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EDITORIAL | "Me faça uma garapa"
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Foto: Jornal da Chapada |
EDITORIAL | "Me faça uma garapa":
O vexame açucarado dos Ricardos
na capitulação à extrema-direita
*por Herberson Sonkha Ethos & Princípio Ideológico Partidário
A política brasileira nunca decepciona quando se trata de produções tragicômicas. O mais novo episódio controverso da política conquistense tem como protagonista o vereador Ricardo Gordo (PSB), que, mal esquentou a cadeira na Câmara Municipal de Vitória da Conquista, já tratou de mostrar a que veio: romper com princípios progressistas e alinhar-se estrategicamente à extrema-direita. Em um momento de justificativa forçada e insustentável na Rádio 107 FM, ele tentou explicar sua decisão de votar no bolsonarista radical Ivan Cordeiro (PL) para a presidência da Casa. O argumento? Algo entre erro de avaliação e uma tentativa de distorção conveniente dos fatos.
Com uma segurança absurda na própria incoerência, Ricardo Gordo resolveu criar sua própria versão dos acontecimentos e, em rede pública, lançou uma pérola de cinismo:
"Você viu alguma confusão em Brasília na eleição da presidência e vice-presidência da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados? O PT, PCdoB e PSB votaram no presidente por consenso e não houve tumulto, divergência ou disputa como ocorreu aqui em Vitória da Conquista."
Pronto. É oficial. A extrema-direita encontrou um novo aliado inesperado. A declaração, que poderia ser apenas fruto de um mal-entendido, é, na verdade, uma tentativa de distorção da realidade. A diferença entre os dois contextos é tão gritante que qualquer analfabeto político com um mínimo de vergonha na cara evitaria tal comparação. Em Brasília, a composição para a presidência da Câmara foi um movimento pragmático para evitar que setores ainda mais reacionários controlassem a pauta legislativa e impusessem retrocessos inegociáveis ao governo. Além disso, não houve consenso total na esquerda: o PSOL, por exemplo, lançou candidatura própria e obteve 22 votos. Mas, claro, Ricardo Gordo resolveu ignorar esse pequeno detalhe porque a verdade, aparentemente, não cabe no seu projeto pessoal de subserviência.
Mas por que parar na distorção dos fatos quando se pode também atuar ativamente na normalização da extrema-direita? O vereador, que até ontem posava de progressista, já começou seu mandato se comportando como um típico quadro bolsonarista, daqueles que, com um sorriso cínico e um microfone na mão, transformam mentiras em "narrativas", manipulações em "argumentos" e falta de firmeza na defesa dos princípios progressistas em "pragmatismo".
O que temos aqui é mais do que um simples erro tático ou um momento infeliz de alienação. Trata-se de um caso clássico de adesão servil ao projeto autoritário da extrema-direita, travestida de estratégia política. E pior: feita de maneira tão desajeitada que nem mesmo os bolsonaristas mais experientes conseguiriam segurar o riso. O que Ricardo Gordo está promovendo não é apenas um vexame público, mas uma confissão aberta de que sua atuação parlamentar será marcada pela falta de firmeza, pelo oportunismo e pela falta de qualquer compromisso real com os valores progressistas que supostamente deveria representar.
Antonio Gramsci alertava que a disputa política é, antes de tudo, uma batalha pela hegemonia cultural. Ricardo Gordo, ao que tudo indica, decidiu militar na trincheira inimiga, não porque tenha uma convicção ideológica consolidada, mas porque é mais fácil – e talvez mais lucrativo – vender-se do que resistir. O que ele não percebe é que, na lógica dos que ele agora bajula, vira-casacas nunca são realmente aceitos; são apenas usados e descartados quando deixam de ser úteis.
Se há algo de positivo nesse espetáculo vergonhoso, é que, pelo menos, agora ninguém mais tem dúvidas sobre quem é Ricardo Gordo. Ele é a prova viva de que, na política, sempre há aqueles dispostos a abandonar sua coerência em troca de um cargo, de um favor ou de um microfone aberto em uma rádio qualquer.
Se este é o começo do mandato, preparem-se. O espetáculo da política conquistense promete cenas dignas de análise crítica. Em resposta ao que ele mesmo afirmou: "Nos faça uma garapa, você!".
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