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segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

A PANDEMIA, A PSEUDOCIÊNCIA E A CIÊNCIA

Foto: Herberson Sonkha

"A pandemia trouxe consigo a pergunta: a ciência é de fato essencial para a humanidade ou um engodo, como afirmam os negacionistas?"

 


*por Ferdinand Martins da Silva


 


Introdução

Neste texto eu discuto alguns aspectos ligados ao período pandêmico do coronavírus ou COVID-19, partindo de uma visão geral e, só depois particularizar para o Brasil, notadamente no que diz respeito ao embate travado entre os defensores da ciência e os negacionistas, aqui identificados como adeptos da pseudociência. Esta discussão envolve os três níveis de governo (federal, estadual e municipal), além da sociedade civil, com destaque especial para a CPI da Pandemia como um ponto importante no contexto analisado.

O papel desempenhado pelas imprensas oficial e alternativa também é destacado, uma vez que engloba um conjunto imenso de informações e contrainformações (as chamadas informações falsas). Por fim, destacamos que no embate, embora tenha sido extremamente árduo, acabou por prevalecer a confiança na ciência em detrimento do discurso negacionista daqueles que apostaram no caos, fosse para auferir benefícios próprios ou mesmo para demonstrar a sua total ignorância diante dos fatos e evidências. 


A Pandemia dá as caras

Entre o final de 2019 e o início de 2020, o mundo assiste a um acontecimento que ficará marcado para sempre na história: na cidade de Wuhan na China é encontrado uma nova espécie de vírus - o SARS-CoV-2 - vírus da família dos coronavírus que, ao infectar humanos, causa uma doença chamada Covid-19. Ele ficou conhecido, no início da pandemia, como o “novo coronavírus”.

Tamanho e inesperado acontecimento trouxe à tona uma série de questões que estavam latentes, de há muito, no seio da sociedade moderna. Dentre elas, uma que tem um significado muito importante está relacionada com o que se costuma denominar de pseudociência, compreendida como o “conjunto de crenças ou afirmações sobre o mundo ou a realidade, que se considera equivocadamente como tendo base ou estatuto científico; pseudosofia” (Oxford Languages. Dicionário).

Neste sentido, vimos que a chegada do novo coronavírus (COVID-19), além do impacto que balançou os mais recônditos lugares da terra, também trouxe consigo a possibilidade de respondermos à seguinte pergunta: a ciência, de fato é, e continua sendo algo de grande importância para a humanidade ou se trata apenas de um engodo, como passaram a afirmar e difundir os negacionistas?

Do ponto de histórico, desde que a religião deixou de ser o grande baluarte da verdade após a idade média e, por conseguinte, a ciência assumiu um papel de destaque na descrição e tentativa de compreensão dos fenômenos, sejam eles naturais quanto sociais, que passamos a nos guiar pelas descobertas, evidências e recomendações oriundas da comunidade científica. É inegável, e porque não dizer inquestionável, a importância que a ciência tem demonstrado ao longo do tempo, em todos os campos da atividade humana. Sabemos também que embora não haja consenso sobre a neutralidade científica, nos filiamos à corrente que defende a sua não existência, uma vez que os cientistas assumem posições na condição de atores sociais.

Dessa forma, quando a Pandemia foi oficialmente decretada no início de 2020, uma das primeiras atitudes do governo chinês foi a de tomar as providências possíveis, cabíveis e necessárias para o combate ao problema, o que ocorreu também nos vários países, por onde o vírus foi sendo disseminado. Assim, a recorrência às entidades ligadas ao sistema de saúde e ao universo da ciência foi plausível, buscando-se um maciço apoio político, financeiro e logístico visando o desenvolvimento de estudos e pesquisas para a produção, num tempo razoavelmente curto, de um antídoto (vacinas), que pudesse debelar o vírus e assim, evitar a sua proliferação. Nesta mesma direção, também foram tomadas várias medidas ligadas ao uso de máscaras e ao isolamento social, preconizadas pela OMS e outras instituições ligadas à saúde pública (OPAS, Fiocruz, por exemplo), como medidas emergenciais e eficazes para o controle do vírus.

Por outro lado, as discussões sobre a origem do vírus e como o mesmo havia se proliferado ocupou boa parte do noticiário mundial, cujos conteúdos estavam mais preocupados em discutir sobre como encontrar formas de conter o seu avanço. Porém, é preciso registrar que nos meios populares, religiosos e às vezes oficiais, a discussão tomou outros rumos, a exemplo da narrativa de que a humanidade deveria passar por tal situação a fim de que houvesse uma “limpeza” na raça humana, com a consequente extinção de uma certa parcela da população.

No caso do Brasil, a questão da pseudociência, já citada anteriormente, assumiu um papel extremamente relevante, à medida que aqui “reinava”, na presidência do país, um governante cujo mentor principal era um pseudo intelectual e astrólogo (já falecido), o qual espalhava nas redes sociais, via canal que mantinha, que a terra era plana (o famoso terraplanismo), que as universidades brasileiras eram verdadeiros antros de imoralidades, recheadas de incompetentes, além de outras baboseiras da mesma estirpe.

Essa ideologia levou o país a uma situação muito complicada, pois além do governante de plantão, seus assessores eram declaradamente negacionistas, o que levou o país a contabilizar um grande número de mortos, lamentavelmente, ultrapassando a cifra dos 700 mil!!! Situação inaceitável para um país, no qual as campanhas de vacinação do sistema público de saúde sempre foram por demais efetivas no combate às doenças ditas “tradicionais".


O embate entre os defensores da ciência e os da pseudociência (negacionistas)

Neste diapasão, tornou-se inevitável o embate entre aqueles que preconizavam seguir o caminho indicado pelo conhecimento científico acumulado e recomendado para lidar com a situação presente e os que, de forma maldosa ou mesmo criminosa, tentavam se aproveitar da situação apostando em uma rota calcada no senso comum e nas falsas crenças, incluindo as religiosas, ou seja, naquilo que se costuma denominar de pseudociência. Ressalte-se que no campo dos negacionistas militavam, por mais absurdo que pareça, boa parte de profissionais ligados ao sistema de saúde, tanto público e privado, incluindo os ministros da saúde do governo brasileiro (um general e depois um médico. Pasmem!!!) que, por diversas vezes, vieram a público questionar a validade da vacina e dos procedimentos de isolamento da população e do uso de máscaras, adotados como forma de conter a proliferação do vírus letal.

Porém, graças a atuação dos governos estaduais e municipais (na sua grande maioria), das instituições da sociedade civil e de profissionais ligados aos mais diferentes setores, notadamente ao de saúde, comprometidos com a solução do problema e que lançaram mão dos conhecimentos científicos acumulados, os resultados alcançados demonstraram que o caminho seguido estava certo.

Por outro lado, sabemos que as consequências do novo coronavírus (COVID-19) ainda estão por serem estudadas, avaliadas e tratadas, uma vez que é só no decorrer do tempo, que teremos a ocorrência de fatos que poderão servir de bases para novos estudos. Todavia, observamos que num mundo, cada vez mais, dominado pela tecnologia e agora com o advento da IA (Inteligência Artificial), no qual a quantidade de informações e de contrainformações é gigantesca, a apropriação do conhecimento se torna algo fundamental, pois a definição do que é a verdade está xeque, e assim, ainda teremos que trilhar longos caminhos no enfrentamento da pseudociência e do negacionismo.


À guisa de conclusão

Diante ao exposto, é possível verificar que a pandemia do coronavírus (COVID-19) constituiu-se num ponto de inflexão da recente história da humanidade, demarcando de maneira inequívoca o caminho pelo qual devemos seguir. No caso brasileiro, a negligência e a irresponsabilidade de alguns governantes e autoridades, notadamente do chefe da nação, foram os maiores empecilhos para se buscar uma solução mais ágil para o enfrentamento da situação.

No decurso dos acontecimentos revelou-se a existência de visões antagônicas cujas concepções tinham como fundamentos, por um lado, os conhecimentos científicos acumulados e disponíveis a serem mobilizados e utilizados e, por outro, visões baseadas na pseudociência e no negacionismo. Ainda não sabemos dimensionar quais serão as consequências e os desdobramentos da Pandemia do COVID-19, mas podemos afirmar que, diante das medidas tomadas e das contribuições trazidas pelos cientistas e profissionais das diversas áreas do conhecimento, notadamente daquelas ligadas à saúde, no combate incisivo ao coronavírus, a ciência venceu a pseudociência, a desinformação (a chamada “infodemia”) e o negacionismo!



REFERÊNCIAS CONSULTADAS

https://congressoemfoco.uol.com.br/projeto-bula/reportagem/estudo-mostra-como-a-pseudociencia-venceu-a-ciencia-na-cpi-da-covid/. Acesso em 01/12/2024

https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/11095/7/TD_Ciencia_e_Pseudociencia_Publicacao_Preliminar.pdf. Acesso em 01/12/2024

https://www.google.com/search?q=o+que+%C3%A9+pseudoci%C3%AAncia&sca_esv=. Acesso em 01/12/2024

https://www.google.com/search?q=significado+da+sigla+OPAS&rlz. Acesso em 01/12/2024 




*Professor do Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas da UESB. Campus de Vitória da Conquista. E-mail: ferdmartins@gmail.com



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