Translate

Seguidores

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

As Novas Fronteiras da Luta de Classes



*por Carlos Maia



Uma das questões mais candentes, bastante polêmicas e delicadas, por isso mesmo de urgentíssima necessidade de tratamento o mais rigoroso possível, do ponto de vista do materialismo histórico-dialético, do marxismo propriamente dito, é a questão de como a superestrutura política e ideológica deve ser combatida do ponto de vista estratégico, sem uma ruptura direta com o aspecto político-econômico-estrutural da sociedade do capital. Nunca é demais salientar a importância prioritária e, de principalidade, que o marxismo revolucionário dá a essa questão, quanto ao que nos aparece hoje, do ponto de vista de aprofundamento da crise de exaustão do capital. Não se trata nestes termos de uma inversão de prioridades no tratamento teórico que se deve apresentar daqui por diante nos nossos esforços de análise. É preciso ter claro que ao adentrarmos nos estudos de aspectos conjunturais da cultura e da ideologia presentes, não estamos adentrando numa nova e perigosa seara. Mas sim, dando um tratamento necessário às demandas que o desmantelado, destroçado, fragmentado movimento operário e da juventude, do ponto de vista de uma luta política e social contra a burguesia e o seu respectivo poder político de Estado, em todas suas instâncias e territorialidades, é que, faz-se mais necessário ainda, uma breve atualização do nosso foco de análise, quanto ao que se refere ao prisma enfrentado pelos trabalhadores, pelo menos do processo de implantação da chamada reestruturação produtiva até os dias de hoje. Enfim, foi preciso que se passasse quarenta (40) longos anos para que uma nova geração de combatentes pudesse ser formada e de certa forma devidamente estruturada em novos embriões organizativos de enfrentamentos com as forças do capital.

Tentar dar corpo a esses embriões, que ora pululam os espaços sociais mais diferenciados possíveis, é urgente e se constitui na tarefa mais importante de toda militância revolucionária no atual momento. Esse movimento todo por onde pede passagem e se locomovem os trabalhadores e a juventude, vai desde articulações pela diminuição da jornada de trabalho ao estabelecimento de escritores, poetas, músicos e artistas em geral, que de uma maneira bastante difícil, tentam dar razão aos seus anseios e perspectivas de vida, enfrentando aí dificuldades financeiras e uma total falta de interesse dos poderes públicos constituídos, para uma completa inserção cultural e um desenvolvimento profícuo e rico, desempenhados até aqui por uma nova vanguarda de “intelectuais orgânicos” e artistas jovens e talentosos, que são muitas vezes desconhecidos por não habitarem o mercado editorial brasileiro, interessado na maioria das vezes em publicações de auto ajuda e de lixo intelectual diverso que ao invés de construir um pensamento crítico, dialético e de elevado degustar ético-estético, trabalham no sentido da reprodução ideológica de padrões burgueses de vida e reprodução de um pensar baseado nos velhos chavões do senso comum.

A superestrutura que se ergue em cima de uma determinada estrutura política e social, obedece também ao desenvolvimento das leis em que se expressam o movimento das classes e de suas referidas lutas de classe, bem como dos mais íntimos instintos do psiquismo individual para uma arrumação do pensamento de uma práxis que, na maioria das vezes, reagem de forma construtiva e/ou ao mesmo tempo destrutiva, quanto à colocação em evidência de parâmetros e interesses bastante contraditores, e, até mesmo excludentes, devido aos rompantes ideológicos em questão. No que se refere, portanto, aos anseios e até mesmo aos desejos mais sublimes da alma humana que são devidamente esquecidos e/ou deformados pelos diversos agentes do capital e de seu Estado. Nesse sentido, não é nada demais ter por princípio a defesa em toda a sua plenitude de um mundo verdadeiramente humano, e, a história só foi capaz de conceber, mesmo por um curto período, devidamente enquadrado num interregno político-social que repôs através de um retrocesso histórico jamais visto por todo o transcorrer do século XX até os dias de hoje, à ação contrarrevolucionária em uma combinação de traições e deformações de um processo que se estabeleceu, por poucos anos, tentativas em se estabelecer a verdadeira sociedade de cunho socialista-comunista. Nunca é demais afirmar que a luta da burguesia para impor a sua supremacia e domínio no mundo, a luta contra o modo de produção e formação social feudal, decorreu por um período de seiscentos (600) anos, período de vitórias e derrotas, ações e acordo políticos na cala da noite, para se constituir definitivamente em classe dominante.

Há assim um curto processo de tentativa de se alcançar estrategicamente a meta de um novo mundo. Por mais que se digam e afirmam que as condições objetivas e subjetivas para se alcançar esta meta já se encontravam amadurecidas, o fato real e verdadeiro, por “n” motivos, é de que não se configurou de maneira duradoura, TODAS, as experiências até aqui apresentadas em diferentes lugares do globo. Os processos revolucionários foram revocados e/ou dissipados pela ação da contrarrevolução das ações e iniciativas da burguesia no campo da luta de classes e da repressão brutal dos seus referidos Estados beligerantes, patrocinadores do fascismo e do nazismo, bem como de várias iniciativas de igual monta que foram capazes de dizimar as principais lideranças do movimento operário organizado pelo mundo e, além do mais, tratou a burguesia, ora de dizimar ainda uma parcela significativa da intelectualidade proliferadora da teoria marxista, ora tratou de cooptar os principais quadros políticos-ideológicos para compor com eles uma novo e eficiente Estado político e social, através de uma atração bem remunerada de burocratas e arrivistas-chauvinistas espalhados por todo o tecido estatal, político e militar.

Mas, convém observar ainda que ao contraponto do marasmo em que se encontra o movimento operário sindical, aparece na conjuntura ainda de forma tímida e dispersa, novos elementos e/ou vetores culturais buscando aí espaço para o desenvolvimento de uma proposta e um projeto alternativo ao capital e o seu Estado em todas as suas dimensões estruturais e superestruturais. Esse referido movimento apresenta-se na forma de pequenos círculos de discussões políticas e culturais, que extrapolam às tentativas de cooptações de diversos agrupamentos políticos partidários e/ou de orientação sindical. Este é antes e acima de tudo um movimento vivo e pulsante que requer de nós todos o apoio, e, principalmente, de uma capacidade e iniciativa para o ouvir, antes de se ir vomitar discursos e verborreias tão ao gosto dos manipuladores da reforma do movimento sindical e popular viciado que não escutam às bases e querem de toda forma tripudiar passando por cima das instâncias criadas pelo próprio movimento, contribuindo assim para uma descostura de novas formas de articulação e luta, jogando na dispersão para não se falar de um aborto prematuro de instâncias que se bem conduzidas, se bem respeitadas podem muito contribuir para a educação de novas organizações e coletivos verdadeiramente comprometidos com o desejo de um mundo novo, humano e socialista/comunista.

O revisionismo, o reformismo e as políticas de combate direto burguesas, em especial o populismo e o nazifascismo, ainda possuem bastante influência na sociedade capitalista contemporânea, tanto na esfera produtiva, econômica e estrutural (o neoliberalismo e a socialdemocracia), quanto à esfera da superestrutura, no que se refere aí, às leis, o direito, à justiça e à toda espécie de ação institucionalizada do aparelho de Estado, servidor de uma prática eminentemente ideológica que, entretanto, não se descola da lógica do lucro, do valor de troca e de toda espécie de fetichismo mercadológico que o aparelho burocrático militar mantém de forma intocável e só a influência direta de uma gama de serviçais da cultura, da música, da literatura e das artes como um todo. Aqui também, um novo movimento cultural emergente já nasce questionando, de maneira incipiente de fato, mas, bastante significativo quanto à sua pretensão de se colocar enquanto uma pedra no sapato, ou seja, no caminho daqueles que insistem em se portar de forma manipulatória na defesa dos interesses não dos trabalhadores, da juventude e daqueles aquém a sensibilidade artística e cultural transborda, no contraponto de uma perspectiva verdadeiramente transformadora e sim, numa perspectiva de domesticação do movimento.   

A cultura abarca todo o tipo de manifestação artística, literária, como também todo tipo folclórico do nosso povo; onde se queira apresentar-se, enquanto alternativa de resistência à ordem política e ideológica da burguesia. Por isso, ela não pode ser vista e representada por um punhado de vendilhões do saber. Ela, nesse sentido, ancora-se no porto seguro da ciência marxista para a partir daí, projetar-se em voos mais longos possíveis, na tentativa de alçar, cada vez mais, à finitude do ser e do conhecimento filosófico, por onde se apresenta homens e mulheres e toda espécie de gênero e orientação sexual ou mesmo de etnias e cor de pele diferenciadas, composta da maioria da população explorada e oprimida. A todos estes é que devemos reverenciar e traduzir de forma poética, lírica e dramática às aspirações mais que merecidas de nosso povo, sem perder o horizonte do Eu profundo de cada um de nós, no estilo e no traço marcante da personalidade e das contradições próprias da espécie do homo sapiens, no seu atual estágio de evolução.        



Carlos Maia Janeiro/2025


0 comments :

Postar um comentário

Buscar neste blog

por autor(a)

Arquivo

Inscreva seu e-mail e receba nossas atualizações: