Translate

Seguidores

sábado, 17 de agosto de 2024

A batalha política em Vitória da Conquista

“Manifestación” (1934),
tela-mural do pintor argentino Antonio Berni

A batalha política em Vitória da Conquista: uma análise crítica das estratégias e mobilizações populares na pré-campanha de 2024.


*por Herberson Sonkha 


O excelente artigo de opinião de Edwaldo Alves, intitulado "Começou a campanha! Quem vai vencer?", publicado no Blog de Paulo Nunes, fornece uma perspectiva minuciosamente detalhada sobre o cenário político de Vitória da Conquista às vésperas das eleições de 2024. Como intelectual orgânico da classe trabalhadora, comprometido com uma análise dialética e materialista histórica, é imperativo revisitar e ampliar essa análise sob uma lente marxista-leninista. 

A crítica aqui se propõe a desvendar as contradições do processo eleitoral, as estratégias de manutenção do poder pelas elites políticas locais e o papel crucial da classe trabalhadora e da militância organizada na luta por uma verdadeira transformação social.

Edwaldo Alves situa seus leitores no panorama político local, destacando a intensa movimentação da pré-campanha. A prefeita em exercício e seus aliados, cada qual com suas táticas, revelam as disputas inter-burguesas típicas do sistema eleitoral burguês, onde a verdadeira disputa se dá pela administração dos interesses do capital. A análise de Alves, ainda que não explicitamente, expõe as limitações de um sistema que, nas palavras de Marx, não passa de "um comitê para gerir os negócios comuns de toda a burguesia" (MARX & ENGELS, Manifesto Comunista, 1848, p. 36).

O texto expõe as estratégias eleitorais como instrumentos de poder e manipulação. A prefeita, ao tomar um empréstimo substancial para obras eleitoreiras, recorre a uma prática clássica da política burguesa: a utilização dos recursos públicos para garantir a reprodução de seu poder político. Tal manobra, sob uma análise crítica, revela o caráter predatório do capital, que se apropria dos recursos públicos coletivos para assegurar o domínio de uma classe sobre as demais.

Waldenor Pereira, apresentado como um candidato que busca legitimar-se por meio de alianças políticas com figuras de destaque, reflete uma estratégia que visa à hegemonia dentro do bloco no poder. Sua aliança com o governador da Bahia Jerônimo Rodrigues e o presidente Lula e outras figuras proeminentes é emblemática porque não abandona totalmente o caráter conciliador da política bem-estar social keynesiana de caráter reformista, que, ao invés de confrontar as raízes do poder burguês, busca articular-se dentro do sistema, oferecendo reformas pontuais indispensáveis, mas que não alteram a essência exploratória do capitalismo (LENIN, O Estado e a Revolução, 1917, p. 84).

A análise das pesquisas eleitorais feita por Alves levanta uma questão crucial: as pesquisas, enquanto instrumentos da ciência social burguesa, frequentemente refletem as intenções da classe dominante em manter a aparência de legitimidade democrática. A crítica às leituras prematuras dos dados é válida, mas é essencial reconhecer que, em última instância, as pesquisas eleitorais servem como uma ferramenta ideológica para moldar a opinião pública em conformidade com os interesses do capital (GRAMSCI, Cadernos do Cárcere, 1975, p. 59).

A ênfase na militância política é o ponto mais forte do texto. Edwaldo Alves acerta ao destacar a diferença entre a militância engajada e a profissionalizada. Na tradição marxista-leninista, a militância engajada é aquela que se organiza de forma consciente e combativa, com o objetivo de transformar radicalmente a sociedade. Essa militância não deve ser cooptada pelas estruturas do poder burguês, mas não deve perder de vista no médio-prazo a ruptura revolucionária que destrua as bases de exploração do sistema capitalista (LUXEMBURGO, Reforma ou Revolução, 1900, p. 41).

A mobilização popular descrita na convenção que lançou a chapa de Waldenor e Luciana é um exemplo do poder que reside na organização das massas. No entanto, é crucial ressaltar que tal mobilização, se não direcionada para além do simples apoio eleitoral, corre o risco de ser absorvida pelo próprio sistema que busca perpetuar (inúmeras capitulações do próprio partido confirmam essa premissa). A verdadeira mobilização popular deve transcender a participação eleitoral e se engajar na construção de um poder popular autônomo, capaz de desafiar e derrubar a ordem estabelecida (LENIN, O Que Fazer?, 1902, p. 129).

A conclusão de Alves, que aponta a incerteza quanto ao resultado final das eleições, é uma observação que reflete a natureza volátil das disputas dentro do sistema burguês. Como marxistas-leninistas, devemos entender que, independentemente de quem vença, a estrutura de poder capitalista permanecerá intacta, a menos que a classe trabalhadora tome consciência de sua força coletiva e organize-se para a revolução socialista. O que está em jogo não é simplesmente a eleição de um ou outro candidato, mas a necessidade de uma mudança sistêmica que só pode ser alcançada por meio da luta de classes (MARX, O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, 1852, p. 62).

A análise de Edwaldo Alves Silva, ainda que rica em detalhes e observações, limita-se a um campo de ação restrito ao que Gramsci chamaria de "guerra de posição" dentro das instituições burguesas (GRAMSCI, Cadernos do Cárcere, 1975, p. 234). Como intelectuais orgânicos da classe trabalhadora, nossa tarefa é utilizar essa análise como ponto de partida para uma crítica mais profunda, que revele as contradições inerentes do sistema capitalista e mobilize as massas para a construção de uma nova sociedade. A luta pela emancipação da classe trabalhadora deve ser o centro de qualquer análise política, e é através dessa luta que poderemos, de fato, transformar o futuro de Vitória da Conquista e do Brasil.


Referência

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.

LENIN, Vladimir Ilyich. O Estado e a Revolução. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1917.

LENIN, Vladimir Ilyich. O Que Fazer? São Paulo: Editora Hucitec, 1902.

LUXEMBURGO, Rosa. Reforma ou Revolução. São Paulo: Editora Expressão Popular, 1900.

MARX, Karl. O 18 de Brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Boitempo Editorial, 1852.

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. São Paulo: Editora Boitempo, 1848.



0 comments :

Postar um comentário

Buscar neste blog

Inscreva seu e-mail e receba nossas atualizações:

Arquivo