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sexta-feira, 22 de julho de 2016
A HISTÓRIA POLÍTICA DO RECENTE BRASIL E A REESTRUTURAÇÃO DO CAPITAL
julho 22, 2016
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por
Vinícius...
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"De modo geral, o ataque provém da mídia que pertence à classe dominante, apesar disso é preciso saber quais as forças que constroem esta narrativa. "
*por Prof. João Paulo Pereira
Finalmente a história trouxe à tona o que o campo hegemônico do Partido dos Trabalhadores tentou disfarçar durante anos em que manteve a hegemonia política interna ao partido e que esteve na direção do Estado Brasileiro, de governos de estados e de prefeituras por todo o país. No filme “Batismo de Sangue”, Frei Betto, faz a citação que foi esquecida pelo campo hegemônico do PT ao longo de sua história, “não há aliança possível entre oprimidos e opressores”. Infelizmente a história provou isto da pior forma possível. Pois, quem radicalizou a “luta de classes” no Brasil, não foi quem vive do trabalho e sim os setores dominantes, a burguesia nacional e internacionalista.
Mais uma vez a elite se aproveitou da falta de compreensão do processo político de parte da esquerda nacional. Usou a esquerda para recuperar a economia capitalista brasileira, totalmente estraçalhada por eles ao longo do século XX, como afirma o pensador Antônio Gramsci, no livro “Gramsci e o Bloco Histórico”, “A classe dominante abre lacunas na história, para que os trabalhadores dirijam o Estado, resolva parcialmente as contradições do capital, depois fecha essas lacunas e retomam o poder”.
Desde o final das eleições de 2014, com a arrastada vitória do Partido dos Trabalhadores, representado pela candidata e presidenta Dilma Rousseff, iniciou-se uma campanha intensiva das elites dominantes do país (burguesia) contra o Partido dos Trabalhadores. De modo geral, o ataque provém da mídia que pertence à classe dominante, apesar disso é preciso saber quais as forças que constroem esta narrativa.
Faz parte desta edificação política o Parlamento formado em sua maioria, pelos setores mais conservadores da sociedade, mancomunados com o poder Judiciário, também, historicamente conservador. Acresce a esta lista os setores mais conservadores da Igreja Protestante, sobretudo, os pentecostais e neopentecostais e os grupos conservadores da Igreja Católica, principalmente, a Renovação Carismática e os movimentos ligados a Santa Sé. Neste mesmo sentido seguem o empresariado industrial brasileiro e o grande latifúndio que articulados colocaram em prática o que hoje é chamado de “GOLPE BRANCO CONTRA A DEMOCRACIA”.
Para entender esse processo, é preciso fazer uma análise detalhada dos fatos políticos dos últimos anos, tentando destrinchar ponto a ponto desse processo até chegarmos à votação do Impeachmentou GOLPE. Inicialmente, é preciso ressaltar o processo histórico mundial que tem início com a chegada do século XXI. Desde a Perestróica e a Glasnost e a “queda do Muro de Berlim”, o mercado passou a atuar livremente, sem as barreiras políticas provocadas pelo “socialismo real”, instaurado a partir de Revolução Russa de 1917.
A polarização entre o mundo “socialista” e as potencias capitalista, sobretudo, os Estados Unidos da América pelo controle do planeta, freava o mercado de capitais. Com o fim do suposto mundo socialista, a um aumento considerável do poder do capital sobre o mundo, ao ponto de Francis Fukuyama escrever o livro “FIM DA HISTÓRIA”, onde afirmava que o projeto neoliberal agora construiria o melhor dos mundos.
A verdade é que 20 anos depois da instalação global do neoliberalismo, encontramos um mundo falido, com um crescente aumento da pobreza em todas as nações do planeta. Há um método de acumulação muito mais agressivo por parte dos detentores do mercado, desencadeando um processo de desaceleração das economias nacionais, principalmente daquelas economias centrais desenvolvidas frequentemente assinaladas por crises econômicas.
Portanto, este processo origina a redução drástica do trabalho e o aumento gradativo dos problemas ecológicos provocados pelo modelo predatório de desenvolvimento capitalista. Neste sentido, o capitalismo transforma tudo em matéria prima para a produção de lucro, provocando uma queda significativa na qualidade da produção artístico-cultural em todo o planeta, pela intervenção do grande capital em todos os setores da vida e da sociedade.
Ao mesmo tempo, do ponto de vista político, não é difícil perceber que desde o final dos anos 90, do século passado, surgiu uma tendência política mundial para desconstrução de governos com caráter de centro-esquerda em todo o planeta. Assistimos a um crescimento vertiginoso de governos com um caráter de esquerda em todos os continentes. O fortalecimento de uma consciência social na luta contra a fome, contra a pobreza, um combate intenso a exploração predatória do meio ambiente, uma crítica ostensiva às políticas de acumulação de riquezas, que começaram a ganhar os espaços acadêmicos e chegando até os setores mais comuns da sociedade, que começaram a se deparar com uma crise civilizatória do modo de produção capitalista.
Essa crise pode ser facilmente percebida se voltarmos um pouco na história e relembrarmos os movimentos de juventude na França em 2005 que começou com uma questão particular e se alastrou pelo país, ganhando um contorno social em função das péssimas condições de vida em que viviam e contra o desemprego estrutural que assolava o país. Movimentos como estes se espalharam por toda a Europa, sobretudo, em países com problemas econômicos, como Grécia, Espanha, Portugal, países do leste europeu, conflitos entre nações em função de questões econômicas, aumento substancial do desemprego e da pobreza.
Estes novos governos mesmo sem promover mudanças estruturais no modo de produção, mesmo assumindo o modelo de desenvolvimento capitalista, procuraram garantir conquistas sociais e humanizar as gestões dos Estados. Gradativamente procuraram introduzir mudanças conjunturais, que visavam garantir a melhoria das condições de vida da população pobre em seus respectivos países e certamente reduzir o impacto da acumulação de riquezas sobre a população do planeta, nada revolucionário e nem socializante, mas que passou a questionar a ordem dominante. Com a criação do BRICS, envolvendo os cinco maiores países em desenvolvimento neste início de século, os únicos que estavam na contramão da história, enquanto o mundo mergulhava em mais uma crise profunda e estrutural, às economias destes países cresciam e garantiam maior participação das populações pobres no mundo do consumo.
A instituição do BRICS foi à grande sacada dos países emergentes e se tornou uma ameaça ao domínio de décadas do FMI e dos organismos econômicos do grande capital e dos países desenvolvidos do G7, que neste momento estavam mergulhados no evidente fracasso das políticas neoliberais, que promoveu a falência estrutural do capitalismo, a falência social e cultural da humanidade, provocando uma crise civilizatória sem precedentes na história, mexendo com valores humanos, aumentando o espectro da solidão, do abandono de valores que valorizasse a vida o cuidado com outro e com o planeta, mergulhando a humanidade definitivamente em uma verdadeira “idade das trevas”.
Essas ações exigiram do grande capital e do mercado uma reação. Esta foi imediata e, podemos apontar o ano de 2009 como sendo o ponto de partida para o desenvolvimento de políticas de reestruturação e reorganização do capitalismo mundial.
Essa reestruturação tinha como projeto fundamental a possibilitar ao mercado reassumir a direção econômica e política do planeta, perdida com o fracasso do projeto neoliberal e do Estado Liberal de Direito sob a Égide do mercado e do 1% da população detentora da riqueza do planeta.
A partir do ano de 2009 eventos políticos envolvendo as populações de vários países começaram a eclodir em várias regiões do planeta, sobretudo, com a participação da juventude, que tinha em suas bandeiras, a conquista da “democracia”, a luta “contra a corrupção”, “fim de ditaduras e Estados autoritários”. Estes eventos chamaram a atenção de alguns pensadores contemporâneos, o esloveno Slavoj Zizek, afirma no artigo dia de cão, “que a crise estrutural do capitalismo, estava incentivando manifestações em série pelo mundo, que colocava em cheque a sobrevivência do sistema”.
Para uma primeira análise de quem está vivenciando o problema contemporaneamente, essa afirmação parece real, afinal o mundo mergulhava em uma zona constante de conflitos sociais, políticos, econômicos e culturais em várias nações, entretanto, numa perspectiva holística da realidade, percebemos nuances não percebidas por quem está dentro do processo.
Hoje parece claro que todos os processos políticos vivenciados pelas nações, e continuam vivenciando, têm uma cabeça única, até pela precisão dos discursos de revolta, com temas coincidentemente parecidos em todos os movimentos, como podemos nos certificar no caso dos países do norte da África e no Oriente Médio, onde as manifestações seguiram um roteiro que certamente não foi traçado pela população autóctone. Certamente a intervenção dos Estados Unidos e dos aliados, que viram na retomada do poder político e econômico naquela região produtora de petróleo, uma saída para recuperar as economias dos gigantes do capitalismo, destroçada pela crise estrutural corrente, agravada em 2007, com a crise imobiliária dos EUA.
Na Ucrânia os movimentos tiveram início em 2013, quando o governo do país, anunciou um alinhamento à Rússia, o que levou setores da Ucrânia ocidental, apoiados por forças políticas europeias e norte-americanas a se manifestarem contra o governo, o que culminou com a derrubada do presidente Viktor Yanukovych, que nunca foi um militante de esquerda e nem um ditador. A alegação do povo nas ruas mais uma vez foi, “corrupção”, “aumento do desemprego” e da “pobreza”. Este governo foi substituído por um governo provisório, com uma feição nazifascista. Na Índia não foi diferente, após cinquenta anos dirigindo o país, a dinastia Gandhi foi derrotada, em seu lugar emergiu uma força de extrema-direita apoiada pelo capital estrangeiro.
Na América Latina, o processo seguiu os mesmos caminhos. As forças e as articulações do grande capital passaram a atuar politicamente desde 2011, fortalecendo grupos de direita e de extrema-direita em todos os países onde governos de centro-esquerda se estabeleceram no poder. Usando as mesmas estratégias do Oriente Médio e da Ucrânia, motivando através da mídia televisiva, escrita e da internet, a população, sobretudo, a juventude a se levantar contra essas forças que pontualmente chegaram ao poder, à burguesia passou a dirigir movimentos políticos que culminaram na queda dos governos. Em todos os casos é preciso perceber a presença de uma ou mais lideranças com características fascistas, despontando em meio uma grande confusão ideológica dos manifestantes.
Estes movimentos seguem um mesmo receituário político, denúncia de corrupção, discurso contra a centralização política e o autoritarismo, o anticomunismo, estagnação econômica do país, são as bases do discurso das direitas em todos os países, processo que parece ter a mesma base ídeo-política, apontando para algo pensado, elaborado, como foi o “Projeto Condor”, que conduziu a América Latina as ditaduras militares durante a década de 50 e 60 do século XX, ditaduras que duraram por mais de 20 anos e que promoveram um desmanche dos Estados no continente e o empobrecimento da classe trabalhadora.
Como nos anos 50 e 60 o grande capital está se rearticulando, reorientando suas estruturas e para que esse projeto obtenha sucesso é preciso que todas as forças de oposições ao capitalismo sejam definitivamente derrotadas.
Desde 2013, todas as forças do mercado, miraram seus holofotes para o BRICS, é condição sine qua non, que este novo bloco econômico e político seja definitivamente derrotado, constantemente, surgem ofensivas contra o governo de Puttim na Rússia, como foi no caso da Ucrânia, da Criméia. A Índia na última eleição caiu nas mãos do grande capital, a África do Sul sozinha, não tem força no processo socioeconômico e político. A queda dos aliados enfraquece a China, que economicamente já sofre com a crise estrutural do capitalismo, o que pode ser ilustrado, com as fortes quedas das Bolsas de Pequim e Hong Kong no ano de 2015 e com a diminuição dos índices de crescimento econômico, que caiu de 9 para 4,8% no último ano.
Diante do exposto, derrotar política e economicamente o Brasil era fundamental para o capital financeiro, pois este se tornou no continente americano uma enorme barreira para esse processo de reestruturação do capitalismo monopolista em curso desde 2009.
Em vários momentos foi o Brasil e a agressiva política internacional do governo do PT, responsável pelo enfrentamento com os princípios defendidos pelo grande capital, podemos ilustrar essa afirmação, apontando, a interferência do Itamarati, na queda de braços entre EUA e aliados, contra o Irã, no debate sobre ecologia que o governo brasileiro posicionou-se contra a posição defendida pelos EUA e do Japão, na defesa do MERCOSUL e de sua ampliação no continente, contra os interesses norte-americanos de criação de um mercado comum para todo o continente que culminaria com a hegemonia da América do Norte, sobretudo, dos EUA sobre todos os países formadores do bloco econômico.
Dentro das fronteiras brasileiras o governo petista, na discussão do PRÉ-SAL, se posicionou e atuou para que o controle da exploração do petróleo não caísse nas mãos das grandes empresas norte-americanas, fortalecendo o Estado Brasileiro numa relação comercial com a China. Desenvolveu um processo de fortalecimento do Estado Nacional, garantindo uma cadeira na ONU, passando a influenciar em decisões que no passado ficavam sobre o controle do G7.
Enfim, o PARTIDO DOS TRABALHADORES, se tornou uma ameaça real aos interesses do mercado financeiro e precisava definitivamente ser derrotado, para isso, foi montado no Brasil um processo político maior do que foi no Paraguai, na Argentina, na Venezuela, dada a importância política e econômica do Brasil na relação global.
Aqui foi preciso pensar todos os pormenores do processo, construir inicialmente o apoio popular às medidas políticas do mercado, para tanto, foi utilizado o poder da grande mídia burguesa, que desde o início do governo petista, vem atuando para construir um ódio de setores da população ao partido, inicialmente a juventude, pois essa é do ponto de vista ideocultural o setor mais vulnerável, primeiro, por não ter conhecido o país antes da gestão petista, logo o referencial de governo que a juventude tem, são os governos petistas, o que os impede de tecer comparações com outros momentos da história recente de país.
Seguindo o processo era preciso transformar ações governamentais que garantiram melhorias na vida dos pobres em algo nocivo à sociedade de alguma forma. O programa “BOLSA FAMÍLIA”, foi responsabilizado como o causador da preguiça da população, “com esse negócio de bolsa família ninguém mais quer trabalhar, é só fazendo filho pra receber o dinheiro”, “não se acha mais ninguém para fazer uma faxina, agora o governo fica dando dinheiro para esses preguiçosos”.
“O MINHA CASA MINHA VIDA, se transformou em um lugar para os bandidos, para os traficantes de drogas”, “A POLÍTICA DE COTAS aumenta o racismo, o negro tem a mesma condição do branco de passar no vestibular”, QUANTO AS LUTAS DESTINADAS ÀS QUESTÕES DE GÊNEROS E LGBTs, “mulher é um problema, pois engravida e ficam seis meses sem trabalhar, é prejuízo para as empresas”, “os viados estão querendo dominar o país”, “é um absurdo casamento de gays”, “pessoas do mesmo sexo não reproduzem”, “estão querendo destruir a família tradicional no Brasil”.
Estimulando esse debate “senso comum” recheado de preconceitos institucionalizados pela cultura dominante, racista, sexista, machista, homofóbica brasileira, o ódio ao PT foi sendo passado paulatinamente à sociedade, sobretudo, nos setores de classe média, que viram seu “status quo” ser questionado pelo crescimento financeiro de parte significativa dos trabalhadores.
Ao mesmo tempo, em função dos erros políticos do campo hegemônico do Partido dos Trabalhadores, que para ganhar a eleição presidencial em 2002, promoveu uma adequação do partido a ordem política burguesa e aos princípios norteadores do Estado Liberal de Direito, fazendo concessões a práticas políticas outrora relegadas pelo movimento social e pela esquerda brasileira, caindo na vala comum da política e fortalecendo o discurso burguês de que todo mundo é igual. O que serviu para ampliar o discurso midiático sobre corrupção. Hoje, o PT é apontado pelo “senso comum”, como sendo o criador da corrupção no país.
Os setores que hegemonizaram internamente o PT, absorveram e executaram o modus operandi da burguesia brasileira, inclusive absorvendo a prática conservadora do coronelismo, com suas lideranças eleitoralmente destacadas regionalmente, passou atuar internamente para submeter às forças de esquerda do partido às suas determinações políticas, utilizando-se do poder econômico para manter sua hegemonia, o que transformou o Partido em algo comum, sem mais, a perspectiva da construção de um paradigma político-social.
Entretanto, não dá para negar os aspectos positivos deste partido na direção do Estado. A não adoção do receituário neoliberal e do Consenso de Washington, na gestão do Estado Brasileiro, aplicando políticas de caráter neokeynesianas, adaptadas às determinações do tempo histórico. Essa inversão de prioridades promovidas pelo governo fortaleceu o discurso de incompetência administrativa, que levou ao endividamento do Estado, já que na concepção neoliberal deve prevalecer o “Estado Mínimo” e a contenção de gastos com políticas sociais.
Na perspectiva da direita brasileira, o primeiro passo para derrotar o PT seria derrotá-lo eleitoralmente. Para isso era necessário aniquilar com os sucessores prováveis do Presidente Lula, José Dirceu, José Genuíno e João Paulo Cunha. O processo que foi chamado pela mídia burguesa de “MENSALÃO”, foi uma cartada importante para reforçar o processo de desmanche do Partido, iniciado desde a fundação deste.
Mesmo sendo uma prática corriqueira nas gestões do Estado em todas suas esferas administrativas no país. Foi um erro do PT ter seguido este caminho traçado pela burguesia historicamente. Em 2003 era o momento para ter dado um basta nesta nefasta prática dos coronéis da política nacional, mas os setores hegemônicos do partido deixaram passar a oportunidade e ao contrário nos colocaram na vala comum da história.
Claro que não dá para isentar nenhum dos três de terem corroborado, para a manutenção de uma prática escusa, desenvolvida a mais de um século pelas elites dominantes, e que de forma alguma deveria ser praticada pelos setores de esquerda, até porque, por mais que este campo hegemônico tenha aberto mão da luta de classe como princípio para a transformação social, a classe burguesa não a abandonou e no momento oportuno utilizou deste expediente para derrotar o Partido dos Trabalhadores.
Lula se utilizando do alto índice de aceitação popular quando terminou o seu governo, e de sua capacidade de articulador político, elegeu a então desconhecida eleitoralmente, Dilma Rousseff à presidência da república, mas uma vez a burguesia apostou na via eleitoral como forma de derrotar o PT. Foram derrotados novamente, mesmo se utilizando dos discursos que já vimos acima, os bons resultados dos governos petistas garantiam a força eleitoral do partido, sobretudo, centrada na figura do Lulismo.
Os discursos desenvolvidos contra o PT não foram suficientes para provocar a derrocada do partido até então, era preciso ampliar os ataques midiáticos ao governo do PT e ao partido. Veio o primeiro governo da presidente eleita, Dilma Rousseff, mantendo os programas sociais, as políticas econômicas do governo Lula, ampliando o combate à pobreza, a fome e a miséria, tirando o Brasil do mapa mundial da fome, mantendo a oferta de emprego e de crescimento do poder de compra dos trabalhadores.
Diante deste quadro, a classe dominante brasileira, precisava com urgência de alguma coisa que pudesse levantar suspeita sobre a presidente, que não tinha o mesmo carisma e apelo popular que o Lula. Como afirma a teoria do “materialismo dialético, a história é produzida pelos fatos históricos, nasce das relações objetivas entre os homens”, é nessa perspectiva que um fato novo, caiu como uma luva para a burguesia e para a mídia burguesa.
Questionando o aumento da passagem de ônibus em São Paulo, surge um movimento regionalizado, sem grandes pretensões políticas, voltado para lutas pontuais, como esta travada em São Paulo, que se reivindicava apartidário, acabou sendo usado pela mídia burguesa e algo que era regionalizado e com um objetivo específico, foi transformado em uma luta nacional contra a realização da COPA DAS CONFEDERAÇÕES E COPA DO MUNDO NO BRASIL.
A partir de um discurso proferido pela Rede Globo de televisão em editoriais dos telejornais e de um discurso inflamado de Arnaldo Jabor no Jornal da Globo, o “Movimento Passe Livre” foi transformado em um movimento social, que se espalhou bestialmente pelo país, sob os discursos disformes de jovens que protestavam contra qualquer coisa que surgisse na pauta dos telejornais exibidos nas várias emissoras abertas do país.
O pano de fundo destes protestos foram os recursos gastos pelo governo para construir os estádios de futebol, (arenas), dinheiro que deveriam ser destinados à educação, a saúde e a segurança pública.
Pronto, estava construído o discurso básico para iniciar o processo de destruição do Partido dos Trabalhadores.
Esse discurso de senso comum, radicalizado pela ignorância da maioria da população em entender como funciona a máquina estatal, ganhou os quatro cantos do país, a partir dele e somado aos discursos já apontados acima, fortalecido pelos antigos, mais eficientes discursos do anticomunismo e combate à corrupção, foi sendo rapidamente construído um paradigma de questionamento a tudo que estava relacionado ao Partido dos Trabalhadores, um carro vermelho, uma camisa ou um uniforme de uma empresa de cor vermelha, se transformou em motivo de questionamentos, de ataques pessoais, de xingamentos e até ataques físicos aos usuários da cor vermelha.
Veio à eleição e sob esse clima de desconfiança nacional, com uma campanha midiática radical anti-Dilma Rousseff, ela vence a eleição presidencial, em uma campanha recheada de preconceitos de todo tipo, homofobia, preconceito de gênero, racial, social, cultural, discriminação até sobre a regionalidade. Na realidade a disseminação destes preconceitos era parte de um projeto que ainda não tinha ficado claro, mas aparecia nas entrelinhas da história do país e que se confirma com os recentes fatos históricos que enfrentamos.
Vencida a eleição era momento de o governo enfrentar a crise estrutural do capitalismo, que foi mantida distante da economia do país durante sete anos, estava finalmente chegando ao Brasil, dar continuidade ao processo de melhoria da qualidade de vida da população pobre do país, mesmo em tempos de crise mundial do capitalismo, continuar o processo de fortalecimento da soberania nacional, e das políticas internacionais com a manutenção do crescimento econômico interno. A burguesia sabia que se o segundo governo Dilma Rousseff tivesse êxito nessas tarefas, dificilmente a classe dominante conseguiria voltar a dirigir o Estado Brasileiro.
Ciente da possibilidade de perder as eleições pelo voto direto, a classe dominante brasileira montou um terceiro turno para eleição de 2014, paralelamente a campanha eleitoral, orientada pelo mercado financeiro internacional e no projeto de reestruturação do capitalismo global, a burguesia brasileira com base na FIESP, em partidos políticos de direita, com destaque o PSDB, DEM E PMDB, este último, supostamente aliado do PT no processo eleitoral e, em movimentos como o MBL, Movimento Brasil Livre, Vem pra Rua, Anônimos, com características de direita ou de extrema-direita, com apoio técnico da CIA (Agência Central de Inteligência) dos EUA, organizaram manifestações bestiais, com apoio irrestrito da mídia televisiva e escrita, contra o governo do PT, ampliando a rejeição ao governo e, sobretudo, contra o Partido dos Trabalhadores.
Para garantir apoio popular ao processo de tomada do poder político através de um golpe político, era necessário que a burguesia brasileira, criasse um clima de ódio ao Partido dos Trabalhadores, tarefa que não seria difícil no primeiro momento, em função da própria formação cultural o povo brasileiro.
Inicialmente, já há uma crença, passada pelas elites dominantes historicamente, “de que todo político é ladrão e que todo político é igual”, o senso comum no Brasil, acredita religiosamente nisto, desta forma, generalizar a ideia no imaginário coletivo do povo, o discurso de corrupção generalizada no Estado, sob o controle do governo se tornou uma ação fácil.
Surge o processo chamado de “operação lava jato”, como no processo do mensalão, criou-se um herói nacional, uma suposta figura acima do bem e do mal, o justiceiro encarregado de prender os maus feitores dilapidadores do dinheiro público. Aí entra o trabalho da mídia burguesa, que como sempre na história, passou a cumprir o papel de divulgadora do “ódio anti-PT”.
Através de uma qualificada propaganda, gradativamente tudo que tinha relação com o governo e com o Partido dos Trabalhadores, passou a ganhar uma conotação maléfica, mesmo o que deu certo nas ações de governo foi mostrado como algo nocivo à sociedade, já relatado acima. A crise estrutural do capitalismo sumiu dos editoriais dos telejornais, ou das revistas da grande imprensa, capas de revistas com mensagens subliminares foram expostas nas bancas de revistas por todo o país, a crise estrutural do capitalismo, passou a ser um problema provocado pela incompetência gerencial do governo, desenvolvendo a ideia de que a crise é brasileira.
No Congresso Nacional o problema do governo era ainda maior, as eleições de 2014, determinaram um quadro muito ruim para um governo progressista, pois os setores conservadores fizeram maioria absoluta, tanto na Câmara dos Deputados, quanto no Senado. Iniciava um governo sem bases de apoio no Legislativo, os setores de esquerda não garantiam a disputa no congresso pois a direita tinha maioria e os aliados no centro e na direita não eram confiáveis o que se comprovou com o desenrolar da história.
Construídas as bases para o golpe político, as elites brasileiras colocam em prática seus planos. A ideia estava assentada sobre três pilares. Primeiro era vencer as eleições de 2014, sob o discurso do combate a corrupção, a elite conduziu a campanha, trazendo o “Mensalão” de volta e, sobretudo, utilizando o argumento da “Operação Lava Jato” já em curso durante o período eleitoral.
Outro discurso propagado pela classe dominante, foi o da incompetência gerencial do governo petista, da falência do Estado Brasileiro e da negação da crise econômica e estrutural do capitalismo, para isso, era necessário utilizar a grande mídia, era necessário neste momento construir um discurso para depois da eleição, caso a direita não tivesse sucesso eleitoral.
A eleição para o legislativo também foi minuciosamente pensada pela classe dominante, era preciso garantir maioria absoluta no Congresso Nacional e no Senado, visando os acontecimentos políticos que se seguiriam às eleições. Caso se confirmasse a vitória dos setores de esquerda, seria construído um terceiro turno, que deveria culminar com o impeachmentda presidente eleita, para isso, seria necessário ter no Congresso maioria política aliada com o conservadorismo de direita e com o processo de desconstrução imediata do PT e da esquerda no Brasil e na América Latina.
Mas para que esse processo pudesse ter o sucesso esperado, era preciso ter dentro do judiciário, em todas as instâncias jurídicas, grupos que apoiassem o processo de golpe em curso, claramente percebido nas movimentações, da Primeira Vara de Justiça do Paraná, do Ministério Público Federal, da Policia Federal, que trouxe de volta, policiais aposentados, para cumprir o papel de algozes de membros do governo, de militantes do PT e de aliados, bem como, de empresários envolvidos em esquemas de financiamento privado de campanhas eleitorais.
É preciso deixar claro que infelizmente, esse processo de financiamento de campanha é um mal estabelecido mundialmente pela lógica política eleitoral do Estado Burguês, acontece da mesma forma em vários países do planeta e no Brasil, a partir da profissionalização das campanhas eleitorais nos anos 80 do século XX, se tornou uma prática comum em todos os partidos políticos. Claro, cabe uma crítica direta aos setores dominantes do PT, que assumiram as nefastas práticas da burguesia de fazer política e agora pagam pelo o erro de avaliação do processo.
Com a vitória do PT e de Dilma Rousseff nas eleições de 2014, o processo foi colocado em prática, inicialmente com o discurso raivoso e ideológico do candidato derrotado, Aécio Neves, seus assessores e correligionários do PSDB, que a eleição foi fraudada e o pedido de recontagem dos votos, ou seja, a não aceitação da derrota. Era preciso estabelecer uma conexão para que o golpe maior fosse devidamente aplicado. Essa ideia foi disseminada no imaginário coletivo da população de senso comum por todo o país.
Outro passo fundamental para a eclosão do clima de golpe, foi à instituição de um discurso preconceituoso contra tudo que está de alguma forma ligado às políticas desenvolvidas pelo PT. Inicialmente, passou a desenvolver preconceitos em relação ao Nordeste e Norte do país, segundo as elites brasileiras, regiões com uma população “pobre e burra, eleitora do PT por que a maioria da população é ignorante e se beneficiou das esmolas dadas pelo governo”.
Depois o discurso de ódio, passou a atingir todos os movimentos sociais, defensores do governo petista, o MST, MTD, O MOVIMENTO HIP HOP, voltou à pauta, “como os pobres violentos”, o movimento LGBT, “os destruidores da família”, o movimento negro, passou a serem questionado, “os negros são racistas”, “a política de cotas é racismo”, surge um levante conservador e religioso na luta contra a descriminalização do aborto, a luta pela emancipação da mulher, ganha uma conotação pejorativa, sexista, machista. Gradativamente as elites vão construindo o cenário perfeito para a disseminação do ódio anti-PT, contra a esquerda no Brasil e contra a esquerda da América Latina.
O processo de reestruturação do capitalismo enfim estava colocado em prática no Brasil, sob a Égide da Agencia Central de Inteligência Norte-Americana, que tem dirigido esse processo global, com o apoio irrestrito das organizações da sociedade civil da burguesia brasileira e com a força da mídia que é a ferramenta de construção de um imaginário coletivo, fundamentado no senso comum e na ignorância da massa trabalhadora.
Esse processo passou por algumas etapas, primeiro a desconstrução do PT como um partido popular e democrático, representante dos anseios da classe que vive do trabalho no Brasil, depois e, fundamentado na forma como o campo hegemônico do partido conduziu o processo político, até chegar à direção do Estado Burguês, a classe dominante conseguiu colocar o PT na vala comum, o partido que nasceu para ser a possibilidade da “revolução socialista”, se tornou igual aos partidos tradicionais, formados pelas elites dominantes brasileiras.
O terceiro passo era criar as condições para dar o impeachment à presidente eleita pelo voto popular, era preciso relacionar a presidente e o PT ao processo da lava Jato, o quarto passo é limpar o golpe, passando para população brasileira, ideia que tudo o que acontecer é parte da limpeza do Estado e o combate à corrupção.
Por fim, a quinta parte do processo, impedir que o PT e a esquerda no país, possa concorrer ao próximo pleito eleitoral. O processo de desconstrução do partido dos trabalhadores produzido a partir das manifestações de rua que aconteceram em 2013, que garantiu o desgaste para o pleito de 2016 e certamente terá forte influência nas eleições presidenciais de 2018.
Tudo isso aliado a esta forte campanha antipetista, que se seguiu após o processo eleitoral em 2014, culminará com o enfraquecimento eleitoral do PT e da esquerda nacional, sobretudo, se no quarto passo da operação política, o judiciário implicado no golpe, conseguir a prisão e inelegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ideia clara e definida pelas lideranças do processo golpista no país.
Outro caminho também estabelecido pelo processo exposto acima, é a criação de uma nova liderança política representante das elites. Seguindo um receituário mundial, essa nova liderança não deve mais ter características liberais, já que, desde o advento do neoliberalismo no início dos anos 90 do século passado, o capitalismo se aprofundou em um colapso econômico e político. Este novo momento determinou o fracasso da nova ordem mundial e o empobrecimento das economias de ponta no planeta e da maior parte da população global. O perfil desta nova liderança deve ser de um homem forte, centralizador, com característica neofascista, que seja capaz de garantir a implantação das políticas determinadas pelo mercado, ao mesmo tempo em que, impeça a reorganização das classes trabalhadoras, garantindo a hegemonia absoluta do capital sobre o trabalho.
Estes novos líderes, estão surgindo gradativamente em vários países do globo terrestre. No Brasil não seria diferente, a classe dominante brasileira, alicerçada no projeto político desenvolvido nos porões da Casa Branca, tem difundido um discurso, sobretudo, para a juventude, ligada a movimentos religiosos conservadores, como o neopentecostalismo, tanto protestante, quanto católico de defesa da família. Através deste discurso, que parece Cristão, são passados princípios pautados em preconceitos de todo tipo. Base ideal para a disseminação das ideias neofascistas.
Nos últimos 12 anos o Brasil se tornou uma ameaça clara à estabilidade da ordem burguesa mundial, a liderança brasileira no BRICS, fez o país se fortalecer no cenário político, o crescimento econômico e a sensível, mas representativa melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores, deu ao PT e suas lideranças mais eminentes um espaço de destaque na nova geopolítica global, é fundamental que este partido perca a possibilidade da continuidade, manutenção e fortalecimento deste processo.
Com o processo em curso no país e com a o avanço das investigações, outros atores entraram no cenário. O primeiro escalão do golpe aparece diretamente implicado em toda a trama de que acusaram e disseminaram a ideia de que o grande culpado é o PT, com nomes de destaque envolvidos em atos de corrupção histórica, como é o caso dos partidos de direção do golpe como PSDB, DEM E PMDB.
As novas lideranças que emergiram deste processo golpista, todas enfraquecidas pelas próprias limitações, tanto do ponto de vista intelectual, quanto moral, uma mídia burguesa que em função do grau de ódio antipetista, apresentado durante a campanha de destruição do partido, caiu no descrédito de grande parte da população. É ainda uma incógnita o destino do país, após esse turbilhão político promovido pela classe dominante brasileira nos últimos anos.
Está claro é que o país está vivendo a sua etapa no processo de reestruturação do capitalismo, processo que não é restrito as fronteiras de nossa nacionalidade e que também não foi determinado somente pelos erros cometidos pelo PT. É um projeto maior de recomposição das forças políticas e econômicas do mercado, sobre os já fragilizados Estados. Sobre uma tendência mundial de rearticulação dos movimentos operários, sobre a articulação de setores sociais, que emergiram da crise estrutural do capitalismo, passando a direcionar as ações políticas do planeta para uma nova ordem voltada para a melhoria da qualidade de vida daqueles que vivem do trabalho.
É um novo momento histórico de repressão e desmanche dos direitos coletivos e individuais, da repressão velada das lutas de várias categorias marginalizadas ao longo da história da humanidade polo modelo de desenvolvimento concentrador das riquezas produzidas, excludente e predador dirigido pela grande capital, desde o século XIX.
Desconstrução de todos que levantam a voz para defender o ecossistema planetário contra as mazelas produzidas por este mesmo modelo de desenvolvimento. Repressão contra todo o pensamento que questiona a atual condição humana, dilacerada, pela solidão, pelo crescimento de doenças psicossomáticas, pela exacerbação do ódio tanto do ponto de vista coletivo, quanto do ponto de vista individual, da falta de cuidado com a vida, o desprezo com o outro.
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