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quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Construir um Espaço Proletário

 

*por Carlos Maia


1. Situação da Militância e do Movimento Social

Não é de se admirar o que ocorre no movimento dos trabalhadores e da juventude em geral. Os trabalhadores cada vez mais se afastam das formas de organização existentes, sem, contudo, esboçar novas perspectivas para a luta contra a burguesia e o seu Estado. A juventude por sua vez segue cega e sem perspectiva de incorporar-se à luta dos trabalhadores contra o capital, sendo na maioria das vezes, levadas a reboque para lutas nitidamente burguesas e de conteúdo liberal.

Os trabalhadores não conseguem, juntamente com seus filhos, realizar um espaço relativamente mais amplo de desenvolvimento de propostas e ideias de conteúdo socialista. Isso ocorre devido ao longo período de adaptação que o movimento dos trabalhadores teve com respeito aos projetos de conciliação de classe e de lutas puramente económicas e institucionais, que bloquearam, até agora, às perspectivas autônomas e independentes dos trabalhadores.

As lideranças dos movimentos dos trabalhadores, afora raríssimas exceções vivem prostradas na burocracia de seus aparelhos sindicais, reproduzindo aí todo o conjunto de propostas de lutas que em nenhum momento abalam a estrutura do Estado burguês.

A juventude, os filhos dos trabalhadores, devem ser educados conjuntamente com a classe trabalhadora na perspectiva de romper com a educação oficial oferecida nas escolas, que sempre acaba por reproduzir o modo de pensar idealista metafísico do dominador.

Mas, nem tudo está perdido ao que parece. Ainda existem poucos militantes no seio dos trabalhadores que são aguerridos, às vezes confusos política e ideologicamente, por não ter tido a oportunidade de aprofundar a concepção geral do socialismo.

O esforço desses militantes tem sido grande em organizar a classe. Mas ao mesmo tempo tem se mostrado de pouco resultado. As suas palavras, os seus discursos, não têm tido respaldo, não tem conseguido despertar as consciências embrutecidas dos trabalhadores.

Uma outra característica dessa militância é a dispersão, o que a impede de globalizar uma proposta que ataque o inimigo de classe, a burguesia e o seu Estado.


2. O Espaço de desenvolvimento de uma proposta proletária

Os trabalhadores em outros tempos conseguiram investir contra a burguesia e o seu Estado, numa perspectiva de defesa intransigente dos seus interesses de classe. Essas experiências foram na maioria das vezes esquecidas ou sepultadas na memória dos trabalhadores pela burguesia e os seus agentes no movimento operário.

Não se fala mais no movimento dos trabalhadores de experiências como a Comuna de Paris, a Revolução Russa etc. Parece que essas investidas do proletariado revolucionário contra a ordem burguesa não significaram nada. Mas a verdade é bem diferente.

As experiências históricas dos trabalhadores mostraram, mais do que nunca, a possibilidade de os explorados construir espaços de vivências sociais independentes da burguesia. Aqui no Brasil, por exemplo, o movimento anarquista (não vamos entrar no mérito dos limites das suas posições e propostas políticas), educavam os seus filhos em espaços independentes dos filhos da burguesia. Na Rússia de 1917 os trabalhadores criaram um espaço de atuação política, totalmente por fora das instalações burguesas, criaram na verdade um espaço de militância, de poder político, paralelo ao Estado burguês.


A exploração do trabalho continua e com ela continua a luta de classes. Não é porque os trabalhadores foram derrotados momentaneamente em suas lutas, que devemos cantar loas ao capitalismo e à exploração do trabalho.

Os trabalhadores devem sim, cada vez mais, buscar criar espaços para sua militância e para que possa desenvolver o seu projeto político próprio. Projeto acima de tudo de vida livre para os trabalhadores e seus filhos.

Não estamos em um momento revolucionário, mas nem por isso devemos nos contentar com as formas de organização que a burguesia admite para os trabalhadores: os sindicatos; as centrais sindicais; etc. Pois essas se encontram carcomidas e já caíram no descrédito dos trabalhadores.

É perfeitamente possível se criar um espaço, onde partindo-se do mundo material, da sociedade, possamos introduzir temas, palestras, seminários, cursos, etc., para os trabalhadores e a juventude, visando aí, despertar a consciência crítica em um número cada vez maior de pessoas a margem do conhecimento.

Este espaço não é absoluto e sim relativo. Ele começa no pequeno círculo de militância para se expandir num espaço social maior. Ele tem que ter ainda um nítido conteúdo socialista, tanto no aspecto de propostas concretas de atuação política, quanto no seu aspecto ideológico e cultural.

Este espaço que ora propomos, deverá ser ainda, o que é mais importante, uma alternativa de militância para os trabalhadores e a juventude.


3. A Luta contra o Estado, a burguesia e o senso comum

O Estado burguês é constituído de todo um aparato político, ideológico, jurídico e militar, que toma sempre a defesa dos interesses gerais e específicos do capital, dentro do status quo vigente, dentro da ordem estabelecida. A ele cabe a responsabilidade de todos os desmandos sociais existentes no país. É ele o responsável pela fome, pela miséria material e espiritual do nosso povo, pelas péssimas condições de moradia, pela falta de terra para os sem-terra, pela falta de educação decente para a juventude, pelo arrocho salarial dos trabalhadores, pelo desemprego crônico e intermitente e pela repressão brutal ao movimento organizado dos trabalhadores, bem como os massacres e chacinas violentas a crianças, adolescentes, presidiários, etc.

A destruição deste aparato é, pois, uma necessidade histórica para que o movimento dos trabalhadores possa desenvolver-se rumo à sociedade socialista. Para isso, os trabalhadores devem antes de tudo acumular experiência de luta e da arte de organização e consciência de classe, autônoma e independentes.

A burguesia é a grande inimiga. É ela que usa da exploração do trabalho para acumular riquezas que nunca são distribuídas equitativamente para o conjunto da sociedade, só aos seus amigos e familiares. Riquezas que são frutos do trabalho social dos trabalhadores.

Foi ainda a burguesia que criou o Estado moderno para defender não o conjunto da sociedade, mas sim, para defender o seu capital, àquilo que rouba dos trabalhadores.

A burguesia criou ainda um modo de pensar o homem e os seus problemas sociais, que não leva às pessoas a questionar a sua situação de miserabilidade. Este método é o senso comum burguês, ou "bom senso", onde não há espaço para a crítica radical da sociedade, divulgado sempre nas mídias sociais, na TV através de telenovelas, filmes, telejornais, jornais e revistas da imprensa, bem como nas escolas e em seus currículos.

Este senso comum anticientífico, esta maneira de desenvolvimento do pensamento deve ser quebrada desde já. O que tem que ser notícia é o movimento dos trabalhadores e a sua ação na conjuntura, a sua criação artística, literária e cultural e o seu projeto de sociedade.


Carlos Maia

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