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EDITORIAL I Em 1982 nascia o Partido dos Trabalhadores em Vitória da Conquista
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Imagem: Instagram do PT de Conquista / Eleições 2024 |
"O PT em Vitória da Conquista nasceu nesse contexto, impulsionado pela luta da classe trabalhadora urbana e camponesa, principalmente a luta sindical dos catadores e das catadoras de café em meados da década de 1970, mas também pela participação de homens, mulheres e juventude intelectuais, artistas, militantes e religiosos progressistas."
Comemoração dos 45 Anos de PT:
A história do partido que reconfigurou o Brasil
*por Herberson Sonkha
Por ocasião dos 45 anos do Partido dos Trabalhadores, um dos mais antigos militantes históricos do PT, o camarada Júlio Oliveira, irmão de Hildebrando e Melquiades Oliveira, ambos fundadores do partido, me encaminhou um fragmento do livro de Carlos Maia intitulado “Memórias de Militante Socialista”, publicação de 20021, um belíssimo fragmento dessa obra. Depois disso, escrever seria apenas uma consequência dessa necessidade de registro sobre a trajetória desse partido que fez história no município.
Quando o Partido dos Trabalhadores (PT) foi fundado em 10 de fevereiro de 1980, o Brasil ainda vivia sob as sombras da ditadura militar. Eram tempos de chumbo, de censura e perseguições, mas também de resistência. O PT surgiu não apenas como uma legenda, mas como um fenômeno político e social inédito, forjado na interseção entre o operariado urbano, os camponeses sem terra, os intelectuais progressistas, os movimentos populares, as comunidades eclesiais de base e a juventude revolucionária.
Quatro décadas e meia depois, a trajetória do partido se confunde com a história contemporânea do Brasil, marcada por ascensões, quedas, embates e transformações que alteraram os contornos da política nacional. Desde seu primeiro desafio eleitoral até a conquista da Presidência da República, o PT se consolidou como o maior partido de massas da América Latina. No entanto, sua força política não reside apenas no cenário nacional. O municipalismo sempre foi um de seus pilares, e em Vitória da Conquista, essa estratégia resultou em uma experiência de governo que se tornou referência no estado da Bahia e no Brasil.
O nascimento do PT e a luta popular no município
O Estado e a União são abstrações: ninguém mora neles. A vida real acontece nos municípios. É nas cidades que os problemas sociais são sentidos de forma concreta, onde as mazelas criadas pelas desigualdades sob a égide do sistema capitalista se manifestam com mais intensidade. A luta política se dá no cotidiano das pessoas, e a disputa pelo poder não ocorre apenas nas grandes instâncias institucionais, mas também nos bairros, nas periferias e nas zonas rurais.
O PT em Vitória da Conquista nasceu nesse contexto, impulsionado pela luta da classe trabalhadora urbana e camponesa, principalmente a luta sindical dos catadores e das catadoras de café em meados da década de 1970, mas também pela participação de homens, mulheres e juventude intelectuais, artistas, militantes e religiosos progressistas. O partido se estruturou de baixo para cima, com base na organização popular e no enfrentamento das estruturas de poder dominadas pelo carlismo. Como todo nascimento, esse processo foi doloroso e desafiador. Como afirmam as mulheres, que detêm vasto e inquestionável conhecimento sobre o parto, nenhum nascimento é fácil - e o mesmo se aplica a um partido que ousou representar a classe operária, enfrentar a exploração de classe e combater o preconceito racial e de gênero.
O PT não se constituiu como um partido tradicional, mas como um instrumento de organização política autônoma da classe trabalhadora. Como descreve Carlos Maia (2001, p. 08) em "Memórias de um Militante Socialista":
“A contradição entre a forma legal de organização e a dinâmica do movimento operário, sindical e popular tendia a romper os marcos impostos. O PT se inseria no campo das lutas do movimento popular, por visar organizar-se de forma autônoma e politicamente os trabalhadores.” (MAIA, 2001, p.8)
A partir dessa concepção, o partido não apenas ocupou o espaço eleitoral, mas se enraizou na sociedade local, tornando-se referência em organização popular e disputa política.
A legalização do PT na cidade foi um processo marcado por intensa mobilização. Como aponta Carlos Maia (2001), o partido foi construído por meio de campanhas de filiação tanto na zona urbana quanto na rural, envolvendo trabalhadores, militantes históricos, intelectuais e lideranças comunitárias.
Com afirma Maia, gente como Carlos Jeohvah, Ires Nery do Prado (Ziu), Melquíades Oliveira, Almir Pereira, Eduardo Meira de Araújo, Paulo César Brito (ex-integrante de grupo combatente), Nicanor Dutra, Carlos Medeiros, William Barreto (também ex-militante de grupo combatente), além de Railda, Edinaldo, Inês, Durval (Duzinho), Robério, Lau, Antônio Santa Bárbara, Dó do Saquinho, Vivaldo, Herculano, Edinilton e Paulo Salgado, entre outros, participaram ativamente desse processo que alcança mais de 500 filiados, viabilizando a legalização do partido e garantindo a sua estreia nas eleições municipais de 1982.
Ainda em estruturação, o PT optou por disputar as eleições de 1982 (2001, p.8), mesmo sem grandes expectativas de vitória, entendendo que participar do processo eleitoral era fundamental para consolidar sua construção política. Naquele pleito, José Novaes foi lançado como candidato a vice-governador da Bahia, e Carlos Oliveira disputou uma vaga para deputado estadual.
Em Vitória da Conquista, Rui Medeiros concorreu à prefeitura, enquanto os candidatos a vereador foram Hildebrando Oliveira, Carlos Medeiros e Carlos Maia. Ainda sem grande aparato político, o partido não conseguiu eleger seus representantes, mas deu o primeiro passo para construir uma alternativa política ao carlismo e fortalecer sua presença nos movimentos sociais.
A primeira eleição do PT na cidade representou o início de um longo processo de enraizamento político e social. Com o tempo, o partido ampliou sua atuação, consolidando-se como protagonista da política local, especialmente durante os mandatos petistas na prefeitura, que transformaram Vitória da Conquista em um modelo de administração progressista.
O PT no governo e o enfrentamento ao Carlismo
A chegada do PT à prefeitura de Vitória da Conquista rompeu décadas de hegemonia do carlismo e inaugurou um novo ciclo de governo, pautado na participação popular e na ampliação das políticas sociais. A administração petista na cidade se destacou por investimentos em educação, saúde, transporte público, cultura e infraestrutura, fortalecendo uma concepção de gestão pública voltada para os interesses da classe trabalhadora.
Assim como ocorreu em nível nacional, os governos petistas na cidade enfrentaram resistência das elites políticas e econômicas, que viam na experiência de Vitória da Conquista um risco à manutenção de seus privilégios. No entanto, a política do PT se consolidou justamente por estar enraizada nas lutas populares e por apresentar resultados concretos na vida da população.
O futuro do PT: Entre o legado e os desafios do século XXI
O PT chega a 2025 com um legado inegável, mas também com desafios imensos. O avanço da extrema-direita, a crise climática, as transformações no mundo do trabalho e as novas tecnologias exigem adaptação e inovação. A resistência não basta: é preciso aprofundar a organização popular, fortalecer a democracia participativa e radicalizar a luta por justiça social.
Se há algo que a história do PT ensina, é que nenhum obstáculo foi grande o suficiente para impedir seu avanço. Forjado na luta e no sonho de um Brasil mais justo, o partido completa 45 anos com a mesma convicção que o fundou: a certeza de que um outro mundo é possível e que ele começa nos municípios, nas comunidades, na organização da classe trabalhadora.
Vitória da Conquista segue sendo um símbolo dessa luta. E o PT, se quiser continuar a transformar a cidade e o Brasil, precisa se reinventar sem perder sua essência, mantendo-se fiel às bandeiras que fizeram dele o maior partido de massas da América Latina.
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