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terça-feira, 21 de janeiro de 2025

ENTREVISTA EXCLUSIVA | Marcelino Galo: “Retomar o trabalho de base é essencial para enfrentar os desafios do presente”

Foto: Luiz Fernando Lima/Bnews

Entrevista Exclusiva | Marcelino Galo:
“Retomar o trabalho de base é essencial para
enfrentar os desafios do presente”.



*por Herberson Sonkha



Na tarde desta segunda-feira (20), em Vitória da Conquista, o deputado estadual Marcelino Galo (PT) participou da reunião com lideranças de associações e movimentos sociais e o coordenador do Projeto Cozinha Solidária, Carlos Ribeiro promovido pelo presidente do Movimento Unificado das Associações de Moradores de Bairro (MUDAMVIC), Idelzito Sousa Rocha (Zito). Durante o evento, Galo conversou rapidamente com a redação do Blog do Sonkha sobre os desafios enfrentados pela classe trabalhadora, a importância do fortalecimento das bases populares e as contradições políticas do atual momento histórico. Confira a entrevista completa.

Herberson Sonkha: Ao longo de sua trajetória, o senhor manteve um diálogo constante com os governos de Guilherme Menezes e Zé Raimundo, além de fortalecer laços com os movimentos sociais de Vitória da Conquista. Quais foram os principais desafios e conquistas dessa atuação?  


Marcelino Galo: Trabalhar em parceria com os governos de Guilherme Menezes e Zé Raimundo foi uma experiência enriquecedora. Meu compromisso sempre foi atuar em defesa dos movimentos sociais, buscando fortalecer a democracia e atender às demandas populares. Entre os desafios, destaco o esforço para implementar políticas públicas em uma cidade que precisava avançar em infraestrutura, saúde e educação. No entanto, conseguimos conquistas significativas, como a ampliação de projetos voltados para o campo e o fortalecimento das políticas participativas. Tudo isso foi possível graças ao diálogo constante com os movimentos sociais, que sempre foram protagonistas na construção de uma cidade mais justa e democrática.  


Herberson Sonkha: Deputado, em sua fala, o senhor destacou a importância de retomar o trabalho de base. Por que esse tema é tão urgente atualmente?  


Marcelino Galo: Estamos vivendo um período de profundas contradições. O capitalismo, em crise, busca novas formas de exploração, e a classe trabalhadora enfrenta condições cada vez mais precárias. A organização popular, que foi a base da construção de um partido como o nosso, perdeu parte de sua força nos últimos anos. Precisamos retomar esse trabalho de base para reconstruir um projeto de transformação social. Sem isso, ficamos reféns de um sistema político cada vez mais distante do povo.

No passado, as comunidades eclesiais de base e as pastorais tiveram um papel fundamental. A Igreja Católica organizava o povo politicamente, construindo as condições materiais para uma vida melhor aqui, e não apenas no além. Hoje, vemos outras organizações ocupando esse espaço, mas com objetivos diferentes, como a teologia da prosperidade, que prega o individualismo e a acumulação de riqueza.  


Herberson Sonkha: Qual o impacto dessas mudanças para a classe trabalhadora?  


Marcelino Galo: Um exemplo claro são os entregadores de aplicativos. Eles acreditam ser empreendedores, mas estão se autoexplorando em condições sub-humanas. É uma nova forma de exploração, mais brutal, onde o trabalhador não sabe nem quem é seu patrão. Isso reflete um capitalismo que transforma tudo e todos em mercadoria.

Além disso, estamos enfrentando um Congresso Nacional que é literalmente inimigo do povo. O presidente Lula, apesar de ter sido eleito com grande apoio popular, está praticamente sequestrado por um parlamento que age de forma irresponsável. As emendas parlamentares, que antes eram direcionadas para atender comunidades locais, hoje são usadas como moeda de troca, muitas vezes sem qualquer compromisso com as reais necessidades do povo.


Herberson Sonkha: Marcelino, você tem falado muito sobre a desconexão entre o que as redes sociais colocam em pauta e as reais necessidades da classe trabalhadora. Como avalia esse cenário?  


Marcelino Galo: De fato, a pauta das redes sociais, controlada por algoritmos, muitas vezes está distante das questões que realmente importam. Não interessa ao povo brasileiro saber se Bolsonaro foi ou não convidado por Trump ou qual é o posicionamento do Nicolas. O que importa é como a classe trabalhadora pode superar a encruzilhada em que vivemos hoje.

A solução passa por retomar nossas lutas. Porém, não podemos repetir os erros do passado. No início, as comunidades eclesiais de base, ligadas à Igreja Católica, tiveram um papel fundamental. Essas organizações ajudaram a construir as condições materiais para uma vida melhor na Terra. Naquela época, a Igreja estava preocupada em organizar o povo politicamente, ao contrário do que vemos hoje, com a predominância da teologia da prosperidade.  


Herberson Sonkha: Você mencionou a importância das comunidades eclesiais de base no fortalecimento da luta popular. Como reconstruir essas bases no contexto atual?


Marcelino Galo: É um grande desafio. As comunidades eclesiais de base foram cruciais para criar um partido forte e com participação popular efetiva. Mas, com o tempo, a Igreja Católica abandonou essa postura, e outros movimentos, com objetivos diferentes, ocuparam esse espaço. Agora, precisamos retomar o trabalho de base com novas estratégias, conectando as demandas locais às grandes pautas nacionais.

Um exemplo disso é o articulista do partido Alfredo Neto, da Receita Federal, tem feito em Vitória da Conquista e sua região Rio de Contas. Ele se desdobra diariamente para articular ações que atendam diretamente às necessidades do povo. Contudo, sem uma organização mais orgânica, seus esforços não serão suficientes.  


Herberson Sonkha: No evento de hoje, vimos uma mobilização significativa. Como o senhor avalia o papel de iniciativas como o Projeto Cozinha Solidária?  


Marcelino Galo: Essas iniciativas têm um impacto pedagógico imenso. Não apenas aliviam a fome imediata, mas também constroem consciência crítica. Distribuir sopa é um ato simples, mas que abre espaço para reflexões mais profundas sobre políticas públicas e a luta por direitos.

O objetivo final não é apenas matar a fome hoje, mas garantir condições para que ninguém precise passar por isso no futuro. Para isso, é fundamental que tenhamos mandatos comprometidos com a luta do povo. Um mandato não substitui o trabalho de base, mas pode fortalecer as articulações, garantir diálogo com os órgãos governamentais e direcionar esforços para atender às demandas populares.


Herberson Sonkha: Você vê diferenças entre o cenário político atual e os governos anteriores?  


Marcelino Galo: Sem dúvida. Elegemos Lula e o governador da Bahia, mas enfrentamos um Congresso Nacional que é inimigo do povo. Hoje, vemos emendas parlamentares sendo usadas de forma irresponsável, com deputados do Rio de Janeiro enviando recursos para o Acre, por exemplo. Essa desconexão reflete o distanciamento dos parlamentares das reais necessidades do povo.

Nos governos anteriores, lideranças como Guilherme Menezes, ex-prefeito de Vitória da Conquista, mostraram que é possível governar com seriedade e proximidade com a população. Guilherme sempre apresentou propostas claras, priorizando as demandas locais. Hoje, isso está cada vez mais raro.  


Herberson Sonkha: O senhor acredita que o atual governo estadual pode contribuir para essas mudanças?  


Marcelino Galo: Sim, acredito que o governador tem uma oportunidade única. Ele tem uma trajetória de envolvimento com movimentos sociais, agricultura familiar e a periferia urbana. É alguém que conhece essas lutas porque já esteve nelas. Precisamos cobrar e criar condições para que ele governe com eficiência.

Comparando com os governos anteriores, houve avanços, como os reajustes salariais. Mas ainda enfrentamos desafios graves, como o aumento no preço dos alimentos e dos aluguéis. Isso gera insatisfação. É preciso melhorar a comunicação com o povo, mostrar o que está sendo feito e onde podemos avançar.


Herberson Sonkha: E no âmbito federal? Como o senhor avalia a atual conjuntura?  


Marcelino Galo: Apesar dos avanços com o governo Lula, enfrentamos um Congresso descomprometido com os interesses do povo. Muitos parlamentares foram eleitos com base na exposição nas redes sociais, sem contato direto com a população ou propostas concretas.

A fome, por exemplo, não escolhe partido. Ela exige ações concretas. Precisamos conectar nossas iniciativas locais com programas maiores, como a Comissão Especial de Combate à Fome. Isso inclui fortalecer ações como hortas comunitárias, restaurantes populares e assistência social.


Herberson Sonkha: Qual é a sua mensagem final para os movimentos populares e lideranças presentes aqui hoje?  


Marcelino Galo: O que estamos fazendo aqui hoje é um exemplo de resistência e construção. Precisamos lembrar que governar sem uma base forte e organizada é insuficiente. Não podemos nos acomodar. Para combater o avanço do fascismo, precisamos atuar nos territórios, nos locais de trabalho e nas comunidades.

A luta continua, e ela depende de todos nós. Não apenas de um líder, mas de um trabalho coletivo, diário, que construa condições para um futuro mais justo e solidário.




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Nota Explicativa:

A foto do deputado estadual Marcelino Galo usada na entrevista foi  publicada na matéria "Guilherme Menezes entra no tabuleiro de 2014", do Bnwes de autoria do jornalista Luiz Fernando Lima, refere-se ao primeiro encontro da corrente interna "Movimento PT" na Bahia, realizado em 26 de janeiro de 2013, na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia.

Na ocasião, o nome do prefeito de Vitória da Conquista, Guilherme Menezes, foi apresentado como uma das opções do Partido dos Trabalhadores para integrar a lista de pré-candidatos à sucessão do governador Jaques Wagner.

A imagem escolhida destaca a relação política e ideológica de Marcelino Galo com Guilherme Menezes, evidenciando o papel de ambos no fortalecimento das bases do PT na Bahia e na defesa de projetos voltados ao desenvolvimento social e democrático.


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