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sábado, 17 de agosto de 2024

A perspectiva revolucionária da luta antirracista

Imagem: Ruptura Editorial

“O trabalhador branco não pode se emancipar, enquanto o de pele negra é marcado a ferro” (MARX, 1971)


*por Herberson Sonkha


 


A luta antirracista em Karl Marx é marcada por uma perspectiva revolucionária, fundamentada em sua análise crítica do sistema capitalista e da luta de classes. Em sua célebre obra "O Capital", Karl Marx (1971. p. 209) afirma que "o trabalhador branco não pode se emancipar, enquanto o de pele negra é marcado a ferro¹", destacando a exploração e opressão enfrentadas pelos trabalhadores negros em comparação com os trabalhadores brancos.

Essa assertiva reflete a compreensão de Marx sobre a interseção entre a opressão racial e a opressão de classe. O filósofo discute a necessidade de construir e fortalecer a solidariedade de classe, sugerindo que a verdadeira emancipação da classe trabalhadora só pode ser alcançada com a unidade entre todos pessoas oriundas da classe trabalhadora, independentemente da raça. Nessa perspectiva, a divisão racial é uma ferramenta utilizada pelo capitalismo para enfraquecer a classe trabalhadora, ao criar divisões internas.

Para Marx, a luta contra o racismo é indissociável da luta contra a exploração econômica. O racismo e outras formas de opressão são mecanismos que sustentam o sistema capitalista, beneficiando a classe dominante ao dividir e controlar a classe trabalhadora. No contexto histórico do século XIX, a escravidão e a segregação racial eram questões extremamente prevalentes, especialmente nos Estados Unidos. Marx reconheceu que o racismo contra os trabalhadores e trabalhadoras negras era uma barreira significativa para a emancipação de todos os trabalhadores.

Com base nessa análise, Marx tece uma das mais incisivas críticas ao capitalismo, compreendendo que este sistema não apenas explora os trabalhadores economicamente, mas também utiliza opressões como o racismo para manter seu poder e controle. Portanto, a emancipação plena só pode ser alcançada através da abolição de todas as formas de opressão e exploração. Nesse sentido, Marx destaca a necessidade de uma luta unificada contra todas as formas de opressão para alcançar a verdadeira emancipação da classe trabalhadora.

A perspectiva de Marx sobre a luta antirracista se fundamenta em sua visão crítica do sistema capitalista e da luta de classes. Para ele, o racismo é um mecanismo utilizado pelo capitalismo para dividir e enfraquecer a classe trabalhadora, perpetuando a exploração econômica e a opressão social. Nessa perspectiva, a emancipação da classe trabalhadora, incluindo os trabalhadores e trabalhadoras negras, só pode ser alcançada através da luta unificada contra todas as formas de opressão, sejam elas raciais, econômicas ou sociais.

Marx compreende que o racismo e a exploração de classe estão intrinsecamente ligados, de modo que a superação do racismo é indissociável da superação do capitalismo. Portanto, a perspectiva marxista da luta antirracista é essencialmente revolucionária, pois envolve a transformação radical da estrutura social e econômica, visando a emancipação de toda a classe trabalhadora, independentemente de raça.

Em contraste, a perspectiva liberal burguesa norte-americana tende a abordar a questão racial de forma mais limitada e reformista. Nessa visão, a luta antirracista se concentra principalmente na promoção de políticas de igualdade de oportunidades, representatividade e inclusão dentro do sistema capitalista vigente. Essa abordagem liberal não questiona as bases estruturais do racismo e da desigualdade, limitando-se a buscar a integração dos grupos historicamente marginalizados, como a população negra, no sistema econômico e político existente.

As contradições e incoerências da luta antirracista liberal burguesa se evidenciam em diversos aspectos, pois, ao não questionar as raízes do racismo no sistema capitalista, a perspectiva liberal tende a abordar apenas os sintomas do problema, sem atacar suas causas estruturais. Dessa forma, a manutenção do status quo é perpetuada, uma vez que a abordagem liberal não visa a transformação radical desse sistema, perpetuando as desigualdades e opressões.

Nesse sentido, a perspectiva marxista da luta antirracista se distingue da abordagem liberal burguesa por sua natureza revolucionária, que busca a superação do capitalismo e a emancipação de toda a classe trabalhadora, como condição fundamental para a eliminação do racismo e de todas as formas de opressão.

No Brasil contemporâneo, a população negra continua enfrentando uma dura realidade de subalternização, exploração, violência e assassinato, marcada profundamente por sua condição étnico-racial. Desde os tempos coloniais, a sociedade brasileira se estruturou em torno de um sistema que relegou os negros a posições inferiores, perpetuando um ciclo de pobreza e exclusão que atravessa gerações.

Os trabalhadores e trabalhadoras negras, majoritariamente empregadas em setores informais e de baixa remuneração, são as mais afetadas pelas desigualdades socioeconômicas, culturais e políticas. A proibição do acesso a uma educação de qualidade, oportunidades de emprego dignas e condições de vida adequadas reforça sua posição subalterna. Essas barreiras estruturais não são meras coincidências, mas resultado de um modelo de capitalismo que impõe a institucionalização do racismo, marginalizando e desvalorizando sistematicamente a população negra.

A pauperização da população negra brasileira é evidente. Dados estatísticos mostram que a maioria das pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza no país são negras. Essa trágica realidade é agravada pela discriminação no mercado de trabalho, onde pessoas negras recebem salários mais baixos que seus colegas brancos, mesmo quando possuem as mesmas qualificações. Além disso, a falta de representatividade e de políticas públicas eficazes para combater essas desigualdades perpetua a exclusão social.

A violência contra a população negra é uma constante. As diversas manifestações de racismo e a criminalização da pobreza fazem com que negros sejam alvos preferenciais da violência policial e do sistema de justiça criminal. As estatísticas de homicídios mostram que jovens negros são exterminados a taxas alarmantes, uma situação que reflete a banalização de suas vidas por parte do Estado liberal e da sociedade burguesa.

Esse cenário de opressão e banalização da população negra não é apenas uma questão de desigualdade econômica, mas também uma negação de suas condições étnico-raciais, caracterizando uma violação contínua de direitos humanos. A luta pela emancipação da classe trabalhadora no Brasil não pode ser separada da luta contra o racismo. A emancipação dos trabalhadores brancos está inextricavelmente ligada à libertação da população negra de sua condição de subalternidade.

Para construir uma sociedade minimamente justa, com igualdade e equitativa, é imperativo enfrentar o racismo em todas as suas formas. Isso inclui a implementação de políticas afirmativas, a promoção de uma educação antirracista, a valorização da cultura e da história negra, e a garantia de acesso a oportunidades iguais para todos. Somente através de uma luta unificada e consciente contra todas as formas de opressão poderemos alcançar a verdadeira emancipação de toda a classe trabalhadora brasileira.

 



[1] MARX, Karl. O Capital: Crítica da Economia Política. Livro I, Volume I. Tradução de Reginaldo Sant'Anna. 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971. p. 209.


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