* Por Fábio Sena

Candidata a prefeita de Anagé em 2008 pelo Partido dos Trabalhadores em condições bastante adversas – seu adversário, o prefeito Elbisson Soares, é adepto de tradicionalíssimos métodos políticos e eleitorais – a professora Andréia Oliveira Silva obteve uma surpreendente votação naquelas eleições, ficando 192 votos apenas atrás do vencedor, a quem ela acusa de abuso de poder econômico. Em entrevista ao Blog do Fábio Sena, ela falou sobre o que pensa da cidade (onde nasceu de parteira) e dos sonhos que vêm sendo construídos para tirar Anagé do marasmo.

BLOG DO FÁBIO SENA: Quem é Andréia?

ANDRÉIA OLIVEIRA SILVA: Andréia é filha de Anagé, nasci aqui de parteira no ano de 1974. Fiz o magistério aqui, formei-me professora, fiz concurso para o Estado, ingressei na Uesb, me licenciei em Letras, exerci a profissão como professora regente de Língua Portuguesa, Redação e Literatura durante 13 anos no Estado. Ingressei na vida política pública, saí para a candidatura de prefeita, uma candidatura com condições adversas, uma vez que ideologicamente eu entendo que você escolhe um candidato por achar que ele afina com você em projeto, em pensamento, e a política de Anagé ainda é feita no campo do financeiro, das pessoas manipularem o eleitor através do dinheiro, da mentira, da promessa, mas eu saí amadurecida de uma eleição que perdi por 192 votos, 1,5% foi a frente de meu adversário, mas com a certeza, na verdade, essa perda acabou por somar na minha vida e eu acabei ganhando experiência, acabei melhorando um projeto que a gente tinha de transformação de Anagé, porque hoje, depois de ver esses três anos de um governo totalmente autoritário, de um governo retrógrado, as pessoas também estão construindo com a gente um sonho de mudança para Anagé. Então houve na verdade uma derrota eleitoral, mas houve um ganho de construção de projeto para o futuro.

ANDRÉIA: Andréia é corajosa, lida com coronel sem ter medo; eu digo sempre que política tem que ter três coisas: primeiro é humildade porque na política você entra precisando de todo mundo, precisa das pessoas para disputar e vencer, e depois para poder governar, porque sem apoio popular você não faz nada; as pessoas precisam estar juntas, participando com você; outro fator: não tenho mágoa nem medo, eu entro na casa de todos; nessa eleição agora – porque nós já estamos em uma pré-campanha – nós só não iremos entrar em uma casa no município de Anagé; o restante todo nós entraremos.

BLOG DO FÁBIO SENA: qual a sua proposta prioritária de governo para Anagé?

ANDRÉIA: A minha grande proposta para Anagé é a Educação. Eu acho que nenhuma sociedade melhora se não tiver um povo com conhecimento, um povo que possa participar, que possa ser cidadão, e a cidadania a gente consegue através a educação. Nosso projeto é alfabetizar desde o aposentado – e aí a gente vai pegar carona no TOPA, que é do Governo do Estado –, vamos fazer o que Paulo Freire fez que é contextualizar mais com a nossa história, incrementando o regionalismo de Anagé; vamos motivar os jovens, vamos estar ajudando as pessoas que deixaram a escola, que interromperam, vamos estar buscando cada um e principalmente vamos fazer isso através do estudante de Anagé, que conseguiu galgar, que está cursando os bancos acadêmicos de Vitória da Conquista. Hoje, nós temos na esfera estadual e na federal governos que pensam em sintonia com a gente, e a gente tem uma cidade próxima aqui, Vitória da Conquista, que comunga com nosso ideal político e vamos ter todas as condições de angariar fundos para viabilizar a nossa proposta. A questão é planejamento e eu sou professora, tenho vontade política e tenho um povo que confia em mim.

BLOG DO FÁBIO SENA: Anagé está preparada para suas propostas?

ANDRÉIA: Confio que sim. As pessoas estão muito desejosas de uma mudança. Uma outra grande mudança que a gente quer implementar em Anagé é na saúde. Nós queremos transformar Anagé num pólo de saúde das cidades circunvizinhas. A gente sabe que Conquista já está afogada porque todas as cidades do entorno recorrem a Conquista e isso cria uma dificuldade tanto para Conquista como para as cidades menores. Nós queremos primeiro elevar Anagé à média complexidade, depois fazer com que a cidade vire pólo junto com o Governo do Estado e Governo Federal, humanizando o atendimento na saúde e na educação.

BLOG DO FÁBIO SENA: Quais são suas críticas ao governo de Anagé?

ANDREIA: O governo que aí está já no quinto mandato e a gente percebe que o retrato de Anagé é o retrato do governo dele. Na verdade, Anagé parou, não tem nada: não se tem preocupação com saúde, com educação… nós temos um município eminentemente agrícola, 87% do povo de Anagé vive na zona rural; nós temos estradas cheias de buraco, o homem do campo não tem incentivo nenhum da secretaria de agricultura para poder continuar na terra, plantando e colhendo, a gente vive num município ilhado a um período que não compreende o Século XXI; o governante de agora está muito mais para séculos passados do que para estar governando agora, não prioriza nada. Então, a maior crítica é que a ótica do governo atual é a seguinte: o poder que é do povo, que emana do povo, ela pega como algo pessoal dele, o dinheiro, o recurso público que tem apenas que ser gerido pelo gestor e transformado em benefício para o povo é desviado para o bolso dele; então a maior crítica é esta: o governante tem que entender que a cidade, quando as pessoas confiam o voto e que votam, o representante tem que fazer o melhor pelas pessoas, e o gestor atual tem feito o contrário; pegou o poder que foi dado a ele, de forma inclusive manipulada por ele, pegou esse poder e colocou como coisa dele, e pega o recurso público e desvia para proveito próprio.

BLOG DO FÁBIO SENA: Você afirma que a população tem um desejo de mudança; no entanto, o atual prefeito governa pela quinta vez.Você diria que existe a influência do poder econômico nas eleições?

ANDRÉIA: Teve. Esta última eleição que, na primeira instância, por duas vezes, o juiz julgou e cassou o mandato do prefeito atual. Ele teve o mandato cassado por duas ações: uma do Ministério Público, porque houve além da manipulação, nas últimas semanas houve uma compra de voto absurda. Houve muita mentira. O fato de uma pessoas estar por cinco vezes no mandato – e ele mesmo diz que ele é o prefeito e a história não nega, mas ACM também por um tempo muito grande disse a mesma coisa, mas naquele tempo ACM fazia a mesma coisa que o prefeito faz: pegava o dinheiro do povo e jogava contra o próprio povo para voltar a dominar na próxima eleição, deixando o povo em estado de subserviência, de miséria total, para chegar o período eleitoral enganar e massacrar. ACM caiu na Bahia. Na última disputa que tivemos para deputado Anagé mostrou para ele que a história não é mais essa. Ele até hoje nunca havia perdido uma eleição nas urnas; deputado dele ganhava em Anagé com mais de 2 mil votos de frente do candidato da oposição. Pela primeira vez na história o prefeito atual ganha uma eleição apertada, praticamente um empate técnico, 1,5% e pela primeira vez na história de Anagé os deputados que ele apóia, ele no governo, perdem e perdem com a margem de votos de mil votos de frente, então a coisa sinaliza de que quer mudar.

BLOG DO FÁBIO SENA: Qual é a receita de quem não tem o poder econômico pra combater em uma sociedade desigual e ter essa quantidade de votos que você teve? qual é o modelo?

ANDRÉIA: Na verdade, sempre nos momentos difíceis, quando a gente perdeu a eleição, e que viu todo um poder de um tirano, de um coronel, uma pessoa que a gente viu manipular o governo da pior forma possível… aí, quando eu parei pra pensar o que fazer, eu recorri ao velho Lula, que é um dos pais que a gente tem: o Lula diz o seguinte: nos momentos de crise ou nos momentos de realização, recorra sempre ao povo. É isso que eu tenho feito, Fábio. Acho que a receita, na verdade, é o povo e a gente tá próximo, e a gente está olhando no olho, a gente está falando através das ações que a gente tem sinceridade, que a gente quer desenvolver um trabalho e foi assim que eu, que com pouca experiência política conquistei no meu município um apoio muito grande… porque as pessoas olham no meu olho, eu sento no sofá das pessoas, eu converso olhando no olho delas e mostrando que nosso projeto é diferente, que o nosso projeto e possível e viável para Anagé. Nosso projeto é diferente.

BLOG DO FÁBIO SENA: Como é que você avalia essa revoada de adesistas vindos de tantos partidos pra compor a base do governo Wagner, até mesmo do DEM… Quem mudou: o PT ou essas pessoas?

ANDRÉIA: Na verdade, as pessoas tiveram que ser  convencidas porque o que mudou, de fato, foi o eleitor. O eleitor, depois da grande transformação que houve no Brasil, da mudança total da ótica política… porque até Lula nós tínhamos um governante que olhava do maior para o menor; depois de Lula o que tivemos foi um governante que primeiro olha do menor para depois ver o maior; então, houve uma inversão de ótica e o povo sentiu na pele isso, o povo sentiu na hora de fazer a feira, na hora de receber o salário mínimo, e o povo viu que o jeito do PT governar é melhor que o outro e também que o PT hoje na realidade do Brasil… aí veio o adesismo. E eu quero dizer que o PT de Anagé está aberto para as adesões porque a gente é justamente a favor disso…  a gente está aqui para, junto com as outras pessoas, inclusive aquelas que fizeram política equivocada no passado, estar juntos com a gente pra melhorar porque nós seremos o governo de todos que moram aqui, não de quem votou na gente.