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Contra-Mestre Poeira – Guardião vivo do legado de Mestre Sarará
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Foto: Contra-Mestre Poeira, Dona Biloca filha de Mestre Bimba e Mestre Sandro |
*por Herberson Sonkha
VITÓRIA DA CONQUISTA (BA) - Nascido no seio do Bairro Brasil, em Vitória da Conquista (BA), na Rua Itapetinga, e forjado na Rua Espírito Santo, Robério, conhecido no universo da capoeira como Poeira, cresceu imerso nas dinâmicas culturais e sociais que estruturam as manifestações afro-brasileiras na região. Ainda criança, seus passos se firmaram na Academia Ginga Brasil, sob a orientação direta do respeitado Mestre Manoel Sarará — figura singular, cuja perícia técnica e força física lhe permitiam a notável façanha de, sozinho, trocar o motor de um automóvel.
A capoeira, para Robério, revelou-se mais que um jogo ou luta; tornou-se uma verdadeira poesia corporal, uma manifestação estética e política que carrega e reproduz a ancestralidade africana em suas formas, ritos e cosmologias. A nomeação como "Poeira" no contexto do jogo não é casual: o termo evoca a ideia de movimento contínuo, vestígio e passagem, confluindo simbolicamente com a figura de Exu — entidade das encruzilhadas, do caminho e da transformação no panteão afro-brasileiro.
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Contra-Mestre Poeira |
No desenvolvimento de sua trajetória como capoeirista, Robério adquiriu precisão técnica, inteligência estratégica e força marcante, elementos que lhe conferiram prestígio nas rodas mais reconhecidas da Bahia e do Rio de Janeiro, onde participou ativamente das complexas trocas de cordões, ritual que simboliza a progressão e reconhecimento dentro da hierarquia da capoeira. Paralelamente, construiu uma carreira profissional sólida e respeitada como eletricista automotivo, destacando-se pela versatilidade e excelência na Empresa Compeças, dominando sistemas elétricos de veículos de passeio, utilitários e de carga.
Sua ascensão na capoeira culminou com a conquista do cordão de Contra-Mestre, tornando-o o principal continuador do legado deixado por Mestre Sarará. Seu jogo representa um delicado equilíbrio entre a rigidez da tradição, força nos golpes e a leveza efêmera da poeira ao vento, reafirmando que o espaço da capoeira é também um terreno de memória, um arquivo vivo onde os passos deixam marcas e estabelecem diálogos com uma ancestralidade que se perpetua.
Hoje, Contra-Mestre Poeira transcende a condição de mero praticante; ele é um vetor de continuidade histórica, um elo que conecta as gerações, articulando o toque ancestral do berimbau (Angola, São Bento Pequeno e São Bento Grande) com a construção contemporânea de uma identidade cultural plural e dinâmica. Onde sua presença se faz presente, a poeira não apenas se levanta, mas ressoa o pulsar da história, mantendo viva a potência de uma arte que é, simultaneamente, resistência e liberdade.
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* Herberson Sonkha foi capoeirista na década de 1970, tendo interrompido sua trajetória no cordão verde-amarelo ao se mudar para Jequié, em dezembro de 1979. Durante o período em que treinou na academia Ginga Brasil, sob a orientação do Mestre Manoel Sarará, formou uma parceria inseparável com Poeira, compondo a dupla “Poeira e Cebolinha”.
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