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domingo, 13 de maio de 2012

DANE-SE ESSA PRETAIADA





* Por  Pe. Jurandyr Azevedo Araujo


Domingo agora é o dia que marca a “suposta” abolição da escravidão no Brasil. Lá se vão 124 anos que Dona Isabel, a Princesa que substituía Imperador D. Pedro II, em tratamento de saúde na Europa, assinou a incomplexa e incompleta Lei Áurea – de dois artigos, apenas. São eles: Artigo1: A partir dessa data, a escravidão é declarada abolida no Brasil. - Artigo 2: Todos os dispositivos contrários a este estão revogados. Sempre digo que faltou escrever o terceiro, que ficou apenas no consciente da realeza: Dane-se essa pretaiada.

O fato é que depois dos negros terem sido arrancados de sua terra natal como escravos; separados de suas famílias; mortos nos porões dos navios, nas senzalas e no arder dos pelourinhos; tidos como “sem alma” pela igreja católica, impedidos de praticarem sua crença, tratados a base do espancamento e da fome, e sofrerem todos os tipos de atrocidades, a Lei não previu nenhuma forma de reparação, e assim foram os negros atirados sem perspectivas no mundo dos brancos, onde lhes aguardavam o desemprego e uma vida de marginalidade. Naturalmente que isso veio reforçar e massificar cada vez mais o preconceito racial, justificado pela ideia de superioridade da “raça” branca sobre o negro.


Acontece que o que está ainda nos livros de história, nas salas de aula deste Brasil onde uma elite dominadora insiste em embranquecer um país mulato, não apresenta para as crianças a oportunidade de conhecerem os reais fatos que levaram a abolição da escravatura, como se em um belo dia de 1888, a compaixão cristã e o amor aos seus semelhantes, bateram mais forte na Princesa Isabel, a fazendo assinar a Lei Áurea, e, então, os negros brasileiros viveram felizes para sempre.

Nossas crianças precisam saber que a história não foi e não é tão romântica desse jeito, e que Isabel, a princesa, foi forçada a decretar a tal lei por um processo onde muitos se destacaram como heróis, como os integrantes do chamado movimento abolicionista, homens como Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e André Rebouças, cuja veemência e intensidade de seus atos, tornariam a escravidão uma instituição intolerável, pois, além da tarefa de conscientização da população, organizavam fugas e rebeliões nas fazendas.

É fácil entender o motivo que levaram a princesa virar o mito libertador. Uma das formas pelas quais a dominação é reproduzida é pela formulação de um consenso em que os subalternos são convencidos do acerto e mérito da superioridade, inclusive intelectual e moral, de seus dominadores. Essa forma de contar a história, cria, seleciona, e utiliza determinados mitos, personagens e versões de fatos, ao mesmo tempo em que oculta outros fatos menos convenientes.

Hoje, sem quase nada de material difundido no sistema educacional do Brasil, com conteúdo que venha fazer valer a Lei 10639/2003, que trata da obrigatoriedade da temática da História e Cultura Afro-Brasileira na rede de ensino, continuaremos contando apenas com a bravura dos professores bem informados e intencionados, que, lutando contra a maré, são figuras das mais importantes no que eu chamo de movimento abolicionista moderno.

O sentimento de tolerância que ainda existe de grande parte dos brancos em relação aos negros, que se institui desde a educação infantil, revela a face mais cruel do racismo. Aquela disfarçada, que não se vê e não se sabe onde está, porém sente-se o cheiro a toda hora.

Grande abraço e muito Axé!

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Assessor Nacional da Pastoral Afrobrasileira

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