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terça-feira, 20 de fevereiro de 2018
Carta ao Camarada Sonkha ou as Premissas dialógicas sobre Democracia.
fevereiro 20, 2018
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por
Vinícius...
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![]() |
Historiador, filósofo e professor JBerger |
por Joilson Bergher[1]
Carta ao Camarada Sonkha ou as Premissas[2]dialógicas sobre Democracia
“CARO, Sonkha, está cravado no pensamento de Baruch Spinoza, que a política nasce do desejo humano de libertar-se do medo, da solidão, e da barbárie. Nessa reflexão, a política deveria trazer paz, liberdade, democracia, o contrário disso, têm-se, divisões superstições, eliminações, perseguições, de fato, raízes deletérias dos fundamentalismos, do fascismo, como você define em seu artigo, isso, que se nomina de poder, quaisquer que sejam eles.
A pergunta que deixo: como determinar o regime de governo mais favorável ao convívio dos homens? Seria a democracia, ou os obstáculos a esse regime? Vida longa aos que militam pela libertação de gentes, de pessoas, de Seres”. A missiva acima citada nesse pequeno artigo, é parte de um diálogo político tratado entre Eu e Sonkha, no interior do M-Coeso, movimento existente há mais de duas décadas atuando, primeiro no movimento social dos estudantes na Bahia, ampliando-se na base social dos trabalhadores, em suas várias vertentes, e, nos tempos atuais, a partir de atuações efetivas, decisivas e propositivas de vários de seus membros no interior do Partido dos Trabalhadores, e fora desse, também.
De início em sua missiva Sonkha afirma, - “Portanto, a democracia é uma categoria das ciências políticas que vai sendo vocalizada no processo histórico. Ela surge pela primeira vez na história na Grécia antiga, sendo implantado pelo regime democrático de governo de Clístenes (Atenas, 508, a.C.) e entra em decadência pela decorrência das conquistas de Alexandre (o Grande) por volta de 336 a.C”. Aqui de fato coadunamos, e acrescentamos que, para, Leon Trotsky -, a “democracia, analisada como o regime democrático-liberal, a analisa como uma das formas assumidas pela dominação de classe exercida pelo Estado capitalista, as quais se expressariam em diferentes regimes políticos que, em dosagens variadas, fariam sempre uso de elementos de repressão, concessões (reformas) e ideologia – aliás, também em linguagem gramsciana, todos os regimes lançariam mão, com teores distintos, dos elementos de consenso e coerção. Em todos esses regimes, o Estado seria, essencialmente, um Estado de classe. A democracia seria, portanto, uma forma assumida por este Estado de classe e, por conseguinte, seria um regime de classe”.
Dito isso, as várias denominações ou tentativas de nominar o que seja a democracia tem nos levado a caloroso debate, no mundo, inclusive ideológico, ainda que, haja tentativas indeléveisde tentar negar “ideologias”, colocando-a no patamar de rebaixamento do Ser. Aliás, tais tentativas de negações se dão num cenário diante duma realidade sombria e enganadora de que essa modernidade ideológica se propôs ou se propõe a fazer... trazer felicidades pro Ser, não conseguindo, obviamente, ou conseguindo efemeramente! Afirmo, entretanto, que, se houvesse “algum florescimento do capitalismo, e sua eficiência como forma de dominação somente seria possível em situações de normalidade político-social, as quais tornariam possível uma articulação equilibrada entre aspectos coercitivos, reformistas e ideológicos”, nos tempos atuais, em tempo algum, ou em qualquer parte do mundo, vemos florescer essa tal normalidade, isso, não é uma ilação nossa - números, dados, gráficos – perfazem esse decurso.
Se o mundo de fato for moderno, esse de nosso tempo, Baruch Spinoza, diz de escolhas, de sonhos, de utopias, afinal, graças à combinação de medidas de violência com as concessões, da miséria com as reformas, conseguiu submeter o Ser a sua completa negação, abdicação em busca de sua felicidade, o tornando uma aberração andante, uma fantasia, um arquétipo a defender a fantasia por dentro de um capitalismo hediondo, (aliás, sempre o fora) que, entre outros fatores, “possibilita à burguesia estabelecer sua dominação de classe por meio do regime político democrático-burguês, no qual a violência estatal, indispensável e ininterruptamente presente (ainda que potencialmente), recebe a companhia de ingredientes de natureza consensual, os quais costumam cotidianamente aparecer em um primeiro plano”.
Concomitantemente, trago a esse diálogo de nosso tempo, Sócrates, um filósofo que possuiu um método diferente dos que o antecederam, ele tinha a arte do diálogo; em suas conversas que geralmente aconteciam em vias públicas, ele questionava seu interlocutor como se ele próprio quisesse aprender, e dessa forma ele não assumia a posição de um professor tradicional, durante as conversas, frequentemente conseguia levar seu interlocutor a ver os pontos fracos das ideias que até então era tido como certeza.
Aqui, prevejo que nesse tempo de mobilização de massa, das massas, o conceito de democracia foi submetido a novas pressões ideológicas pelas classes dominantes, exigindo não somente a alienação do poder “democrático”, mas a separação clara entre a “democracia” e o “demos” – ou no mínimo o afastamento decidido do poder popular como principal critério de valor democrático...mas para Sócrates é importante que para todos aqueles que querem conhecer alguma coisa, começar reconhecendo a própria ignorância, então, não seriam tão ignorantes esses ocidentalizantes ou ocidentalizados, acidentalizados quererem impor algo, que em tese, não sabem o que é? Não seria esse o sentido original da palavra ignorância tratada com ironia - derivada do verbo eirein (perguntar), ironia tinha o sentido de interrogação fingindo ignorância. Sócrates (469-399 a.C.), pretendia nada saber e dizia que todos já possuíam o conhecimento do que era correto dentro de si.
Para trazer esse conhecimento à tona ele fazia perguntas bem dirigidas e questionava sistematicamente seus interlocutores afim de que a sabedoria aflorasse. A suprema sabedoria seria, aparentemente, o conhecimento do bem, ou pelo menos o reconhecimento honesto da própria ignorância. Nos falta a ignorância na acepção da palavra grega, aliás, em grego não achei, mas no latim sim – Ignorantia, de Ignorare, o não saber.
Quando se fala em sabedoria na filosofia não consigo dissociar que a democracia pensada pelos filósofos da época socrática era trazer para o centro de suas indagações o HOMEM como ser capaz de produzir conhecimento através do desenvolvimento de sua Moral. Acreditavam, portanto, que o Conhecimento – a Filosofia – tinha uma função social, e por isso, consistia na formação de cidadãos como tarefa indispensável para a transformação da sociedade. Mas contra a democracia: a morte de Sócrates, afinal, - “A verdade mesmo é que Sócrates era um idiota. Mas a palavra “idiota” – derivada do grego idiotes – não tinha naquela época o significado de hoje. Na Grécia clássica, idiotes era usado para designar os cidadãos que não participavam dos debates políticos da cidade. E Sócrates, que não costumava elevar a voz nas assembleias públicas e desdenhava o debate, certamente era considerado um. Só que isso, embora malvisto na Grécia, não era razão para condenar ninguém. Os motivos que levaram Sócrates ao tribunal foram mais complexos”. Podemos perceber, portanto, que havia uma grande contradição no regime democrático dos gregos-atenienses. O poder não era exercido pelo povo como entendemos na etimologia da palavra “DEMOKRATÓS”, e sim por uma pequena porcentagem da população. A grande maioria da população, composta de Metecos (comerciantes estrangeiros), mulheres e escravos, estava absolutamente destituída do poder político e da participação na Assembleia.
Dito isso as experiências das polis (“cidade” em grego), surgiram não somente nossa palavra “política”, acrescento, por tabela, também a democracia na acepção da palavra, como também as nossas práticas eleitorais, a escolha de representantes, o costume de consultar os cidadãos nas questões mais importantes, a concepção de que existem decisões e poderes que são legítimos e outros ilegítimos. Entretanto, – com isso Marx e Spinoza concordariam plenamente com esse debate se eu tratasse a democracia como um afeto, decerto, me levaria a troca da democracia pelo comunismo. Se fizermos do lema comunista popularizado por Marx, “De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades”, nessa linha argumentativa muito provavelmente a democracia liberal burguesa e suas tentativas de ser superior ao Ser, em tempo algum prosperaria, em canto algum do mundo, afinal, quem controla desejos? Mas é possível arriscar que Sócrates buscava sempre retirar os homens de seu tempo do “senso comum” e encaminhá-los em direção à razão, mas aqui também o Ser não é razão o tempo inteiro... ou então a democracia representativa, enquanto uma das formas políticas assumidas pelo Estado capitalista, não deixa de ser uma forma de dominação política do capital sobre o trabalho. Importante dizer, que, Sócrates, assim como Platão, Aristóteles, ou o filósofo cínico Diógenes de Sínope, e sua verve franca, direta, e sua disposição de descrença na sinceridade ou bondade das motivações e ações humanas, por exemplos, morreram por suas ideias - e elas não batem com os valores políticos modernos. É o que mostra a história.
[1] JBergher é professor, historiador, filósofo e servidor do Estado.
[2] Na área da Lógica, a PREMISSA significa uma suposição que serve de base para um raciocínio que levará a uma conclusão. A premissa é uma expressão linguística que pode afirmar ou negar alguma situação ou questão, e que pode ser verdadeira ou falsa. Artigo http://queconceito.com.br/premissa
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