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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

No dia da Visibilidade Trans, Inesc reafirma sua bandeira de luta pela população LGBT




Apesar de avanços como o nome social no Enem e o recém-criado projeto da Prefeitura de São Paulo, a transfobia continua a fazer vítimas no Brasil.
  
O Inesc registra que hoje, 29/1, é comemorado o “Dia da Visibilidade Trans”. Nesta data, movimentos sociais e organizações que defendem os direitos da população LGBT chamam a atenção para a necessidade de garantir os direitos das pessoas trans no Brasil e no mundo, principalmente àqueles relacionados a direitos humanos e civis.


Apesar de alguns avanços, como o nome social do Enem e o recém projeto da Prefeitura de São Paulo – que garantirá a muitas pessoas trans (travestis, transexuais e transgêneros) o retorno à escola –, um dos mais urgentes desafios a serem enfrentados é a violência sistemática e recorrente contra as pessoas trans.

A homofobia, que ainda não é considerada crime no país, provocou, segundo levantamento do Grupo Gay da Bahia, pelo menos 216 assassinatos de janeiro até o dia 21 de setembro de 2014. Estatísticas do Grupo também apontam que 2013 tiveram pelo menos 312 assassinatos, o que corresponde uma morte a cada 28 horas. Os dados oficiais também são alarmantes. Segundo o 2º Relatório Sobre Violência Homofóbica 2012, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos (SDH), o número de denúncias de violência homofóbica cresceu 166% naquele ano. Travestis e transexuais representam um dos grupos mais atingidos pela violência, e também pela discriminação cotidiana que impede essas pessoas de acessarem postos de trabalho e políticas públicas básicas.

Em 2014, o Inesc, OnG que atua há mais de 35 anos na área dos direitos humanos, intensificou sua atuação na agenda LGBT(confira mais aqui). Por meio da realização do projeto “Eu te desafio a me amar” (Assista ao teaser aqui), o Instituto estimulou o debate sobre o tema  por meio de fotografias, vídeos e discussões sobre a temática.

Segundo Carmela Zigoni, assessora política do Inesc o projeto conjugou arte e política de forma ímpar. “A partir das fotografias e vídeo de Diana Blok, que trazem um olhar leve e intenso sobre o universo LGBT, o Inesc promoveu diversas atividades de formação e debate sobre os direitos humanos LGBT no Rio e em Brasília, contando com a generosidade de importantes parceiros, como o Observatório de Favelas, a Anistia Internacional e o Coletivo da Cidade e o apoio Embaixada da Holanda, da ONU Mulheres Brasil, da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e da Secretaria da Cultura-DF/Museu Nacional da República, entre outros parceiros.

O Inesc seguirá desenvolvendo atividades nessa área, com o objetivo de contribuir para a discussão sobre o tema.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

CORTA ESSA, MEU!



* Por Iranildo Freire

Anagé cidade cantada e decantada pelos seus filhos poetas como possuidora de riquíssima cultura popular e permeada de muitas histórias e memórias. Nas décadas de 60 e 70 a cidadezinha era uma espécie de Palestina Antiga, servia de passagem e hospedagem para milhares de romeiros que vinham de Minas Gerais, Sul da Bahia e de outros tantos recantos da Bahia e do Brasil rumo à cidade de Bom Jesus da Lapa, especificamente nos primeiros dias do mês de agosto. A cidade de Bom Jesus da Lapa conhecida por sediar, desde o século XIX a segunda maior festa religiosa católica do Brasil - Romaria do Bom Jesus.


Neste cenário de pequena cidade do interior da Bahia vive Avelino Vieira com sua família, autor da célebre frase: corta essa, meu! Avelino Vieira, mais conhecido como Avelino de Fulô. Fulô era Filomena. Dona Filomena. Esposa de Avelino, ou seja, “Filomena de Avelino” e “vice-versa”. Bebedor das águas do rio Gavião, ser humano emblemático e marcante na memória histórica da cidade, principalmente pelas histórias que protagonizava nos períodos de romarias, como comerciante ambulante de frutas e de guloseimas diversas.

A cidadezinha dividia-se basicamente em duas partes; as casas que ficavam na parte de baixo da Igreja Matriz (Padroeiro São João Batista) e as casas que ficavam na parte de cima da Igreja. Eram nessas casas de ruas empoeiradas que vivia uma população que anualmente, no mês de agosto, ficava polvorosa para receber os romeiros peregrinos de Bom Jesus da Lapa. A população do lugarejo direto ou indiretamente mobilizava-se e transformava-se em exímios comerciantes; montavam-se barraquinhas nas ruas, convertendo a cidade numa verdadeira “quermesse temporã”. Vendia de tudo nas barraquinhas montadas pelos “moradores comerciantes”; café, brevidade, mingau, bolinho (de puba, milho, goma), aipim cozido, cuscuz, canjica, frutas; além de objetos artesanais produzidos no Munícipio, como selas, cabrestos, rédeas, chapéus de palha e de couro, esteiras de palha, sandálias de couro, etc. As residências dos moradores também era um meio de ganhar um “dinheirinho” nesta época, pois serviam de dormitórios. A casa de Sinhana de Bitu, por exemplo, servia como dormitórios e ainda restaurante. O pouso na cidade era necessário, pois naquela época praticamente todo o percurso até a cidade de Bom Jesus da Lapa era feito em estradas de terra, o que gerava um grande desconforto e cansaço físico aos romeiros. Muitos deles, principalmente os que vinham do Estado de Minas Gerais e de outras partes mais longínquas do Brasil ficavam até três dias na pequena Anagé para contentamento financeiro dos moradores do Vilarejo.

Numa dessas romarias da primeira metade da década de 1970, eis que surge o folclórico personagem dessa história, Avelino de Fulô, levando o seu comércio até os romeiros. Os caminhões que transportavam os romeiros eram revestidos com lonas sobre estacas armadas e assentos entre as duas laterais da carroceria do caminhão, o que por várias vezes, “Tio Vilu”, como também era popularmente conhecido o Sr. Avelino em Anagé, confundia constantemente com carros que transportavam bois, os chamados carros de boiadeiros que eram parte do cenário cotidiano da cidade. Os caminhoneiros, ou melhor, os boiadeiros eram hóspedes assíduos dos hotéis São João(de propriedade de Senhorinha Barbosa – Dona Senhora, esposa de Neco), Ideal (de propriedade de Belarmina – Dona Bela, segunda esposa de Ulisses Oliveira), Fé em Deus (de propriedade de Dona Dosa, primeira esposa do ex-prefeito - mandato tampão de 1970-72, Henrique Ribeiro Neto), Itapetinga(proprietária - Dona Mera, esposa do ex-candidato a prefeito na eleição de 1966, Claudemiro Fortunato Pereira) e, ainda na pensão de Dona Miúda, filha de Ulisses Oliveira e esposa de Júlio.

De visão “pouco apurada”, Tio Vilu sai para trabalhar numa noite sem contar com a luz do luar e muito menos com a luz elétrica da cidade, pois esta dependia sempre do óleo para produzi-la e quase sempre faltava, por descuido ou mesmo falta de responsabilidade com a “coisa pública” por parte dos prefeitos de então; Tio Vilu achando que estava próximo de um carro de romeiro, rumou-se para gentilmente oferecer suas guloseimas aos peregrinos do Bom Jesus. Na bandeja ele carregava sobre um dos braços chimango e pastel, na outra mão carregava duas garrafas, hoje térmicas, naquela época, “quente-frios”, uma com café e a outra com leite. Ao oferecer o seu produto aos possíveis fregueses foi surpreendido com uma “coiçada de bosta” direto na bandeja. Ele que estava abaixo da carroceria do caminhão lotado de bois, perdeu a paciência e gritou como se queixasse para outros vendedores que estavam próximos:
_ Oh! rumeiros maliducados! Ruminou de raiva o velho Vilu.
Outra passagem de Tio Vilu não menos pitoresca ocorreu numa pura falta de comunicação entre ele e um romeiro paulista, possivelmente, um baiano que foi a São Paulo para trabalhar e que retornou com um palavreado carregado de gírias. O baiano-paulista interessou em comprar uma melancia ofertada por Tio Vilu, pois neste dia, o velho estava vendendo frutas, dentre elas, melancia.   Perguntou o baiano de linguajar paulista:
_ Quanto custa essa, meu?
_ Esta melancia custa 10 cruzeiros. Está vermelhinha e docinha. Respondeu Tio Vilu com aquela “vozinha” rouca, marcante e inconfundível.
_ Corta essa, meu! Retrucou o baiano-paulista inconformado com o alto preço da fruta em questão.
Tio Vilu de imediato cortou a melancia e apresentou ao freguês. 
_ Está aqui a melancia cortada que você pediu. Despachou Tio Vilu.
_ Sai dessa, meu! E saiu sorrindo, o baiano-paulista, sem entender a atitude do “velhinho-vendedor” nas romarias de Bom Jesus da Lapa.
 
(Iranildo Freire Oliveira – é professor de História no CERV – Anagé-BA)



































 


















domingo, 25 de janeiro de 2015

O Coletivo Ética Socialista esboça caminhos para 2015.

"Nos seus quase 1 ¼ de século, o Coletivo continua sendo uma força jovem, politicamente articulada às lutas das classes trabalhadoras, aos movimentos sociais e ideologicamente à esquerda, que mantém hasteada a flama do socialismo.  "

* Por Herberson Sonkha
Realizada na noite desta sexta (23) na casa do Prof. Marcelo Neves a reunião de planejamento que contou com analises de conjuntura após auscultar as fortes razões ideológicas da militância do COESO que permanece com as críticas ao comportamento político das forças conservadoras internas que compõem o campo majoritário e continua fazendo restrições ideológicas às políticas econômicas e sociais neoliberalizantes adotadas por governos do PT. Reafirmou seu compromisso com a construção do Dialogo e Ação Petista (DAP) na região sudoeste; analisou a participação em governos do PT; qualificou com positiva a necessidade de fortalecer de maneira contínua o mandato do vereador petista Florisvaldo Bittencourt pela importância para reorganizar o partido e fortalecer espaços participativos que dialogue respeitando os movimentos sociais.


O planejamento de Metas e Ações para 2015 do Coletivo demonstra ousadia que desafiam o despolitizado ambiente hostil criado entorno dos institucionalizados do PT, gerado principalmente pelo comportamento indesejado dos mesmos. Tais hostilidades originadas pela direita conservadora e raivista, com validação de setores estratégicos das classes trabalhadoras e da sociedade, se devem em parte pelas praticas imorais destas “lideranças” petistas que capitularam ao jogo corruptível e aos “rentistas” do Estado liberal burguês e aliados. Todavia, constituir-se-á em álibi estratégico para mídia desconstruir um projeto coletivo que deveria impor outra sociabilidade socioeconômica, essencial à longa caminhada para emancipação humana das classes trabalhadoras, desempregados e minorias.

Criado nos idos dos anos 90 por estudantes que atuavam no movimento estudantil (universitário e secundarista), o Coletivo fez parte das grandes manifestações e memoráveis mobilizações estudantis que contribuíram significativamente para as grandes mudanças políticas ocorridas no final dos anos 90, no município de Vitória da Conquista. Nos seus quase 1 ¼ de século, o Coletivo continua sendo uma força jovem, politicamente articulada às lutas das classes trabalhadoras, aos movimentos sociais e ideologicamente à esquerda, que mantém hasteada a flama do socialismo.  

Além de ser o ano que antecede as eleições municipais e todas as contradições socioeconômicas que decorrem deste processo democrático na forma (mas conservador na essência) é o momento em que as Comissões Provisórias realizam eleições diretas tornando-os Diretórios. O COESO considera que este momento é propicio à reflexão critica da militância aos episódios controversos, não menos corruptos e despolitizados, que impõe desgastantes para as forças dirigentes e injustamente corroí o capital político instituído pela militância do PT. Aliás, também incidem negativamente sobre o Coletivo, mesmo sendo contrário a quaisquer ações e manobras questionáveis ideologicamente dos dirigentes do PT e de partidos aliados.

A avaliação do Coletivo aponta para o enfrentamento político da avalanche falso moralista que se abate exitosamente sobre o partido, que visa impor uma das piores crises internas de valores ideológicos e princípios do Partido dos Trabalhadores. As medidas e comportamentos adotados pelos dirigentes institucionais desconstroem o patrimônio moral e ideológico do PT e coloca na vala comum um dos mais importantes projetos que contribuem para emancipação humana das classes trabalhadoras, artistas, intelectuais, lideres religiosos progressistas, gênero, LGBB, étnico racial que é o Modo Petista de Governar.


Para o COESO, 2015 deverá ser o ano da consolidação do Dialogo e Ação Petista (DAP) de reconstrução do campo Democrático e Popular e da retomada do Governo Participativo com atualização programática do Modo Petista da Governar, negligenciado pelos carreiristas que trocaram valores coletivos pelo sonho da classe media de ficar ricos. Apesar do crescimento de ideologias burguesas e comportamentos capitalistas por parte de correntes internas ao partido, o COESO compreende que o PT ainda é uma organização com propostas transformadoras, mas necessita rever urgentemente seu projeto de governo, sua práxis política e seus interesses de médio e longo prazo. 
terça-feira, 20 de janeiro de 2015

COMUNICADO DO PARTIDO OPERÁRIO INDEPENDENTE (POI) DE FRANÇA 10 de Janeiro de 2015







Comunicado N° 3 de discussão e de preparação do V Congresso (aberto) do POI e dos congressos departamentais (abertos)
Aos aderentes do POI, aos simpatizantes e aos leitores de Informations ouvrières (Informações operárias)

A nossa posição:
Desde há três dias que uma vaga de emoção sem precedentes levou milhões dos nossos concidadãos, expressando a sua angústia, a reagirem perante o ignóbil atentado que atingiu o semanário Charlie Hebdo.


Angústia perante este ataque contra a liberdade de imprensa – pilar das liberdades e da democracia. Angústia de que seja suscitado o “comunitarismo”,  com o intuito de desmantelar a democracia e a República laica. Angústia de ver transposta para o nosso país a guerra perpetrada pela coligação – de que são membros a França e todos os países europeus – sob a direcção de Obama.
Esta angústia alimenta-se da angústia gerada pelo desemprego, pela miséria, e pela destruição dos direitos e das garantias – orquestrados pelos governos que obedecem ao FMI e à União Europeia.
Desde o anúncio dos primeiros atentados, o Partido Operário Independente (POI) expressou a sua mais firme condenação. Durante todo o resto da semana, os seus filiados  – com milhões de trabalhadores e de jovens – participaram, sob todas as formas, na expressão espontânea desta angústia e desta indignação.


O POI coloca a questão : poderá um primeiro passo ser dado no sentido de uma solução consentânea com as aspirações à paz e à democracia, numa manifestação encabeçada por François Hollande, Angela Merkel, Mariano Rajoy, David Cameron, Matteo Renzi, Juncker (presidente da Comissão Europeia), o ministro da Justiça de Obama e até o Secretário-Geral da OTAN (1)?
Quem pode acreditar que aqueles que constituem – sob o comando de Obama – a coalizão que semeia a guerra e a desolação na Síria, no Iraque, no Mali, na Líbia, na República Centro-Africana… estejam habilitados para encabeçar e representar as aspirações à paz por que os povos anseiam?
Quem pode acreditar que aqueles que impõem a austeridade, o desemprego e a desregulamentação em todos os países da Europa – sob a égide da União Europeia – estejam habilitados para responder às aspirações à justiça social e à defesa dos direitos?


Para o Partido Operário Independente, é combatendo sobre o seu terreno de classe e sobre as suas reivindicações – preservando a sua independência – que o movimento operário sempre deu, dá atualmente e dará no futuro a mais fundamental contribuição para a luta pela democracia e pela paz.
É sobre este terreno que agimos e continuaremos a agir. Ajudar a nossa classe a juntar-se para a defesa dos seus interesses e a defender-se – como classe dos oprimidos e dos explorados – constitui a contribuição mais decisiva para o combate de defesa e de reconquista da paz e da democracia.
A luta pela paz e pela democracia é inseparável da ajuda ao combate contra a política do governo de Hollande-Valls. Governo que, apenas neste mês de Janeiro, põe em prática o “Pacto de responsabilidade” (41 bilhões de euros de isenções aos patrões e 50 bilhões de euros de cortes nos serviços públicos) e a lei Macron – que questiona todos os direitos.


É por isso que estamos a construir um autêntico partido operário independente, instrumento para ajudar a classe operária a agir e a combater – sobre o terreno da luta de classe – pelo socialismo, pela República e pela democracia. Os trabalhadores têm necessidade de se agruparem politicamente, com toda a independência. Têm necessidade de um partido deles, independente da União Europeia e de todos os governos, independente da classe capitalista.


É sobre este terreno que estamos a preparar o nosso V Congresso (aberto), bem como os congressos departamentais abertos a todos os trabalhadores e militantes que se interrogam sobre a gravidade da situação e os meios para bloquear a deriva que se desenha.


O Conselho Federal Nacional do POI mandata o seu Secretariado permanente para se exprimir, de acordo com os desenvolvimentos da situação, através de comunicados de discussão e de preparação do Congresso aberto.

Adoptado à unanimidade pelo CFN (Conselho Federal Nacional) do POI
Sábado, 10 de Janeiro de 2015, 18 horas
(1) Juntemos ainda Netanyahu a lista, o primeiro-ministro israelita anunciou, também, no sábado à noite a sua participação na marcha.


terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Quem tem medo de Thomas Piketty?




Não há argumentos, só silêncio e preconceitos, em resposta ao “Capital no Século XXI”, novo livro de Thomas Piketty. Partidários da desigualdade foram pegos no contrapé.

Thomas Piketty (divulgação)

 
*Publicação do Pragmatismo Político (Economista Francês Thomas Piketty)

O novo livro do economista francês Thomas Piketty, “O capital no século XXI”, é um prodígio de honestidade. Outros livros de economia foram um sucesso nas vendas, mas diferentemente da maioria deles, a contribuição de Piketty tem uma séria erudição, capaz de mudar a retórica. E os conservadores estão aterrorizados.


Por isso, James Pethokoukis, do American Interprise Institute, adverte na revista “National Review” que o trabalho de Piketty precisa ser refutado porque, do contrário, “se propagará entre a clerezia e dará nova forma ao cenário da economia política em que serão travadas todas as futuras batalhas sobre política”.

Pois bem, lhes desejo boa sorte nesta empreitada. Por enquanto, o que de fato surpreende no debate é a direita parecer incapaz de organizar qualquer tipo de contra-ataque significativo à tese de Piketty. Em vez disso, sua reação consistiu exclusivamente em desqualificá-lo. Concretamente, em alegar que Piketty é um marxista e, portanto, alguém que considera a desigualdade de renda e de riqueza uma questão importante. Em breve voltarei à questão da desqualificação. Antes, vejamos por que o livro está tendo tanta repercussão.

Piketty não é o primeiro economista a ressaltar que estamos experimentando um forte aumento da desigualdade, ou até mesmo a enfatizar o contraste entre o lento crescimento da renda para a maioria da população e os rendimentos altíssimos no topo. É verdade que Piketty e seus colegas agregaram uma profundidade histórica ao nosso conhecimento, demonstrando que realmente estamos vivendo em uma nova Era Dourada. Mas nós sabemos disso faz tempo.

Não. O que é realmente novo sobre o “Capital” é o modo como destrói o mais amado mito dos conservadores, a insistência de que estamos vivendo em uma meritocracia, em que grandes fortunas são conquistadas e merecidas.

Nas duas últimas décadas, a resposta conservadora às tentativas de tratar de forma política a questão do aumento da renda das classes altas envolveu duas linhas de defesa: em primeiro lugar, a negação de que os ricos estão realmente se dando tão bem e o resto está mal. E quando tal negação falha, eles alegam que essas rendas elevadas são uma recompensa justificada por serviços prestados. Não se deve chamá-los de 1% ou de ricos, mas sim de “geradores de emprego”.

Mas como fazer essa defesa, se os ricos derivam grande parte de sua renda não do trabalho que eles fazem, mas dos ativos que possuem? E se as grandes fortunas, cada vez mais, que não vêm de empreendimentos, mas sim de heranças?

O que Piketty mostra é que estas não são questões menores. As sociedades ocidentais, antes da Primeira Guerra Mundial, eram dominadas, de fato, por uma oligarquia de riqueza herdada -e seu livro argumenta convincentemente de que estamos voltando para esse cenário.

Portanto, o que os conversadores podem fazer, diante do medo que esse diagnóstico possa ser usado para justificar o aumento de impostos sobre os ricos? Podem tentar rebater Piketty de forma substancial mas, até agora, não vi nenhum sinal disso. Em seu lugar, como eu disse, há apenas desqualificações.

Isso não deveria ser surpreendente. Participei de debates sobre a desigualdade de renda por mais de duas décadas e nunca vi os “especialistas” conservadores conseguirem negar os números sem tropeçarem em seus próprios cadarços intelectuais. Ora, é quase como se os fatos fundamentalmente não estivessem do lado deles. Ao mesmo tempo, xingar de vermelho todos os que questionam qualquer aspecto da teoria de livre mercado tem sido um procedimento padrão da direita, desde que pessoas como William F. Buckley tentaram impedir o ensino da economia keynesiana, não por prová-la errada, mas denunciando-a como “coletivista”.

Ainda assim, tem sido incrível assistir aos conservadores, um após o outro, denunciarem Piketty como marxista. Até mesmo Pethokoukis, que é mais sofisticado do que o resto, chama o livro de uma obra de “marxismo leve”, o que só faz sentido se a mera menção à desigualdade de riqueza faça de você um marxista. (Talvez esta a visão deles. Recentemente, o ex-senador Rick Santorum denunciou o termo “classe média” como “conversa marxista”, porque, veja bem, não temos classes nos Estados Unidos.)

VEJA TAMBÉM: Economista francês diz que “Marx é possivelmente mais importante que Jesus”

E o “Wall Street Journal”, em sua crítica ao livro, de forma muito previsível, percorre todo o percurso. De alguma forma, consegue comparar a defesa de Piketty da tributação progressiva como forma de limitar a concentração de riqueza -um remédio tão americano quanto a torta de maçã, defendido não apenas por economistas, mas também por políticos, inclusive por Teddy Roosevelt- aos males do stalinismo. Isso é realmente o melhor que o “Wall Street Journal” consegue fazer? Aparentemente, a resposta é sim.

Agora, o fato de os defensores dos oligarcas norte-americanos estarem evidentemente em falta de argumentos coerentes não significa que eles estejam politicamente em fuga. O dinheiro ainda fala -na verdade, em parte graças ao Supremo Tribunal de Roberts, fala mais alto do que nunca. Ainda assim, as ideias também importam, moldando a forma como falamos sobre a sociedade e, eventualmente, a forma como agimos. E o pânico em relação a Piketty mostra que a direita ficou sem ideias.

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