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domingo, 25 de fevereiro de 2018

Intervenção Militar no Rio de Janeiro? Do “olheiro”, passando pelo “vapor” até o “gerente”: Helicóca nem sinal...


Foto: Danilo Verpa/Folhapress
"O burguês capitalista não mora no morro, nem nas favelas, nem nas palafitas, nem nas comunidades. Muito menos nos bairros de camadas médias do Rio de Janeiro, ou de qualquer outro lugar do Brasil."

“Vapor barato/Um mero serviçal/
Do narcotráfico/Foi encontrado na ruína/
De uma escola em construção...”
(VELOSO, 1991)


*por Herberson Sonkha

Existe um contrassenso (desculpa a redundância) na decisão intervencionista do governo ilegítimo golpista quando decreta a intervenção das Forças Armadas[1]no Rio de Janeiro. Um teatro trágico digno de toda nossa ojeriza. Pois, tal condição só deveria ser permitida quando existisse de fato o risco eminente de ferir a autonomia do povo brasileiro, especificamente os interesses socioeconômico, cultural, histórico e político da nação. Embora eu esteja convencido de que tais condições já houveram sido dadas (e nada fora feito), com a invasão e apropriação norte-americana de nossa riqueza genética in-natura, grande parte dela mantida intacta na maior reserva ambiental, sobretudo o nosso maior banco biogenético do mundo, que fica no nosso Amazonas[2].

Seria absolutamente justificável a intervenção militar contra os interesses destrutível do Capital internacional, aliás, o ilegítimo governo golpista cinicamente fica silente. Pois, igual ou pior do que isso é a situação do nosso fabuloso Pré-Sal[3]. O entreguista “deu” de graça aos imperialistas estadunidenses, com o apoio majoritário dos malandros vendilhões com mandatos eletivos, o que ampliaria substancialmente o financiamento das classes trabalhadoras e das populações invisibilizadas para corrigir as distorções criadas pelas desigualdades sociais. Para Altamiro Borges (2016) isso é um “Crime de lesa-pátria: Comissão da Câmara aprova projeto[4] que entrega Pré-Sal às multinacionais”.

Essa conjuntura de Estado forte, de caráter intervencionista, só existe contra as classes trabalhadoras e populações vulnerabilizadas. Na contramão da intervenção impopular, por ser contra os interesses da população brasileira, o golpismo segue na tentativa de fazer eugenia social coletiva, primeiro no Rio de Janeiro e depois segue baile por todo o país. Contudo, o alvo mais atacado são as populações negras e pobres brancos do Brasil. Como já disse antes, os recursos do Pré-Sal financiariam as políticas públicas, particularmente aquelas voltadas às populações invisibilizadas.

O golpismo segue desastrosamente desmontando as instituições e suas políticas públicas brasileiras, sobretudo aquelas voltadas para as populações negras e quilombolas do Brasil. No que pese reconhecermos que os avanços foram tímidos (em relação as nossas expectativas) nesses últimos 14 anos, não abrimos mão das ações realizadas pela SEPPIR e CNPIR. Inquestionavelmente a presença efetiva da institucionalidade, nomeadamente seus instrumentos de proteção e promoção, vinha alterando o quadro histórico de violência multidimensional dessas populações. Além de esvaziar, sucatear e fragilizar as políticas direitos sociais, mesmo sendo de caráter liberal, como as de Direitos Humanos, seus resultados serão catastróficos e aumentará a violência urbana e camponesa.

Das inúmeras manifestações de violência contra o povo brasileiro a que mais atormenta a população nesse país é a corrupção institucionalizada no Brasil. Esta precisa ser combatida de forma intransigente por um órgão de justiça autônomo (crível ao controle social) capaz de erradicar o crime (público ou privado) contra o patrimônio da nação. Destarte, o judiciário brasileiro na atual conjuntura esvaziou a pauta midiática da corrupção do PT, fincando apenas o lixo embaixo do tapete dos históricos partidos das elites que tradicionalmente ficam impunes porque representam o capital. A Corte Suprema investigará a corrupção dos capitalistas?

A criação de um Ministério de Segurança Pública, que certamente esvaziará o Ministério da Justiça é mais uma manobra dos golpistas de plantão. Ora senhoras/as perdeu o sentido desse ministério, pois “a corrupção generalizada” acabou com a saída do PT do governo federal. Ninguém nesse governo ilegítimo e golpista deseja criar provas contra si mesmo... Jogou-se o PT às piranhas para justificar o desmonte e agora é preciso desmobilizar as investigações (contra a burguesia) sem fechar o Ministério da Justiça, apenas transferir suas competências.

Todos os passos dos desmontes apontam para demolição de todas e quaisquer estruturas que desenvolvam ações multidimensionais de fortalecimento das classes trabalhadoras e das populações em situação de riscos socioeconômico e político. Como reagiria uma SEPPIR/CNPIR financeiramente forte e politicamente mobilizada frente aos constantes ataques criminosos e o extermínio das populações negras no Rio de Janeiro? Certamente seria de enfrentamento, o que criaria um cenário de muitas crises na institucionalidade.

Por isso que desmontar a tenda da negritude instalada a quase duas décadas dentro da Casa Civil, no epicentro do Palácio do Planalto faz parte da lógica do emudecimento do povo negro. Transformar a SEPPIR num simples departamento de uma minúscula gerência nos quintos da institucionalidade (sucateada e sem recurso) do criado mudo dos Direitos Humanos constitui tarefa prioritária para os golpistas nessa quadra da história.

A pegada do momento para esse ilegítimo governo golpista é avançar agressivamente sobre as comunidades historicamente fragilizadas com as manobras ineficientes das polícias ostensivas. A intervenção militar, a despeito de combater o tráfico e a criminalidade no Rio de Janeiro, é amordaçar os levantes populares contra as elites (não só governos) com a reedição do AI-5. Está ficando perceptível para as classes trabalhadoras e as populações subalternizadas que o centro do debate é a relação de luta entre classes antípodas e não somente da imoralidade de agentes políticos que operam a política.

Definitivamente o Estado não consegue combater a corrupção institucional, como vai combater o crime organizado que é controlado de fora da sócioespacialidade pelas mesmas elites brasileiras que também governam (mandatos eletivos) o país. As elites promovem a corrupção institucional há séculos para obterem dinheiro (transformado em capital), com o qual financiam o crime organizado. Portanto, o crime organizado é mais um mercado de investimento dos capitalistas.

Assim como qualquer outro nicho de mercado, o Capital se comporta da mesma forma ao transformar as relações de (re)produção de drogas ilícitas (alucinógenos) para patamares mais elevados (produção e circulação) com a especialização da divisão social do trabalho. O morro é o chão da fábrica e o andar de cima é o cérebro e o cofre da empresa. O capitalista que investe capital é o mesmo explorador de força de trabalho em qualquer outra empresa capitalista.

O Estado pensado aqui é o de Montesquieu (a tríade do poder) e a sociedade civil burguesa é regrada pelos liberais contratualistas (Locke e Hobbes) que defendem a propriedade privada. O Estado vai contra a sua própria natureza? Talvez uma outra ordem civil pensada pelo filósofo Rousseau (1712-1778) em que ele considera que a natureza humana é peremptoriamente boa. Todavia, o pensador francês nos adverte quanto a necessidade de combater o processo civilizador (capitalismo) que o corrompe na perspectiva de que "O homem nasce livre, e por toda a parte encontra-se a ferros". Assim, o Rousseau vai confirmar nossa tese de que a corrupção está no DNA da sociedade burguesa capitalista. Combater a corrupção ou crime organizado é se opor a sociedade que se engendra a partir da reprodução do capital.

O burguês capitalista não mora no morro, nem nas favelas, nem nas palafitas, nem nas comunidades. Muito menos nos bairros de camadas médias do Rio de Janeiro, ou de qualquer outro lugar do Brasil. Ele mora nas áreas nobres, cujo metro quadrado mais caro (especulado em U$) permanece impenetrável por forças policiais ostensivas, polícias técnicas ou das forças armadas. Portanto, essas operações ostensivas no Rio de Janeiro, em São Paulo ou em Salvador são inúteis e ineficientes, pois não se combate tais crimes escamoteando as causas criadas pela sociedade do capital (burguesa) e, muito menos, criminalizando as classes engendradas pelo trabalho, subtraídas pelo capital.

Existe uma resistência em admitir que o tráfico seja de fato uma organização empresarial multinacional controlada por uma holding[5], com relações com fornecedores mundiais, embora não tenha vida formal segundo registro na junta comercial. Essas empresas movimentam bilhões e funcionam como qualquer outra empresa que opera no mercado de capitais.

Se observarmos o que os ultraliberais defendem enquanto concepção de política econômica para o Brasil (Sociedade, Estado, Mercado, Sociedade Civil e Governo) o tráfico causa inveja aos mais renomados teóricos do liberalismo ortodoxo, pois suas mais notáveis características são: não tributação, não regulação trabalhista, não sindicato, não declaração de renda, não contabilidade patrimonial e um forte aparato de controle do fluxo por meio de um grupo paramilitar altamente armado e destemido.

A vantagem é que a remuneração de qualquer um de seus trabalhadores (operacional ou intelectual) é muito acima da média, principalmente aqueles sem nenhuma formação escolástica. Segundo o site R7 Notícias (2009) entre o “olheiro”, “vapor” ao “gerente” o valor por semanavaria entre R$ 150,00 a R$ 3.000,00[6], sem ter que apresentar currículo para comprovar conclusão de ensino médio ou fazer entrevista para avaliar perfil, conduta e comportamento psicológico.

O tráfico assumiu o controle do fornecimento de serviços essenciais como gás, telefone, internet, água e energia nas comunidades. Por exemplo, o mercado cobra apenas R$ 58,00 no botijão de gás de cozinha, o tráfico cobra R$ 91,20[7]. Contudo, que diferença existe com os carteis que agem com a autorização oficial do Estado para explorar a população, a exemplo do preço da gasolina comum no Paraguai varia de R$ 2,62 a R$ 2,80 (Petrobrás) enquanto que em Foz do Iguaçu (BR) custa R$ 4,14[8].

Matando e prendendo os trabalhadores dessas organizações criminosas capitalistas, não se extirpa esse cancro cancerígeno que acomete o povo brasileiro. Apenas, faz uma pirotecnia para enganar incautos desinformados e manter a proteção da burguesia escrota, vide o “helicóca”[9] com 455kg de pasta base de cocaína, escondido pela mídia e “esquecido” pela polícia.

A polícia é o braço armado do Estado a serviço da propriedade privada, vide o contrato social de Locke e Hobbes. Ilude-se quem pensar diferente! Mesmo com todas as tecnologias avançadíssimas para resolver isso, contudo existem elites no comando a serviço da ordem burguesa que controla essas forças coercitivas. Veja qual é a socioespacialidade em que a intervenção militar vai atuar. Leblon? Ipanema? Lagoa? Gávea? Jardim Botânico[10]?

Nem polícia ostensiva, muito menos as forças armadas, não conseguirão resolver como propõe o governo golpista ilegítimo. Sabe por que? Por que a cabeça e o capital não estão nessa socioespacialidade, por isso não resolve. As elites capitalistas que detém o capital não pegam ônibus ou van, não moram em casa da periferia e nem detêm meros veículos baratos.

O objetivo da intervenção das forças armadas é continuar responsabilizando os morros, as favelas, as palafitas e os bairros pobres do Rio de Janeiro. A criminalização é uma cortina de fumaça para esconder da população brasileira que as elites (que detém o capital) capitalistas são as financiadoras dessa patifaria e a natureza burguesa da corrupção institucional e do crime organizado.



______________________________

*Herberson Sonkha é professor de cursinhos em Vitória da Conquista. Estudante de Ciências Econômicas na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Foi gestor administrativo lotado no Hospital de Base de Vitória da Conquista. Foi do Comitê Gestor da Secretaria Municipal de Educação de Anagé. Presidiu o Conselho Municipal de Educação de Anagé. Coordenou o Programa Municipal Mais Educação e a Promoção da Igualdade Racial do município de Anagé. Foi Vice-Bahia da União Brasileira de Estudante (UBES) e Coordenador de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de Vitória da Conquista (UMES). Militante e ex-dirigente nacional de Finanças e Relações Institucionais e Internacional dos Agentes de Pastorais Negros/Negras do Brasil. Membro dirigente do Coletivo Ética Socialista (COESO) organização radical de esquerda do Partido dos Trabalhadores.



[1] As forças armadas são instituições nacionais autorizadas pela sua nação a usar a força - geralmente através do emprego de armas - em defesa do seu país incluindo atacar outros países, em defesa dos interesses nacionais.

[2] O Amazonas é o maior estado do Brasil: Ocupa uma área de 1.570.745.680 km², representando 18,5% do território nacional. O ponto culminante do Amazonas é o Pico da Neblina, com 2.994 metros, sendo também o ponto mais alto do Brasil e situando-se na fronteira deste com a Venezuela.

[3] Segundo a Petrobrás, “A produção diária de petróleo no pré-sal passou da média de aproximadamente 41 mil barris por dia, em 2010, para o patamar de 1 milhão de barris por dia em meados de 2016. [...] Uma comparação com o nosso próprio histórico de produção dá a dimensão desse resultado: foram necessários 45 anos, a partir da sua criação, para que nossa empresa alcançasse, em 1998, a produção do primeiro milhão de barris de petróleo. [...] As jazidas dessa província ficam a 300 km da região Sudeste, que concentra 58,2% do Produto Interno Bruto (soma de toda a produção de bens e serviços do país). [...] A área total da província do pré-sal (149 mil km2) corresponde a quase três vezes e meia o estado do Rio de Janeiro. Passou de US$ 9,1 por barril de óleo equivalente (óleo + gás) em 2014, para US$ 8,3 em 2015, e atingiu um valor inferior a US$ 8 por barril no primeiro trimestre de 2016.” Fonte: http://www.petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/areas-de-atuacao/exploracao-e-producao-de-petroleo-e-gas/pre-sal/.

[4] Segundo Altamiro Borges (2016) confirma que “Comissão Especial da Câmara dos Deputados Federais que analisa o PL 4567/16 aprovou por 22 votos o parecer do relator José Carlos Aleluia (DEM/BA) que tira da Petrobrás a exclusividade na operação do Pré-Sal e acaba com a garantia que a empresa tem de participação mínima de 30% nos processos licitatórios para exploração dessas reservas. Fonte: https://www.brasil247.com/pt/colunistas/altamiroborges/242991/Golpe-para-entregar-o-pr%C3%A9-sal-EUA-vibram!.htm.

[5] Empresa que detém a posse majoritária de ações de outras empresas, ger. denominadas subsidiárias, centralizando o controle sobre elas. De modo geral a holding não produz bens e serviços, destinando-se apenas ao controle de suas subsidiárias.

[6] R7 Noticias diz que, “Sobre o salário pago aos jovens traficantes (de "vapor" até "gerente"), um levantamento feito pelo Departamento de Ciências da Escola Pública de Saúde da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) indica que pode variar de R$ 100 a R$ 3.000 por semana. O presidente do Ibiss, no entanto, disse que ainda não encontrou um menor de idade que revelasse faturar R$ 12 mil por mês. Fonte: http://noticias.r7.com/cidades/noticias/criancas-comecam-no-trafico-de-drogas-do-rio-aos-oito-anos-de-idade-diz-instituto-20091227.html.

[7] Segundo o G1 (2017), “A polícia já investiga a atuação dos traficantes, que copiam o método de financiamento das milícias. Segundo os moradores, nos últimos meses os bandidos começaram a cobrança das taxas, fazendo com que o preço do botijão de gás na Rocinha seja o mais alto da cidade. Enquanto o valor médio fica em R$ 58, na comunidade custa R$ 91,80.” Fonte: https://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/taxa-cobrada-sobre-produtos-e-servicos-financia-o-trafico-na-rocinha.ghtml.

[8] Segundo o site do www.em.com.br (2017) “Na cidade paraguaia, a gasolina comum varia de R$ 2,62 a R$ 2,80, enquanto em Foz do Iguaçu o litro custa cerca de R$ 4,09 ou mais. Mesmo na versão aditivada, a gasolina vendida no Paraguai também sai mais em conta. Em Ciudad del Este o litro custa a partir de R$ 3,24, enquanto em Foz os preços partem de R$ 4,14.

[9] Como o nome sugere, a pasta base é insumo principal do preparo da cocaína e a quantidade apreendida resultaria num produto final de 3 toneladas da droga pura, tendo como alvo de consumo a Europa.

[10] Leblon, Ipanema, Lagoa, Gávea, Jardim Botânico. Os cinco bairros mais desejados da Zona Sul carioca são também os que têm os maiores preços de metro quadrado e não só no Rio. Segundo dados do FipeZap, as vizinhanças badaladas estão no topo dos valores nacionais. Nem em bairros nobres de São Paulo, como Jardins e Vila Nova Conceição, a média de preços é tão alta. Fonte: https://oglobo.globo.com/economia/imoveis/os-cinco-bairros-mais-caros-do-pais-estao-na-zona-sul-do-rio-7677088.

O teórico do papel higiênico




*por Mauricio Campos

Maurício Campos
O teórico do papel higiênico chegou de sua viagem de pesquisas. Esperavam dele, os seus críticos, um fulminante fracasso. Entretanto, o teórico do papel higiênico chegou cheio de papel higiênico. A flamejante convicção, o árduo desejo de expor ao mundo suas conclusões a respeito da Terra plana, da sociedade contemporânea e a fraude da viagem à lua. Com o odor típico de seus argumentos, aproximava-se dos críticos o teórico do papel higiênico. Logo ouvir suas revelações anais a respeito da geografia terrestre.




— A terra é plana! Não é porque dizem que ela é redonda que eu devo acreditar.

— Que absurdo retruquei eu aquelas fortes teorias.

Naquele momento eu fiquei perplexo. Talvez os rumores de que o teórico do papel higiênico tinha como fonte de Pesquisas, a rede esgoto de televisão e a imprensa monopolista do grupo Abril 29, fossem verdade afinal.

Eis então naquela roda de debates acirrados, onde vários intelectuais se digladiavam no confronto de ideias, o teórico do papel higiênico avança:

 — Bandido bom, é bandido morto! Nossa bandeira jamais será vermelha! Amemos a população.

— como Honduras? Perguntei eu.

— não, pois assim como a população japonesa é menor que a dos Estados Unidos, a população de Honduras por ser menor não morrem tantas pessoas assim.

— Impossível! — eu disse — no Japão até a polícia é desmilitarizada.

Então como sempre polêmico, retrucou o teórico do papel higiênico:

  Vai para cuba! Nós não damos moleza para petralhas comunistas.

Apavorado com tamanho conhecimento tentei o ambiente amenizar, mudei o rumo do debate para a questão da viagem lunar.

— Mentira! O homem jamais pisou na lua. Os Comunistas soviéticos gravaram tal acontecimento em um estúdio, e agora usam esta demagogia para bolivarianizar a América — disse o teórico.

— Fascista! Retrocou o intelectual que ali debatia.

— Fascistas são vocês, porventura não sabeis que o nazismo foi de esquerda? Perguntou o teórico do papel higiênico.

Impactante fora aquele dia, em que o teórico do papel higiênico mandou ver em suas teorias. Eis então que o rumo dos debates atingiu o seu clímax.

— O socialismo matou mais de 100 milhões de pessoas! Exclamou teórico do papel higiênico.

— O capitalismo vem matando desde o século XV — Eu retruquei com convicção.

— Me indique um livro sério que mostre o total de morte do capitalismo — disse o teórico TPH.

— Mas teórico do papel higiênico, além de haver mais de 600 anos, continua aumentando todos os dias. Isto é incontável — Eu afirmei com voz trêmula.

— Já que não tem, isto comprova minha teoria, mas se quiser um número o socialismo tem um. 100 milhões de mortos — afirmou o teórico com ar triunfante.

Logo após este combate de ideias, edificante de nível excelente, totalmente coerente, saiu derrotado, porém contente. Aquele teórico brilhante e extraordinário, ultrarreacionário expõe suas teorias como o canto de um canário. Implacável, inteligente e excêntrico.

Este é o cara, o teórico do papel higiênico.



24/02/2018

*CAMPOS, Maurício. Crônica - O teórico do papel higiênico. 2018

By Maurício Campos
terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Carta ao Camarada Sonkha ou as Premissas dialógicas sobre Democracia.


Historiador, filósofo e professor JBerger
por Joilson Bergher[1]

Carta ao Camarada Sonkha ou as Premissas[2]dialógicas sobre Democracia

“CARO, Sonkha, está cravado no pensamento de Baruch Spinoza, que a política nasce do desejo humano de libertar-se do medo, da solidão, e da barbárie. Nessa reflexão, a política deveria trazer paz, liberdade, democracia, o contrário disso, têm-se, divisões superstições, eliminações, perseguições, de fato, raízes deletérias dos fundamentalismos, do fascismo, como você define em seu artigo, isso, que se nomina de poder, quaisquer que sejam eles.


A pergunta que deixo: como determinar o regime de governo mais favorável ao convívio dos homens? Seria a democracia, ou os obstáculos a esse regime? Vida longa aos que militam pela libertação de gentes, de pessoas, de Seres”. A missiva acima citada nesse pequeno artigo, é parte de um diálogo político tratado entre Eu e Sonkha, no interior do M-Coeso, movimento existente há mais de duas décadas atuando, primeiro no movimento social dos estudantes na Bahia, ampliando-se na base social dos trabalhadores, em suas várias vertentes, e, nos tempos atuais, a partir de atuações efetivas, decisivas e propositivas de vários de seus membros no interior do Partido dos Trabalhadores, e fora desse, também.

De início em sua missiva Sonkha afirma, - “Portanto, a democracia é uma categoria das ciências políticas que vai sendo vocalizada no processo histórico. Ela surge pela primeira vez na história na Grécia antiga, sendo implantado pelo regime democrático de governo de Clístenes (Atenas, 508, a.C.) e entra em decadência pela decorrência das conquistas de Alexandre (o Grande) por volta de 336 a.C”.  Aqui de fato coadunamos, e acrescentamos que, para, Leon Trotsky -, a “democracia, analisada como o regime democrático-liberal, a analisa como uma das formas assumidas pela dominação de classe exercida pelo Estado capitalista, as quais se expressariam em diferentes regimes políticos que, em dosagens variadas, fariam sempre uso de elementos de repressão, concessões (reformas) e ideologia – aliás, também em linguagem gramsciana, todos os regimes lançariam mão, com teores distintos, dos elementos de consenso e coerção. Em todos esses regimes, o Estado seria, essencialmente, um Estado de classe. A democracia seria, portanto, uma forma assumida por este Estado de classe e, por conseguinte, seria um regime de classe”.

Dito isso, as várias denominações ou tentativas de nominar o que seja a democracia tem nos levado a caloroso debate, no mundo, inclusive ideológico, ainda que, haja tentativas indeléveisde tentar negar “ideologias”, colocando-a no patamar de rebaixamento do Ser. Aliás, tais tentativas de negações se dão num cenário diante duma realidade sombria e enganadora de que essa modernidade ideológica se propôs ou se propõe a fazer... trazer felicidades pro Ser, não conseguindo, obviamente, ou conseguindo efemeramente! Afirmo, entretanto, que, se houvesse “algum florescimento do capitalismo, e sua eficiência como forma de dominação somente seria possível em situações de normalidade político-social, as quais tornariam possível uma articulação equilibrada entre aspectos coercitivos, reformistas e ideológicos”, nos tempos atuais, em tempo algum, ou em qualquer parte do mundo, vemos florescer essa tal normalidade, isso, não é uma ilação nossa - números, dados, gráficos – perfazem esse decurso.

Se o mundo de fato for moderno, esse de nosso tempo, Baruch Spinoza, diz de escolhas, de sonhos, de utopias, afinal, graças à combinação de medidas de violência com as concessões, da miséria com as reformas, conseguiu submeter o Ser a sua completa negação, abdicação em busca de sua felicidade, o tornando uma aberração andante, uma fantasia, um arquétipo a defender a fantasia por dentro de um capitalismo hediondo, (aliás, sempre o fora) que, entre outros fatores, “possibilita à burguesia estabelecer sua dominação de classe por meio do regime político democrático-burguês, no qual a violência estatal, indispensável e ininterruptamente presente (ainda que potencialmente), recebe a companhia de ingredientes de natureza consensual, os quais costumam cotidianamente aparecer em um primeiro plano”.

Concomitantemente, trago a esse diálogo de nosso tempo, Sócrates, um filósofo que possuiu um método diferente dos que o antecederam, ele tinha a arte do diálogo; em suas conversas que geralmente aconteciam em vias públicas, ele questionava seu interlocutor como se ele próprio quisesse aprender, e dessa forma ele não assumia a posição de um professor tradicional, durante as conversas, frequentemente conseguia levar seu interlocutor a ver os pontos fracos das ideias que até então era tido como certeza.

Aqui, prevejo que nesse tempo de mobilização de massa, das massas, o conceito de democracia foi submetido a novas pressões ideológicas pelas classes dominantes, exigindo não somente a alienação do poder “democrático”, mas a separação clara entre a “democracia” e o “demos” – ou no mínimo o afastamento decidido do poder popular como principal critério de valor democrático...mas para Sócrates é importante que para todos aqueles que querem conhecer alguma coisa, começar reconhecendo a própria ignorância, então, não seriam tão ignorantes esses ocidentalizantes ou ocidentalizados, acidentalizados quererem impor algo, que em tese, não sabem o que é? Não seria esse o sentido original da palavra ignorância tratada com ironia - derivada do verbo eirein (perguntar), ironia tinha o sentido de interrogação fingindo ignorância. Sócrates (469-399 a.C.), pretendia nada saber e dizia que todos já possuíam o conhecimento do que era correto dentro de si.

Para trazer esse conhecimento à tona ele fazia perguntas bem dirigidas e questionava sistematicamente seus interlocutores afim de que a sabedoria aflorasse. A suprema sabedoria seria, aparentemente, o conhecimento do bem, ou pelo menos o reconhecimento honesto da própria ignorância. Nos falta a ignorância na acepção da palavra grega, aliás, em grego não achei, mas no latim sim – Ignorantia, de Ignorare, o não saber.

Quando se fala em sabedoria na filosofia não consigo dissociar que a democracia pensada pelos filósofos da época socrática era trazer para o centro de suas indagações o HOMEM como ser capaz de produzir conhecimento através do desenvolvimento de sua Moral. Acreditavam, portanto, que o Conhecimento – a Filosofia – tinha uma função social, e por isso, consistia na formação de cidadãos como tarefa indispensável para a transformação da sociedade. Mas contra a democracia: a morte de Sócrates, afinal, - “A verdade mesmo é que Sócrates era um idiota. Mas a palavra “idiota” – derivada do grego idiotes – não tinha naquela época o significado de hoje. Na Grécia clássica, idiotes era usado para designar os cidadãos que não participavam dos debates políticos da cidade. E Sócrates, que não costumava elevar a voz nas assembleias públicas e desdenhava o debate, certamente era considerado um. Só que isso, embora malvisto na Grécia, não era razão para condenar ninguém. Os motivos que levaram Sócrates ao tribunal foram mais complexos”. Podemos perceber, portanto, que havia uma grande contradição no regime democrático dos gregos-atenienses. O poder não era exercido pelo povo como entendemos na etimologia da palavra “DEMOKRATÓS”, e sim por uma pequena porcentagem da população. A grande maioria da população, composta de Metecos (comerciantes estrangeiros), mulheres e escravos, estava absolutamente destituída do poder político e da participação na Assembleia.

Dito isso as experiências das polis (“cidade” em grego), surgiram não somente nossa palavra “política”, acrescento, por tabela, também a democracia na acepção da palavra, como também as nossas práticas eleitorais, a escolha de representantes, o costume de consultar os cidadãos nas questões mais importantes, a concepção de que existem decisões e poderes que são legítimos e outros ilegítimos. Entretanto, – com isso Marx e Spinoza concordariam plenamente com esse debate se eu tratasse a democracia como um afeto, decerto, me levaria a troca da democracia pelo comunismo. Se fizermos do lema comunista popularizado por Marx, “De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades”, nessa linha argumentativa muito provavelmente a democracia liberal burguesa e suas tentativas de ser superior ao Ser, em tempo algum prosperaria, em canto algum do mundo, afinal, quem controla desejos? Mas é possível arriscar que Sócrates buscava sempre retirar os homens de seu tempo do “senso comum” e encaminhá-los em direção à razão, mas aqui também o Ser não é razão o tempo inteiro... ou então a democracia representativa, enquanto uma das formas políticas assumidas pelo Estado capitalista, não deixa de ser uma forma de dominação política do capital sobre o trabalho. Importante dizer, que, Sócrates, assim como Platão, Aristóteles, ou o filósofo cínico Diógenes de Sínope, e sua verve franca, direta, e sua disposição de descrença na sinceridade ou bondade das motivações e ações humanas, por exemplos, morreram por suas ideias - e elas não batem com os valores políticos modernos. É o que mostra a história.


[1] JBergher é professor, historiador, filósofo e servidor do Estado.

[2] Na área da Lógica, a PREMISSA significa uma suposição que serve de base para um raciocínio que levará a uma conclusão. A premissa é uma expressão linguística que pode afirmar ou negar alguma situação ou questão, e que pode ser verdadeira ou falsa. Artigo http://queconceito.com.br/premissa
sábado, 17 de fevereiro de 2018

Carta ao Camarada JBergher

Historiador, filósofo e professor JBerger
por Herberson Sonkha[1]

Camarada JBergher[2] boa noite! Desculpa pela demora em lhe responder. A vida anda mesmo tão tensa que nem dá tempo respirar, principalmente para quem é comunista. Não demora muito e seremos defenestrados pela sanha odiosa das elites deste país. O que nos abriga ter o máximo de cuidado com a conjuntura nacional beligerante que nos aponta uma tarefa hercúlea de enfrentar o desmonte do Estado, liquidação do patrimônio do povo brasileiro, destravamento das proteções socioeconômicas e políticas das classes trabalhadoras (intelectual e operacional) e populações subalternizadas pela burguesia e os efeitos deletérios do governo ultraliberal ilegítimo instalado via golpe.


Primeiro queria lhe dizer que trazer Baruch Spinoza para este debate é elevar todas as expectativas revolucionárias ao seu limite, pois nenhum grande pensador o é sem ter lido Spinoza. A começar por Marx... Quanto à pergunta providencial apresentada pelo camarada, cabe aqui o uso de uma das mais valiosas categorias filosóficas, a aporia[3], para considerar sem saída a democracia nos moldes liberais.

Portanto, a democracia é uma categoria das ciências políticas que vai sendo vocalizada no processo histórico. Ela surge pela primeira vez na história na Grécia antiga, sendo implantado pelo regime democrático de governo de Clístenes (Atenas, 508, a.C.) e entra em decadência pela decorrência das conquistas de Alexandre (o Grande) por volta de 336 a.C.

Muitos filósofos apontaram problemas no regime democrático, entre eles os notáveis Platão e Aristóteles que se opuseram porque consideravam a democracia um sinônimo de demagogia. Pois, esse regime era controlado pelos grandes oradores (sofistas), pessoas que não estavam preocupadas com o bem público. Aqui vão as primeiras críticas.

Para Platão um governo só seria bom se fosse um governo de filósofos (Platão é racionalista), pois só estes decifram a verdade advinda de um mundo paralelo (mundo das ideias) e são imutáveis. Já o Aristóteles (empirista), divergia de Platão porque compreendia que filósofos não seriam bons governantes uma vez que um governo exige ação concreta e menos discurso. Ficando apenas para auxiliar os governantes instruindo-o quanto a moral, a ciências e a política.

Após essas críticas ao regime democrático, o debate sobre a democracia só voltaria ao cenário no século XVII, com os enciclopedistas, influenciados por dois grandes eventos: Independência dos Estados Unidos e a Revolução Francesa. Os filósofos iluministas, principalmente Voltaire e Montesquieu fizeram duras críticas ao regime democrático, sobretudo a máxima “tudo para o povo, nada pelo povo”, porquanto consideravam que a monarquia esclarecida era mais inteligente, uma vez que as coisas deveriam ser decididas de cima para baixo por considerarem como necessárias às medidas para o progresso do país.

No século XVIII a democracia volta à cena só que dessa vez ganha defensores como Jean Jacques Rousseau, na França, e Thomas Paine na Inglaterra e nos Estados Unidos. Para estes filósofos as contradições da democracia seriam resolvidas por meio da educação, pois só o esclarecimento das massas impediria a degeneração da democracia para demagogia, tirania da maioria sobre a minoria ou anarquia que estava associada a desordem. Durante a Revolução francesa e no decorrer do século XIX, o tema continua circulando nas rodas de diálogos filosóficos, ganhando outros elementos tais como voto universal e censitário, cabendo uma discussão sobre qual seria o mais adequado.

Coube aos dois filósofos liberais Benjamin Constant e Stuart Mill a defesa do regime democrático restrito, limitando o voto aos homens de renda ou aos intelectuais. Aqui surge a fusão do liberalismo político com o liberalismo econômico. Para Benjamin e Mill o voto universal ameaçava a propriedade privada na medida em que a massa votante tenderia a lutar pela igualdade, fazendo a crítica ao contratualista Jean Jacques Rousseau.

Portanto, se finda o século XIX com duas perspectivas hegemônicas: a crença na liberdade de mercado como redentor de todos os infortúnios materiais da humanidade e a política como libertadora dos grilhões e inclusora das massas no processo decisória do governo. Aliás, a proeminência nesse debate para a fusão das escolas liberais numa única, sendo sobreposta pelo liberalismo econômico, pautado pela fé nas ciências e no progresso cientifico.

No início do século XX todas as expectativas do século anterior são frustradas, pois se emerge regimes ditatoriais fascistas e socialistas retirando do cenário a democracia, sendo substituído pelo regime do operariado denominado de ditadura do proletariado pelo teórico comunista Vladimir Lenin, mas distorcido pelo stalinismo. Aqui a herança das liberdades individuais advinda da tradição da Revolução Francesa é rejeitada por razões absolutamente diferentes.

A democracia liberal incorpora o voto universal na Europa Ocidental no pós-segunda guerra, enquanto que na América latina e Leste Europeu só chega em 1990. Obviamente que o voto universal que garante o direito de votar e ser votado por todos vai ser a grande conquista do século XX, contudo deve-se observar a influência do pensamento econômico liberal do século XIX, nomeadamente Benjamin Constant e Stuart Mill.

Essa é a principal influência teórica do liberalismo econômico que engendra o pensamento hegemônico do regime democrático no mundo contemporâneo.  Um regime democrático que em sua aparência diz que todo poder emana do povo e em nome dele será exercido, mas que em sua essência perpassa pelas relações de trocas, sendo controlado pelo poder econômico.

Esse regime democrático está muito distante de ser efetivamente universal em sua essência. O mais próximo seria o que Rousseau propôs a partir de um contrato social que prime pela igualdade universal (material e intelectual) das massas em detrimento da propriedade privada. Um regime de governo que possibilite a emancipação humana, capaz de superar a emancipação política ocorrida na Revolução Francesa.

Saudações comunistas,
Verão de 2018




[1] Herberson Sonkha é professor de Filosofia e Sociologia e coordenador pedagógico no Zênite Pré-Vestibular e Cursos de Conquista e Guanambi. Estudante de Ciências Econômicas na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Foi gestor administrativo lotado no Hospital de Base de Vitória da Conquista. Foi do Comitê Gestor da Secretaria Municipal de Educação de Anagé. Presidiu o Conselho Municipal de Educação de Anagé. Coordenou o Programa Municipal Mais Educação e a Promoção da Igualdade Racial do município de Anagé. Foi Vice-Bahia da União Brasileira de Estudante (UBES) e Coordenador de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de Vitória da Conquista (UMES). Militante e ex-dirigente nacional de Finanças e Relações Institucionais e Internacional dos Agentes de Pastorais Negros/Negras do Brasil. Membro dirigente do Coletivo Ética Socialista (COESO) organização radical de esquerda do Partido dos Trabalhadores.



[2] JBergher é professor, historiador, filósofo e servidor do Estado.


[3] Dificuldade ou dúvida racional decorrente da impossibilidade objetiva de obter resposta ou conclusão para uma determinada indagação filosófica.
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Um prefeito descontrolado e o desserviço das elites bizarras de Conquista!




O gráfico acima mostra a linha de tendência crescente de gastos ao longo do ano de 2017. Isso implica em comprometer a estabilidade de 20 anos de pagamento de salários e demais benefícios dos servidores municipais previstos na legislação.


por Herberson Sonkha[1]

Os cofres públicos sempre foram o principal alvo das oligarquias falidas de Vitória da Conquista por serem preguiçosas, na verdade quem produz riquezas são as classes trabalhadoras. Enquanto houver dinheiro (53 milhões) nos cofres da Prefeitura Municipal, o executivo municipal continua sendo a “boneca cobiçada” pelas elites indolentes (reacionariamente fascista).

Assim como fazem na tradicional empresa familiar, abrindo vaidosamente a máquina registradora para “sacar” qualquer valor sem registro, essa galera enxerga a prefeitura como extensão de seus negócios privados (família e empresa), gastando à revelia o dinheiro do povo conquistense, nomeadamente das populações carentes.

Vencidas as eleições em 2016 com uma margem pequena de votos, o atual governo tratou logo de mudar a lógica da gestão anterior, esbanjando indiscriminadamente o erário do povo. Por inaptidão para gerir a máquina pública, o atual governo estourou irresponsavelmente todos os limites prudenciais de gastos públicos com despesas de pessoal, constituído pela LRF (Lei Complementar nº 101, de 04/05/2000).

Embora seja contrário a essa lei, em função de sua natureza neoliberal, acredito que é necessário haver instrumentos coletivos de Controle Social de investimentos públicos. Contudo, sou contra radicalmente o receituário do Consenso de Washington, uma vez que são recomendações do grande capital gerido pelo Banco Mundial e FMI e docilmente adotada por FHC para substituir o PROER[2]. FHC comprou deputados para aprovar essa lei sob forte discurso moralista de combate a corrupção de governos municipais, estaduais e da própria União.

Por detrás desse discurso de tom moralista, havia o objetivo de recuperar instituições financeiras dilapidadas (por quem?) com graves problemas de caixa (principalmente os bancos público), a exemplo do escândalo da Pasta Rosa[3]. Tratava-se apenas de limpar a sujeirada da corrupção endêmica deixadas pelas elites deste país. Eles quebraram bancos públicos e demais instituições. Essa é a mesma turma dos sofistas de plantão de antes que requentaram o discurso moralista de combate a corrupção.

Na prática essa lei funciona apenas para impedir investimentos sociais em ações, projetos e programas que sustentam as políticas públicas de proteção e promoção de populações subalternizadas pelo capitalismo. Pois, a corrupção campeia as administrações liberais em todos os níveis dos entes federativos. A política de austeridade fiscal nunca deixou de ser apenas uma tese política dos liberais ortodoxos para redirecionar os empenhos/liquidações das agendas públicas. Estão de olho nos dispêndios do setor público comprometido com o financiamento da recuperação do tecido social deteriorado pelo sistema econômico capitalista.

Um aspecto relevante desse engodo das elites brasileiras são os elevados gastos com pessoal. Quase 17 anos depois de publicada a LRF, Vitória da Conquista (que é dirigida pelos mesmos beligerantes do PMDB, PSDB e DEM) poderá virar noticia nacional pelas sanções contra crimes praticados pelo poder público municipal, por não saber gerir as contas públicas. Contraditório ao discurso eleitoral moralista do atual gestor, que naquele momento disse que as pastas comissionadas e de agentes políticos “não serão ocupadas por políticos”[4].

A estultícia desse senhor é tamanha que quando se acessa o portal do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado da Bahia, ao clicar na janela “Controle Social”, abre-se uma outra janela chamada “Social” e logo abaixo você tem um formulário a ser preenchido. No quinto quadrante com o subtítulo “Tipo Regime”, a quinta opção é denominada de “Agente Político”. Na verdade, foi um ato falho do seu inconsciente que se encarregou de confirmar que eles fazem politicagem. Tanto é verdade que esta opção (Agente Político) é a que ele mais faz uso e de forma irresponsável, pois a ficou apenas nas 16 pessoas/pastas que custam aos cofres públicos R$ 184.809,15. Lembra-se da rádio quando ele dizia que a prefeitura estava inchada?

A questão não é ser contra contratos, havendo necessidade após convocar os classificados pelo concurso público e feito um estudo de impacto desses gastos na folha visando evitar extrapolar o percentual máximo de 95% estabelecido como limite prudencial de gastos com pessoal (Art. 22 da LRF), está tudo certo. O que pega aqui é o discurso eleitoreiro desonesto, que prometeu que seria “diferente”, acusando o governo anterior de encher a máquina com “políticos”, inclusive gente de forasteiros (reproduzindo um discurso da elite). Segundo o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) houve um aumento considerável de contratados de mais 300%.


Contratados
Valor
2017
Janeiro
565
R$1.143.761,71
2017
Fevereiro
1.455
R$2.668.712,76
2017
Março
1.485
R$2.962.776,78
2017
Abril
1.575
R$3.318.560,08
2017
Maio
1.608
R$3.306.628,78
2017
Junho
1.600
R$3.281.320,76
2017
Julho
1.791
R$3.636.291,45
2017
Agosto
1.798
R$3.639.561,28
2017
Setembro
1.781
R$3.743.741,21
2017
Outubro
1.745
R$3.583.920,03
2017
Novembro
1.763
R$3.842.820,60
2017
Dezembro
1.791
R$3.625.864,36
Fonte: https://www.tcm.ba.gov.br/Webservice/public/index.php/exportar/pessoal


O gráfico acima mostra a linha de tendência crescente de gastos ao longo do ano de 2017. Isso implica em comprometer a estabilidade de 20 anos de pagamento de salários e demais benefícios dos servidores municipais previstos na legislação. Isso reflete um comportamento desastroso para Vitória da Conquista que é o de interromper bruscamente o ciclo desenvolvimentista de Vitória da Conquista iniciado nos anos 70 e intensificado nos últimos 20 anos.

O recém-eleito prefeito, em um pouco mais de um ano no comando da cidade, já conseguiu a façanha inédita do promover o retrocesso socioeconômico e político da cidade, por meio do desmonte das políticas púbicas e o sucateamento da prefeitura. Tudo isso pesa nas costas das populações da periferia. Ao contrário do que acontecer nas camadas pobres, constata-se o agressivo enriquecimento de uma elite indolente, incompetente e reacionária. Essa sangria desatada ampliará assustadoramente o fosso entre ricos e pobres de Vitória da Conquista.

Escrevi um texto longo (textão mesmo!) falando sobre a política desenvolvida pelo Partidos dos Trabalhadores em Vitória da Conquista nesses 20 anos em que governou a cidade. Uma análise crítica, a meu ver, pertinente. A veiculação do texto nas redes sociais tomou proporções gigantescas, nem de longe imaginei que seria assim, até os corredores do Palácio de Ondina leram. Obtive inúmeros acessos, incontáveis elogios, enésimas maledicentes e várias críticas. Óbvio que eu só computo as críticas, os demais comentários são diuréticos, o metabolismo expulsa na urina.

O eixo central da escrita era a cidade como espaço da vivencia coletiva do ser humano, lugar de reprodução da vida material e intelectual. A urbe como espaço de exercício da política enquanto instrumental (teoria e prática) para transformação positiva das populações em suas múltiplas vivencias. Mas, também um lokus das contradições que decorrem das relações de dominação exercida pelo modal de poder socioeconômico e político da sociedade burguesa.

O texto propõe discutir analiticamente os níveis de desenvolvimento (material e intelectual) atingido nas duas décadas (1997-2016) de gestão sob a liderança do PT e partidos aliados. Essas mudanças permearam todas as populações em seus vários níveis e faixa etária. Aliás, influenciada não só pelo investimento social feito pelo executivo municipal, mas também pelo resgate e manutenção das tradições culturais, religiosas, organizacionais da produção e institucionais que incidem sobre a formação socioeconômica, cultural e política de Vitória da Conquista.

Na ocasião afirmei que, não obstante o governo municipal ter feito em duas décadas sólidos e robustos investimentos no social, refletindo positivamente nos indicadores socioeconômicos da cidade, a mentalidade comum (senso comum) da cidade não havia amadurecido o suficiente para incorporar elementos ideopolíticos avançados, na mesma dimensão das transformações realizadas.

Esses gargalos começaram a ser “resolvidos” com as mudanças pontuais ocorridas na última quadra do século XX. Neste período de tempo houve intervalos, contudo enfrentou-se as dificuldades históricas criadas pelas oligarquias dirigentes da tradicional elite cafeeira conquistense. Esse ciclo de mudanças desenvolvimentista foi iniciado na década de 70 (século XX) por Jadiel Matos, passando por José Pedral Sampaio nos anos 80 e retomadas por Guilherme Menezes e José Raimundo a partir de meados dos anos 90 (século XX) por um período de 20 anos.

Um problema que se coloca para compreender o gap nesse ciclo desenvolvimentista, interrompido por uma conjuntura exógena ao irretocável comportamento ético destes dirigentes municipais, foi a conjuntura nacional hegemonizada por um agressivo marketing publicitário, massificado pelas TVs liderado pela emissora da burguesia (Rede Globo) em todos os quadrantes do país. Divulgou-se incessantemente um produto etiquetado com o rotulou de partido com a marca da “corrupção generalizada petista”.

No que pese saber que existem - e devem ser corretamente investigados - dirigentes e filiados ao PT sendo esquadrinhados (ninguém dentro do PT está acima da justiça, fora dele nem tato...) pela justiça, o mais incauto dos críticos da atualidade já admite hoje que realmente existe uma arquitetura mal-intencionada por traz do golpe que culminaria com a condenação (criminalização) de alguns dirigentes.

Obviamente, que há uma trama sórdida do capital e sua burguesia abjeta fazendo agitação e propaganda midiática com objetivo de precipitar a longevidade do PT por uma “causa mortis”. Estrategicamente, a empresa capitalista que opera no mercado de entretenimento foi competente o bastante para incendiar todo o país com erros de dirigentes do PT, diminuindo a força eleitoral das candidaturas, inclusive a que levaria o PT de Vitória da Conquista a derrota eleitoral.

Portanto, não precisa ser um analista crítico da política para perceber que houve um investimento pesado do capital estrangeiro para mudar o curso de governos voltados para o social, mesmo que esses governos não fossem de esquerda. O que se observa atualmente é que o PT não foi derrotado e sim um ciclo desenvolvimentista híbrido que estava recuperando o tecido social deteriorado, mas que também estimulava o crescimento de setores da economia[5] que interferia na dinâmica socioeconômica e política capitalista do país, do Estado e do município.

Para conter o crescimento eleitoral do PT e partidos historicamente aliados, a burguesia usou a mídia (empresa capitalista) para massificar tautologias baseadas em uma ficção. Esse fetiche foi construído a partir de um banco de dados especulado por técnicas gerencialistas modernas de Business Intelligence[6]. Assim, criou-se personagens fictícios “perfeitos” (alguns nem tanto, pois nem maquiados conseguem seguir o roteiro) para ofertar no mercado eleitoral e vencer eleições a qualquer custo.

Um caso atípico em Vitória da Conquista é o personagem eleitoral caricato criado para o atual prefeito de Vitória da Conquista. Um personagem idealizado por uma ficção idílica, construído com material de gálio[7], com o qual a máscara foi feita. A validade desse material se limitou ao termino processo eleitoral, portanto um agente da política bizarro (caquético) que está derretendo com o sufoco que está levando pela incapacidade de lhe dar com os problemas concretos da sociedade conquistense.

Afinal, ficção nunca foi uma realidade, no máximo uma teledramaturgia com data para acabar, no máximo 1.460 dias. Porém, algumas novelas “bonitinhas mais ordinárias”, no dizer de Nelson Rodrigues, podem terminar antes do tempo previsto, por conta do péssimo material que inspira a narrativa que confeccionou a imitação distorcida do real. Ou seja, diferente das novelas clássicas do revolucionário russo Fiódor Dostoiévski, principalmente "Pobre gente".

A política na sociedade burguesa tem uma dinâmica própria que se desenvolve a partir de elementos materiais e emocionais concretos, a exemplo da ausência de memória (causada intencionalmente pela classe dominante) da população, a violência, o desemprego, a fome, o sofrimento e as necessidades de sobrevivência e etc. Essas condições incidem (positiva ou negativamente) sobre a decisão dos sujeitos, com margem cada vez menor de escolha entre esse ou aquele candidato.

Não pretendo discorrer sobre todos os itens relacionados acima, mas quero me ater apenas ao papel da memória neste cenário nebuloso e catastrófico. Compreendo que o ciclo a que me refiro precisa resgatar uma figura importante neste processo, que é o engenheiro José Pedral Sampaio lufado por suas escolhas equivocadas no último mandato. Mesmo que tenhamos que admitir que José Pedral monta essa oligarquia, uma vez que foi o último prefeito descendente do colonizador João Gonçalves da Costa, segundo a historiadora e professora Dra. Maria Aparecida[8].

O ex-prefeito José Pedral ao aliar-se ao carlismo na Bahia, além de se destruir ele não fez nada mais do que retornar ao seu verdadeiro lugar de fala da classe dominante. Ele fez parte da tradição do berço dos bem-nascidos, lugar de fala das opulentas oligarquias, conforme relata o site da PMVC (2012) sobre o próprio[9]: “O próprio João Gonçalves da Costa, fundador do Arraial, tornou-se proprietário de gado. A família Gonçalves da Costa foi a mais rica produtora de leite e carne da região durante mais de um século”.

A tradição familiar de José Pedral descende da colonização portuguesa que liderou a carnificina (depois do esgotamento das minas de ouro de Rio de Contas e das Gerais[10]) e povoamento destas cercanias, o “preto forro” corajoso desbravador, não menos exterminador dos povos originários. O bandeirante João Gonçalves da Costa séquito fiel à Coroa Portuguesa, em nome da qual invadiu essas regiões vindo de ação como política de ocupação de território da coroa portuguesa no ‘Sertão da Ressaca’, em busca de metais preciosos no século XVII.

Contudo, seria desonesto colocar o ex-prefeito José Pedral Sampaio na conta dessa tradição conservadora de viés fascista. Mesmo admitindo que sua gestão no último mandato guinou para direita (um retorno ao seu lugar de origem), sucumbindo aos caprichos do sanguinário coronel ACM e sua gangue do corruptos vilipendiadores do erário público, “naturalizada” por um justificativa sinistra do “Rouba, mas faz!”.

Esse ciclo desenvolvimentista fez importantes intervenção política problemas sociais e econômicos históricos da cidade, mas não tocou nas questões de infraestrutura[11] que podem efetivamente alterar o constructo metal geral que alicerça o pensamento que engendra o complexo organizacional (público e privado) que regra as relações socioeconômica e política Conquistense.

A atual gestão tem recriado situações já superadas há muito tempo, pois essa catilinária já não se ouvia falar mais em Vitória da Conquista. Um retrocesso que mostra que o governo foi eleito com um discurso, mas pratica outras coisas às escondidas da população (pelo menos eram). Atraso de salários e benefícios, orçamento no vermelho, superlotação da folha de pagamento, privatização e desvalorização dos servidores e perseguição e assédio moral. Enquanto isso as velhas assombrações derrotadas em 1996 voltam a assombrar os servidores públicos no prédio dos coronéis, onde funcionava a antiga delegacia de Vitória da Conquista.

[1] Herberson Sonkha é professor de Filosofia e Sociologia e coordenador pedagógico no Zênite Pré-Vestibular e Cursos de Conquista e Guanambi. Estudante de Ciências Econômicas na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Foi gestor administrativo lotado no Hospital de Base de Vitória da Conquista. Foi do Comitê Gestor da Secretaria Municipal de Educação de Anagé. Presidiu o Conselho Municipal de Educação de Anagé. Coordenou o Programa Municipal Mais Educação e a Promoção da Igualdade Racial do município de Anagé. Foi Vice-Bahia da União Brasileira de Estudante (UBES) e Coordenador de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de Vitória da Conquista (UMES). Militante e ex-dirigente nacional de Finanças e Relações Institucionais e Internacional dos Agentes de Pastorais Negros/Negras do Brasil. Membro dirigente do Coletivo Ética Socialista (COESO) organização radical de esquerda do Partido dos Trabalhadores.

[2] O Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional – PROER. Programa econômico brasileiro implementado no governo FHC (1995). O objetivo era a recuperação das instituições financeiras (saqueadas pelas elites dirigentes) com graves problemas de caixa, para salvar da crise econômica sistêmica.

[3] Banco Econômico teria realizado diversas doações de campanha ilegais nas eleições de 1990 (conhecido como escândalo da Pasta Rosa) O ACM, dono do PFL principal aliado do PSDB de FHC, ameaçou romper com o governo caso o Econômico não fosse ajudado".

[4] 6º Programa Eleitoral de TV do candidato a prefeito de Vitória da Conquista Herzem Gusmão.

[5] O primeiro setor é o governo, que é responsável pelas questões sociais. O segundo setor é o privado, responsável pelas questões individuais. Com a falência por corrupção e ingerências das elites brasileiras programou-se a “quebra” do Estado para viabilizar o setor privado (privatizações) nas questões sociais, através das inúmeras instituições que compõem o chamado terceiro setor.

[6] O termo Business Intelligence (BI), inteligência de negócios, refere-se ao processo de coleta, organização, análise, compartilhamento e monitoramento de informações que oferecem suporte a gestão de negócios.

[7] Gálio é um elemento químico de símbolo Ga, de número atômico 31 (31 prótons e 31 elétrons) e massa atómica igual a 69,7 u. É um metal pertencente ao grupo 13 (IIIA) da classificação periódica dos elementos. A temperaturas um pouco mais altas do que a temperatura ambiente se encontra no estado líquido.

[8] SOUSA, Maria Aparecida Silva de. “A conquista do sertão da ressaca: povoamento e posse da terra no interior da Bahia” (1998).


[10] Idem.

[11] Infraestrutura para o marxismo, significa o conjunto das relações econômicas de produção que, no decorrer da história humana, tem servido de base às diversas formas de pensamento e sentimento, e à organização jurídica, cultural ou política das sociedades (a superestrutura).

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