma ideologia apartidária na classe média, discurso que também chegou às bocas da classe trabalhadora. Essas duas categorias sociais, mesmo de forma irracional absorveram esse debate de forma tão aguda, que aceitaram sem questionamentos, o discurso com fundamentação fascista, como sendo a solução para todos os problemas sociais que enfrentamos, sem se dá conta de que estes problemas são os frutos do próprio modelo de desenvolvimento capitalista, que infelizmente, não foi questionado pelo Partido dos Trabalhadores ao chegar à direção do Estado.
Outro paradigma construído pelas elites dominantes e aí exigiu, mas trabalho político foi o ódio ao PT. Desde o surgimento deste partido, ainda no início dos anos 80 do século passado, que a elite dominante brasileira (burguesia), procurou formas eficazes de desqualificar a existência deste partido. Inicialmente colocou o PT na mesma conta da “indústria do anticomunismo” norte americano, “o partido comunista que iria acabar com as liberdades democráticas do país”. Depois foi o momento de transformar este partido, na organização dos bagunceiros, dos vândalos que promovia a baderna e o caos social, com as terríveis greves de trabalhadores, destruidores da paz social e da harmonia entre ricos e pobres. Mesmo sofrendo forte oposição, o Partido dos Trabalhadores, conseguiu crescer no cenário político nacional, até em resposta ao fracasso dos governos de direita na pós-ditadura militar, que não conseguiu responder as necessidades fundamentais da população brasileira.
Até o final dos anos 80, na primeira eleição direta no país, o Partido dos Trabalhadores ainda defendia políticas com características de esquerda, apostando na ruptura com o Estado de Direito (burguês) e na construção de um novo modelo de Estado, onde a classe trabalhadora assumisse o papel de protagonista das mudanças estruturais necessárias para a construção de uma nova ordem social, política, econômica e cultural, capaz de garantir a igualdade entre todos, justiça social, e solidariedade entre a população. No inicio dos anos 90, o mundo começa a sofrer mudanças políticas e econômicas, que vai alterar toda a configuração das organizações de esquerdas e populares no planeta, e o Partido dos Trabalhadores, também começa o processo de mudanças de suas perspectivas políticas.
Com o advento da Perestroika e da glasnost na antiga União das Repúblicas Socialista Soviética, e com a “Queda do Muro de Berlim”, todo o movimento social, partidos de esquerda, sofreram um refluxo das perspectivas de construção do socialismo, já que a principal referencia destes modelos de desenvolvimento político e econômico, havia fracassado. É bom ressaltar que o Partido dos Trabalhadores historicamente, nunca defendeu o modelo soviético, entretanto, não dá para negar que as referencias para qualquer movimento de esquerda até os anos 90 do século XX, era a experiência real da revolução de 1917, apesar dos erros cometidos na condução do processo político, era a prova real de que o capitalismo poderia ser superado.
A partir deste momento histórico, os partidos de esquerda de todo o mundo, os movimentos sociais também de esquerda, passaram a elaborar um novo paradigma para a construção deste novo modelo de sociedade, para a superação do capitalismo, e para a construção de um novo momento na história da humanidade, que privilegiasse a toda a população, que superasse a divisão de classes e instaurasse uma nova ordem política, econômica e cultural, mas justa e mais humanizada.
Diante deste novo desafio o Partido dos Trabalhadores, inicia este novo momento, o que fazer nessa nova conjuntura mundial para garantir as transformações estruturais, que melhorasse a qualidade de vida do povo brasileiro, já que utopia do socialismo, havia se perdido no horizonte da história? Setores não hegemônicos do partido passaram a fazer uma leitura crítica dos acontecimentos dos anos 90, defendendo que o que havia sucumbido, não era o socialismo defendido pelo PT e que era preciso manter um programa de esquerda, que buscasse a superação do capitalismo e a instituição de uma sociedade socialista, enquanto, os setores hegemônicos do partido, desenvolveram em suas teses mecanismos de gestão do Estado Burguês, que privilegiasse a melhoria da qualidade de vida da classe que vive do trabalho, sem apostar na “luta de classes” e no enfrentamento com as elites dominantes nacionais e mundiais, tese que se sagrou vencedora nos debates internos do partido e culminou com a “carta ao povo brasileiro”, documento que marcou a conciliação de classes no Brasil e o direcionamento a gestão do bem burguês pelo PT, a partir de uma lógica da governabilidade burguesa.
Dirigir o Estado a partir da lógica da governabilidade burguesa era fazer o jogo da classe dominante, lutar dentro das regras que historicamente foram combatidas pelo Partido dos Trabalhadores. Esse novo momento na história deste partido acabou por construir e fortalecer o discurso antipetista. Medidas políticas, ações de governo, que visasse à garantia da governabilidade, se transformaram nas mãos da mídia burguesa em ferramentas para enlamear o nome e a história do Partido, colocando o partido que nasceu para ser a diferença política, na vala dos comuns, políticas de aliança com setores outrora combatidos, acrescentaram um tempero desastroso ao processo de transformações que este partido enfrentava para garantir a direção de Estado em todas as esferas de gestão da federação brasileira. E para ampliar o problema, o crescimento do partido nas esferas de poder atraiu para o interior deste, um número grande de filiados, que não mais compartilhava dos ideais que forjaram o nascimento do Partido dos Trabalhadores.
Os erros cometidos ao longo deste período que marca a ascensão do PT a direção do Estado Brasileiro, serviram como luva, para que o setor dominante do país fortalecido pela burguesia internacional trabalhasse incansavelmente na tarefa de transformar o PT em mais um partido brasileiro, tirando dele a importância histórica que trouxe consigo desde o nascimento.
Para a classe dominante brasileira, já foi difícil de aceitar a perda da direção política do país, pior foi o fato do Partido dos Trabalhadores, ter promovido reformas institucionais de base, no modus operandi de fazer política no país, invertendo prioridades, mexendo com conceitos historicamente consolidados por essa classe dominante, como preconceito racial, social, cultural, garantindo oportunidades de ascensão social a setores que sempre estiveram fora dos planos destas elites que se forjaram na “casa grande”, como índios, negros, LGBT e todos os excluídos de nossa sociedade, construída sobre bases segregadora, excludente, patriarcal e desumana.
Do ponto de vista mundial, o Partido dos Trabalhadores, em função de posições políticas de esquerda, bem definidas, formou e em alguns momentos se tornou líder na luta contra o imperialismo norte-americano, assumindo posturas contrarias a ações de intervenção militar a país dissidentes dos interesses da grande potencia capitalista e de seus aliados históricos, formadores do G7. Ao mesmo tempo em que esse partido dirigindo o Estado brasileiro, fortaleceu setores da esquerda na América Latina, elegendo setores desta esquerda para direção dos Estados Nacionais, o que serviu para enfraquecer a hegemonia norte-americana sobre o continente.
Para completar o quadro exposto acima, o Brasil, junto com outros países emergentes, a exemplo da Rússia, China, Índia e África do Sul, criaram um bloco econômico, o BRICS, com força para competir com os países de ponta do capitalismo no mercado mundial, o que provocou e vem provocando a reação dos setores controladores do mercado, aumentando a preocupação deste com o crescimento deste país e com o futuro do modo de produção capitalista.
Esta posição assumida pelo Brasil e pelo Partido dos Trabalhadores colocou em alerta a burguesia mundial, que aliada à burguesia brasileira, encampou a tarefa de tirar da direção do Estado o Partido dos Trabalhadores. Com esse objetivo a classe dominante brasileira, a partir de sua mídia comercial e corporativa, com um discurso ideológico bem construído e se utilizando dos desvios de postura deste partido ao longo de sua história, incutiu no inconsciente coletivo do povo brasileiro, sobretudo, da juventude o “ódio ao PT”, sobretudo, no meio da juventude e nos setores de classe média, que historicamente sempre acreditaram que “político é tudo igual, e que a culpa de tudo é sempre dos governos”, um conceito ideológico criado secularmente no país e que mesmo com o avanço da educação escolar formal, não se alterou a lógica.
Para que esse discurso ganhasse vida, foi utilizada a máxima da “corrupção”, discurso que atende ao senso comum, ao empirismo político. No início do governo do presidente Lula, veio o “Mensalão”, onde membros da executiva nacional do partido e membros do primeiro escalão do governo, figuras importantes na história do partido, foram acusados de “formação de quadrilha”, de aliciamento de deputados para votarem projetos do executivo, de desvio de verbas publicas para compra de votos para aprovação de medidas políticas do governo.
Na jovem república brasileira é comum a compra de votos de legisladores, para aprovação de projetos do executivo, em todos os governos pelos quais passamos, sempre houve pagamento ao poder Legislativo. Infelizmente se transformou em prática comum na nossa história republicana, apesar de ser uma prática ilegal. Por ter assumido como projeto a governabilidade burguesa, o Partido dos Trabalhadores, acreditou que seria consigo, da mesma forma que foi com os partidos da burguesia. O setor hegemônico do Partido na década de 90 do século passado abandonou a luta de classes, acreditando que essa posição seria suficiente para que a burguesia também o fizesse, ledo engano, no primeiro desvio de conduta dos companheiros que chegaram a direção da maior esfera do Estado, a classe dominante, tratou de transformar em crime hediondo, o que feria mortalmente o PT, condenando figuras importantes historicamente para o pais, a ficarem conhecidos pelo rótulo de “Mensaleiros”, formadores de quadrilha, aliciadores, sendo condenados a prisão, mácula que feriu de morte a história do Partido dos Trabalhadores.
A partir deste momento a mídia burguesa de forma organizada, conduziu o atolamento deste partido, desconstruindo sua história e construindo um novo enredo para o novo tempo, fazendo do PT um partido igual a todos os outros, ampliando a velha máxima burguesa “que todo político é ladrão, que são todos iguais”. Desta forma foi sendo construído até mesmo nos setores mais esclarecidos da sociedade o senso comum de que não há jeito para o país, a máxima da “corrupção” passou a fazer parte do imaginário coletivo, como sendo o principal problema da sociedade brasileira. Paralelamente a isto, a burguesia nacional e internacional passou a divulgar a incansavelmente a idéia do apartidarismo, como sendo o caminho, sobretudo, para uma juventude a cada dia mais despolitizada, discurso que ouvimos comumente em todas as classes no meio juvenil.
Na esteira de um movimento que vem se desenvolvendo mundialmente, um discurso fascista também passa a fazer parte do ideário coletivo no Brasil. No cenário mundial, é perfeitamente visível a olhos nus, a construção via Estados Unidos da América, da retomada do Nazi-Fascismo como projeto para a gestão do Estado nesse início de século. Sinais claros estão brotando a cada episódio da história que estamos assistindo, nestes dias. Os levantes contra a Rússia, a eleição de setores nazistas na Índia, os levantes contra o Chavismo na Venezuela, dirigidos por lideres nazistas, os Blacks Blocs no Brasil, os movimentos de contestação do governo na Argentina, os movimentos que depuseram o presidente liberal da Ucrânia, o fortalecimento das idéias do fascismo na Europa em meio a uma grande crise econômica, a retomada da violência contra afro-descendentes nos Estados Unidos, os discursos homofóbicos, em defesa da pena de morte, sexistas, machistas, preconceituosos e de defesa do retorno da ditadura, que crescem por todo o país e por todos os países nas últimas duas décadas.
É preciso lembrar que o fascismo, é uma modelo de direção do Estado Burguês, que impede a mobilização da classe trabalhadora, pois se trata de uma ditadura civil, que apesar da rigidez das posturas em defesa dos ideais burgueses, no plano econômico desenvolvem políticas de caráter neoliberal.
Este cenário, foi utilizado para o desenrolar de mais um capítulo da história do Brasil, o processo eleitoral em 2014, se deu nesta conjuntura nacional e mundial, numa disputa desigual entre a classe trabalhadora e a burguesia. De um lado os trabalhadores, desinformados, alienados do processo político aprofundado, distante dos grandes debates que determinam os fatos históricos no mundo, servindo como ferramenta para a retomada da direção do Estado pela burguesia, do outro a burguesia competentemente articulada, internacionalmente unificada, com o objetivo de destruir uma das forças políticas capaz de fazer frente aos interesses imperialista e de manutenção da ordem burguesa. Não foi apenas uma eleição nacional, não foi apenas mais uma disputa eleitoral, entre o Partido dos Trabalhadores e o Partido da Social Democracia Brasileira. Esta eleição foi muito maior, implicou aí toda a luta pela conquista do futuro do capitalismo mundial.
A vitória do Partido dos Trabalhadores, pode ter significado em longo prazo uma transformação nas estruturas do poder econômico, político e social. O crescimento das forças populares no mundo ou o princípio de uma nova ordem social, mais humanizada, mais fraterna, mais solidaria, ao mesmo tempo, que pode ter significado mais compreensão na luta pela preservação ecológica, de preservação da vida, do meio ambiente. Da mesma forma, que pode não ter nenhuma ação prática na construção de uma nova ordem social, esse é um processo de gestação que só o futuro nos trará o resultado real disto, mas certamente a vitória do Partido dos Trabalhadores em uma eleição totalmente desigual, é um marco importante na luta por este novo mundo, esperemos que isso seja percebido pelas lideranças históricas e populares deste partido e que isso realmente se configure como um caminho para a humanidade.
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