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terça-feira, 28 de janeiro de 2025

EDITORIAL | Correios e FENTECT

EDITORIAL: Correios e FENTECT

divergem dialogicamente sobre

fechamento de Agências

Foto: ASCOM/FENTECT
"Essas unidades são fundamentais para fortalecer a relação dos Correios

com seus clientes e evitar o avanço predatório de integradores e AGFs,

que utilizam a malha logística da estatal para lucrar,

muitas vezes em detrimento da própria empresa”


 


*por Herberson Sonkha Revista Governança & Sindicalismo


 


O anúncio do fechamento de 38 agências da rede CEM dos Correios, feito em dezembro de 2024, desencadeou um embate significativo entre a direção da estatal e a Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares (FENTECT). Em reunião realizada no último dia 21 de janeiro, em Brasília, as partes discutiram a decisão, apresentando diagnósticos sólidos e argumentos fundamentados, em um debate que revela os desafios de equilibrar sustentabilidade financeira e interesses estratégicos da empresa com a defesa dos trabalhadores e do patrimônio público.


O contexto do debate

No encontro, realizado no edifício-sede dos Correios, participaram o diretor de pessoas, Getúlio Mourão; o diretor de negócios, Paulo Penha; o diretor de operações, Sandro Alexandre; e o secretário-geral da FENTECT, Emerson Marinho. A reunião foi marcada por apresentações de diagnósticos financeiros detalhados pela gestão da estatal, que justificou o encerramento das atividades das agências sob o argumento de que mais de 50% das unidades listadas não alcançavam níveis mínimos de auto-sustentação econômica.

Segundo a direção dos Correios, as agências apresentavam resultados operacionais deficitários, gerando prejuízos recorrentes e comprometendo os objetivos estratégicos da empresa. A decisão de fechamento foi baseada em análises contábeis e financeiras rigorosas, que priorizaram o princípio da eficiência administrativa e a sustentabilidade da operação.

Por outro lado, a FENTECT se posicionou contra a medida, destacando o papel estratégico dessas agências na fidelização de clientes, prospecção de negócios e fortalecimento da rede própria da estatal. A federação considera o fechamento um erro estratégico, que enfraquece a competitividade dos Correios em um mercado cada vez mais pressionado por integradores privados e AGFs (Agências de Franquia).


A fundamentação econômica e administrativa

A gestão dos Correios argumentou que as agências em questão operavam abaixo de 50% de auto-sustentação, justificando o fechamento com base em princípios de governança pública e eficiência organizacional. Para a empresa, a concentração de recursos em unidades mais produtivas é essencial para melhorar os indicadores econômicos e assegurar a perenidade do negócio.

Entretanto, a FENTECT contestou a análise puramente contábil, trazendo dados que demonstram que algumas das agências listadas ainda apresentavam resultados positivos. Além disso, a federação destacou que o impacto indireto dessas unidades, como a proximidade com os clientes e a geração de novos contratos, não foi adequadamente considerado nos estudos financeiros.

“Essas unidades são fundamentais para fortalecer a relação dos Correios com seus clientes e evitar o avanço predatório de integradores e AGFs, que utilizam a malha logística da estatal para lucrar, muitas vezes em detrimento da própria empresa”, afirmou Emerson Marinho, secretário-geral da FENTECT.


Impactos estratégicos e alternativas propostas

A FENTECT também alertou para o risco de enfraquecimento da rede própria dos Correios diante do avanço de empresas privadas, como a On Log, que já haviam sido denunciadas por práticas predatórias. Nesse contexto, a federação solicitou a prorrogação do fechamento das agências por mais um mês, para que fossem discutidas alternativas viáveis, como reestruturação operacional e redistribuição de recursos.

Embora a gestão dos Correios tenha mantido sua decisão, demonstrou abertura para discutir casos pontuais que necessitem de correção. Essa postura sinaliza um compromisso com a transparência e com o diálogo, valores que devem ser ressaltados em uma gestão pública eficiente.


Acordo entre sustentabilidade e defesa sindical

O embate entre a direção dos Correios e a FENTECT reflete um dilema recorrente em empresas públicas: a necessidade de equilibrar sustentabilidade econômica e eficiência administrativa com a valorização do trabalho humano e a preservação de serviços estratégicos.

De um lado, a gestão apresentou argumentos sólidos, baseados em diagnósticos contábeis e financeiros detalhados, que apontaram a inviabilidade de manter unidades deficitárias. De outro, a FENTECT apresentou uma visão estratégica e social, defendendo a importância dessas agências para o fortalecimento da estatal no longo prazo.


Para avançar nessa discussão, é fundamental considerar:

Análise Multidimensional: Além dos indicadores financeiros, devem ser avaliados os impactos estratégicos e sociais das agências, incluindo a percepção de valor pelos clientes.

Plano de Transição: A criação de um plano que minimize os impactos para trabalhadores/trabalhadoras e clientes é essencial, caso o fechamento das agências seja irreversível.

Inovação e Competitividade: Investir em soluções tecnológicas que aumentem a eficiência e atratividade da rede própria dos Correios é uma medida estratégica urgente.

Diálogo Permanente: Estabelecer um canal de comunicação contínuo entre a gestão e a FENTECT fortalece a governança e a confiança mútua.


Conclusão

A controvérsia em torno do fechamento das agências CEM dos Correios destaca a complexidade de decisões que envolvem empresas públicas. A gestão da estatal demonstrou competência ao fundamentar suas escolhas com base em diagnósticos técnicos e aderentes aos princípios de governança. Por outro lado, a FENTECT desempenhou seu papel de defender os trabalhadores e o fortalecimento da rede própria, apresentando argumentos estratégicos e sociais relevantes.

O desafio, agora, é buscar um equilíbrio que atenda às demandas econômicas da empresa sem comprometer sua missão pública e seu papel estratégico no mercado. A construção desse consenso exige transparência, diálogo e uma visão de longo prazo que valorize tanto a sustentabilidade quanto o patrimônio humano da estatal.


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