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sexta-feira, 20 de março de 2015

MAIS UMA ANALISE DE CONJUNTURA



* Por Prof. João Paulo Pereira 

Mais uma vez nos encontramos em uma dessas encruzilhadas da história, onde a classe dominante (Burguesia) se organiza para destruir um projeto popular e democrático que desde o seu nascimento vem lutando para transformar a realidade objetiva dos trabalhadores brasileiros e para construir uma nova ordem mundial, pautada pela superação da pobreza e da miséria, pelo fim da fome, pelo nascimento de uma ordem social onde a paz seja o objetivo principal da vida. Entretanto, assistimos a mais cruel campanha de difamação, de mentiras, de armações políticas, pensadas por uma classe social contra outra e ao mesmo tempo, vemos também como se torna fácil usar os próprios trabalhadores contra os trabalhadores, quando a burguesia precisa colocar em prática seus projetos nefastos de dominação ou de retomada do poder total da economia e da política sobre o mundo.


É certo que ao longo da luta dos trabalhadores por outra sociedade, muitos erros foram cometidos, em sua trajetória política, o principal partido político da classe que vive do trabalho cometeu inúmeros erros de condução do projeto político, que culminou neste momento de confronto direto com as elites nacionais e internacionais. A capitulação dos setores hegemônicos do Partido dos Trabalhadores à lógica burguesa da política, a falta de um debate com os setores populares do partido, o aparelhamento dos movimentos sociais para a manutenção da estabilidade dos governos, a adesão a práticas outrora combatidas por nós trabalhadores em nome de uma governabilidade burguesa, enfim, foram tantos os erros que nos trouxe até esse momento e não sabemos como o futuro responderá a este hiato histórico.

Mas precisamos ler esse momento de forma holística para conseguir compreender mais este processo histórico que estamos inseridos e que muitas vezes não damos conta em função desta inserção no processo. Apesar dos erros cometidos pelo Partido dos Trabalhadores, não dá para negar os avanços políticos, econômicos e sociais, promovidos por este partido na direção do Estado Burguês. 

Estamos em um país onde durante 500 anos a elite desenvolveu a mais cruel forma de apartação social, dividindo de cima para baixo a sociedade, afirmando a supremacia dos colonizadores brancos sobre uma maioria absoluta da população que amargou a crueldade desta elite por cinco séculos, que excluiu a todos do direito à educação superior, subjugando-nos a um sistema de saúde ineficaz que até hoje não atende toda população brasileira, impondo-nos uma cultura preconceituosa, racista, sexistas, homófobica, machista, para manutenção de um processo de subserviência da grande maioria pobre a uma minoria muito rica e com isso, conseguiram a manutenção do poder político e continuidade no processo de acumulação de riquezas nas mãos de poucos.

Este partido foi criado para a superação deste estado de coisas que se enraizou na história do Brasil, entretanto, o pouco conseguido foi suficiente para aumentar o ódio de classe da burguesia sobre os trabalhadores. Conquistas pontuais como o direito de um assalariado dividir o espaço do aeroporto com os bem nascidos causou revolta às elites, que deixaram transparecer todo seu preconceito se transformando em um ódio de morte ao PT, outros expressam esse preconceito e esse ódio no discurso imbecil de que não encontra mais ninguém para fazer uma faxina em suas casas, ou que ninguém quer mais trabalhar nas roças, em um trabalho semi-encravo, em função da política de redistribuição de rendas e combate a miséria, chegam até a afirmar que as bolsas fizeram o povo ficar preguiçoso.

Odeiam o fato de que este governo tenha ampliado o acesso à universidade e por conta disso, a cada dia, trabalhadores e filhos de trabalhadores ocupam mais cadeiras em campos universitários. Ficaram enraivados pelo aumento do poder aquisitivo da classe trabalhadora e consequentemente o aumento do poder de consumo das pessoas que vivem do trabalho, pela ampliação dos investimentos em educação pública e em saúde. Essa pequena inversão de prioridade fez deste partido o inimigo público desta elite branca que ainda não saiu da “casa grande” e sonha com a volta da “senzala”. 

Não aceitam o fato do governo do Partido dos Trabalhadores ter trazido para a pauta dos debates políticos a emancipação das mulheres, oprimidas há séculos por uma cultura machista, de ter trazido para o debate a luta de gênero, a defesa do direito a opção sexual, não aceitam o combate ao preconceito racial, buscando o fim dos preconceitos religiosos a demonização da cultura afro-brasileira e está garantindo direitos trabalhistas às empregadas domesticas, outrora, objeto de exploração até sexual pelos senhores e filhos da casa grande. Tudo isso contribuiu para que essa burguesia nefasta desenvolvesse um “ódio ao PT”, esse ódio, que agora é utilizado para levar às ruas até pessoas que se beneficiaram dos avanços garantidos pelo Partido dos Trabalhadores, contra esse mesmo partido.

Outro fator fundamental para o surgimento do ódio é que este partido se tornou por suas ações na política internacional, a maior oposição ao grande capital financeiro e aos Estados Unidos da América. O surgimento e o fortalecimento de governos e políticas de centro-esquerda por toda a América Latina, bem como, o fortalecimento de políticas de oposição ao projeto neoliberal pela Europa, Ásia e África, a formação de um novo bloco econômico, o BRICS e por fim, a formação de um novo Banco Mundial, o Banco BRICS, trouxe à tona um perigo eminente para as grandes potencias capitalistas do mundo, a formação de uma nova ordem política e econômica capaz de fazer frente a ONU ao FMI e todas as organizações do grande capital que dirigem e determinam as relações de poder no planeta.
Mas mesmo com esta escalada política do Partido dos Trabalhadores, tem algo que mesmo os setores que elaboram política no partido não perceberam e não deu conta da importância estratégica disto. O partido se tornou uma força de oposição política ao grande capital, mas uma oposição fragilizada, pois para se tornar, de fato, essa força e a base de sustentação dos setores que se opõem ao capitalismo, seria necessário que este partido tivesse no país grande base popular, apoio irrestrito da maior parte da população brasileira consciente dos desafios políticos que esse partido enfrentaria nesta cruzada pela construção de uma nova ordem social mundial. Essa perspectiva não se configurou na prática, no Brasil as coisas acontecem por modismos e infelizmente em algo tão sério como estas questões políticas, o povo também viveu e vive de modismos.

Como essa elite construiu isso? Essa pergunta está nas cabeças de todos que lêem o mundo ao seu redor, mas que certamente não consegue compreender o processo de construção cultural que envolve a política. Vivemos em uma sociedade de classes, onde o poder político, econômico, social e cultural concentra-se nas mãos da classe burguesa, os donos dos meios de produção, proprietários das Fábricas, dos grandes empreendimentos comerciais, latifundiários. Estes setores não se enriqueceram trabalhando, se enriqueceram explorando o trabalho dos milhões de brasileiros pobres que passaram suas vidas produzindo para gerar “mais valia” (lucro). É desta relação que surge a diferença entre ricos e pobres.

Essa elite já havia compreendido que a reeleição de Dilma Rousseff determinaria a consolidação do projeto petista no Brasil e certamente, teria forte impacto no ambiente político internacional fortalecendo os setores contrários à política neoliberal desenvolvida pelo mercado globalizado. É neste contexto, que surge um forte movimento internacional de combate ao Partido dos Trabalhadores, que não se inicia durante as eleições. Na realidade, esse combate existe desde que esse partido surgiu em 1980. Inicialmente, as elites buscaram aterrorizar o povo, se utilizando da “Indústria do Anticomunismo”, política utilizada pelos EUA durante a Guerra Fria, contra a URSS, como sempre, utilizaram de um discurso falacioso, afirmando mentiras como verdades absolutas contra o PT e as esquerdas brasileiras que ressurgiam das cinzas após os 20 anos de perseguições, assassinatos, torturas e desaparecimentos inexplicáveis de militantes de esquerda promovidos pela ditadura militar no Brasil.

Veio à reabertura política, com ela, o crescimento das forças de esquerda no país, vários movimentos sociais organizados, sindicatos com características de esquerda, a força da Igreja Católica progressista ligada à Teologia da Libertação que ajudaram a promover o PT, quebrar o estigma do anticomunismo. Esse processo culminou com a eleição do Partido dos Trabalhadores para a direção do Estado Burguês, claro que para chegar até aqui, foram cometidos erros estratégicos já apontados no texto na condução política, mas isso não tira a importância de ter um partido forjado nas lutas sociais da classe que vive do trabalho está dirigindo o posto mais alto do Estado.

No poder, o PT cometeu outro erro de condução do processo quando podia ter feito uma grande transformação social em 2003, quando detentor de 80% do apoio popular, infelizmente, a opção dos setores dirigentes e hegemônicos do partido naquele momento foi de garantir a governabilidade, fazendo concessões a setores da classe dominante, buscando alianças que a história deu conta de mostrar que foram desastrosas para a construção de uma nova ordem social, empurrando o partido para dentro da lógica da governabilidade burguesa, utilizando os métodos outrora tão combatidos e jogando o sonho da transformação social para a vala comum da política, onde já estavam todos os partidos de orientação capitalista, liberal e keynesiana.

Mas não dá para relativizarmos os avanços políticos em defesa dos trabalhadores no Brasil, bem como, os avanços na política internacional promovido pelo Partido dos Trabalhadores, que em apenas 12 anos de governo teve a coragem de promover as mudanças que já foram enumeradas acima. O partido dos trabalhadores se jogou em uma cruzada pela construção de um novo país e por uma nova ordem social e mundial, isso certamente exigiu das elites dominantes tanto internas quanto externas uma reação. Veio uma nova onda de difamação e calúnias contra o Partido dos Trabalhadores.

Se pararmos para fazer uma análise fria do processo sociológico mundial, vamos perceber que todos os movimentos políticos dos últimos dez anos têm como pano de fundo um discurso unificado, onde o tema principal é a “corrupção”. Caíram os dirigentes dos países da região que no passado foi chamada de “Crescente Fértil”, (Oriente Médio), a “Primavera Árabe”, os governos não caíram por corrupção? E na Ucrânia, o discurso midiático não afirmou que o presidente caiu por atos de corrupção? As manifestações políticas na Europa Ocidental, principalmente na França, Espanha, Grécia, entre outros países, não tinham como pano de fundo a corrupção? E qual é o tema das manifestações em toda a América Latina? É preciso observar bem de perto os acontecimentos para perceber o que de fato está por trás dos fatos políticos.

A elite dominante mundial aliada às burguesias nacionais sabe bem onde querem chegar. No Brasil esse processo tem um único caminho, ferir de morte o Partido dos Trabalhadores com esse discurso contra a corrupção. Se fizermos um resgate histórico, tudo se inicia com o Mensalão que visava queimar os prováveis nomes do partido para a sucessão de Lula ao governo. Acusaram sem provas José Genuíno, José Dirceu, e, por conseguinte outros nomes do PT. Mas a façanha não ganhou muita força, criou-se então um estigma de corrupção para o partido, mesmo assim Lula garantiu a reeleição e a sucessão com Dilma Rousseff.

Era preciso enfraquecer o mandato da primeira mulher eleita presidente do país em 510 anos de sua história. O perigo da consolidação de um projeto de esquerda estava ainda maior com a eleição de 2010, o PT ganhava mais tempo para garantir as reformas políticas fundamentais para alterar a ordem política brasileira. Veio a “Copa das confederações”, em meio à festa do evento no país, a Rede Globo, passou a trabalhar um discurso contra a corrupção, vendeu a idéia de que houve atos ilegais na construção dos estádios de futebol, corrupção até hoje não comprovada. Se aproveitando de um pequeno grupo de pessoas que vaiaram a presidente na abertura do evento esportivo, com os sinais da emissora abertos para captar a voz do público e dá a impressão que todos no estádio estavam vaiando, paradoxalmente, as imagens da própria emissora mostravam outra realidade, com a maioria das pessoas aplaudindo o presidente da FIFA, que discursava no momento.

Ao mesmo tempo, acontecia em São Paulo e no Rio de Janeiro, pequenas manifestações de um movimento “Passe Livre”, que questionavam o aumento das passagens do transporte coletivo, habilidosamente, a Rede Globo e a Revista Veja conseguiram traçar um paralelo entre, a Copa no Brasil, Corrupção e o Movimento Passe Livre. Recordo de Arnaldo Jabor no Jornal da Globo fazendo um discurso que trazia elementos como “dinheiro da educação e da saúde, que foram utilizado para construir estádios de futebol, que mais tarde se tornariam elefantes brancos”, que coisa em? Um dia depois o Movimento Passe Livre foi para as ruas, já utilizando esses argumentos e aí começou uma loucura total no país, todo mundo queria reivindicar alguma coisa. Durante toda a copa das confederações, vivemos um clima de guerra civil com os Black blocs quebrando vidraças de lojas e prédios públicos, agredindo populares, enfrentando a polícia, manifestações atabalhoadas por todo o país, sem que ninguém se desse conta do que estavam reivindicando. Perguntei a um jovem: estão reivindicando o que aqui? A resposta foi engraçada, “ouvimos falar que em setembro a passagem de ônibus vai subir.”. Estávamos em junho.

Mas não era mesmo a função destes eventos reivindicarem nada, na realidade o que os organizadores pretendiam era criar um clima de terror no país, colocar em cheque o governo, enfraquecer politicamente e eleitoralmente o governo da Presidente Dilma e começar o processo de caça ao Partido dos Trabalhadores, era preciso iniciar o projeto que está sendo colocado em curso hoje. As elites dirigentes nacionais e internacionais tinham claro o rumo que seria dado ao cenário político nacional, instigando o imaginário coletivo da população, embutindo na sociedade o “ódio contra o PT”, pois sabiam que poderiam precisar mais tarde deste ódio para os seus projetos nefastos.

Desde então, a mídia burguesa iniciou uma campanha sem tréguas contra o Partido dos Trabalhadores visando promover a derrota eleitoral, como primeira estratégia para trazer de volta à direção do Estado Burguês para as elites dominantes nacionais. Derrotados eleitoralmente, esses setores, já haviam pensado em um terceiro turno eleitoral. Foi em função disto que mesmo durante a campanha o debate sobre corrupção já fazia parte do cenário político nacional, afirmando intensivamente na grande mídia, a idéia distorcida de que foi o Partido dos Trabalhadores o responsável por todo o processo de corrupção que surgiu na política brasileira na última década.

Mesmo sem terem conseguido provar nada contra o partido, nenhum enriquecimento ilícito por parte dos acusados de corrupção e mesmo com um número reduzido de militantes e eleitos a cargos públicos envolvidos nos processos de corrupção, esse discurso de forma hábil e sistêmica, foi jogado para o imaginário do povo brasileiro, que movidos pelo senso comum e um sentimento de justiça inocente, absorveu acriticamente esse discurso, que unido ao discurso do anticomunismo, promovido desde o nascimento do PT, se tornou o debate comum nas mesas de bares, nos campos de futebol, nas escolas, nas famílias, nas igrejas de forma geral. Com isso, foram construindo um conservadorismo de ultra direita, sobretudo, na classe média, que se julga bem informada, posteriormente, esse discurso atingiu todos os setores sociais, principalmente, a juventude que não viveu outro momento da história deste país e não tem a condição histórica de traçar um quadro comparativo entre os modelos de gestão das elites e do Partido dos Trabalhadores. 

É claro que não estou aqui buscando inocentar o Partido dos Trabalhadores e os militantes envolvidos nestes processos dos erros cometidos, é evidente que, nas trincheiras deste partido há também atos ilícitos. Nos governos do PT há também indivíduos que transgridem a moral e a ética e cometem atos de corrupção sim. Também é evidente que o indivíduo só é culpado, a partir do momento em que se constatam as provas contra ele. Mas o grande problema deste momento histórico está, sobretudo, na construção ideológica da direita nacional e internacional em afirmar que o Partido dos Trabalhadores é o responsável por todo o processo de corrupção no país, sem debater o que de fato é a corrupção do ponto de vista sociológico, histórico e social. Sem ao menos dizer para a população brasileira que os escândalos de corrupção só estão aparecendo agora, por que este governo abriu a possibilidade de ser investigada qualquer denúncia que envolva o governo ou setores do governo.

Mas tudo isso que estamos vivenciando faz parte de um projeto político maior, traçado pelo grande capital mundial para garantir a manutenção da ordem econômica mundial como ela está montada por estas elites. E derrotar hoje o Partido dos Trabalhadores aqui no Brasil, é condição sine qua non para a manutenção deste projeto, já que o PT se tornou nestes 12 anos base se sustentação de um novo pensamento político e econômico para o mundo.
Este movimento do dia 15 de março passa por esta prerrogativa, foi um movimento construído internacionalmente, dirigido pelas elites nacionais e sua imprensa burguesa, com o objetivo de perceber o apoio que teriam para o golpe maior, colocar uma grande quantidade de pessoas nas ruas, como aconteceu em 1964 com a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, temendo a ameaça comunista. Agora, só acrescentaram o discurso oficial mundial que é a “corrupção”, discurso de fácil aceitação pela população neste momento histórico e que vem sendo trabalhado exaustivamente pelas vozes das elites na mídia corporativa burguesa nesta última década.

As manifestações do dia 15 foram na verdade uma grande farsa, montada por estas elites brancas, pela classe média, por organismos internacionais, com apoio irrestrito da grande mídia que é um braço desta burguesia, que tem lado político e está a serviço das elites. Estamos novamente diante de um golpe político, preparado minuciosamente pela classe dominante internacional e nacional, que não tem como objetivo tirar a presidente Dilma Rousseff do governo, a ideia é muito maior, é derrotar definitivamente o Partido dos Trabalhadores do cenário político nacional e internacional, transformar qualquer militante deste partido em um corrupto passivo, estigmatizar sua sigla, sua bandeira e sua ideologia, garantindo total liberdade para que o projeto capitalista continue sua escalada de poder e acumulação de riquezas para um pequeno grupo de pessoas que dominam o planeta, estabelecer no imaginário coletivo mundial, ideias contrárias a qualquer projeto de construção de uma alternativa política ao capitalismo e ao neoliberalismo econômico, garantindo por mais alguns séculos o livre caminho para o sucesso do modo de produção vigente.

As elites dominantes sabem que o modo de produção está em cheque, seja do ponto de vista econômico, seja do ponto de vista ecológico, do ponto de vista social. É necessário se fazer mudanças rápidas nas estruturas da vida, para garantir a sobrevivência da espécie humana na terra e da vida no planeta. Temendo uma tomada de consciência global contrária ao capitalismo, pois, já temos aí sinais claros de levantes por todo globo terrestre, as elites que dirigem o mercado estão tratando de neutralizar os possíveis adversários. Observem que há uma ofensiva contra todos que questionam a ordem, não se trata de fatos isolados em um ou outro país, restritos às fronteiras geográficas. Por todos os cantos, as forças capitalistas dirigidas pelas organizações políticas dos EUA estão articulando movimentos, incitando as populações, construindo eventos históricos, conflitos políticos contra um ou outro governo. Não seria diferente no Brasil que na última década vem se destacando no combate à fome, à pobreza, crescendo politicamente e economicamente no cenário internacional, liderando um bloco política que ousou enfrentar o grande capital e o mercado internacional.

Dia 15 de março de 2015 foi só o primeiro passo, mesmo sendo um movimento da elite branca, acostumada com a “Casa Grande”, e que sonham com a volta da “Senzala”, a classe dominante conseguiu vencer a primeira batalha, levou o povo às ruas, mesmo sem saber o que estavam defendendo. Daqui pra frente virão as cenas dos próximos capítulos. O Congresso conservador formado nesta última eleição, certamente, irá criar um fato político qualquer envolvendo a presidente e o Partido dos Trabalhadores, criando as bases para o impeachment e se não der certo tirar a presidente, o PT e todos os setores da esquerda nacional já estará ferida mortalmente, o que certamente vai interferir de maneira profunda em outros processos políticos importantes para o futuro do Brasil, do nosso povo e do socialismo.

Cabe a nós, que ainda acreditamos a possibilidade de um dia vivermos em uma sociedade alternativa ao capitalismo, cabe a nós trabalhadores que despertamos a consciência e percebemos que outro mundo é possível, que a paz não é apenas uma utopia, e que o caminho é a solidariedade, uma relação fraterna e humana com nossos semelhantes e com a nossa nave mãe, a Terra, encontrar forças para continuar lutando, abrindo novos caminhos para continuarmos o sonho do socialismo e mantendo viva a utopia de que um dia viveremos sob uma realidade muito mais humana e humanizadora do que a que estamos submetidos hoje.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Leonardo Boff: O que se esconde atrás do ódio ao PT?

Leonardo Boff é teólogo, filósofo e escritor brasileiro





Há um fato espantoso mas analiticamente explicável: o aumento do ódio e da raiva contra o PT. Esse fato vem revelar o outro lado da “cordialidade” do brasileiro, proposta por Sérgio Buarque de Holanda: do mesmo coração que nasce a acolhida calorosa, vem também a rejeição mais violenta. Ambas são “cordiais”: as duas caras passionais do brasileiro.


Esse ódio é induzido pela midia conservadora e por aqueles que na eleição não respeitaram rito democrático: ou se ganha ou se perde. Quem perde reconhece elegantemene a derrota e quem ganha mostra magnanimidade face ao derrotado. Mas não foi esse comportamento civilizado que triunfou. Ao contrário: os derrotados procuram por todos os modos deslegitimar a vitória e garantir uma reviravolta política que atenda a seu projeto, rejeitado pela maioria dos eleitores.

Para entender, nada melhor que visitar o notório historiador, José Honório Rodrigues que em seu clássico Conciliação e Reforma no BrasilI (1965) diz com palavras que parecem atuais:

“Os liberais no império, derrotados nas urnas e afastados do poder, foram se tornando além de indignados, intolerantes; construíram uma concepção conspiratória da história que considerava indispensável a intervenção do ódio, da intriga, da impiedade, do ressentimento, da intolerância, da intransigência, da indignação para o sucesso inesperado e imprevisto de suas forças minoritárias” (p. 11).

Esses grupos prolongam as velhas elites que da Colônia até hoje nunca mudaram seu ethos. Nas palavras do referido autor: “a maioria foi sempre alienada, antinacional e não contemporânea; nunca se reconciliou com o povo; negou seus direitos, arrasou suas vidas e logo que o viu crescer lhe negou, pouco a pouco, a aprovação, conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que continua achando que lhe pertence”(p.14 e 15). Hoje as elites econômicas abominam o povo. Só o aceitam fantasiado no carnaval.

Lamentavelmente, não lhes passa pela cabeça que “as maiores construções são fruto popular: a mestiçagem racial, que criava um tipo adaptado ao país; a mestiçavel cultural que criava uma síntese nova; a tolerância racial que evitou o descaminho dos caminhos; a tolerância religiosa que impossibiltou ou dificultou as perseguições da Inquisição; a expansão territorial, obra de mamelucos, pois o próprio Domingos Jorge Velho, devassador e incorporador do Piaui, não falava português; a integração psico-social pelo desrespeito aos preconceitos e pela criação do sentimento de solidariedade nacional; a integridade territorial; a unidade de língua e finalmente a opulência e a riqueza do Brasil que são fruto do trabalho do povo. E o que fez a liderança colonial (e posterior)? Não deu ao povo sequer os beneficios da saúde e da educação”(p. 31-32).

A que vêm estas citações? Elas reforçam um fato histórico inegável: com o PT, esses que eram considerados carvão no processo produtivo (Darcy Ribeiro), o rebutalho social, conseguiram, numa penosa trajetória, se organizar como poder social que se transformou em poder político no PT e conquistar o Estado com seus aparelhos. Apearam do poder as classes dominantes; não ocorreu simplesmente uma alternância  de poder mas uma troca de classe social, base para um outro tipo de política. Tal saga equivale a uma autêntica revolução social.

Isso é intolerável pelas classes poderosas que se acostumaram a fazer do Estado o seu lugar natural e de se apropiar privadamente dos bens públicos pelo famoso patrimonialismo, denunciado por Raymundo Faoro.

Por todos os modos e artimanhas querem ainda hoje voltar a ocupar esse lugar que julgam de direito seu. Seguramente, começam a dar-se conta de que, talvez, nunca mais terão condições históricas de refazer seu projeto de dominação/conciliação. Outro tipo de história política dará, finalmente, um destino diferente ao Brasil.

Para eles, o caminho das urnas se tornou inseguro pelo nível crítico alcançado por amplos estratos do povo que rejeitou seu projeto político de alinhamento neoliberal ao processo de globalização, como sócios dependentes e agregados. O caminho militar será hoje impossível dado o quadro mundial mudado. Cogitam com a esdrúxula possibilidade da judicialização da política, contando com aliados na Corte Suprema que nutrem semelhante ódio ao PT e sentem o mesmo desdém pelo povo.

Através deste expediente, poderiam lograr um impeachment da primeira mandatária da nação. É um caminho conflituoso pois a articulação nacional dos movimentos sociais tornaria arriscado este intento e talvez até inviabilizável.

O ódio contra o PT é menos contra PT do que contra o povo pobre que por causa do PT e de suas políticas sociais de inclusão, foi tirado do inferno da pobreza e da fome e está ocupando os lugares antes reservados às elites abastadas. Estas pensam em apenas fazer caridade, doar coisas, mas nunca fazer justiça social.

Antecipo-me aos críticos e aos moralistas: mas o PT não se corrompeu? Veja o mensalão? Veja a Petrobrás? Não defendo corruptos. Reconheço, lamento e rejeito os malfeitos cometidos por um punhado de dirigentes. Traíram mais de um milhão de filiados e principalmente botaram a perder os ideais de ética e de transparência. Mas nas bases e nos municípios – posso testemunhá-lo – vive-se um outro modo de fazer política, com participação popular, mostrando que um sonho tão generoso não se mata assim tão facilmente: o de um Brasil menos malvado. As classes dirigentes, por 500 anos, no dizer rude de Capistrano de Abreu, “castraram e recastraram, caparam e recaparam” o povo brasileiro. Há maior corrupção histórica do que esta? Voltaremos ao tema.

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Artigo do escritor Leonardo Boff, publicado na quinta-feira (5), no portal Carta Maior

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