Translate

Seguidores

domingo, 25 de agosto de 2024

A Eleição de Waldenor e a Luta dos Trabalhadores

Foto: Blog do Anderson

"A concentração mundial do capital, a sua volatilidade e expansão mundial aumentou o domínio das grandes nações imperialistas sobre aquelas com menor grau de desenvolvimento econômico, técnico e científico."

*por Edwaldo Alves


O arguto camarada Herberson Sonkha leu e comentou com a sua costumeira lucidez o meu artigo intitulado “Começou a Campanha? Quem vencerá?”, publicado no “Blog Do Paulo Nunes”. Confesso que fiquei envaidecido e agradavelmente surpreso com a profundidade e aspectos que Sonkha descobriu no meu despretensioso artigo. Utilizando-se de conceitos teóricos do materialismo histórico e da dialética materialista e de citações de Marx/Engels, Lenin, Rosa Luxembrugo e Gramsci emite suas opiniões sobre as limitações das disputas eleitorais, as transformações sociais, as relações entre a luta de classes e o estado burguês e, principalmente, as tarefas dos trabalhadores na conquista da sociedade socialista.

Confesso a minha surpresa porque as minhas pretensões nesse escrito eram bem mais modestas. Evidentemente as ações políticas, por menores que sejam, não fogem ao cenário amplo da luta de classes, mesmo que de forma imperceptível ao olho nu. Nos últimos 27 anos participei com maior ou menor intensidade das lutas sociais, políticas e eleitorais em Vitória da Conquista. Aprendi bastante, sempre procurando utilizar o pouco conhecimento teórico que possuo como instrumento para a interpretação concreta da realidade buscando sempre fugir do erro de adequar a realidade aos conceitos teóricos que dominam o meu pensamento. Pela leitura da brilhante análise que Sonkha fez do meu artigo e de seus outros escritos percebo que o companheiro também foge dessa armadilha que enreda tantos estudiosos do complexo universo social.

No artigo publicado no Blog do Paulo Nunes foquei apenas no aspecto eleitoral externo e visível, abstendo-me de análises mais complexas e profundas como nos brindou a excelente análise do combativo intelectual orgânico. Inclusive, tenho o orgulho de compartilhar da mesma luta eleitoral de Sonkha em Vitória da Conquista, onde nós dois estamos na mesma trincheira para derrotar a direita/bolsonarista de Sheila e eleger Waldenor e Luciana como um passo importante para alterar a infame situação que domina nossa cidade.

Assim como a questão fundamental da filosofia é a pedra angular do materialismo dialético, o materialismo histórico tem como motor da longa jornada da humanidade a luta de classes, desde o momento em que essa relação passou a existir entre os homens (e mulheres). A leitura atenta que fiz dos comentários de Sonkha me reacendeu dúvidas que me perseguem há bastante tempo. Observo que atualmente os processos eleitorais nos países democráticos burgueses tornam-se crescentemente importantes elementos nas alterações da correlação de forças da luta de classes. Não acredito que estou sendo vítima das ilusões provocadas pelas categorias filosóficas de essência e aparência. Volto à concepção leninista de que a cada dia os trabalhadores são os verdadeiros guardiões e interessados na democracia e no seu aprofundamento. Esse conceito foi desenvolvido por Gramsci ao estudar as categorias de estado, hegemonia, classes e cultura.

Sonkha, evidentemente, entende o processo político como caminho para as transformações revolucionárias que almejem a substituição da classe burguesa capitalista dominante pelo proletariado que possui como objetivo estratégico a construção do socialismo e o caminho para o comunismo. Eu também. A grande dificuldade é definir a estratégia revolucionária a ser adotada pelos trabalhadores nos marcos da superestrutura burguesa sem iludir-se pelo caminho fácil do reformismo. As formas de luta dos trabalhadores dependem sempre do momento vivido, das condições objetivas e subjetivas e da consciência e organização da classe operária. Lenin formulou o conceito de situação revolucionária na Rússia czarista criada principalmente pela primeira guerra mundial e a derrocada do czarismo. No início do século XX, com exceção de 1905, até 1917 as lutas do POSDR não ameaçavam diretamente a iniciante estrutura burguesa na Rússia. Mesmo a ala bolchevique limitava-se às questões internas, lutas econômicas dos trabalhadores, organização política e ideológica e acumulação de forças.

Resumidamente podemos dizer que o materialismo histórico de K. Marx conceitua que o desenvolvimento das forças produtivas, principalmente a indústria, estabelece relações de produção entre a burguesia e o proletariado fabril formando o sistema de produção capitalista. O mundo de hoje, no meu entendimento, vive transformações extraordinárias, alterando as formas da luta de classes e o interior das próprias classes. A globalização econômica, política, da comunicação, cultural, associada à intensa utilização da ciência no processo produtivo criou uma verdadeira revolução técnico-científica que com o desenvolvimento da informática modifica a divisão internacional do trabalho tornando o grande capital financeiro (não físico) predominante. A concentração mundial do capital, a sua volatilidade e expansão mundial aumentou o domínio das grandes nações imperialistas sobre aquelas com menor grau de desenvolvimento econômico, técnico e científico. Nesse aspecto, acredito que existe a necessidade de estudos mais profundos para entender como a luta de classes se expressa também como luta entre as nações. A forma atual de dominação imperialista capitalista supera enormemente as piores formas de exploração e humilhação do período colonial.

No Brasil, as mudanças ocorridas a partir do final do século passado foram sensíveis e profundas. A classe trabalhadora, principalmente os operários fabris, diminuiu em número e peso político. Suas entidades representativas, os sindicatos e suas centrais são pálidas amostras do que já foram em passado recente. Claro, que a burguesia soube aproveitar-se das condições favoráveis para esmagar a estrutura organizativa dos trabalhadores a partir do golpe parlamentar contra a presidenta Dilma Roussef e a ascensão do governo direitista de Temer e do governo fascista de Bolsonaro. A diminuição do peso político, ideológico e organizativo dos operários criou enormes problemas para o processo revolucionário brasileiro. O próprio conceito de classe em si de classe para si foi dificultado. Aqui cabem duas teses que se completam, Lenin observou que a ideologia dominante na sociedade capitalista é a burguesa, portanto também seduz os trabalhadores. Gramsci desenvolveu esse tema ao associar o domínio ideológico burguês ao conceito de hegemonia cultural da classe dominante na sociedade quando a classe subordinada adquire os conceitos daquela dominante. Sem dúvida, essas questões influíram diretamente nas lutas dos trabalhadores, que com suas organizações enfraquecidas, lideranças apagadas pouco conseguem resistir às múltiplas investidas da burguesia contra a classe trabalhadora. É notório a ausência de greves gerais e mesmo setorizadas nas grandes empresas privadas. As greves e paralisações realizadas restringem-se aos trabalhadores do setor público nos governos democráticos, já que no governo neofascista de Bolsonaro foram raríssimos os enfrentamentos. Portanto, é extremamente necessária a educação, a formação teórica, ideológica e o fortalecimento da combatividade das lideranças da classe trabalhadora.

As transformações ocorridas no mundo do trabalho impactaram no universo econômico e social brasileiro. Multidões fora do mercado formal passaram a “viver do jeito que dá” buscando sobreviver nas margens do mundo capitalista. Muitos aderiram à marginalidade, aos negócios ilegais como o tráfico e a bandidagem. Outros iniciaram-se no mercado informal engrossando a fileira dos ambulantes, camelôs e atividades afins. Muitos iludidos com a fantasiosa propaganda burguesa do “sucesso do empreendedorismo”. Dessa forma, formaram-se enormes camadas urbanas que, certamente, mesmo sem saber, possuem contradição antagônica com o modelo de relações de produção capitalista.

Os grandes latifúndios transformaram-se em gigantescas empresas do chamado agronegócio que são umbilicalmente associadas e fazem parte do grande capital financeiro, tornando o Brasil um dos maiores exportadores de commodities do mundo. Deixaram o mercado alimentício primário para a agricultura familiar porque é pouco lucrativo. Incorporados ao comércio mundial aplicam alta tecnologia, métodos científicos e abundância de agrotóxicos, gerando super-safras de grãos cuja exportação permite enormes lucros em dólares. Essa enorme massa de capital aplicado em grande parte no mercado financeiro torna-se um dos fatores do seu extraordinário crescimento ocorrido nos últimos anos. Aliás, o capital financeiro consolidou a sua dominação ideológica por meio desse ente fantasmagórico, o “mercado”. Escondendo seu verdadeiro conteúdo social é visto como um ser autônomo, onipotente, com vontades e humores próprios que deve ser atendido em todos os seus desejos e vontades. Nem o velho Marx poderia supor que a sua teoria do fetichismo chegaria a tal ponto!

Acredito que atualmente o pensamento revolucionário marxista-leninista busca respostas objetivas sobre os novos tempos. A construção do socialismo sob o modelo sovietista, instaurado com a revolução de 1917, exauriu-se pela própria incapacidade de renovação e conhecimento criativo sobre os novos tempos. Além disso, o próprio tipo de hegemonia mundial então exercida pela extinta URSS arrasou o sistema socialista mundial, formado por diversos países da Europa central e praticamente aniquilou o outrora poderoso MCI – Movimento Comunista Internacional.

Tenho enorme dívida de gratidão com o camarada Sonkha que ao analisar o meu artigo revelou a insuficiência de elementos gerais teóricos e práticos sobre a necessidade de não esquecer os fundamentos da luta de classes como condição “sine qua non” na busca dos verdadeiros objetivos da política revolucionária.

Mas, não me julgo na obrigação de desculpar-me, uma vez que o objetivo do meu artigo era limitar-me às questões dos embates eleitorais em nossa cidade. O que não é pouca coisa. Infelizmente, o fascismo tupiniquim está longe de ser derrotado. A vitória de Lula em 2022 foi muito importante, entretanto não podemos subestimar o sucesso da direita bolso-fascista nos principais Estados da federação, no parlamento, nas posições que conserva na mídia e no judiciário. As eleições municipais de 2024 necessariamente vão mexer com o cenário nacional. Um estudo de pesquisas agregadas indica que dados atuais apontam vitórias de aliados de Bolsonaro em onze capitais de Estados e aquelas do campo de esquerda apenas em cinco. Lamentavelmente, de todas as capitais nordestinas apenas em Recife o candidato progressista está na frente nas pesquisas atuais!!!!

Na minha avaliação ressalto a importância do resultado eleitoral das cem maiores cidades brasileiras (Vitória da Conquista entre elas) que poderá significar um avanço das forças democráticas e populares ou um fortalecimento das correntes fascio-direitistas que não abandonaram os seus intentos golpistas. Caso a direita neofascista consiga vitórias significativas nas eleições municipais teremos um revigoramento das propostas de anistia para os golpistas de 08 de janeiro e principalmente para o seu principal mentor: J. Bolsonaro. Essa situação que pode acontecer certamente vai impactar nas eleições gerais de 2026 e na política do governo Lula, a partir de 2025.

As correntes democrática-populares, socialistas, comunistas e de esquerda, que lutam pelas aspirações imediatas e futuras dos trabalhadores, elegeram a democracia e o seu aprofundamento popular como tema central de seu ideário. Hoje, em nosso país tal proposta política significa combater a direita conservadora aliada ao bolso-fascismo e estabelecer políticas que façam o Brasil se desenvolver com justiça social, equidade nacional e fraternidade.

Vitória da Conquista está inserida nesse contexto nacional, e, ainda, vai decidir, nas eleições de 2024, o tipo de governo que irá administrar a cidade, se continuará com um governo municipal resultado da aliança entre a direita conservadora com o fascismo ou, se, consagrará a mudança proposta por Waldenor e Luciana integrando-se, a partir de 2025, ao projeto de união para lutar pelos trabalhadores, pela população conquistense e construir a cidade melhor que queremos.

Finalizo expressando a minha enorme satisfação de estar ao lado do amigo/camarada Sonkha, lutando na defesa da democracia, dos trabalhadores e juntos pela vitória das correntes democráticas¹ de esquerda e popular nas eleições municipais em nossa cidade.



*Edwaldo Alves Silva é filiado ao PT.

[1] Constituída pelo PV, PT, PCdoB, PSOL, REDE, PSD e PSB além de consagrar a chapa Waldenor e Luciana foi a mais forte entre aquelas que foram realizadas.


0 comments :

Postar um comentário

Buscar neste blog

Inscreva seu e-mail e receba nossas atualizações:

Arquivo