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O vazio do silêncio
O vazio do silêncio:
Diogo Azevedo e a tragédia da representação parlamentar
*por Herberson Sonkha
Na última sessão da Câmara Municipal de Vereadores de Vitória da Conquista, o vereador Diogo Azevedo (UB) entrou mudo e saiu calado. Se a eleição de Diogo Azevedo já representa um sintoma da degradação política em Vitória da Conquista, sua trajetória revela um paradoxo ainda mais profundo. Administrador de formação, servidor federal da UFBA e ex-diretor do Hospital Esaú Matos, ele construiu sua carreira nos bastidores da política e da gestão pública, sem nunca ter sido um militante orgânico de qualquer causa social, muito menos das que sua própria identidade poderia sugerir.
Azevedo é um homossexual branco de classe média, que passou (passou?) pelo Partido dos Trabalhadores (PT), onde foi ligado a um mandato de vereador e indicado para um cargo na Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), sendo lotado no RH do Hospital de Base. Posteriormente, foi elevado à direção da Fundação de Saúde Esaú Matos – qual o preço dessa "ascensão" meteórica senão o silenciamento? No entanto, em vez de usar sua posição para fortalecer políticas públicas, priorizou sua própria ascensão política, deixando para trás uma instituição deficitária e mergulhada em problemas de gestão.
Essa trajetória levanta questões fundamentais: como um homem que construiu sua carreira dentro do serviço público e esteve ligado a um partido de esquerda pode hoje ser uma peça servil à extrema-direita? Como alguém que, teoricamente, deveria representar uma ruptura com o conservadorismo, se alinha a um partido controlado por fascistas, ultraconservador, LGBTQIAPN+fóbico, racista e misógino?
A contradição de Azevedo não é apenas uma questão de posicionamento ideológico, mas de cumplicidade estrutural com um modelo político que perpetua desigualdades e falta de transparência. Ele se elegeu pelo União Brasil, partido que tem sido associado a investigações sobre as chamadas emendas PIX, um mecanismo de distribuição de recursos públicos que tem sido alvo de críticas por falta de transparência. Vitória da Conquista aparece no mapa das cidades beneficiadas por essa distribuição questionável, e seu mandato não só silencia sobre isso, como legitima a continuidade desse modelo.
Além disso, Azevedo jamais teve qualquer referência ou atuação política no movimento LGBTQIAPN+, nunca esteve presente nas lutas contra a discriminação e a violência, nunca defendeu políticas públicas para a população LGBTQIAPN+, nunca se posicionou contra a onda reacionária que avança sobre os direitos civis. Seu silêncio sobre esses temas é conveniente: ele sabe que o partido que o elegeu é inimigo histórico dessas pautas e que sua lealdade agora não é à comunidade LGBTQIAPN+ [atualmente representa 10% da população em Vitória da Conquista], mas aos caciques ultraconservadores do União Brasil.
A luta política do movimento LGBTQIAPN+ é muito mais do que uma questão identitária – trata-se da garantia de direitos fundamentais, do enfrentamento da violência e da conquista de espaço nas decisões políticas. O Brasil lidera o ranking mundial de assassinatos contra pessoas LGBTQIAPN+, e a ascensão da extrema-direita intensificou os ataques contra essa população, com discursos de ódio legitimados por setores conservadores e projetos legislativos que tentam apagar avanços históricos. Em meio a esse cenário, um representante LGBTQIAPN+ no Legislativo deveria, no mínimo, atuar na defesa de sua própria comunidade. No entanto, Azevedo escolheu o caminho da omissão e do alinhamento com aqueles que negam sua própria existência como sujeito político.
Seu legado no Hospital Esaú Matos também não poderia ser mais problemático. Sob sua gestão, a fundação enfrentou déficits financeiros e desafios administrativos, enquanto sua atuação gerou críticas de que a estrutura hospitalar teria sido utilizada como trampolim eleitoral. Houve relatos não oficializados de funcionários insatisfeitos com a gestão, citando desafios administrativos e possíveis influências políticas. Assim, o que deveria ser um espaço de cuidado à população mais vulnerável se tornou um comitê eleitoral para um projeto de poder vazio, oportunista e traiçoeiro.
Diogo Azevedo representa, portanto, o casamento perfeito entre o oportunismo e a degradação política, um símbolo de como a extrema-direita cooptou indivíduos que, em outras circunstâncias, poderiam ter contribuído para avanços sociais. Mas, ao contrário, ele optou por se tornar um fantoche de um partido envolvido em polêmicas sobre corrupção, uma marionete do fisiologismo político e um traidor das lutas que sua própria existência deveria representar.
O resultado? Um vereador calado, sem relevância, sem propostas e sem compromissos com ninguém além dos grupos que o financiaram e o controlam. A política de Vitória da Conquista vive uma de suas maiores tragédias, e o nome dela é Diogo Azevedo.
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