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quarta-feira, 13 de setembro de 2017

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Combustível Crítico


Friderich Nietzsche Sacarlett Marton 

Scarlett Zerbetto Marton é professora titular de filosofia contemporânea da Universidade de São Paulo. Concluiu o mestrado em Filosofia na Université Paris I Sorbonne (1974), o doutorado (1988) e a livre-docência (1996) em Filosofia na Universidade de São Paulo. É autora, dentre outros livros, de Nietzsche, das forças cósmicas aos valores humanos,"Extravagâncias. Ensaios sobre a filosofia de Nietzsche, A irrecusável busca de sentido. Autobiografia intelectual, Nietzsche, seus leitores e suas leituras, Nietzsche, filósofo da suspeita. Publicou trabalhos na Alemanha, Áustria, França, Espanha, Estados Unidos, Venezuela, Colômbia, Bolívia, Argentina e Chile. Fundou e coordena o GEN - Grupo de Estudos Nietzsche; é editora dos Cadernos Nietzsche e da Coleção Sendas e Veredas. Trabalha na área de Filosofia, com ênfase em História da Filosofia Moderna e Contemporânea, atuando principalmente nos seguintes temas: Nietzsche, atualidade e crítica e Crítica da cultura contemporânea. Faz parte da direção do GIRN - Groupe International de Recherches sur Nietzsche. (Fonte: Currículo Lattes).
 Universidade de São Paulo (USP). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH)  (Instituição-sede da última proposta de pesquisa) 


terça-feira, 5 de setembro de 2017

Professora Arminda: uma honrosa história dedicada ao magistério!


*por Herberson Sonkha


Em 17 de agosto de 2016, nos deixou aos 78 anos, a nossa querida professora Arminda Souza Gomes, de saudosa memória. Tive o privilégio de ser iniciado nos estudos elementares de aritmética e leitura pelas mãos abençoadas da professora Arminda. Amava o que fazia e desde cedo começou a ensinar em casa, a professora Arminda lecionou também no Grupo Escolar Alaor Coutinho, Centro de Educação Navarro de Brito e no Rafael Spínola. Uma marca indelével da minha querida professora Arminda em minha lembrança é um semblante alegremente amistoso, conselheira e amiga que se dedicou ao magistério com amor incondicional.

Aos seis anos de idade eu tive o privilégio de ser alfabetizado por uma das mais importantes professoras de Vitória da Conquista, a minha querida e inestimável professora Arminda. Por volta de 1977, eu tinha apenas seis anos e já iniciava meus estudos elementares de aritmética e leitura na sala de sua casa, na Rua Espirito Santos, no bairro Alegria. Sob a mão firme da alfabetizadora do primário, a professora Arminda, eu e meu irmão Herberg (Binho) recebemos os primeiros fundamentos da leitura e dos números. Estudávamos a famosa a cartilha de ABC dos tempos longínquos da tabuada, uma era de ensino rudimentar, na qual a metodologia e didática adotada nas escolas eram absolutamente tradicionais.

Por meio do livreto colorido intitulado, “Caminho suave -Alfabetização pela Imagem” de Branca Alves de Lima alfabetizou mais de 40 milhões de brasileiros, retirada de circulação em 1995 em função da adoção da pedagogia construtivista. Outra cartilha épica foi a Cartilha Sodré, da professora Benedicta Stahl Sodré, segundo alguns especialistas em pedagogia, estas duas cartilhas são as únicas que podem ser consideradas como sendo de uso de método brasileiros de alfabetização em português.

Éramos crianças que, apesar de temer a famigerada TABUADA, Ensino Prático para Aprender Aritmética, por seu procedimento conservador à professora Arminda suavizava ao permitir tomar as lições cantarolando, pois aprendíamos somar, dividir, multiplicar e subtrair cantando. Era uma maneira de diminuir a brutalidade daquelas planilhas intermináveis de números que iam do zero ao múltiplo de dez. Além dessa via-crúcis da cartilha e da tabuada, logo abaixo da planilha, vinha um "conselho", que recomendava, “ATENDE: Fixa muito bem e duma vez para sempre a tabuada. Olha que sem isso não aprendes operar. Repara sempre nos conselhos que te dou e que vão no fundo de cada página das lições seguintes. Sê trabalhador e presta sempre muita atenção".

O ambiente educacional naquele período era literalmente assustador e exigia-se de seus educandos atenção, disciplina e seriedade no ensino. O perfil das tutoras do primário era de professora durona e brava. Jogava duro e não tinha trégua. O jargão naquela época era, “escreveu e não leu, palmatória nas mãos ou ficar de joelho no milho”. O ambiente escolar era hostil e tenebroso, mas a professora Arminda era amável, embora implacável em suas cobranças. Assim, se deu a minha iniciação nos estudos primários nos idos dos anos 70, do século XX, realizados na sala da casa da professora Arminda.

Após a iniciação, eu e meu irmão Herberg fomos matriculados no Grupo Escolar Alaor Coutinho, escola onde a professora Arminda lecionava as séries iniciais do primário e continuamos sendo educados por ela. Tenho saudades de minha infância, pois brincávamos antes e depois das aulas. Entre um estudo e outro, a professora Arminda nos dava picolé de uva que seu esposo Miguel vendia nos finais de semana nas feiras-livres da zona rural e cidades vizinhas. Isso é tão fresco em minhas lembranças, pois tinha aprendido para sempre uma das lições, “Ivo viu a Uva”. 

Aprendi primeiro formar encontros vocálicos e depois silabação. A professora Arminda cantava aquela musiquinha, “O ba, be, bi, bo, bu vamos todos aprender... O la, le, li, lo, lu vamos todos aprender...” e a gente murmurava baixinho quase imperceptível, “O ca, ce (que), ci (qui) , co , cuuuuuuu vamos todos aprender”. Claro que a professora Arminda nem sonhava que fazíamos isso em tom zombeteiro.

Anos mais tarde, já adulto e pais de duas lindas filhas (Katharine e Karine) quando voltei a morar no bairro alegria, exatamente quase em frente à sua casa, eu fiquei maravilhado ao reencontrar a minha professora Arminda, lucida e bem-disposta. Conversamos por horas e, sem hesitar lhe perguntei sobre meu comportamento enquanto estudante e, ela sem pestanejar me respondeu, “você e seu irmão sempre foram educados e obedientes em sala de aula. Quer seja em minha casa ou na escola. Fui professora de vocês na alfabetização e no primário no Alaor Coutinho. Não poderia ser diferente porque Licinho (Alício) educou vocês para serem pessoas respeitadoras, decentes e honradas. ”

As últimas lembranças de minha professora foram maravilhosas porque tive a oportunidade para agradecê-la por ter contribuído com a nossa formação educacional. Mãe exemplar e mulher honrada, a professora Arminda nos deixa um exemplo de vida para todos nós. Hoje, atuando como professor, me reconheço em seus ensinos e alegro-me com minha primeira e grande experiência em ensino com ela.

Naquela ocasião em que fiz uma visita, apresentei minhas duas filhas a professora Arminda, que ficou encantada exclamando “filha de peixe peixinho é” com a doçura que lhe era particular e fez questão de frisar que éramos muito parecidos com o comportamento delas. Sinto-me honrado em ter feito parte da história de vida desta grande mulher educadora, com relevantes serviços prestados ao bairro alegria e adjacência, num momento conturbado da vida política do Brasil. Os militares nunca brincaram em serviços quando a questão era repressão e violência, a veraneio vascaína de Renato Russo, a moreninha, que o diga. Época em que ensinar era apenas uma imposição disciplinatória ou punitiva para pobre não virar bandido ou comunista.


A minha querida professora o meu mais sincero respeito e carinho afetuoso a sua memória pelo cuidado e atenção conosco, porquanto seja nesta fase da vida infantil, uma das mais delicadas fases de desenvolvimento do ensino-aprendizagem. Se aqui cheguei exitosamente, em grande medida devo a esta que foi, minha grande professora. Obrigado professora!!!

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