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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

DO SONHO À REALIDADE - Como a Feira de Produtos Orgânicos surgiu e se consolidou na UESB

Foto: Ferdinand Martins

“A nova estrutura da Feira Agroecológica no campus da UESB de Vitória da Conquista está quase prontapara a inauguração, que acontecerá oficialmente no dia 21 de fevereiro de 2025.”

 


EXCLUSIVO: Ferdinand Martins revela os desafios e conquistas da Feira Agroecológica da UESB.



*por Herberson Sonkha

 


Em entrevista exclusiva ao editor do Blog do Sonkha, Herberson Sonkha, o bacharel em direito, físico, professor da Uesb, pequeno produtor e feirante da Feira Agroecológica da UESB, Ferdinand Martins, compartilha a trajetória do projeto desde sua criação, em 2017, por jovens ligados à agroecologia, como Sérgio Trindade e Elisa Pirro. Inicialmente instalada em frente ao Lomantão, a Feira passou por diferentes locais até retornar à origem, agora sob o nome Ponto de Encontro.

Com o apoio da Reitoria da UESB e uma Emenda Parlamentar do deputado Hilton Coelho (PSOL-BA), o evento se consolidou como uma alternativa de consumo saudável e sustentável. A Feira, que será oficialmente inaugurada em 21 de fevereiro de 2025, oferece produtos agroecológicos e artesanais, como mel, café, cosméticos naturais, temperos e lanches artesanais, além de atividades culturais e palestras educativas. Seu público é composto por docentes, servidores, estudantes e transeuntes, criando uma conexão direta entre a universidade e a comunidade local.

A Feira se posiciona como um contraponto à alimentação industrializada, promovendo a economia solidária e a educação sobre os impactos da produção convencional. Parcerias com o IFBA de Vitória da Conquista e outras instituições da Bahia ampliam o alcance da Feira, fortalecendo a agricultura familiar e o consumo responsável.

Com o apoio de recursos públicos e participação ativa dos produtores locais, a Feira Agroecológica da UESB se torna um modelo de desenvolvimento sustentável em Vitória da Conquista.

Na entrevista, Martins detalha o impacto da feira na comunidade, os obstáculos enfrentados e os planos para o futuro.


Herberson Sonkha: Como surgiu a ideia de criar a Feira de Produtos Orgânicos?


Ferdinand Martins: No início de 2017, conheci um grupo de jovens chamado NUPEBEM, entre eles Sérgio Trindade e Elisa Pirro, que desenvolvia práticas ligadas à agroecologia em uma pequena área situada no Parque Imperial. A partir desse contato, surgiu a iniciativa de realizar a primeira edição da Feira no espaço em frente ao Lomantão, da qual participei juntamente com outros colegas, como Generosa, responsável pelo setor de apicultura da UESB.

Posteriormente, a Feira passou a ocorrer na Praça do Gil, fixando-se por um longo período na Praça da Normal. Atualmente, voltou ao espaço em frente ao Lomantão, onde tudo começou. O evento recebeu o nome atual de PONTO DE ENCONTRO.

Em 2012, havíamos adquirido um pequeno sítio na Chapada Diamantina e começamos a cultivar algumas culturas seguindo o modelo agroecológico. A partir disso, passamos a integrar a Feira não apenas como feirantes, mas também como incentivadores e organizadores. O passo seguinte foi a criação da FEIRA AGROECOLÓGICA DA UESB, que descrevo a seguir.


Sobre a criação da Feira Agroecológica da UESB

Baseando-se na experiência anterior, Generosa e eu propusemos levar a ideia da Feira para o interior da UESB, em 2018. Contamos com o apoio da Reitoria da época, que viabilizou o espaço físico e o empréstimo de alguns toldos. Assim, a FEIRA AGROECOLÓGICA DA UESB começou a funcionar com a participação de boa parte dos feirantes do PONTO DE ENCONTRO, além de outros convidados.

Em 2019, decidimos concorrer a um Edital de Extensão para transformar a FEIRA AGROECOLÓGICA em um Projeto de Extensão da UESB. Fomos contemplados, mas o edital não previa recursos financeiros. Isso, por um lado, dificultou o avanço e a melhoria do projeto, mas, por outro, nos motivou a continuar buscando parcerias para consolidá-lo.


Herberson Sonkha: Quais foram os principais desafios enfrentados no início da Feira?


Ferdinand Martins: Conforme disse antes, os desafios foram grandes, mas não suficientes para impedir a realização do projeto. A existência da Feira Ponto de Encontro foi fundamental para reunir os feirantes — principalmente pequenos produtores familiares e artesãos — que enxergaram na Feira Agroecológica da UESB mais uma oportunidade de exposição e comercialização de seus produtos.

Um dos principais desafios foi garantir uma infraestrutura adequada ao projeto. Além do espaço físico e dos toldos, era necessário disponibilizar mesas e utensílios para a exposição dos produtos. Esse problema foi resolvido porque os próprios feirantes já possuíam esses materiais e os levavam no dia da feira.

Outros desafios, como a divulgação, o apoio logístico e a organização do espaço, foram solucionados por meio da atuação conjunta entre a Coordenação e o grupo de feirantes.


Herberson Sonkha: Quem foram os primeiros parceiros e produtores que ajudaram a viabilizar o projeto?


Ferdinand Martins: Como mencionado anteriormente, a administração da universidade, os feirantes da Feira Ponto de Encontro e os novos integrantes que se uniram ao grupo foram os pioneiros na viabilização do projeto.


Herberson Sonkha: Como a Feira se consolidou ao longo do tempo e qual foi a reação da comunidade?


Ferdinand Martins: Os dois primeiros anos de funcionamento da Feira (2018 e 2019) foram um verdadeiro teste de fogo para demonstrar sua viabilidade e consolidação, o que ocorreu de forma surpreendente, dada a receptividade da comunidade universitária.

Sem receio de equívoco, podemos afirmar que docentes, funcionários, discentes e demais frequentadores da UESB enxergaram na Feira não apenas um local para adquirir produtos livres de agrotóxicos e de origem conhecida, mas também um espaço de convivência dentro da universidade, que carecia de ambientes como esse.

No entanto, em 2020, a pandemia da COVID-19 impactou diversos setores da sociedade, e a Feira não foi exceção. O retorno ocorreu no final de 2021, com grande força, e desde então o projeto tem avançado em sua expansão e consolidação.

Por meio de uma parceria com o Instituto Social Vivendo e Aprendendo (ISVA), coordenado por Inez Andrade, conseguimos a doação de aproximadamente 20 barracas da Agricultura Familiar, incorporando-as ao patrimônio da Feira e proporcionando uma nova dinâmica ao projeto.

Outro marco importante foi que, a partir de 2022, a Feira passou a contar com recursos provenientes de Editais de Extensão e de uma Emenda Parlamentar do deputado Hilton Coelho (PSOL-BA). Esses recursos permitiram a seleção de bolsistas e a aquisição de materiais como sacolas ecológicas, sacos de papel, faixas e um toldo de tamanho suficiente para abrigar todas as barracas.


Herberson Sonkha: A Feira atualmente acontece em frente ao Módulo Luizão ou foi transferida para outro local? Como será a nova estrutura que irá recebê-la?


Ferdinand Martins: Desde sua implantação em 2018, a Feira Agroecológica da UESB tem funcionado em frente ao Módulo Luizão, próximo ao Almoxarifado da universidade. Embora seja um local centralizado e com grande fluxo de pessoas, sempre soubemos que essa era uma estrutura provisória e que seria necessário buscar um espaço definitivo para a Feira.

Nesse sentido, iniciamos um diálogo com a administração da universidade em meados do ano passado, com o objetivo de definir um local permanente. Em comum acordo, identificamos um espaço próximo ao Restaurante Universitário, que foi preparado especialmente para receber a nova estrutura. Esse local contará com a instalação de um toldo fixo, além das barracas já existentes e da perspectiva de aquisição de novas unidades, possibilitando a ampliação do número de feirantes.


Herberson Sonkha: O que essa mudança representa para os feirantes, consumidores e para o fortalecimento da agricultura orgânica na região?


Ferdinand Martins: Acreditamos que essa mudança fortalece o projeto da Feira, pois a nova estrutura contará com um toldo fixo e permanente, evitando a necessidade de remoção da cobertura, como ocorria anteriormente, quando utilizávamos toldos compartilhados da universidade.

Para os consumidores, a existência de um espaço estruturado, onde podem encontrar uma ampla variedade de produtos livres de agrotóxicos, representa um grande avanço. Essa melhoria contribui diretamente para a expansão e valorização da agricultura orgânica e do comércio justo na região.


Herberson Sonkha: Existe alguma previsão para o início das atividades na nova estrutura?


Ferdinand Martins: A Feira teve suas atividades suspensas em dezembro do ano passado. Nosso retorno está programado para amanhã, dia 14 de fevereiro, quando realizaremos uma reunião com os feirantes para alinharmos questões operacionais relacionadas ao funcionamento no novo espaço.

No entanto, a inauguração oficial ocorrerá na próxima semana, no dia 21 de fevereiro, e contará com um evento cultural para marcar essa nova fase da Feira.


Herberson Sonkha: Qual o perfil dos consumidores da Feira? Há um público fiel?


Ferdinand Martins: Temos consumidores dos três segmentos que integram a universidade — docentes, servidores e estudantes — além de transeuntes. A diversidade de produtos comercializados, todos com a marca da agroecologia, incluindo hortaliças, lanches naturais, biscoitos, frutas, café, artesanatos e cosméticos, entre outros, atrai um público variado. De maneira geral, temos um público fiel, que semanalmente busca a Feira para adquirir esses produtos.


Herberson Sonkha:  A demanda por produtos orgânicos tem crescido nos últimos anos? O que explica esse crescimento?


Ferdinand Martins: Acreditamos que esse crescimento se deve à busca por uma alimentação mais saudável, baseada no consumo de alimentos cujo cultivo e preparação seguem princípios agroecológicos, sem o uso de agrotóxicos característicos do modelo convencional de produção.

O aumento de casos de doenças relacionadas à alimentação industrializada tem levado muitas pessoas a repensar seus hábitos de consumo. Em última instância, o objetivo da grande indústria é a maximização do lucro, sem medir as consequências. A indústria alimentícia e a indústria farmacêutica se retroalimentam, gerando um ciclo de consumo e adoecimento.


Herberson Sonkha: Como os feirantes organizam a produção para atender à demanda sem comprometer os princípios agroecológicos?


Ferdinand Martins: Quase todos os produtos comercializados na Feira são produzidos pelos próprios feirantes, seja em seus sítios, seja de forma artesanal, em cozinhas caseiras e pequenas fabriquetas.

Como a Feira acontece semanalmente, às sextas-feiras, e muitos feirantes também participam da Feira do Ponto de Encontro aos domingos, em frente ao Lomantão, é necessário um planejamento cuidadoso para atender à demanda dos consumidores sem comprometer a qualidade e os princípios agroecológicos.


Herberson Sonkha: Além de frutas, verduras e hortaliças, que outros artigos estarão disponíveis na Feira?


Ferdinand Martins: Além dos produtos já mencionados, a Feira oferece mel, café, plantas, cosméticos naturais, biscoitos e lanches artesanais, artesanato, temperos e ervas, cordéis, frutas desidratadas e bebidas fermentadas. Além disso, há atividades culturais e palestras educativas, ampliando a experiência dos consumidores.


Herberson Sonkha: Pequenos produtores e artesãos locais também terão espaço para expor seus produtos?


Ferdinand Martins: Com certeza! A Feira é composta majoritariamente por pequenos produtores e artesãos locais. Recebemos constantemente novas solicitações de participação e, na medida do possível, incorporamos mais feirantes, respeitando os limites de espaço e de barracas disponíveis.

Com a mudança para o novo local, esperamos expandir a Feira, incluindo mais produtores e fortalecendo ainda mais essa rede.


Herberson Sonkha: Como a Feira contribui para o fortalecimento da economia solidária e do comércio justo?


Ferdinand Martins: A própria concepção da Feira se baseia na valorização dos produtores e artesãos locais e regionais, incentivando a produção e o consumo de seus produtos. Isso fortalece a economia solidária, ao mesmo tempo em que estabelece preços justos, que cobrem os custos da produção e permitem o acesso dos consumidores.


Herberson Sonkha: Qual a importância da Feira no contexto social e cultural da cidade?


Ferdinand Martins: A Feira Agroecológica da UESB se soma à Feira do Ponto de Encontro e, mais recentemente, à Feira do Centro de Cultura Camilo de Jesus, formando um movimento que busca oferecer alternativas alimentares diversas, baseadas em princípios agroecológicos e sustentáveis.

Além disso, as Feiras têm um papel fundamental na promoção do convívio social, criando um espaço de troca, interação e fortalecimento da identidade cultural da comunidade.


Herberson Sonkha: Como o mercado de produtos orgânicos se contrapõe ao agronegócio e ao uso indiscriminado de agrotóxicos?


Ferdinand Martins: O modelo de produção convencional, sustentado pelo agronegócio e pela grande indústria, é baseado na produção em larga escala e no curto prazo, com uso intensivo de agrotóxicos e defensivos agrícolas, visando unicamente ao lucro, sem considerar as consequências ambientais e para a saúde humana.

Entretanto, muitas dessas corporações já perceberam o potencial lucrativo do mercado de produtos orgânicos e passaram a investir nesse setor. Isso gera uma contradição, pois a produção agroecológica não é compatível com a lógica industrial de alta escala e velocidade.

Por outro lado, o pequeno produtor pode se destacar, pois sua produção é voltada tanto para o autossustento quanto para o mercado local. No entanto, esse modelo exige apoio governamental, acesso a crédito e organização em cooperativas ou associações.

No Brasil, há diversos exemplos bem-sucedidos de agricultura familiar organizada, mas ainda há muito a avançar.


Herberson Sonkha: Há políticas públicas que incentivam esse tipo de produção? O que ainda precisa ser feito para fortalecer essa alternativa ao modelo tradicional?


Ferdinand Martins: Sim. Existem políticas voltadas para a agricultura familiar, mas os recursos destinados a essa modalidade ainda são muito inferiores aos do agronegócio.

É importante lembrar que quem sustenta a alimentação da maior parte da população brasileira são os pequenos produtores. Programas como a aquisição de itens da agricultura familiar para a merenda escolar são fundamentais e precisam ser ampliados.

De forma mais estruturante, o governo poderia adquirir todo o excedente da produção da agricultura familiar e distribuí-lo para pessoas em situação de insegurança alimentar. Isso garantiria renda para os pequenos produtores e ajudaria no combate à fome no país.


Herberson Sonkha: O senhor acredita que essa nova estrutura poderá inspirar iniciativas semelhantes em outras instituições de ensino superior ou em outros campi da UESB?


Ferdinand Martins: Sem dúvida! No estado da Bahia, já existem Feiras Agroecológicas em instituições como a UFBA, em Salvador, e a UFRB, em Cruz das Almas.

Nos demais campi da UESB, já há projetos nessa linha, e nossa intenção é estreitar o diálogo para a criação de uma Rede de Feiras Agroecológicas.


Herberson Sonkha: Existem planos para expandir a Feira ou incluir novas atividades, como oficinas, palestras ou parcerias com instituições de ensino?


Ferdinand Martins: A expansão da Feira está sempre no horizonte. No entanto, nosso principal objetivo agora é consolidá-la como um espaço permanente, que vá além da comercialização de produtos, tornando-se um local de convivência, aprendizado e diálogo.

Em 2024, firmamos uma parceria com o IFBA de Vitória da Conquista, por meio de um projeto coordenado pela professora Wéltima Cunha, que promove palestras educativas, atividades culturais e cursos/oficinas. Algumas dessas atividades já foram realizadas em anos anteriores e serão retomadas.


Herberson Sonkha: Como a comunidade pode apoiar e fortalecer ainda mais esse projeto?


Ferdinand Martins: A melhor forma de apoio é participar ativamente da Feira, comparecendo às atividades às sextas-feiras na UESB.

Além disso, a divulgação boca a boca e nas redes sociais é essencial. Para acompanhar novidades e fortalecer essa iniciativa, convidamos todos a seguirem nosso perfil no Instagram: @feiraagroecologica_uesb.


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