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terça-feira, 11 de março de 2025

Poder 360 e a estratégia de desmonte do Estado

Foto: Marcelo Andrade/Arquivo/Gazeta do Povo
Poder 360 e a estratégia de desmonte do Estado:
Ataques aos Correios e Postalis como uma construção da
narrativa neofascista e os interesses por trás da "crítica"


*por Herberson Sonkha




BRASÍLIA/DF - A nota de esclarecimento divulgada (10) pelos Correios e pelo Postalis em resposta à matéria do Poder360 não apenas contesta as alegações do veículo, mas também levanta questões sobre os interesses que orientam sua cobertura. Para compreender a motivação desse ataque, é necessário analisar o viés editorial do Poder360, seu alinhamento ideológico e o contexto político em que está inserido. 

Essa análise revela uma estratégia que vai além do jornalismo, aproximando-se de uma agenda ideológica específica. Um fato relevante a ser destacado é que Frederico Trajano, um dos proprietários do Poder360 e da Magalu, está incomodado com o marketplace dos Correios. Além disso, o general Floriano Peixoto, ex-presidente dos Correios e responsável pela tentativa de privatização da empresa, atualmente exerce a função de conselheiro na Magalu.


O Poder 360 e a suposta neutralidade: jornalismo ou ideologia de mercado?

Embora se autodenomine um veículo pautado pela ética jornalística e pela imparcialidade, o Poder360 frequentemente reproduz narrativas alinhadas ao ultraliberalismo, favorecendo pautas pró-mercado em detrimento do fortalecimento do Estado e da proteção social. Pesquisadores da comunicação, como Dênis de Moraes (2021), apontam que veículos que se dizem neutros muitas vezes operam como agentes da hegemonia do capital, reforçando discursos de desregulamentação e privatização. Essa postura editorial não é casual, mas reflete uma visão de mundo que prioriza os interesses do mercado sobre os direitos sociais.

Essa lógica se aproxima das ideias do economista Friedrich Hayek (1944), que defendia a mínima intervenção do Estado na economia. No caso específico dos Correios e do Postalis, a linha editorial do Poder360 reforça a tese da ineficiência estatal como justificativa para privatizações, defendendo abertamente que a entrega dos serviços essenciais à iniciativa privada é a melhor solução. Essa narrativa, no entanto, ignora os impactos sociais e econômicos de tais medidas, especialmente para a população mais vulnerável.

A afinidade com o pensamento ultraliberal não se restringe à economia. O Poder 360 também se alinha a pautas políticas da extrema-direita, que no Brasil encontraram no bolsonarismo sua principal representação. O portal reproduz discursos que minimizam os impactos sociais do Estado Mínimo e que normalizam ataques a direitos trabalhistas e à seguridade social, em sintonia com a retórica neofascista de Jair Bolsonaro e seus aliados. Essa convergência ideológica reforça a tese de que o veículo atua como um instrumento de disseminação de uma agenda política e econômica específica.

O contexto político também é determinante para entender essa abordagem. Desde 2018, com a ascensão do bolsonarismo e a agenda ultraliberal de Paulo Guedes, veículos como o Poder360 passaram a endossar reformas econômicas que reduziram o papel do Estado e fragilizaram serviços públicos. Segundo Jessé Souza (2020), a mídia tradicional opera como um braço ideológico das elites econômicas, defendendo interesses que perpetuam a desigualdade social. Essa relação entre mídia e poder econômico ajuda a explicar a postura do Poder 360 em relação às estatais.


A convergência do Poder 360 com a agenda ultraliberal neofascista

2018 – Eleições e o Discurso Anti-Esquerda

Cobertura focada em críticas ao PT e aos movimentos progressistas.

Ênfase positiva nas propostas de redução do Estado e na agenda econômica de Paulo Guedes.


2019-2020 – Defesa do Estado Mínimo e da Privatização

Apoio às reformas econômicas de Bolsonaro sem questionar seus impactos sociais.

Ataques a sindicatos e movimentos populares, alinhando-se ao discurso governista.

Defesa da terceirização como solução para a suposta ineficiência da gestão pública.


2021 – Pandemia e Polarização Política

Defesa da reabertura econômica em meio à crise sanitária.

Críticas a governadores que adotaram lockdowns, reforçando a retórica bolsonarista.

Reforço da visão de que o Estado não deve intervir no mercado, mesmo diante de uma crise humanitária.


2022 – Eleições e Radicalização do Discurso

Cobertura assimétrica, favorecendo Bolsonaro e deslegitimando a candidatura de Lula.

Publicação de matérias que reforçavam desconfiança no sistema eleitoral.

Normalização de discursos conservadores e negacionistas, em sintonia com a extrema-direita.


2023 – Governo Lula e a Continuidade dos Ataques

Críticas sistemáticas à nova gestão, especialmente no que se refere a gastos públicos e políticas sociais.

Continuação da defesa do Estado Mínimo e das privatizações.

Demonização de pautas sociais e fortalecimento de um discurso que favorece a financeirização da economia em detrimento da distribuição de renda.


Essa linha do tempo evidencia uma trajetória editorial que acompanha e reforça as mudanças políticas e econômicas no Brasil, sempre alinhada aos interesses do mercado e da extrema-direita. Essa postura se reflete diretamente na cobertura de temas específicos, como o caso dos Correios e do Postalis.


A matéria do Poder 360: Um ataque estratégico aos Correios e ao Postalis

A reportagem do Poder360 que motivou a resposta dos Correios e do Postalis apresenta uma narrativa que desqualifica as instituições, ignorando informações cruciais, como:

- A existência de nove processos judiciais no Brasil e duas arbitragens internacionais contra o BNY Mellon, demonstrando que as instituições estão ativamente buscando reparação.

- A tentativa de ação nos EUA em 2018, que, embora mal-sucedida, foi parte de um esforço legítimo de buscar justiça.

- A alegação de que o presidente dos Correios mantém vínculos com um escritório de advocacia, refutada com provas documentais.


Ao omitir esses fatos, o Poder360 constrói uma narrativa que não apenas desinforma, mas também contribui para a agenda de fragilização das empresas públicas. A defesa da privatização dos Correios, amplamente sustentada pelo veículo, se insere na estratégia mais ampla da mídia corporativa, que busca legitimar a entrega do patrimônio público ao capital privado. Essa abordagem não é neutra, mas sim parte de um projeto maior de desmonte do Estado.


Um jornalismo que serve ao mercado e à extrema-direita

A cobertura do Poder360 em relação aos Correios e ao Postalis reflete um padrão recorrente de deslegitimação das estatais e das políticas públicas. Ao se posicionar como um "fiscal do Estado", o veículo, na prática, opera como um propagador da ideologia ultraliberal, reforçando discursos que favorecem a privatização e a redução da atuação estatal. Essa postura editorial não é isolada, mas integra um contexto mais amplo de alinhamento com as elites econômicas e políticas.

Além disso, sua linha editorial evidencia a convergência com pautas da extrema-direita brasileira, normalizando a agenda neoliberal e conservadora promovida pelo bolsonarismo. A defesa da terceirização, da precarização do trabalho e da suposta "eficiência" do setor privado reflete o alinhamento com as políticas que beneficiam o grande capital em detrimento dos direitos sociais. Essa dinâmica reforça a tese de que o Poder360 atua como um instrumento de disseminação de uma visão de mundo específica.

Longe de ser um episódio isolado, a matéria faz parte de um projeto maior de desconstrução do serviço público no Brasil. A suposta neutralidade do Poder360, portanto, não é uma busca pela verdade, mas sim uma ferramenta sofisticada de construção ideológica a serviço do mercado e da extrema-direita. Essa análise revela a importância de questionar não apenas o conteúdo das reportagens, mas também os interesses que as orientam.


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