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EDITORIAL | O PSDB abriu a “Caixa de Pandora” e a consequência foi a autodestruição
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Foto: Veja |
A icônica foto de Lula e Fernando Henrique Cardoso juntos, tirada em 1978, registra um momento histórico da política brasileira. Ao fundo, um cartaz estampava o slogan: “O Brasil para o povo. Para Senador, Fernando Henrique”, em referência à candidatura de FHC pelo MDB. Em 5 de novembro de 2022, a revista Veja publicou uma matéria assinada pelo jornalista Hugo Marques, intitulada “Para o regime militar, FHC foi um dos principais criadores do PT”. A reportagem revela que documentos do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) indicavam que a ditadura militar monitorava de perto os encontros entre Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva nas décadas de 1970 e 1980.
O SNI via FHC como um articulador fundamental na criação do Partido dos Trabalhadores (PT), formado por intelectuais e sindicalistas. O regime temia o crescimento da organização política da classe trabalhadora e a aliança entre setores da academia e do movimento sindical. Esse monitoramento ilustra a vigilância imposta pelo regime aos que se opunham ao autoritarismo, além de evidenciar o papel de Lula e FHC na reconfiguração do cenário político brasileiro.
*por Herberson Sonkha
Programa de Governo & Fascismo e Autodestruição
Os gregos usavam a metáfora da "Caixa de Pandora" para ilustrar ações negativas com consequências irreversíveis. No Brasil, o PSDB abriu caminho para a extrema-direita, liberando os males que recaíram inexoravelmente sobre a população periférica. Enquanto Lula se tornou um grande estadista socialdemocrata reconhecido por gregos e troianos e o PT foi vítima consciente (Sabia do risco?!) do golpe do monstro neofascista que o PSDB ajudou a criar, FHC, como péssimo presidente, mas excelente CEO neoliberal que afundou o país. O PSDB de Aécio e Serra apodreceu e vai virar carcaça para alimentar as aves de rapina, talvez do mesmo MDB de sempre.
No Brasil, o PSDB abriu as portas para a extrema-direita, liberando os males que recaíram única e destrutivamente sobre a população brasileira periferizada, especialmente sobre a classe trabalhadora, mulheres, negros, indígenas, quilombolas e a comunidade LGBTQIAP+.
O partido selou sua própria destruição ao abandonar seu projeto original de socialdemocracia e se alinhar a agendas neoliberais, privatistas e conservadoras. Fundado no processo de redemocratização como uma alternativa progressista à polarização entre PT e PFL, o PSDB tornou-se refém de suas próprias contradições internas e do fisiologismo político.
Sua guinada ao neoliberalismo, a falta de renovação e o afastamento das bases populares aceleraram sua decadência. Em meio à ascensão de novos atores políticos e à reconfiguração das forças econômicas e sociais, os tucanos perderam relevância, culminando na inevitável fusão que agora sela seu fim.
Este editorial analisa, sob as lentes da história, sociologia, economia e ciência política, os erros estratégicos que levaram ao desaparecimento de um dos partidos mais influentes do Brasil.
Jornadas de Junho de 2013 e a desestabilização política do país
O ano era 2014. O país ainda sentia os efeitos das Jornadas de Junho de 2013, que provocaram uma intensa movimentação no cenário nacional. Estudantes, professores, artistas, profissionais liberais e setores populares tomaram as ruas com pautas como a redução da tarifa do transporte público, melhorias na saúde e educação e uma revolta generalizada contra a corrupção nas instituições públicas. As manifestações ganharam proporções gigantescas, atingindo capitais e cidades de médio porte e pautando tanto a imprensa nacional quanto internacional.
Diferente das mobilizações tradicionais da esquerda, as Jornadas de Junho não foram organizadas ou lideradas por entidades históricas como UNE, CUT, MST, FUP, ANDES ou outros movimentos de matriz socialista. Partidos políticos foram rechaçados, hostilizados e impedidos de circular nas manifestações. Pela primeira vez, desde a reabertura política do país (1985-2013), viu-se um nível de radicalidade tomando conta das massas enfurecidas. Jovens mascarados, coquetéis molotov, ataques a holdings e corporações privadas, principalmente bancos, sinalizavam um confronto direto com o capital. Nenhuma instituição pública foi alvo de depredação, deixando evidente o caráter anticapitalista das manifestações.
A repressão policial foi brutal. Tropas especiais da Polícia Militar, armadas com gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha, transformaram as ruas em verdadeiros campos de batalha. As cenas lembravam um estado de guerra civil nunca antes visto no Brasil. As manifestações marcavam a retomada das mobilizações de massa, mais intensas, mais politizadas e mais combativas contra o capital e suas instituições.
Embora as Jornadas de Junho tenham sido comparadas, por alguns desavisados, ao movimento "Caras-Pintadas" do início dos anos 1990, que exigiu o impeachment de Collor, a diferença era gritante. O movimento estudantil da UNE e UBES na década de 1990 jamais alcançou o nível de radicalidade e abrangência das manifestações de 2013.
O governo Dilma Rousseff, acuado, tentou abrir canais de diálogo, mas teve dificuldades em compreender a natureza do movimento. Apesar de haver um elemento de luta de classes presente, essa não era a corrente predominante. Alguns movimentos organizados, como Correnteza, Rebele-se, PCR, PSOL, PCB e outros, participaram ativamente, mas sem liderança sobre as manifestações.
Havia algo novo e desafiador: a organização acontecia pelas redes sociais. Mobilizações surgiam espontaneamente na internet, sem necessidade de uma direção política tradicional. Convocações pipocavam no Facebook, Twitter e WhatsApp, e milhares de pessoas aderiam aos atos apenas aparecendo nas ruas com cartazes contra o governo, empresas privadas e instituições políticas (Executivo, Legislativo e Judiciário). Pegos de surpresa, partidos e movimentos de esquerda institucionalizados ficaram atônitos, sem saber como disputar a direção do movimento.
A criminalização da esquerda e a ascensão da extrema-direita
A grande mídia, controlada pelo capital, interpretou os protestos à sua maneira. A Rede Globo, referência para as demais emissoras e veículos de comunicação do país, tratou os ataques ao setor privado – especialmente aos bancos – como vandalismo. Essa narrativa teve um objetivo estratégico: criminalizar forças revolucionárias e deslegitimar qualquer tentativa de direcionar o movimento para uma luta anticapitalista.
Houve dois movimentos simultâneos de criminalização:
1. Pela grande mídia: A imprensa capitalista atacou as manifestações como vandalismo, impedindo que a esquerda revolucionária tivesse espaço para disputar sua narrativa.
2. Pela própria esquerda institucionalizada: Partidos como PT e PCdoB, temendo que o movimento radicalizasse contra o governo Dilma e contra o capitalismo, passaram a condenar as forças de esquerda radical, ajudando a isolar setores mais combativos.
Esses movimentos serviram como cortina de fumaça para encobrir um projeto ainda mais perigoso: a retomada da extrema-direita no Brasil. Inspirada na ascensão do neofascismo na Europa e nos Estados Unidos, a direita brasileira contou com financiamento estrangeiro. Dólares da CIA fluíram para organizações reacionárias, garantindo o controle da narrativa nas redes sociais e fortalecendo as bases do que viria a ser o bolsonarismo.
O PSDB e o Ovo da Serpente
Nas eleições de 2014, o PSDB teve um papel central no avanço da extrema-direita. O partido polarizou o país entre duas forças historicamente antagônicas: o capitalismo imperialista em sua versão nazifascista e a classe trabalhadora organizada.
Aécio Neves, herdeiro político de Tancredo Neves, encarnou essa virada reacionária. Embora seu avô tenha sido um dos articuladores da Constituição de 1988, Aécio representava o pior do neoliberalismo tucano.
O PSDB já havia afundado o país nos governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), impondo privatizações escandalosas, reformas trabalhistas e previdenciárias que destruíram direitos e abriram caminho para o avanço do grande capital sobre a economia nacional. Sob a justificativa de "modernizar" o Brasil, o partido desmontou sindicatos, precarizou o trabalho e vendeu estatais a preço de banana. O resultado foi uma explosão da desigualdade, do desemprego e da violência urbana e rural.
O golpe de 2016, articulado com o apoio tucano, foi a culminação desse processo. O PSDB serviu como a parteira do neofascismo no Brasil. O partido abriu as portas da frente, estendeu o tapete azul e entregou o Palácio do Planalto à extrema-direita, conspirando contra o Estado Democrático de Direito.
Entretanto, ao flertar com o fascismo, os tucanos selaram sua própria destruição. Foram engolidos pelo monstro que ajudaram a criar. A fusão partidária que agora dissolve o PSDB é apenas o desfecho lógico de um partido que, ao abandonar suas bases e sua identidade, tornou-se irrelevante.
O PSDB abriu a "Caixa de Pandora", mas o preço foi sua própria extinção.
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