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sexta-feira, 29 de julho de 2016

“VOCÊS NÃO ESTÃO ENTENDENDO NADA”


"Em Conquista, “VOCÊS TAMBÉM NÃO ENTENDERAM NADA”, são vocês do campo hegemônico, também responsável pela situação de descrédito junto à população, são vocês responsáveis pelo ódio que a juventude desenvolveu em relação a nós, militantes petistas, responsáveis por termos perdido a classe trabalhadora e também os setores da classe média que marchavam conosco."

*por João Paulo Pereira

Esta frase foi usada por Caetano Veloso em um festival de música para demonstrar o tamanho do equívoco cometido pelo corpo de jurados do evento, ao eliminar Gilberto Gil, por considerar a composição do artista inadequada para o momento histórico em que viviam. Está frase também serve para afirmar a atual situação do chamado campo hegemônico do PT, constituído em função da adequação a ordem burguesa e a utilização de práticas políticas poucos usuais para quem se pretende de “esquerda”.

Essa galera que hoje detém a maioria do partido, uma maioria desqualificada do ponto de vista da elaboração teórica e da militância orgânica em movimentos sociais e no partido, ao longo de nossa história, foram, gradativamente, perdendo a crença na construção de uma nova ordem política, econômica e social, deixaram de acreditar que os trabalhadores são capazes de construir uma nova sociabilidade, que somos capazes de nos transformar em um novo homem. Encantaram-se com as benesses palacianas, com o conforto proporcionado pelo capitalismo e abandonaram a luta.

Passaram a defender a crença do bom burguês, o homem rico que sensibilizado pelas condições adversas dos trabalhadores, abririam mão de parte de sua riqueza para construir um mundo mais feliz. Estavam e estão enganados. Com base nisto, fizeram alianças irracionais com todos que, de forma oportuna, lhes procuraram, acreditando no fim da luta de classes.

O resultado está sendo terrível para o PT. Sem qualquer respeito aos companheiros que jogaram sua história no lixo, a burguesia munida de sua mídia e de todas as ferramentas do Estado, atropelou o campo hegemônico, transformando militantes respeitáveis em quadrilheiros, induzindo o partido a entrar bestialmente no jogo da governabilidade irracional praticada secularmente pela classe dominante nacional. Fizemos tudo o que eles queriam que fizéssemos, para depois passar a ideia para a população de que fomos nós os inventores de toda a sujeira que eles promoveram. “E VOCÊS NÃO ENTENDERAM NADA”.

Em Conquista, “VOCÊS TAMBÉM NÃO ENTENDERAM NADA”, são vocês do campo hegemônico, também responsável pela situação de descrédito junto à população, são vocês responsáveis pelo ódio que a juventude desenvolveu em relação a nós, militantes petistas, responsáveis por termos perdidos a classe trabalhadora e também os setores da classe média que marchavam conosco. Agora, sem entender nada novamente e ávidos pela vitória eleitoral e a manutenção irracional da direção do Estado, passam a utilizar a máxima maquiavélica, “os fins justificam os meios”.

Isso serve bem a burguesia que se apegou a isto para espalhar pelo planeta o terror, para justificar a pobreza, a fome, a exploração do homem pelo homem. Para justificar as destrutivas guerras ao longo dos séculos de desenvolvimento do capitalismo, para justificar a irracional e predatória exploração do ecossistema, para justificar a solidão dos homens, o desamor, a falta de cuidado com a vida em todos os sentidos.


Mas não serve para quem é de esquerda, para quem um dia acreditou na utopia de um novo mundo, pautado na plenitude do amor, no cuidado com a vida, na igualdade fundamental entre os homens, na perspectiva de superação de toda forma de opressão e de exploração do homem pelo homem. “VOCÊS NÃO ESTÃO ENTENDENDO NADA”.
quinta-feira, 28 de julho de 2016

O petismo hegemônico: se aliar a direita fascista cometerá um erro histórico em Vitória da Conquista.

"Como era de se imaginar, a militância petista de esquerda não se orienta pela premissa de “a ocasião faz o ladrão.”

*por Herberson Sonkha

Nestas eleições em Vitória da Conquista a militância de esquerda do Partido dos Trabalhadores (PT) corre o risco eminente de sofrer mais uma derrota interna que aumentará a lesão em seu principal tecido, o social. Segundo dirigentes hegemônicos num estalo de lucidez, que nós consideramos um lapso conveniente de memória, o campo hegemônico do PT em Vitória da Conquista define a natureza política do arco de aliança: venha de onde vier ou com quem vier, qualquer um será aceito!


Como se estivessem numa ilha esotérica e desplugados da realidade física e virtual proporcionada pela internet, o bloco hegemônico age irresponsavelmente com indiferença ao linchamento moral midiático e nas ruas de Conquista feito contra a militância petista; aos constantes ataques à história do PT e a liquidação vil da dignidade do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff.

Se o plano prosperar, dependendo deles está tudo acertado, os hegemônicos vão estuprar moralmente a dignidade da militância petista ao receber uma chispa da direita fascista desagregadora ilusoriamente chamada de independente que impõe uma burguesa coxinha (fascista) recém filiada ao PDT como vice e um chiste formado por Chico Estrela, David Salomão e uma escoria ascendente de coxinhas golpistas com a justificativa de que eles são essências para ganhar as eleições municipais. Menos as mulheres e os homens do PT!!!

As eleições são um período de “observação” da população (todos os estratos sociais e econômicos) do que será ou poderá ser feito nos próximos anos. Algumas mais, outras nem tanto, ou ainda aquelas “desligadas” destas questões do mundo da política são orientadas por uma ideia tácita que intencionalmente as mantém distante do epicentro de decisões coletivas por se reivindicarem apolíticas.

Mas, sua suposta neutralidade também é uma posição política que, além de isolar das discussões sobre as inúmeras contradições nas relações de poder dos humanos, torna-as mais vulneráveis as artimanhas de quem (ou grupos) conta com seu silêncio para tirar proveito em benefício próprio da situação, a que nós conhecemos com politicagem. Ou seja, quem não discute política, com ‘P’ maiúsculo, permite-se que qualquer pessoa possa decidir por você e, na maioria das vezes, contra seu próprio interesse.

Contudo, nosso posicionamento político, na política enquanto ciência que administra interesses alheios está diretamente ligada as nossas condições materiais e intelectuais. Estas condições influenciam essas observações que oscilam entre comportamentos de indiferença ou crítico na política. Na maioria das vezes essa indiferença é um elemento causador do comportamento protetor ou agressivo destas populações: fanatismo. Empiricamente, nota-se que mais da maioria dessas pessoas que compõe o universo da política, possui um comportamento protetor. Este protetorado tem aspecto passional que transforma os indivíduos em defensores incondicionais de certas ideias (absurdas) porque são movidas pela paixão.

Outra dimensão deste comportamento político caracterizado pela indiferença é a agressão caracterizada pela maledicência. Em relação à crítica é preciso salientar que essas pessoas não estão imunes a certas características observadas no comportamento dos indiferentes. Portanto, tanto uma quanto a outra, poder-se-ia ser afetada pelo fanatismo, mesmo aquelas pessoas culturalmente intelectualizadas e materialmente “bem-dotadas”.

E o que foi feito conta nesta observação? Sim, mas não é determinante porque o feito já foi assimilado pela sociedade que passa a se comportar com algo naturalizado. Observar o comportamento dos membros de uma determinada sociedade pressupõe analisar também os graus de saciedade dos diversos grupos sociais. Por analogia, parece ser a mesma sensação causada por estímulos (externo ou interno) que provoca reações especificas que ativam a percepção dos humanos estabelecendo níveis de satisfação ou insatisfação. Uma vez atendida cessa a sensação fisiológica que a ausência ou presença provoca.

Na política, quando a/o sujeito político ignora a história coletiva daqueles agentes sociais e econômicos vinculados àquela comunidade e passa a conceber o agora como único critério de aceitação ou negação, a política cumpre um papel menor porque está destituída da crítica, pois se comporta, grosso modo, como animalia que utiliza apenas a percepção sensorial para interagir com o mundo. Quem desconsidera estas “condições” acaba por não compreender a complexidade da dinâmica sociopolítica que incidem sobre a decisão de votar ou não em um ou uma determinada candidata.

Por esta razão, acreditamos que o PT (Executiva, Comissão Política ou ‘PGP’) deve observar o que se tem como possibilidade. Como era de se imaginar, a militância petista de esquerda não se orienta pela premissa de “a ocasião faz o ladrão”. Assim, os meios não justificam os fins, pelo menos não deveria para alguns agentes da politicagem que operam o campo hegemônico do partido. Não há circunstancia certa para justificar o alinhamento político com a excrescência da direita mais execrável de Vitória da Conquista. Afinal, todos nós petistas (inclusive o campo hegemônico) condenamos o linchamento moral sofrido pelo PT na mídia e nas ruas por esta mesma direita abjeta que agora querem trazer numa aliança “tática” para manutenção do poder.

Qual é o devir que alimenta a expectativa geral da população conquistense? O que vir a ser a vontade da popular e qual é o nível de percepção desta população com o que está acontecendo no país, no Estado e no município?  O papel de um partido de esquerda não é organizar as massas e levar conhecimento para conscientizá-la dos perigos ao apoiar um projeto de direita? O campo hegemônico não responderá a nenhuma destas perguntas porque eles estão comprometidos com a lógica hegemonista de manutenção do poder. O poder pelo poder e não importa com quem se alie o que vale é ganhar... Vide governo municipal.

As forças de esquerda precisam romper com está lógica mimética (matriz é do campo hegemônico) de aprisionar-se tão somente ao já feito e na “capacidade” da máquina pública para resolver todos os problemas do mundo, inclusive saciar as expectativas das populações, com algo ad infinitum. Compreendemos que o devir é um novo desafio e que a nossa capacidade material e intelectual presente não dão respostas efetivas (convincentes) a expectativa de futuro, principalmente se limitarmos as conquistas e avanços (capacidade financeira e técnica da máquina pública) subsumidos pelo presente, inquestionavelmente é limitadíssima.

Precisamos nos apropriar do devir para convencer as populações, no entanto, a escuta é o melhor e mais eficiente mecanismo de prospecção. Ouvir sem filtro, sem cercear a fala e nem intimidar as pessoas constitui a melhor mais importante iniciativa política. Não existe a cultura da escuta no governo municipal, pois estão sempre armados e prontos para metralhar quem quer que seja em ousar criticar as ações do governo. Se não há escuta durante a gestão e não existe disposição para fazê-lo, pelo menos no período eleitoral, quando a população iria dizer quais são as suas expectativas de futuro?

Alianças à direita e com figurinhas deletérias colocarão o Partido dos Trabalhadores de Vitória da Conquista, uma exceção no território nacional, na vala comum da “farinha do mesmo saco”. As últimas alianças à direita já descaracterizaram parte importante do projeto iniciado nas intensas disputas políticas de classes contra as oligarquias cafeeiras dos anos 1970. Mas, estas últimas movimentações perigosíssimas do campo hegemônico (Guilhermistas e Reencantar) e algumas das figuras de proa (antes tidas como leprosas) do governo para construir com à direita fascista um arco de alianças execráveis que colocará a tão propalada exceção do petismo conquistense na Bahia no mais terrível apodrecimento moral do tecido social do PT, uma hanseníase política.

Esta aliança com a extrema direita fascista é infecciosa e está comendo nosso tecido social que não pertence ao campo hegemônico, pois essa direita fascista atua como mycobacterium leprae que uma vez inoculado forma pequenas manchas e depois inicia a incubação lenta e gradual. Sua função é interromper a oxigenação ideopolítica do tecido social partidário tornando-o frágil até atingir sua forma lepromatosa e aí já não existe mais solução democrática para conter esta virulência, pois todas as defesas (forças à esquerda) internas foram violentamente asfixiadas ou expulsas. Isto transformará o que ainda resta de dignidade de nosso governo numa amalgama leprosa que destruirá o histórico e o nosso legado.

O antídoto para esta doença infectocontagiosa é a radicalização da democracia interna do partido com a adoção de condutas efetivamente participativas, livrando-se dos vícios das manobras típicas do hegemonismo despolitizado. É preciso vacinar o partido e extirpar esta parte do tecido social do partido comprometida pelas articulações políticas doentias daqueles que insistem em pensar que o PT é um balcão de negócios sobre o qual se permite fazer qualquer jogo no qual a principal moeda de troca são a ideologia e os princípios emancipacionistas dos petistas, para manutenção do poder.

Buscar respeitar o estatuto do partido, principalmente o seu Art. 1º “O Partido dos Trabalhadores (PT) é uma associação voluntária de cidadãos e cidadãs que se propõem a lutar por democracia, pluralidade, solidariedade, transformações políticas, sociais, institucionais, econômicas, jurídicas e culturais, destinadas a eliminar a exploração, a dominação, a opressão, a desigualdade, a injustiça e a miséria, com o objetivo de construir o socialismo democrático.” Neste sentido, urge reorientar o PT pelo relógio dos movimentos sociais emancipacionistas e pelos valores internacionalistas das classes operarias que vislumbram o socialismo/comunismo como oriente das classes trabalhadoras.


sexta-feira, 22 de julho de 2016

A HISTÓRIA POLÍTICA DO RECENTE BRASIL E A REESTRUTURAÇÃO DO CAPITAL

"De modo geral, o ataque provém da mídia que pertence à classe dominante, apesar disso é preciso saber quais as forças que constroem esta narrativa. "

*por Prof. João Paulo Pereira

Finalmente a história trouxe à tona o que o campo hegemônico do Partido dos Trabalhadores tentou disfarçar durante anos em que manteve a hegemonia política interna ao partido e que esteve na direção do Estado Brasileiro, de governos de estados e de prefeituras por todo o país. No filme “Batismo de Sangue”, Frei Betto, faz a citação que foi esquecida pelo campo hegemônico do PT ao longo de sua história, “não há aliança possível entre oprimidos e opressores”. Infelizmente a história provou isto da pior forma possível. Pois, quem radicalizou a “luta de classes” no Brasil, não foi quem vive do trabalho e sim os setores dominantes, a burguesia nacional e internacionalista.

Mais uma vez a elite se aproveitou da falta de compreensão do processo político de parte da esquerda nacional. Usou a esquerda para recuperar a economia capitalista brasileira, totalmente estraçalhada por eles ao longo do século XX, como afirma o pensador Antônio Gramsci, no livro “Gramsci e o Bloco Histórico”, “A classe dominante abre lacunas na história, para que os trabalhadores dirijam o Estado, resolva parcialmente as contradições do capital, depois fecha essas lacunas e retomam o poder”.

Desde o final das eleições de 2014, com a arrastada vitória do Partido dos Trabalhadores, representado pela candidata e presidenta Dilma Rousseff, iniciou-se uma campanha intensiva das elites dominantes do país (burguesia) contra o Partido dos Trabalhadores. De modo geral, o ataque provém da mídia que pertence à classe dominante, apesar disso é preciso saber quais as forças que constroem esta narrativa.

Faz parte desta edificação política o Parlamento formado em sua maioria, pelos setores mais conservadores da sociedade, mancomunados com o poder Judiciário, também, historicamente conservador. Acresce a esta lista os setores mais conservadores da Igreja Protestante, sobretudo, os pentecostais e neopentecostais e os grupos conservadores da Igreja Católica, principalmente, a Renovação Carismática e os movimentos ligados a Santa Sé. Neste mesmo sentido seguem o empresariado industrial brasileiro e o grande latifúndio que articulados colocaram em prática o que hoje é chamado de “GOLPE BRANCO CONTRA A DEMOCRACIA”.

Para entender esse processo, é preciso fazer uma análise detalhada dos fatos políticos dos últimos anos, tentando destrinchar ponto a ponto desse processo até chegarmos à votação do Impeachmentou GOLPE. Inicialmente, é preciso ressaltar o processo histórico mundial que tem início com a chegada do século XXI. Desde a Perestróica e a Glasnost e a “queda do Muro de Berlim”, o mercado passou a atuar livremente, sem as barreiras políticas provocadas pelo “socialismo real”, instaurado a partir de Revolução Russa de 1917.

A polarização entre o mundo “socialista” e as potencias capitalista, sobretudo, os Estados Unidos da América pelo controle do planeta, freava o mercado de capitais. Com o fim do suposto mundo socialista, a um aumento considerável do poder do capital sobre o mundo, ao ponto de Francis Fukuyama escrever o livro “FIM DA HISTÓRIA”, onde afirmava que o projeto neoliberal agora construiria o melhor dos mundos.

A verdade é que 20 anos depois da instalação global do neoliberalismo, encontramos um mundo falido, com um crescente aumento da pobreza em todas as nações do planeta. Há um método de acumulação muito mais agressivo por parte dos detentores do mercado, desencadeando um processo de desaceleração das economias nacionais, principalmente daquelas economias centrais desenvolvidas frequentemente assinaladas por crises econômicas.

Portanto, este processo origina a redução drástica do trabalho e o aumento gradativo dos problemas ecológicos provocados pelo modelo predatório de desenvolvimento capitalista. Neste sentido, o capitalismo transforma tudo em matéria prima para a produção de lucro, provocando uma queda significativa na qualidade da produção artístico-cultural em todo o planeta, pela intervenção do grande capital em todos os setores da vida e da sociedade.

Ao mesmo tempo, do ponto de vista político, não é difícil perceber que desde o final dos anos 90, do século passado, surgiu uma tendência política mundial para desconstrução de governos com caráter de centro-esquerda em todo o planeta. Assistimos a um crescimento vertiginoso de governos com um caráter de esquerda em todos os continentes. O fortalecimento de uma consciência social na luta contra a fome, contra a pobreza, um combate intenso a exploração predatória do meio ambiente, uma crítica ostensiva às políticas de acumulação de riquezas, que começaram a ganhar os espaços acadêmicos e chegando até os setores mais comuns da sociedade, que começaram a se deparar com uma crise civilizatória do modo de produção capitalista.

Essa crise pode ser facilmente percebida se voltarmos um pouco na história e relembrarmos os movimentos de juventude na França em 2005 que começou com uma questão particular e se alastrou pelo país, ganhando um contorno social em função das péssimas condições de vida em que viviam e contra o desemprego estrutural que assolava o país. Movimentos como estes se espalharam por toda a Europa, sobretudo, em países com problemas econômicos, como Grécia, Espanha, Portugal, países do leste europeu, conflitos entre nações em função de questões econômicas, aumento substancial do desemprego e da pobreza.

Estes novos governos mesmo sem promover mudanças estruturais no modo de produção, mesmo assumindo o modelo de desenvolvimento capitalista, procuraram garantir conquistas sociais e humanizar as gestões dos Estados. Gradativamente procuraram introduzir mudanças conjunturais, que visavam garantir a melhoria das condições de vida da população pobre em seus respectivos países e certamente reduzir o impacto da acumulação de riquezas sobre a população do planeta, nada revolucionário e nem socializante, mas que passou a questionar a ordem dominante. Com a criação do BRICS, envolvendo os cinco maiores países em desenvolvimento neste início de século, os únicos que estavam na contramão da história, enquanto o mundo mergulhava em mais uma crise profunda e estrutural, às economias destes países cresciam e garantiam maior participação das populações pobres no mundo do consumo.

A instituição do BRICS foi à grande sacada dos países emergentes e se tornou uma ameaça ao domínio de décadas do FMI e dos organismos econômicos do grande capital e dos países desenvolvidos do G7, que neste momento estavam mergulhados no evidente fracasso das políticas neoliberais, que promoveu a falência estrutural do capitalismo, a falência social e cultural da humanidade, provocando uma crise civilizatória sem precedentes na história, mexendo com valores humanos, aumentando o espectro da solidão, do abandono de valores que valorizasse a vida o cuidado com outro e com o planeta, mergulhando a humanidade definitivamente em uma verdadeira “idade das trevas”.

Essas ações exigiram do grande capital e do mercado uma reação. Esta foi imediata e, podemos apontar o ano de 2009 como sendo o ponto de partida para o desenvolvimento de políticas de reestruturação e reorganização do capitalismo mundial.

Essa reestruturação tinha como projeto fundamental a possibilitar ao mercado reassumir a direção econômica e política do planeta, perdida com o fracasso do projeto neoliberal e do Estado Liberal de Direito sob a Égide do mercado e do 1% da população detentora da riqueza do planeta.

A partir do ano de 2009 eventos políticos envolvendo as populações de vários países começaram a eclodir em várias regiões do planeta, sobretudo, com a participação da juventude, que tinha em suas bandeiras, a conquista da “democracia”, a luta “contra a corrupção”, “fim de ditaduras e Estados autoritários”. Estes eventos chamaram a atenção de alguns pensadores contemporâneos, o esloveno Slavoj Zizek, afirma no artigo dia de cão, “que a crise estrutural do capitalismo, estava incentivando manifestações em série pelo mundo, que colocava em cheque a sobrevivência do sistema”.

Para uma primeira análise de quem está vivenciando o problema contemporaneamente, essa afirmação parece real, afinal o mundo mergulhava em uma zona constante de conflitos sociais, políticos, econômicos e culturais em várias nações, entretanto, numa perspectiva holística da realidade, percebemos nuances não percebidas por quem está dentro do processo.

Hoje parece claro que todos os processos políticos vivenciados pelas nações, e continuam vivenciando, têm uma cabeça única, até pela precisão dos discursos de revolta, com temas coincidentemente parecidos em todos os movimentos, como podemos nos certificar no caso dos países do norte da África e no Oriente Médio, onde as manifestações seguiram um roteiro que certamente não foi traçado pela população autóctone. Certamente a intervenção dos Estados Unidos e dos aliados, que viram na retomada do poder político e econômico naquela região produtora de petróleo, uma saída para recuperar as economias dos gigantes do capitalismo, destroçada pela crise estrutural corrente, agravada em 2007, com a crise imobiliária dos EUA.

Na Ucrânia os movimentos tiveram início em 2013, quando o governo do país, anunciou um alinhamento à Rússia, o que levou setores da Ucrânia ocidental, apoiados por forças políticas europeias e norte-americanas a se manifestarem contra o governo, o que culminou com a derrubada do presidente Viktor Yanukovych, que nunca foi um militante de esquerda e nem um ditador. A alegação do povo nas ruas mais uma vez foi, “corrupção”, “aumento do desemprego” e da “pobreza”. Este governo foi substituído por um governo provisório, com uma feição nazifascista. Na Índia não foi diferente, após cinquenta anos dirigindo o país, a dinastia Gandhi foi derrotada, em seu lugar emergiu uma força de extrema-direita apoiada pelo capital estrangeiro.

Na América Latina, o processo seguiu os mesmos caminhos. As forças e as articulações do grande capital passaram a atuar politicamente desde 2011, fortalecendo grupos de direita e de extrema-direita em todos os países onde governos de centro-esquerda se estabeleceram no poder. Usando as mesmas estratégias do Oriente Médio e da Ucrânia, motivando através da mídia televisiva, escrita e da internet, a população, sobretudo, a juventude a se levantar contra essas forças que pontualmente chegaram ao poder, à burguesia passou a dirigir movimentos políticos que culminaram na queda dos governos. Em todos os casos é preciso perceber a presença de uma ou mais lideranças com características fascistas, despontando em meio uma grande confusão ideológica dos manifestantes.

Estes movimentos seguem um mesmo receituário político, denúncia de corrupção, discurso contra a centralização política e o autoritarismo, o anticomunismo, estagnação econômica do país, são as bases do discurso das direitas em todos os países, processo que parece ter a mesma base ídeo-política, apontando para algo pensado, elaborado, como foi o “Projeto Condor”, que conduziu a América Latina as ditaduras militares durante a década de 50 e 60 do século XX, ditaduras que duraram por mais de 20 anos e que promoveram um desmanche dos Estados no continente e o empobrecimento da classe trabalhadora.

Como nos anos 50 e 60 o grande capital está se rearticulando, reorientando suas estruturas e para que esse projeto obtenha sucesso é preciso que todas as forças de oposições ao capitalismo sejam definitivamente derrotadas.

Desde 2013, todas as forças do mercado, miraram seus holofotes para o BRICS, é condição sine qua non, que este novo bloco econômico e político seja definitivamente derrotado, constantemente, surgem ofensivas contra o governo de Puttim na Rússia, como foi no caso da Ucrânia, da Criméia. A Índia na última eleição caiu nas mãos do grande capital, a África do Sul sozinha, não tem força no processo socioeconômico e político. A queda dos aliados enfraquece a China, que economicamente já sofre com a crise estrutural do capitalismo, o que pode ser ilustrado, com as fortes quedas das Bolsas de Pequim e Hong Kong no ano de 2015 e com a diminuição dos índices de crescimento econômico, que caiu de 9 para 4,8% no último ano.

Diante do exposto, derrotar política e economicamente o Brasil era fundamental para o capital financeiro, pois este se tornou no continente americano uma enorme barreira para esse processo de reestruturação do capitalismo monopolista em curso desde 2009.

Em vários momentos foi o Brasil e a agressiva política internacional do governo do PT, responsável pelo enfrentamento com os princípios defendidos pelo grande capital, podemos ilustrar essa afirmação, apontando, a interferência do Itamarati, na queda de braços entre EUA e aliados, contra o Irã, no debate sobre ecologia que o governo brasileiro posicionou-se contra a posição defendida pelos EUA e do Japão, na defesa do MERCOSUL e de sua ampliação no continente, contra os interesses norte-americanos de criação de um mercado comum para todo o continente que culminaria com a hegemonia da América do Norte, sobretudo, dos EUA sobre todos os países formadores do bloco econômico.

Dentro das fronteiras brasileiras o governo petista, na discussão do PRÉ-SAL, se posicionou e atuou para que o controle da exploração do petróleo não caísse nas mãos das grandes empresas norte-americanas, fortalecendo o Estado Brasileiro numa relação comercial com a China. Desenvolveu um processo de fortalecimento do Estado Nacional, garantindo uma cadeira na ONU, passando a influenciar em decisões que no passado ficavam sobre o controle do G7.

Enfim, o PARTIDO DOS TRABALHADORES, se tornou uma ameaça real aos interesses do mercado financeiro e precisava definitivamente ser derrotado, para isso, foi montado no Brasil um processo político maior do que foi no Paraguai, na Argentina, na Venezuela, dada a importância política e econômica do Brasil na relação global.

Aqui foi preciso pensar todos os pormenores do processo, construir inicialmente o apoio popular às medidas políticas do mercado, para tanto, foi utilizado o poder da grande mídia burguesa, que desde o início do governo petista, vem atuando para construir um ódio de setores da população ao partido, inicialmente a juventude, pois essa é do ponto de vista ideocultural o setor mais vulnerável, primeiro, por não ter conhecido o país antes da gestão petista, logo o referencial de governo que a juventude tem, são os governos petistas, o que os impede de tecer comparações com outros momentos da história recente de país.

Seguindo o processo era preciso transformar ações governamentais que garantiram melhorias na vida dos pobres em algo nocivo à sociedade de alguma forma. O programa “BOLSA FAMÍLIA”, foi responsabilizado como o causador da preguiça da população, “com esse negócio de bolsa família ninguém mais quer trabalhar, é só fazendo filho pra receber o dinheiro”, “não se acha mais ninguém para fazer uma faxina, agora o governo fica dando dinheiro para esses preguiçosos”.

“O MINHA CASA MINHA VIDA, se transformou em um lugar para os bandidos, para os traficantes de drogas”, “A POLÍTICA DE COTAS aumenta o racismo, o negro tem a mesma condição do branco de passar no vestibular”, QUANTO AS LUTAS DESTINADAS ÀS QUESTÕES DE GÊNEROS E LGBTs, “mulher é um problema, pois engravida e ficam seis meses sem trabalhar, é prejuízo para as empresas”, “os viados estão querendo dominar o país”, “é um absurdo casamento de gays”, “pessoas do mesmo sexo não reproduzem”, “estão querendo destruir a família tradicional no Brasil”.

Estimulando esse debate “senso comum” recheado de preconceitos institucionalizados pela cultura dominante, racista, sexista, machista, homofóbica brasileira, o ódio ao PT foi sendo passado paulatinamente à sociedade, sobretudo, nos setores de classe média, que viram seu “status quo” ser questionado pelo crescimento financeiro de parte significativa dos trabalhadores.

Ao mesmo tempo, em função dos erros políticos do campo hegemônico do Partido dos Trabalhadores, que para ganhar a eleição presidencial em 2002, promoveu uma adequação do partido a ordem política burguesa e aos princípios norteadores do Estado Liberal de Direito, fazendo concessões a práticas políticas outrora relegadas pelo movimento social e pela esquerda brasileira, caindo na vala comum da política e fortalecendo o discurso burguês de que todo mundo é igual. O que serviu para ampliar o discurso midiático sobre corrupção. Hoje, o PT é apontado pelo “senso comum”, como sendo o criador da corrupção no país.

Os setores que hegemonizaram internamente o PT, absorveram e executaram o modus operandi da burguesia brasileira, inclusive absorvendo a prática conservadora do coronelismo, com suas lideranças eleitoralmente destacadas regionalmente, passou atuar internamente para submeter às forças de esquerda do partido às suas determinações políticas, utilizando-se do poder econômico para manter sua hegemonia, o que transformou o Partido em algo comum, sem mais, a perspectiva da construção de um paradigma político-social.

Entretanto, não dá para negar os aspectos positivos deste partido na direção do Estado. A não adoção do receituário neoliberal e do Consenso de Washington, na gestão do Estado Brasileiro, aplicando políticas de caráter neokeynesianas, adaptadas às determinações do tempo histórico. Essa inversão de prioridades promovidas pelo governo fortaleceu o discurso de incompetência administrativa, que levou ao endividamento do Estado, já que na concepção neoliberal deve prevalecer o “Estado Mínimo” e a contenção de gastos com políticas sociais.

Na perspectiva da direita brasileira, o primeiro passo para derrotar o PT seria derrotá-lo eleitoralmente. Para isso era necessário aniquilar com os sucessores prováveis do Presidente Lula, José Dirceu, José Genuíno e João Paulo Cunha. O processo que foi chamado pela mídia burguesa de “MENSALÃO”, foi uma cartada importante para reforçar o processo de desmanche do Partido, iniciado desde a fundação deste.

Mesmo sendo uma prática corriqueira nas gestões do Estado em todas suas esferas administrativas no país. Foi um erro do PT ter seguido este caminho traçado pela burguesia historicamente. Em 2003 era o momento para ter dado um basta nesta nefasta prática dos coronéis da política nacional, mas os setores hegemônicos do partido deixaram passar a oportunidade e ao contrário nos colocaram na vala comum da história.

Claro que não dá para isentar nenhum dos três de terem corroborado, para a manutenção de uma prática escusa, desenvolvida a mais de um século pelas elites dominantes, e que de forma alguma deveria ser praticada pelos setores de esquerda, até porque, por mais que este campo hegemônico tenha aberto mão da luta de classe como princípio para a transformação social, a classe burguesa não a abandonou e no momento oportuno utilizou deste expediente para derrotar o Partido dos Trabalhadores.

Lula se utilizando do alto índice de aceitação popular quando terminou o seu governo, e de sua capacidade de articulador político, elegeu a então desconhecida eleitoralmente, Dilma Rousseff à presidência da república, mas uma vez a burguesia apostou na via eleitoral como forma de derrotar o PT. Foram derrotados novamente, mesmo se utilizando dos discursos que já vimos acima, os bons resultados dos governos petistas garantiam a força eleitoral do partido, sobretudo, centrada na figura do Lulismo.

Os discursos desenvolvidos contra o PT não foram suficientes para provocar a derrocada do partido até então, era preciso ampliar os ataques midiáticos ao governo do PT e ao partido. Veio o primeiro governo da presidente eleita, Dilma Rousseff, mantendo os programas sociais, as políticas econômicas do governo Lula, ampliando o combate à pobreza, a fome e a miséria, tirando o Brasil do mapa mundial da fome, mantendo a oferta de emprego e de crescimento do poder de compra dos trabalhadores.

Diante deste quadro, a classe dominante brasileira, precisava com urgência de alguma coisa que pudesse levantar suspeita sobre a presidente, que não tinha o mesmo carisma e apelo popular que o Lula. Como afirma a teoria do “materialismo dialético, a história é produzida pelos fatos históricos, nasce das relações objetivas entre os homens”, é nessa perspectiva que um fato novo, caiu como uma luva para a burguesia e para a mídia burguesa.

Questionando o aumento da passagem de ônibus em São Paulo, surge um movimento regionalizado, sem grandes pretensões políticas, voltado para lutas pontuais, como esta travada em São Paulo, que se reivindicava apartidário, acabou sendo usado pela mídia burguesa e algo que era regionalizado e com um objetivo específico, foi transformado em uma luta nacional contra a realização da COPA DAS CONFEDERAÇÕES E COPA DO MUNDO NO BRASIL.

A partir de um discurso proferido pela Rede Globo de televisão em editoriais dos telejornais e de um discurso inflamado de Arnaldo Jabor no Jornal da Globo, o “Movimento Passe Livre” foi transformado em um movimento social, que se espalhou bestialmente pelo país, sob os discursos disformes de jovens que protestavam contra qualquer coisa que surgisse na pauta dos telejornais exibidos nas várias emissoras abertas do país.

O pano de fundo destes protestos foram os recursos gastos pelo governo para construir os estádios de futebol, (arenas), dinheiro que deveriam ser destinados à educação, a saúde e a segurança pública.

Pronto, estava construído o discurso básico para iniciar o processo de destruição do Partido dos Trabalhadores.

Esse discurso de senso comum, radicalizado pela ignorância da maioria da população em entender como funciona a máquina estatal, ganhou os quatro cantos do país, a partir dele e somado aos discursos já apontados acima, fortalecido pelos antigos, mais eficientes discursos do anticomunismo e combate à corrupção, foi sendo rapidamente construído um paradigma de questionamento a tudo que estava relacionado ao Partido dos Trabalhadores, um carro vermelho, uma camisa ou um uniforme de uma empresa de cor vermelha, se transformou em motivo de questionamentos, de ataques pessoais, de xingamentos e até ataques físicos aos usuários da cor vermelha.

Veio à eleição e sob esse clima de desconfiança nacional, com uma campanha midiática radical anti-Dilma Rousseff, ela vence a eleição presidencial, em uma campanha recheada de preconceitos de todo tipo, homofobia, preconceito de gênero, racial, social, cultural, discriminação até sobre a regionalidade. Na realidade a disseminação destes preconceitos era parte de um projeto que ainda não tinha ficado claro, mas aparecia nas entrelinhas da história do país e que se confirma com os recentes fatos históricos que enfrentamos.

Vencida a eleição era momento de o governo enfrentar a crise estrutural do capitalismo, que foi mantida distante da economia do país durante sete anos, estava finalmente chegando ao Brasil, dar continuidade ao processo de melhoria da qualidade de vida da população pobre do país, mesmo em tempos de crise mundial do capitalismo, continuar o processo de fortalecimento da soberania nacional, e das políticas internacionais com a manutenção do crescimento econômico interno. A burguesia sabia que se o segundo governo Dilma Rousseff tivesse êxito nessas tarefas, dificilmente a classe dominante conseguiria voltar a dirigir o Estado Brasileiro.

Ciente da possibilidade de perder as eleições pelo voto direto, a classe dominante brasileira montou um terceiro turno para eleição de 2014, paralelamente a campanha eleitoral, orientada pelo mercado financeiro internacional e no projeto de reestruturação do capitalismo global, a burguesia brasileira com base na FIESP, em partidos políticos de direita, com destaque o PSDB, DEM E PMDB, este último, supostamente aliado do PT no processo eleitoral e, em movimentos como o MBL, Movimento Brasil Livre, Vem pra Rua, Anônimos, com características de direita ou de extrema-direita, com apoio técnico da CIA (Agência Central de Inteligência) dos EUA, organizaram manifestações bestiais, com apoio irrestrito da mídia televisiva e escrita, contra o governo do PT, ampliando a rejeição ao governo e, sobretudo, contra o Partido dos Trabalhadores.

Para garantir apoio popular ao processo de tomada do poder político através de um golpe político, era necessário que a burguesia brasileira, criasse um clima de ódio ao Partido dos Trabalhadores, tarefa que não seria difícil no primeiro momento, em função da própria formação cultural o povo brasileiro.

Inicialmente, já há uma crença, passada pelas elites dominantes historicamente, “de que todo político é ladrão e que todo político é igual”, o senso comum no Brasil, acredita religiosamente nisto, desta forma, generalizar a ideia no imaginário coletivo do povo, o discurso de corrupção generalizada no Estado, sob o controle do governo se tornou uma ação fácil.

Surge o processo chamado de “operação lava jato”, como no processo do mensalão, criou-se um herói nacional, uma suposta figura acima do bem e do mal, o justiceiro encarregado de prender os maus feitores dilapidadores do dinheiro público. Aí entra o trabalho da mídia burguesa, que como sempre na história, passou a cumprir o papel de divulgadora do “ódio anti-PT”.

Através de uma qualificada propaganda, gradativamente tudo que tinha relação com o governo e com o Partido dos Trabalhadores, passou a ganhar uma conotação maléfica, mesmo o que deu certo nas ações de governo foi mostrado como algo nocivo à sociedade, já relatado acima. A crise estrutural do capitalismo sumiu dos editoriais dos telejornais, ou das revistas da grande imprensa, capas de revistas com mensagens subliminares foram expostas nas bancas de revistas por todo o país, a crise estrutural do capitalismo, passou a ser um problema provocado pela incompetência gerencial do governo, desenvolvendo a ideia de que a crise é brasileira.

No Congresso Nacional o problema do governo era ainda maior, as eleições de 2014, determinaram um quadro muito ruim para um governo progressista, pois os setores conservadores fizeram maioria absoluta, tanto na Câmara dos Deputados, quanto no Senado. Iniciava um governo sem bases de apoio no Legislativo, os setores de esquerda não garantiam a disputa no congresso pois a direita tinha maioria e os aliados no centro e na direita não eram confiáveis o que se comprovou com o desenrolar da história.

Construídas as bases para o golpe político, as elites brasileiras colocam em prática seus planos. A ideia estava assentada sobre três pilares. Primeiro era vencer as eleições de 2014, sob o discurso do combate a corrupção, a elite conduziu a campanha, trazendo o “Mensalão” de volta e, sobretudo, utilizando o argumento da “Operação Lava Jato” já em curso durante o período eleitoral.

Outro discurso propagado pela classe dominante, foi o da incompetência gerencial do governo petista, da falência do Estado Brasileiro e da negação da crise econômica e estrutural do capitalismo, para isso, era necessário utilizar a grande mídia, era necessário neste momento construir um discurso para depois da eleição, caso a direita não tivesse sucesso eleitoral.

A eleição para o legislativo também foi minuciosamente pensada pela classe dominante, era preciso garantir maioria absoluta no Congresso Nacional e no Senado, visando os acontecimentos políticos que se seguiriam às eleições. Caso se confirmasse a vitória dos setores de esquerda, seria construído um terceiro turno, que deveria culminar com o impeachmentda presidente eleita, para isso, seria necessário ter no Congresso maioria política aliada com o conservadorismo de direita e com o processo de desconstrução imediata do PT e da esquerda no Brasil e na América Latina.

Mas para que esse processo pudesse ter o sucesso esperado, era preciso ter dentro do judiciário, em todas as instâncias jurídicas, grupos que apoiassem o processo de golpe em curso, claramente percebido nas movimentações, da Primeira Vara de Justiça do Paraná, do Ministério Público Federal, da Policia Federal, que trouxe de volta, policiais aposentados, para cumprir o papel de algozes de membros do governo, de militantes do PT e de aliados, bem como, de empresários envolvidos em esquemas de financiamento privado de campanhas eleitorais.

É preciso deixar claro que infelizmente, esse processo de financiamento de campanha é um mal estabelecido mundialmente pela lógica política eleitoral do Estado Burguês, acontece da mesma forma em vários países do planeta e no Brasil, a partir da profissionalização das campanhas eleitorais nos anos 80 do século XX, se tornou uma prática comum em todos os partidos políticos. Claro, cabe uma crítica direta aos setores dominantes do PT, que assumiram as nefastas práticas da burguesia de fazer política e agora pagam pelo o erro de avaliação do processo.

Com a vitória do PT e de Dilma Rousseff nas eleições de 2014, o processo foi colocado em prática, inicialmente com o discurso raivoso e ideológico do candidato derrotado, Aécio Neves, seus assessores e correligionários do PSDB, que a eleição foi fraudada e o pedido de recontagem dos votos, ou seja, a não aceitação da derrota. Era preciso estabelecer uma conexão para que o golpe maior fosse devidamente aplicado. Essa ideia foi disseminada no imaginário coletivo da população de senso comum por todo o país.

Outro passo fundamental para a eclosão do clima de golpe, foi à instituição de um discurso preconceituoso contra tudo que está de alguma forma ligado às políticas desenvolvidas pelo PT. Inicialmente, passou a desenvolver preconceitos em relação ao Nordeste e Norte do país, segundo as elites brasileiras, regiões com uma população “pobre e burra, eleitora do PT por que a maioria da população é ignorante e se beneficiou das esmolas dadas pelo governo”.

Depois o discurso de ódio, passou a atingir todos os movimentos sociais, defensores do governo petista, o MST, MTD, O MOVIMENTO HIP HOP, voltou à pauta, “como os pobres violentos”, o movimento LGBT, “os destruidores da família”, o movimento negro, passou a serem questionado, “os negros são racistas”, “a política de cotas é racismo”, surge um levante conservador e religioso na luta contra a descriminalização do aborto, a luta pela emancipação da mulher, ganha uma conotação pejorativa, sexista, machista. Gradativamente as elites vão construindo o cenário perfeito para a disseminação do ódio anti-PT, contra a esquerda no Brasil e contra a esquerda da América Latina.

O processo de reestruturação do capitalismo enfim estava colocado em prática no Brasil, sob a Égide da Agencia Central de Inteligência Norte-Americana, que tem dirigido esse processo global, com o apoio irrestrito das organizações da sociedade civil da burguesia brasileira e com a força da mídia que é a ferramenta de construção de um imaginário coletivo, fundamentado no senso comum e na ignorância da massa trabalhadora.

Esse processo passou por algumas etapas, primeiro a desconstrução do PT como um partido popular e democrático, representante dos anseios da classe que vive do trabalho no Brasil, depois e, fundamentado na forma como o campo hegemônico do partido conduziu o processo político, até chegar à direção do Estado Burguês, a classe dominante conseguiu colocar o PT na vala comum, o partido que nasceu para ser a possibilidade da “revolução socialista”, se tornou igual aos partidos tradicionais, formados pelas elites dominantes brasileiras.

O terceiro passo era criar as condições para dar o impeachment à presidente eleita pelo voto popular, era preciso relacionar a presidente e o PT ao processo da lava Jato, o quarto passo é limpar o golpe, passando para população brasileira, ideia que tudo o que acontecer é parte da limpeza do Estado e o combate à corrupção.

Por fim, a quinta parte do processo, impedir que o PT e a esquerda no país, possa concorrer ao próximo pleito eleitoral. O processo de desconstrução do partido dos trabalhadores produzido a partir das manifestações de rua que aconteceram em 2013, que garantiu o desgaste para o pleito de 2016 e certamente terá forte influência nas eleições presidenciais de 2018.

Tudo isso aliado a esta forte campanha antipetista, que se seguiu após o processo eleitoral em 2014, culminará com o enfraquecimento eleitoral do PT e da esquerda nacional, sobretudo, se no quarto passo da operação política, o judiciário implicado no golpe, conseguir a prisão e inelegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ideia clara e definida pelas lideranças do processo golpista no país.

Outro caminho também estabelecido pelo processo exposto acima, é a criação de uma nova liderança política representante das elites. Seguindo um receituário mundial, essa nova liderança não deve mais ter características liberais, já que, desde o advento do neoliberalismo no início dos anos 90 do século passado, o capitalismo se aprofundou em um colapso econômico e político. Este novo momento determinou o fracasso da nova ordem mundial e o empobrecimento das economias de ponta no planeta e da maior parte da população global. O perfil desta nova liderança deve ser de um homem forte, centralizador, com característica neofascista, que seja capaz de garantir a implantação das políticas determinadas pelo mercado, ao mesmo tempo em que, impeça a reorganização das classes trabalhadoras, garantindo a hegemonia absoluta do capital sobre o trabalho.

Estes novos líderes, estão surgindo gradativamente em vários países do globo terrestre. No Brasil não seria diferente, a classe dominante brasileira, alicerçada no projeto político desenvolvido nos porões da Casa Branca, tem difundido um discurso, sobretudo, para a juventude, ligada a movimentos religiosos conservadores, como o neopentecostalismo, tanto protestante, quanto católico de defesa da família. Através deste discurso, que parece Cristão, são passados princípios pautados em preconceitos de todo tipo. Base ideal para a disseminação das ideias neofascistas.

Nos últimos 12 anos o Brasil se tornou uma ameaça clara à estabilidade da ordem burguesa mundial, a liderança brasileira no BRICS, fez o país se fortalecer no cenário político, o crescimento econômico e a sensível, mas representativa melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores, deu ao PT e suas lideranças mais eminentes um espaço de destaque na nova geopolítica global, é fundamental que este partido perca a possibilidade da continuidade, manutenção e fortalecimento deste processo.

Com o processo em curso no país e com a o avanço das investigações, outros atores entraram no cenário. O primeiro escalão do golpe aparece diretamente implicado em toda a trama de que acusaram e disseminaram a ideia de que o grande culpado é o PT, com nomes de destaque envolvidos em atos de corrupção histórica, como é o caso dos partidos de direção do golpe como PSDB, DEM E PMDB.

As novas lideranças que emergiram deste processo golpista, todas enfraquecidas pelas próprias limitações, tanto do ponto de vista intelectual, quanto moral, uma mídia burguesa que em função do grau de ódio antipetista, apresentado durante a campanha de destruição do partido, caiu no descrédito de grande parte da população. É ainda uma incógnita o destino do país, após esse turbilhão político promovido pela classe dominante brasileira nos últimos anos.

Está claro é que o país está vivendo a sua etapa no processo de reestruturação do capitalismo, processo que não é restrito as fronteiras de nossa nacionalidade e que também não foi determinado somente pelos erros cometidos pelo PT. É um projeto maior de recomposição das forças políticas e econômicas do mercado, sobre os já fragilizados Estados. Sobre uma tendência mundial de rearticulação dos movimentos operários, sobre a articulação de setores sociais, que emergiram da crise estrutural do capitalismo, passando a direcionar as ações políticas do planeta para uma nova ordem voltada para a melhoria da qualidade de vida daqueles que vivem do trabalho.

É um novo momento histórico de repressão e desmanche dos direitos coletivos e individuais, da repressão velada das lutas de várias categorias marginalizadas ao longo da história da humanidade polo modelo de desenvolvimento concentrador das riquezas produzidas, excludente e predador dirigido pela grande capital, desde o século XIX.

Desconstrução de todos que levantam a voz para defender o ecossistema planetário contra as mazelas produzidas por este mesmo modelo de desenvolvimento. Repressão contra todo o pensamento que questiona a atual condição humana, dilacerada, pela solidão, pelo crescimento de doenças psicossomáticas, pela exacerbação do ódio tanto do ponto de vista coletivo, quanto do ponto de vista individual, da falta de cuidado com a vida, o desprezo com o outro.

Neste contexto, o Partido dos Trabalhadores é mais uma pedra como tantas outras que também estão sendo arrancadas do caminho do mercado e do capital pelo mundo e que precisa desaparecer para garantir o sucesso deste empreendimento das forças do modo de produção capitalista.
sexta-feira, 8 de julho de 2016

Andrea Oliveira: é amor novo que desabrocha no coração do povo!




"Esta cultura política da negligencia foi superada por uma mulher simples, tranquila, séria, intelectual, militante, honesta e firme em seus propósitos sem perder seus princípios éticos."


*por Herberson Sonkha

Uma caminhada começa no primeiro passo, já dizia o bem informado musicista Flávio José. Esta canção inigualável, genialmente intitulada de “A natureza das coisas”, é reconhecida pelo público como uma das principais peças poéticas primorosas do autor que dialoga com o sentimento popular.


Nesta belíssima canção de Flávio José prevalece um ensinamento irrecusável pela sua sabedoria indiscutível, que lhe é peculiar, imprescindível para quem precisa aprender a respeitar (mesmo divergido) a felicidade alheia, “Se avexe não. Toda caminhada começa no primeiro passo. A natureza não tem pressa. Segue seu compasso. Inexoravelmente chega lá.”, conquistada dignamente com muita responsabilidade e comprometimento.

Dizem por aí que não fizemos nada, a não ser, colocar uma pá de cal na "curta" história do PT na cidade. Até fizeram uma incipiente manifestação dos coxinhas em Anagé por ocasião daquela vergonhosa votação da Câmara dos deputados, tão escandalosa que no dia 05/7/216, uma senadora na França, Laurence Cohen disse na 1ª Conferencia "Golpe de Estado no Brasil: que tipo de solidariedade com os povos da América Latina?", apoiada por movimentos de brasileiros residentes na França e franceses ligados ao Brasil, que, “Para mim, isso foi um golpe de Estado institucional. E eu considero que o governo de Michel Temer não tem nenhuma legitimidade”.

A nosso ver, a música de Flávio José nos convence da necessidade de analisar melhor esta questão local numa perspectiva sócio-histórica. Quando ele diz, “Se avexe não. Amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada. Se avexe não. A lagarta rasteja até o dia em que cria asas.”, compreendemos o que dizem por aí como uma profetada apócrifa, pois não tem qualquer relação com o livre arbítrio e muito menos com o propósito celestial.

Aí a licença poética do profeta Flávio José é inexorável ao dizer, “Amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada”. O que é interessante lembrar neste momento são as profetadas ditas contra Andrea Oliveira nas eleições municipais desde 2008 pelos finórios oposicionistas (recomendadíssimas às atividades mais “nobres” da política por suas posturas nada apreciáveis), principalmente pelo verdugo do senhor da casa grande, “Andrea aproveita a oportunidade e saia à francesa para não se envergonhar mais, porque sua eleição está perdida”. O trágico resultado desta fábula é público e notório e está disponível para que possam tirar as suas próprias conclusões.

As eleições de 2008 foi para nossa neófita, a professora Andrea Oliveira, um aprendizado indispensável que ela tomou para si com muita dignidade, como nos ensina Flávio José, “A lagarta rasteja até o dia em que cria asas”. As eleições de 2012, adotaram a expressão pejorativa da “professorinha” para hostilizá-la visando a desqualificação desta grande profissional da educação pública anageense e o notório apoio recebido da sua categoria e, tantas outras. Não atingiram-na como queriam seus algozes, não alcançou sequer a sombra dela e perderam-se no vácuo que separou a tradicional política do atraso do novo momento político de avanços que a população passou a vivenciar.

Pois, a rosa do povo desabrochou suas asas em voos incomparáveis, nos remetendo simbolicamente ao samba enredo de Niltinho Tristeza, Preto Jóia, Vicentinho e Jurandir para o carnaval de 1989 que entrou na avenida pisando forte ao vocalizar a democracia e enterrar a ditadura, “Liberdade, liberdade! Abra as asas sobre nós. E que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz”.

Com todo carinho e respeito ao sambada raiz, voltemos ao nosso reverenciado forró de Flávio José, sobretudo, a letra “A natureza das coisas”. Quem nunca embalou ao sem desta canção deliciosa em pleno calor da fogueira e aos estrondosos foguetórios juninos, pensando que o poeta estava falando de suas desilusões amorosas. Não é verdade? Também! Mas, não somente sobre isso que o extraordinário Flávio José canta em sua música dançante.

Dada à sabedoria filosófica da letra e o profundo conhecimento empírico da realidade do poeta, podemos perceber seu diálogo com mundo e suas contradições. Não existe razão capaz de convencer a natureza das coisas, sem respeitar seu próprio tempo. Ninguém nasce comendo alimentos sólidos, mas a natureza do alimento neste tempo invariavelmente líquida.

Quem pode mudar este fato inexorável? Há de se respeitar a natureza, o compasso e a inexorabilidade desta verdade, no dizer de Flávio José. Mais adiante ele escreve como se ele fosse o próprio criador da vontade intrínseca a natureza social, “Se avexe não. Observe quem vai subindo a ladeira. Seja princesa, ou seja, lavadeira. Pra ir mais alto vai ter que suar”. Num chamamento para a realidade, deslocando a compreensão humana do mundo subjetivo para o plano real-concreto, Flávio José convida a razão a assumir seu papel na interpretação do mundo.

Diz com domínio absoluto dos fatos que não existe a menor possibilidade aos humanos de movimentar-se com êxito contra a gravidade, com desinteresse, mas de partida ele define que interesse é esse: “A lagarta rasteja até o dia em que cria asas”, pois o casulo não é uma prisão e a condição de se arrastar não é eterna como querem as classes dominantes ao privar as classes trabalhadoras de acesso aos bens e serviços produzido pelas próprias classes trabalhadoras, mas sim uma proteção para quem ainda não tem asas.

Aqui aplicamos a máxima da física que explica o movimento de corpos por meio de duas categorias: a cinética e a dinâmica. A cinética por observar as leis do movimento dos corpos por meio de coordenadas que esclarece o curso do movimento em função do tempo. Enquanto que a dinâmica ocupa-se em observar os fatores que coloca os corpos em movimento, utilizando das equações matemáticas para identificar quem efetivamente exerce força sobre o corpo para movê-lo no espaço.

A cinética e a dinâmica são duas estratégias a ser utilizadas por qualquer gestor, pelos menos deveria, e o que observamos, “Observe quem vai subindo a ladeira”, é que o binário tempo-espaço nunca foi uma preocupação política da tradicional administração pública no Brasil, principalmente em Anagé.

Na perspectiva histórica (tempo) e a geográfica (espaço), enquanto ciências que se ocupam em estudar também os efeitos da física (cinética e dinâmica) na formação, conformação e desenvolvimento da cidade, constatam-se por meio destas ciências que observa o município antes de sua emancipação político-administrativa em abril de 1962, que os gestores que antecederam a atual Prefeita Andrea Oliveira se esforçaram pouco, ou quase nada, se observarmos cientificamente os aspectos estruturais, pois que acusam seus líderes políticos das desigualdades socioeconômicas gritantes.

Para quem não sabe, diferente de quem teve a oportunidade e ignorou por questões meramente eleitoreiras, do tipo politicagem, gostaria apenas de ressaltar que os problemas estruturais existentes em Anagé, não são poucos, fazem parte da historiografia e geopolítica conservadora adotada por sucessivos políticos que por aqui passaram e não demonstraram o menor interesse em mudar esta triste realidade, ou pelo menos tentar, como fizeram alguns poucos.

Tradicionalmente as campanhas eram feitas por pessoas convencidas de que a apoplexia infundada para denegrir a moral e a dignidade alheia era a melhor estratégia para vencer uma eleição nos tempos do coronelismo abjeto. Essa cultura política da negligencia foi superada por uma mulher simples, tranquila, séria, intelectual, militante, honesta e firme em seus propósitos sem perder seus princípios éticos (não é verdade vereadores vendilhões do interesse do povo?). Do seu jeito humanizado Ela está mudando a cidade e a vida das pessoas. Quanto a isso não força contrária que mude. Aceita que dói menos...


Não era a favorita e nem tinha perfil desejado pelo mando machista, mas o povo diz com pletora de alegria e felicidade que é amor novo porque ela “chegou bem devagarinho no meu olhar.Parecendo um bicho mansinho querendo se aconchegar.O meu anjo da guarda de bobeira, abriu a porta pra você entrar. E agora já não tem mais jeito, haja amor e haja peito pra você morar.” Então... Quando bate o coração é bom não resistir porque além de sofrer sem necessidade não tem mais jeito. É Andrea Oliveira de novo com amor do povo!
quarta-feira, 6 de julho de 2016

Qual é a corrupção praticada por alguns dirigentes do PT?

"Voltando ao PT, seus dirigentes apostaram na estratégia da revolução democrática silenciosa por dentro do Estado burguês, com o consentimento e participação da própria burguesia."

*por Herberson Sonkha


Quase sempre estou convencido de que nossos finórios opositores burgueses se comprazem com a desgraça humana e mantém a pose como artífices da moral e dos bons costumes. Comportam-se com a mesma retidão idealizada para divindades e julgam que parte da população concorda com isso. Alegam que tais populações são incapazes de pensar criticamente, mantendo-os adormecidos na ignorância por séculos e, por benevolência desta burguesia altruísta, bem intencionadas e com coração transbordando de generosidade despertaram estas populações do sono profundo para serem instruídas, uma vez que nada sabem sobre a corrupção no Brasil e no mundo.

Os mais velhos dizem sabiamente que “o costume do cachimbo entorta a boca”. Desconhecer este paradigma fez desta burguesia abjeta uma classe social falastrona, vaidosa que fala irresponsavelmente coisas descabidas, idiotizantes com arroubos alegóricos dos senhores de engenho. Essas estultícias desatinadas ainda são ditas pela burguesia porque está habitualmente acostumada com momentos de silêncio das populações subjugadas, exigindo que se comportem como claques, crédulas dessas lorotas midiáticas com verniz intelectual propagandeada como verdade científica inexorável.

O mundo não é mais uma ilha e nós não somos autóctones analógicos controlados pelos interesses mesquinhos da rede globo vivendo isolados em cavernas ou como avestruz que enterra a cabeça no buraco fechando os olhos para os acontecimentos no mundo sem analisar os discursos ideológicos da burguesia presentes nas diversas narrativas pseudoisentas sobre corrupção.

Existe uma diferença entre roubo e desapropriação de bens privados e sua finalidade determina seu caráter conservador ou revolucionário. Numa sociedade desigual, que mantém a fome, desemprego, o assalariamento, o analfabetismo, as doenças, a falta de moradia como mecanismo de exploração não pode caracterizar uma desapropriação privada de um bem de consumo para manter-se vivo, como roubo. Uma ocupação de prédio ou terra abandonada por pessoas que moram na rua e não tem onde morar ou onde produzir não pode ser considerado como uma invasão, pois além de fechado improdutivo só serve para especulação imobiliária visando aumentar o lucro na venda.

Na literatura teológica ocidental tradicionalmente judeu-cristã (protestante ou católica), narra-se que o primeiro ato político de Deus para combater a corrupção nas hostes paradisíacas foi banir Lúcifer para todo sempre do reino celestial. Lúcifer, decaído porque tentou usurpar o lugar de Deus no primado da governança celestial, passou a ser o estertor dos humanos na terra arregimentando um exército de criaturas desalmadas para desafiar seu criador.
De anjo a demônio, na velocidade da luz Lúcifer foi postergado, transformado em entidade sobrenatural de natureza maléfica e arremessado a terra onde viver ao derredor dos humanos para aconselhá-los ou influenciá-los a praticar a maldade.

O segundo ato político de Deus de combate a corrupção ocorreu aqui mesmo na terra, conforme a simbólica narrativa teológica (para uns ou mito para outros) de Adão e Eva. Na narrativa de Gênesis, tendo Deus criado a terra ("No Princípio, Deus criou o céu e a terra") e seu complexo sistema vegetal, mineral e animal, principalmente os dois animais humanos.

Se lá encima no reino celestial a situação de corrupção foi resolvida com uma espécie de exílio de Lúcifer na terra por meio do banimento, aqui os apenados não foram expulsos de seus lócus, mas o paraíso foi banido da terra e o trabalho passou a ser mau condenatório necessário. Portanto, conceitualmente o ato de “pegar algo escondido” é caracterizado como roubo e por isso condenou-os aplicando uma pena proporcional ao tamanho do roubo.

Nestas duas narrativas, constata-se que as criaturas humanas e sobrenaturais não foram concebidas com o gene responsável no comportamento humano malévolo determinado pela hereditariedade. Se não foi Deus que criou quem foi? A resposta a esta pergunta não reside no campo genético e sim no processo sócio-econômico-histórico que cria a família, a propriedade privada e o Estado.

Observe que tanto no paraíso celestial como terreno antes do pecado original não existe relatos de desigualdades materiais e nem intelectuais, mas sim de forças simbólicas diferenciadas que determinam suas potencialidades sobrenaturais. Estas mistificações da realidade, qualificada como uma suposta aporia[1] por filósofos idealistas serão discutidas exaustivamente e desmistificada no século XVIII por Engels.

Na obra de Friedrich Engels "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado", no Prefácio à primeira edição (1884), Engels diz:

“Contudo, no marco dessa estrutura da sociedade baseada nos laços de parentesco, a produtividade do trabalho aumenta sem cessar e, com ela, desenvolvem-se a propriedade privada e as trocas, as diferenças de riqueza, a possibilidade de empregar força de trabalho alheia, e com isso a base dos antagonismos de classe: os novos elementos sociais, que, no transcurso de gerações, procuram adaptar a velha estrutura da sociedade às novas condições, até que, por fim, a incompatibilidade entre estas e aquela leva a uma revolução completa. A sociedade antiga, baseada nas uniões gentílicas, vai pelos ares, em consequência do choque das classes sociais recém-formadas; dá lugar a uma nova sociedade organizada em Estado, cujas unidades inferiores já não são gentílicas e sim unidades territoriais — uma sociedade em que o regime familiar está completamente submetido às relações de propriedade e na qual têm livre curso as contradições de classe e a luta de classes, que constituem o conteúdo de toda a história escrita, até nossos dias”.

Desde então, roubo é uma expressão para condenar o ato de assalto de bens privados por indivíduos para fins de enriquecimento pessoal, portanto é condenatório sim. Neste sentido, não se trata de uma desapropriação coletiva de um bem privado porque sua finalidade atende exclusivamente aos interesses do indivíduo, o que continua sendo roubo. No entanto, o assalto de um bem sob o domínio privado para fins coletivo é uma desapropriação e como tal não caracteriza crime.

Após esta rápida incursão sobre o falacioso tema corrupção, como se ele fosse algo dado, intangível e inexoravelmente inquestionável passo a analisar as principais narrativas sobre a corrupção de filiados dirigentes do Partido dos Trabalhadores.

Começo exatamente a partir do momento histórico (final dos anos 90) em que estes dirigentes petistas abandonam a estratégia de tomada de poder econômico através da desapropriação coletiva da riqueza, expressa na forma de capital privado, por meio dos levantes sociais para atuarem cordatamente no espectro da democracia formal praticada pela institucionalidade, pela justiça e pela sociedade burguesa garantida pelo Estado Democrático de Direito de matriz liberal.

Se admitirmos em tese que o raciocínio de Pierre-Joseph Proudhon sobre propriedade, analisado por Marx ao responder a carta de Johann Baptist von Schweitzer em que procura respondê-lo sobre propriedade, Marx considera a primeira obra de Proudhon, "Qu'est-ce que la propriété?” (O Que é a Propriedade?) referencia e pondera ser este, incondicionalmente, o seu melhor trabalho  é um roubo, sua apropriação individual também o é.  (MARX, 1865).
Na rica analise de Marx, embora considere não haver tempo necessário para uma melhor apreciação, ele admite o valor que existe na especificidade desta obra de Proudhon (para, além disso, ele não avança), porque o francês põe em cheque a "santidade" econômica, desnudando-a de seu inabalável trono de verdade absoluta e condição natural, expondo seu caráter social e suas contradições intrínsecas ao denunciar o seu único e verdadeiro método que é a exploração, a qual chama de roubo.

Se a riqueza da burguesia é fruto do roubo da força de trabalho alheia, única criadora de riqueza porque transforma a natureza em bens uteis, e esta condição criada para exercer a exploração se deu com a acumulação primitiva do capital, outra ação violenta de pilhagem dos aldeões (terras, utensílios e ferramentas).
Sua desapropriação não caracteriza roubo porque seria a tomada desta riqueza e isto se daria por outra ação violenta porque a burguesia jamais devolveria aquilo que roubou. Tais ações seriam realizadas pelas classes trabalhadoras exploradas pelo capitalismo e reforçadas pelas populações subjugadas pela ordem burguesa por meio das revoluções.

Voltando ao PT, seus dirigentes apostaram na estratégia da revolução democrática silenciosa por dentro do Estado burguês, com o consentimento e participação da própria burguesia. Assim, aceitou o jogo eleitoral como único caminho possível e apostou todas as fichas, mas antes desarticulou, perseguiu e defenestrou as forças internas que permaneciam construindo com as classes trabalhadoras e suas instituições políticas e as populações subjugadas uma estratégia revolucionária de ruptura política, muito hostilizada por não refutar a violência da tomada de poder.

Ao apostar neste caminho alguns dirigentes petistas não se sabe quantos, tiveram que construir estratégias de manutenção no poder por meio da governabilidade. Esta lógica de manutenção, sem perspectiva emancipacionista, via proteção e promoção de direitos sociais importantes, impôs a compra de mandatos para sustentar o governo e o financiamento de suas políticas públicas que eram validadas pelas populações porque atendiam suas necessidades básicas mais urgentes.

Qual é o caminho? O mais “fácil” que é articular as empresas e entrar na dança da corrupção para financiar a permanência do governo. Sem assalto a banco e sem sequestro de autoridades nacionais e internacionais, como meio de obtenção de dinheiro para financiar ações revolucionárias, restou apenas o velho e inexorável dinheiro da corrupção. De revolucionários anistiados pela abertura política do país passaram a ladrão desmoralizado por outros ladrões.

A máquina pública já era dominada pelas lideranças da própria burguesia que sempre fizeram o jogo da corrupção. Isto explica, em certa media as alianças com os setores da burguesia.

O que ainda não está confirmado pela receita e a polícia federal, pois mesmo sendo uma investigação seletiva não confirma se estes dirigentes praticaram o enriquecimento pessoal com o dinheiro obtido nestes esquemas institucional de corrupção. Provavelmente seja exatamente por isso que ainda existem algumas tendências internas do PT que defendem estes dirigentes, mesmo discordando da estratégia.

O que os dirigentes petistas fizeram foi uma capitulação à ordem burguesa, sendo engolidos pela própria lógica burguesa da corrupção. Os equívocos ideológicos destes dirigentes petistas que se envolveram em esquemas de corrupção, com a finalidade de financiar a manutenção do governo são uma estratégia errada e custaram caro aos movimentos sociais. Mas, a análise ainda continua sendo de que, se este foi o caso, não há crise moral em defendê-los.
Pois, continuamos defendendo a desapropriação coletiva da riqueza (pública ou privada) para financiar a revolução social escandalosa por meio da qual far-se-á a tomada do poder econômico e a emancipação humana.


__________________________
[1] Aporia (em grego: Ἀπορία, “caminho inexpugnável, sem saída”, “dificuldade”) é definida como uma dificuldade, impasse, paradoxo, dúvida, incerteza ou momento de contradição que impedem que o sentido de um texto ou de uma proposição seja determinado. Ao estudo das aporias designa-se de aporética.

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