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"Lucro", "Sem Anistia" e a sinfonia da rebeldia popular
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Foto: Alfredo Filho/SECOM |
"Lucro", "Sem Anistia" e a sinfonia da rebeldia popular
*por Herberson Sonkha
O século XX foi atravessado por golpes de Estado e regimes autoritários que não emergiram do acaso ou da perversidade isolada de ditadores, mas da necessidade histórica da burguesia de conter crises estruturais do capitalismo e bloquear avanços populares. No século XXI, essa dinâmica se acirra com a ascensão da extrema-direita e a radicalização do neoliberalismo, que aprimora seus mecanismos ideológicos e repressivos para sustentar o status quo. No Brasil, esse processo se materializou no bolsonarismo, uma expressão violenta e desesperada do capitalismo em crise, encontrando em Jair Bolsonaro seu representante mais emblemático. Seu projeto de poder não foi apenas um governo autoritário, mas a tentativa de romper os limites da ordem liberal-burguesa para instaurar um Estado de Exceção contínuo.
Esse mesmo sistema, que acumula sobre corpos e devora a vida em nome da acumulação privada, ganha sua forma mais crua na lógica do "Lucro". O BaianaSystem, na intensidade pulsante de sua música, sintetiza esse mecanismo predatório na canção em que Russo Passapusso brada, em estado de alerta, que "Lucro" é a engrenagem que move a "Máquina de Louco". Não há espaço para metáforas vazias: a banda denuncia o que está posto, o capitalismo como fábrica de destruição, impulsionado pela exploração sem limites e pela repressão brutal contra qualquer ameaça ao seu domínio.
O capitalismo, o estado de exceção e o lucro: A máquina que nos devora
A teoria marxista ensina que o Estado não é um árbitro neutro, mas um instrumento da dominação de classe. Quando as contradições do capitalismo ameaçam sua estabilidade, a burguesia não hesita em lançar mão do terror político para restaurar sua hegemonia. Assim como em "Lucro", onde a repetição hipnótica da palavra "lucro" enfatiza a obsessão cega pelo acúmulo, o bolsonarismo, ao tentar consolidar um Estado de Exceção permanente, usou a crise econômica e sanitária para intensificar o controle sobre a classe trabalhadora, desmontar direitos sociais e criminalizar qualquer resistência organizada.
A crise fabricada pelo próprio sistema capitalista é o gatilho para a repressão. O golpe ou sua tentativa se apresentam como resposta "necessária" ao caos, enquanto a burguesia instrumentaliza o discurso da ordem e da segurança para justificar sua ofensiva contra o povo. O bolsonarismo, assim como a lógica da "Máquina de Louco", buscou consolidar-se como a única alternativa possível, enquanto destruía direitos e aprofundava a desigualdade. E é essa engrenagem de brutalidade que Russo Passapusso denuncia na pulsação incontrolável de sua música.
Terror e controle social: O fascismo na Rua e na Mídia
A repressão não se dá apenas pelo aparato estatal formal. A lógica fascista avança ao transformar cidadãos comuns em agentes ativos do terror. Milícias privadas, grupos paramilitares e fanáticos ideológicos são mobilizados para perseguir, criminalizar e aniquilar inimigos políticos. Essa escalada ficou evidente no bolsonarismo, que fortaleceu as milícias, promoveu o ódio às minorias e estimulou a violência como instrumento de controle social.
"Lucro" não apenas denuncia a engrenagem, mas é também um chamado de resistência. O clamor "Sem Anistia", entoado por multidões em uníssono nos shows da BaianaSystem, ecoa como palavra de ordem, lembrando que não há reconciliação possível com aqueles que lucram sobre o sofrimento do povo. A sincronização da plateia com a intensidade da banda transforma cada apresentação em um ato político. O povo grita junto porque sabe: sem memória, não há justiça, e sem justiça, a máquina continua girando.
Ideologia e Fascismo: O lucro como religião do Capital
O fascismo não se sustenta apenas na violência física, mas também no controle da subjetividade. A mídia corporativa, os discursos religiosos fundamentalistas e a propaganda oficial do Estado trabalham para normalizar a exploração, vendendo a repressão como "ordem", a fome como "sacrifício necessário" e a destruição dos direitos como "medidas de austeridade". A luta política, então, não se dá apenas nos enfrentamentos diretos, mas na disputa pela consciência.
No Brasil, o bolsonarismo contou com o apoio de setores da elite econômica, da grande mídia e de fundamentalistas religiosos, que viam nele a oportunidade de radicalizar o neoliberalismo e perpetuar seus privilégios. Enquanto isso, a classe trabalhadora foi bombardeada por discursos que buscavam apagar sua consciência de classe. "Lucro" traduz essa engrenagem: a exaustão, a alienação e a exploração contínua são sintetizadas na repetição visceral da palavra que define o motor do sistema.
BaianaSystem e a crítica ao capitalismo como "Máquina de Louco"
Nesse cenário, a metáfora da "Máquina de Louco" se torna uma denúncia direta da lógica do capitalismo. A engrenagem não para, não pensa, não reflete: apenas devora. A canção "Lucro" é um manifesto sonoro, uma batida que pulsa como um coração prestes a explodir, denunciando a alienação e a brutalidade do sistema.
A crítica do BaianaSystem ao capitalismo não é apenas musical, mas performática e política. Nos palcos, Russo Passapusso não apenas canta, mas convoca. O público responde. A energia do show se transforma em um ritual de insubmissão. "Sem Anistia" ressoa como um mantra coletivo, rejeitando qualquer conciliação com os algozes do povo. Cada apresentação da banda se torna um ato de resistência, onde a sincronia do público gigantesco com o grito da banda reforça a urgência do momento histórico: ou desligamos a máquina, ou ela nos devora.
Conclusão: Resistência, lucro e o fim da "Máquina de Louco"
Não há fascismo sem burguesia. Todo regime fascista é, em última instância, um projeto de radicalização do capitalismo para garantir a continuidade do domínio burguês em tempos de crise. O bolsonarismo, com sua política de terror e sua tentativa de golpe, foi a expressão mais clara desse fenômeno no Brasil contemporâneo.
Por isso, a resistência não pode se limitar à defesa das frágeis instituições liberais. O combate ao fascismo exige organização popular, ação revolucionária e a construção de uma alternativa socialista capaz de romper com o modelo de sociedade que se alimenta da miséria do povo. A crítica de Russo Passapusso e do BaianaSystem ao capitalismo como "Máquina de Louco" é um chamado à consciência e à luta.
"Sem Anistia" não é apenas um grito contra os crimes do passado, mas um alerta para o presente e o futuro. Enquanto houver lucro acima da vida, a máquina seguirá moendo corpos e sonhos. Enfrentar o fascismo é enfrentar as estruturas que o produzem e sustentam. É desligar a máquina antes que ela nos consuma por completo.
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