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segunda-feira, 12 de agosto de 2013
Waldir... Ô Waldir, porque tu és assim?
agosto 12, 2013
|
por
Vinícius...
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![]() |
Waldir; ao fundo, Balbino; viaduto da Paulinoi Santos, onde moram! Foto: Herberson Sousa Silva. |
* Por Herberson de Sonkha
"Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!..."
(Navio Negreiro-Castro Alves)
A burguesia é inexoravelmente bonitinha, cheirosa e humorada. Isso é inegavel e é justamente por isso que muita gente quer ser burguês, porque deseja ser visto como algo a ser copiado e seguido. Um burguês sempre será visto como alguém do bem, elegante, bem intencionado e recomendavel. Apesar destes predicativos, continua sendo ordinária.
O centro comercial e bairros ricos das grandes e médias cidades não oferecem oportunidade de lazer à população em situação de pobreza e extrema pobreza. O cotidiano destas cidades são destituidos de quasiquer sentimentalidades, porquanto estabelecem comportamentos frígidos e cheios de melindres porque se tornaram áreas sem vivencias coletivas e esvaziadas tornando os logradouros verdadeiros ambientes solitários e terriveis para quem mora nas ruas e por isso não tem vinculos e nem relações sociais.
As pessoas aprisionadas em suas fortificações estão adoecendo de depressão e as pessoas “livres” além de estarem doentes são inexistentes. Não ter o que comer, o que vestir, como tomar banho e manter as condições mínimas de vida é algo tão comum nestes grandes centros.
As marquises do Viaduto Paulino Santos neste fim de tarde do dia dos Pais, transformou-se num lugar movimentado porque alguns desportistas aproveitaram o domingo para praticar o Rappel, uma atividade derivada do alpinismo. A prática deste esporte ainda está restrita as classes sociais abastadas com poder econômico capaz de comprar equipamentos e contratar instrutores a custos altos, porque A prática deste esporte exige conhecimento tecnico para realizar manobras radicais e manuseio correto dos equipamentos como os mosquetões em aço e aluminio, as fitas tubulares, ancoragens back-ups, luvas, capacete, freio 8 (descensor), baudriers, botas especificas.
Na via da Paulino Santos, cravado no centro de Vitória da Conquista, exatamente em baixo dela, no Viaduto, alguns inquilinos “indesejados” habitam por lá há meia década, convivendo com a sujeira, a fome e um esgoto fedorento a ceú aberto. Estes refugiados convivem naquelas morbidas e frias estruturas de cimento sem proteçao lateral por causa indiscutível madrugada fria de Vitória da Conquista, guardados apenas pelas pilastas do Viaduto, sem serem notados ou acompanhados por qualquer poítica pública ou morador curioso dos arredores do viaduto, destes que ficam a espreita da vida alheia.
Neste fim de tarde, estes humanos, desumanizados pela crueldade do capitalismo, em que pese terem sido algum dia pessoas portadoras de direitos, sentiram-se intimidados permanecendo em silêncio em função do esplêndor e contentamento daquelas pessoas argentárias tão felizes que estabeleceram aquela marquise para o lazer, sem se dar conta da dor daqueles humanos acuados que espiavam a brincadeira distante. Além disso, se sentiram culpados por estarem ali atrapalhando a diversão particular e por afuscar com suas performaces empobrecidas aqueles desportistas de Rappel, todos bem humorados, bem-aventurados e minimamenter paramentados com cordas, presilias, garras e fixadores de titaneo coloridos. Imagine se aqueles humanos teriam alguma razão para rirem e bincarem porque hoje é dia dos pais, ou porque algum bacana faria um convite para participar da diversão. Inexoravelmente nenhuma razão, pois suas condições sociais, econômicas e históricas jamais possibilitaria aos mesmos o Estatudo da Cidadania, obrigando-os a viverem a amargem destes direitos sociais e, portanto jamais usufuiriam deste espaço caríssimo de lazer. Quietos e com os olhos atentos, fitavam indefesos de longe aquela alvoroço e assistiam aos malabares pendurados nas cordas coloridas sem, no entanto serem observados. Como isso é possivel se eles estavam ali?
Alguns estudiosos das questões sociais, econômicas e políticas sustentam uma tese que explica este fenomeno ao análisar as relações que se estabelecem na sociedade analisando minuciosamente o modelo societal organizado pelo capital que, em última instancia, determina a vida material e intelectual da sociedade a partir das relações de produção, circulação e consumo de mercadorias. Estes nevralgico mundo impõem aos seres humanos duas situações limites: uma de quem troca sua força de trabalho por outra mercadoria chamade de dinheiro na forma de salário que expressa um preço hierarquizado pelo trabalho braçal e trabalho intelectual e; a outra de comprador de forças de trabalho com a qual produz outras mercadorias em escala que quintuplica o valor investido inicialmente, que são trocadas com estes mesmos trabalhadores.
Neste sentido, ainda estamos sob a égide das forças produtivas, que atuam com seus artefatos principais do modo de produção que estrutura a base material da sociedade. Estas relações desumanizam os humanos causando estranhamento, não obstante, comprometer a visão e a percepção do outro que não faz parte de seu meio social. A alienação, que amputa a sensibilidade humana transforma pessoa em coisa, cristalizando a sensibilidade das pessoas, por isso, na maioria das vezes os famelicos não são vistos e nem chama atenção de quem não sente a dor e tristeza de ser marginalizado pelo sistema econômico e político como o capitalismo.
Assim, não muito longe dali interagiam um pequeno grupo de pessoas espargindo um misto de histeria e corage ao praticarem o rappel. Sem nenhum pesar decorrente do triste quadro de extrema pobreza daqueles humanos moradores do viaduto, pois não eram vistos, todos desciam felizes pelas as cordas que os mantinham susupensos meio aos gritos entremados por medo e contentamento durante a descida e seus rostos corurados, macios e radiantes denuciava os bem cuidados filhos da riqueza conquistense e seus existosos prazeres de pertencerem ao restrito mundo dos afortunados. Waldir! Ô Waldir! “Ser ou não ser: eis a questão”.
Será mesmo Waldir que o Estado e o Sistema Econômico lhe ofereceram as mesmas condições e oportunidades dadas a aquelas pessoas do Rappel? Você, meu caro Waldir, “optou” por ficar ali inerte, calado, com olhar fixo e embasbacado feito um fantasma escondido embaixo de um Viaduto, deitado num colchão encardido e fedorento por quer? Será mesmo Waldir que você quis, entre tantas opções maravilhosas que o dinheiro oferece ser um transeunte invisível, famélico, maltrapilho, solitário, descuidado, sujo, rasgado, desdentado, malcheiroso? Qual é a sensação de não ser percebido por todas aquelas pessoas frívolas, bem alimentadas, com a suavidade e água-de-cheiro de quem são muito bem cuidadas?
Portanto, como diria Nelson Rodrigues bonitinha, mas ordinária.
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