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quarta-feira, 28 de agosto de 2024

O extermínio da juventude negra: Um caso de violência estrutural e falta de segurança em Vitória da Conquista

Foto: Rádio Web UFPA

 ENTREVISTA EXCLUSIVA: "O medo da polícia desarticula eventos culturais.


*por Herberson Sonkha


No último domingo, 25 de agosto, o bairro Bruno Bacelar, em Vitória da Conquista, na Bahia, foi palco de um assassinato que ressalta questões relacionadas à segurança e à violência que afetam a juventude negra no Brasil. O jovem Jackson, morador da região, foi morto durante um evento promovido pela Associação VDC Hip Hop, apoiado pela Lei Paulo Gustavo. O crime, caracterizado como uma execução, levanta preocupações sobre a mortalidade da juventude negra, influenciada por fatores como o crime organizado e as ações do Estado. 

Jackson estava presente no evento quando, por volta das 20h30, um indivíduo desconhecido se aproximou e disparou várias vezes, resultando em sua morte. O incidente gerou pânico entre os presentes e causou desordem no local, refletindo um padrão de violência em comunidades periféricas. 

Em entrevista à nossa redação, uma fonte anônima, identificada como SENHOR X, mencionou a falta de segurança pública e a ausência do Estado na área. Ele relatou que a segurança do evento era realizada pelos próprios participantes, uma escolha feita para evitar a presença policial, que poderia afetar a dinâmica do encontro. A situação foi descrita como tranquila até o momento do ataque, evidenciando um ambiente que, embora organizado pela comunidade, continua suscetível à violência. 

O assassinato de Jackson não é um caso isolado, mas parte de um padrão observado. Dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro indicam que jovens negros têm uma probabilidade maior de serem mortos pela polícia. Em 2020, 75% das mortes em confronto com agentes do Estado foram de negros, e 68% das vítimas tinham menos de 25 anos. Esses números refletem a realidade enfrentada por comunidades periféricas. 

A Associação VDC Hip Hop, organizadora do evento, expressou pesar pela tragédia e se solidarizou com a família de Jackson. A nota oficial da associação menciona o compromisso com a promoção da paz e da união por meio da cultura, além de questionar como garantir segurança em ambientes onde a violência é uma preocupação constante e a atuação do Estado pode ser considerada insuficiente. 

A entrevista com SENHOR X também revela a situação emocional da comunidade. As mulheres e crianças presentes no evento estavam em estado de choque, com gritos e choros registrados no local. A falta de proteção adequada e o impacto sobre as crianças ressaltam a necessidade de uma resposta por parte das autoridades e uma reflexão sobre o papel do Estado em relação à segurança. 

O assassinato de Jackson e a resposta das autoridades indicam a necessidade de uma análise sobre a interação entre a violência estatal e o crime organizado. A marginalização da juventude negra e a atuação policial requerem uma abordagem que vá além da resposta punitiva e busque construir uma segurança pública eficaz. 

O caso de Jackson deve ser considerado dentro de um contexto mais amplo que exige ação e reformas. É importante que a comunidade internacional mantenha atenção sobre a situação da juventude negra no Brasil e promova discussões sobre justiça e segurança.

Herberson Sonkha: Então, pode nos contar o que aconteceu naquela tarde?

SENHOR X: Sim, claro. Tudo começou por volta das duas horas da tarde. A associação de hip-hop já estava lá, organizando tudo para a realização de batalhas de Break, apresentações de poesias, batalhas de rimas e pockets shows com artistas locais. Esse não era o primeiro evento que realizávamos lá, então já estávamos acostumados com a organização. Tudo estava acontecendo de forma tranquila, não havia policiamento no local, pois a segurança estava sendo feita por nós mesmos. Sabemos que, se a polícia aparece, muitos moradores, até mesmo as crianças, ficam com medo e evitam participar, o que desarticula o evento.

Herberson Sonkha: E como estava o evento até então?

SENHOR X: Estava tudo correndo bem, tranquilamente. Já era noite, e por volta das oito horas começamos as batalhas de rima. Foi durante uma dessas batalhas que aconteceu o tiroteio.

Herberson Sonkha: O que você pode nos contar sobre o ocorrido?

SENHOR X: O Jackson, o jovem que foi assassinado, estava curtindo o evento. Ele passou parte da tarde lá, assistindo, acompanhando a programação e se envolvendo com as rimas e as apresentações de dança. Ele estava ali, quieto, curtindo o evento. Então, por volta das oito e meia, um rapaz chegou, cumprimentou o Jackson e, em seguida, começou a disparar vários tiros. O Jackson caiu no chão, o rapaz continuou atirando. Foi uns 6 tiros ou mais tiros.

Herberson Sonkha: Que situação terrível... E os familiares dele estavam presentes?

SENHOR X: Sim, a mãe e o pai do Jackson estavam lá e presenciaram tudo. Foi muita gritaria, todo mundo começou a correr. Tinha muita criança no local, e elas ficaram desesperadas, correndo para todos os lados. Nós começamos a pegar as crianças e sair correndo. O atirador deu uma afastada, mas logo voltou e disparou mais tiros no rosto do Jackson.

Herberson Sonkha: E o que aconteceu depois disso?

SENHOR X: Enquanto fugíamos, ouvimos outros tiros sendo disparados, imagino que foi para cima, mas não sei que deu os outros tiros, só escutamos enquanto corríamos. Eu só presenciei até esse momento, quando os tiros foram disparados, e depois saímos do local. O pessoal mais antigo do hip-hop, e os que moram no bairro, ficou por lá para acompanhar o que acontecia e prestar solidariedade à família.

Herberson Sonkha: Como estavam as pessoas presentes, principalmente as mulheres e crianças?

SENHOR X: As mulheres da comunidade que estavam no evento gritavam e choravam muito, com as crianças no colo. Elas reclamavam da falta de respeito com a comunidade, que estava em momento de lazer, cultura e festividade. Todos estavam muito desesperados, as crianças estavam extremamente assustadas.


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