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sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Exclusiva: Elson Oliveira, da grande São Paulo à mudança sindical na Bahia!

Foto: Elson Oliveira, Brasílias

Entrevista Exclusiva: O servidor público federal e carteiro revela sua trajetória no PT, SINCOTELBA, ANATECT e os desafios enfrentados na defesa dos direitos dos trabalhadores.

*por Herberson Sonkha

 

Elson Oliveira é mais do que um simples militante; ele é uma verdadeira história viva da luta sindical no Brasil. Com uma trajetória que se entrelaça com a história dos trabalhadores dos Correios, Elson se destaca como um líder carismático e incansável, cuja paixão pela justiça social reverbera em cada esquina de Vitória da Conquista.

Desde sua entrada no Partido dos Trabalhadores nos anos 90, ele tem sido uma voz potente na defesa dos direitos da classe trabalhadora, enfrentando não apenas as adversidades internas, mas também os desafios impostos por um sistema que frequentemente marginaliza os mais vulneráveis. Sua capacidade de mobilizar e inspirar outros a se unirem em torno de um projeto coletivo é um testemunho de sua liderança visionária. Nesta entrevista, mergulhamos na vida e nas batalhas de Elson Oliveira, um verdadeiro ícone da resistência e da solidariedade no Brasil contemporâneo.

Herberson Sonkha: Como foi sua entrada nos Correios e sua militância no PT?

Elson Oliveira: Entrei nos Correios em 1994, mas já militava no PT há cerca de dois anos. Com apenas três meses de experiência na empresa, fui convidado a me tornar delegado sindical. Foi nesse período que conheci o movimento sindical, especialmente o movimento grevista, que tinha raízes em São Paulo. Permaneci como delegado até 2000, optando por não assumir cargos de direção para manter contato próximo à base em Cumbica.

Herberson Sonkha: Como era a luta dentro do PT?

Elson Oliveira: A luta dentro do PT era constante, especialmente em relação ao Tatuzão, uma obra associada a Paulo Maluf. Enfrentávamos grupos que não tinham uma ideologia clara; era uma questão de 'manda quem pode, obedece quem tem razão'.

Herberson Sonkha: Você participou de greves importantes. Pode nos contar sobre isso?

Elson Oliveira: Uma das greves mais significativas ocorreu em 1997, destacando-se pela adesão total do CDD Cumbica. O PT liderou vários movimentos de massa porque tinha destacados articuladores e dirigentes partidários importantes ligados organicamente ao movimento sindical, um deles era o Elói Pietá que fazia com que o partido se enraizasse e fortalecesse o movimento sindical, sobretudo dos Correios.  Naquele ano, acampamos na porta da casa do ministro Sérgio Motta, que era conhecido por sua rigidez. Ele mandou um carro-pipa jogar água em nós durante uma greve fria de junho. Apesar da repressão policial, mantivemos nossa posição. Atuei como dirigente sindical em São Paulo de 1994 até 2001. Em 2001, houve um acordo que permitiu que sindicalistas do Nordeste pudessem voltar para suas regiões de origem, em troca da abertura de concursos em São Paulo. Assim, eu e vários companheiros voltamos para a Bahia.

Herberson Sonkha: Você menciona figuras importantes da sua trajetória, como Elói Pietá. Qual a relevância dele?

Elson Oliveira: Em relação ao Elói Pietá, um quadro histórico do PT de Guarulhos, expressão da luta política paulista naquele momento, aprendemos muito com ele. Cumpriu várias tarefas partidárias, entre elas a de disputar várias eleições pelo partido na época. Sua atuação política foi um elo significativo na construção de uma base sólida para a esquerda na região. A colaboração com líderes como Elói Pietá enriqueceu minha experiência e ressaltou a relevância sociopolítica da minha trajetória, evidenciando como a união entre militantes fortaleceu o movimento trabalhista e a luta por direitos no Brasil. Elói Pietá foi deputado e prefeito de Guarulhos, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores no final da década de 1970, anunciou no dia 23 de janeiro de 2024 sua saída do PT por divergência política e ideológica.

Herberson Sonkha: O que motivou sua transferência para a Bahia?

Elson Oliveira: Em 2001, considerando o acordo feito para que os Correios realizassem novo concurso, pedi transferência para a Bahia. Quatro anos depois, Joaquim Apolinário, um colega de longa data, me convidou para integrar a direção do SINCOTELBA, reconhecendo minha experiência adquirida em São Paulo. Aceitei a missão. Quero aproveitar esse momento importante para destacar naquele momento vários nomes imprescindíveis na luta sindical, a exemplo da companheira e de companheiros antigos do sindicato que fizeram história, como Joaquim Apolinário, Almir Nunes, e o falecido Sérgio Campos, Itana e José Ferrer e o valoroso José Barriga. Vale a pena mencionar esses companheiros e a companheira, muitos deles ainda estão vivos. Além disso, gostaria de destacar que, no ano passado, houve um aumento nas agressões decorrentes de violência doméstica.

Herberson Sonkha: Você também menciona José Barriga. Qual a importância dele na sua trajetória?

Elson Oliveira: Barriga, conhecido como Velho Barriga, fez parte da corrente do PT chamada "Articulação". Ele me apresentou à essência do PT e à tendência 'Articulação', fornecendo informações sobre o funcionamento do partido. Naquela época, Elói Pietá também era membro do PT, e acredito que ele ainda deve atuar em um partido de esquerda.

Herberson Sonkha: Qual é o legado que você acredita ter deixado?

Elson Oliveira: Barriga, figura histórica do partido, foi dirigente sindical em São Paulo e Guarulhos, e mais tarde tornou-se secretário da federação em Brasília. Hoje aposentado, continua sendo uma referência para os militantes. Em tempos de desafios e transformações, minha história e dedicação à luta sindical nos Correios refletem a importância da organização e da resistência dos trabalhadores, além de representar as lutas coletivas que moldaram a história recente do Brasil.

Herberson Sonkha: Como foi sua experiência na Bahia?

Elson Oliveira: Ao chegar em 2003, especificamente em Camaçari, percebi que a região tinha um histórico limitado de greves. Naquela época, quando ocorriam, eram predominantemente lideradas por homens. Com a vitória do Lula, iniciamos um trabalho na Bahia. Vim para Vitória da Conquista em 2004, com a missão de fortalecer a base sindical. No início, não era dirigente, mas comecei a trabalhar em prol dos trabalhadores locais, seguindo orientações de companheiros experientes, como Nilton Guedes.

Herberson Sonkha: Qual foi o impacto do seu trabalho na região?

Elson Oliveira: Meu trabalho resultou na mobilização de várias unidades em Itapetinga, Macarani e Condeúba, construindo gradualmente a confiança dos trabalhadores no sindicato. Antes da minha chegada, as greves eram raras em Vitória da Conquista. Nilton, um dos dirigentes, não conseguia mobilizar o pessoal. A resistência à mudança era evidente, simbolizada por figuras tidas como coronéis dos Correios.

Herberson Sonkha: Como Elson Oliveira começou a transformar o movimento sindical em Vitória da Conquista?

Elson Oliveira: Dei iniciou (ou deu continuidade) ao trabalho sindical na região de Vitória da Conquista iniciado por Nilton Guedes e outros companheiros e em outras cidades da região Sudoeste, promovendo a importância do sindicato e do movimento sindical. Como disse anteriormente, durante a nossa gestão, consegui mobilizar diversas unidades em Itapetinga, Macarani, Piripá, Condeúba e outras cidades da região. Esse sucesso foi fruto de um trabalho incansável de visitas e mobilização dos trabalhadores, algo que antes não existia. Com o tempo, consegui construir a confiança dos trabalhadores no sindicato, estabelecendo uma nova era de participação e engajamento.

Herberson Sonkha: Quais eram os desafios enfrentados pelos trabalhadores antes da sua chegada?

Elson Oliveira: A verdade é que não havia um histórico de greves em Vitória da Conquista. Nilton, um dos mais importantes dirigentes da época, não conseguia mobilizar os trabalhadores porque era difícil romper com a força reacionária que estava sob o controle rígido da REOP, um grupo que impunha um ambiente de medo e silêncio. Os carteiros temiam até mesmo conversar com Nilton quando ele aparecia com uma pastinha, refletindo uma cultura de perseguição e humilhação. Reafirma, essa Senhora Carla Ataíde, acusada de perseguir e assediar colegas é uma figura emblemática desse período, simbolizava essa mentalidade opressora que Elson se propôs a desafiar e transformar.

Herberson Sonkha: Como você vê a continuidade do trabalho sindical atualmente?

Elson Oliveira: Embora eu tenha deixado um legado significativo, o trabalho não tem sido continuado. Atualmente, não há visitas às pequenas cidades, exceto por interesses eleitorais. Fui dirigente sindical em São Paulo de 1994 a 2001, quando um acordo permitiu que sindicalistas do Nordeste retornassem às suas regiões de origem. Assim, voltei para a Bahia.

Herberson Sonkha: Que papel você desempenhou na organização da região de Vitória da Conquista?

Elson Oliveira: Continuei a luta sindical com o apoio de Joaquim Apolinário, organizando a região onde havia pouco conhecimento sobre o movimento sindical. Fui vice-presidente por dois mandatos e, em outro, terceiro vice-presidente por escolha própria. O legado construído ainda permite que a categoria ouça o sindicato e participe de paralisações e greves, algo que não ocorria antes de minha chegada. Sigo contribuindo com a categoria, a exemplo da criação da ANATECT Bahia. 

Herberson Sonkha: Elson, você pode nos contar sobre como foi sua trajetória até a Associação Nacional dos Trabalhadores da ECT (ANATEC) Bahia?

Elson Oliveira: A trajetória da minha ida para a ANATEC Bahia começou com um convite feito por Abner Gama e Carlos, que são membros da ANATEC. A ANATEC existia apenas a nível nacional, e seus fundadores eram Rodolfo, José Ferrer, entre outros membros cujos nomes não recordo. Os companheiros da Bahia, liderados por Abner Gama, me convidaram há dois anos. Como já conhecia o Abner, com quem militei no movimento sindical e que era diretor, aceitei o convite para conhecer como funcionava a ANATEC e me engajar nessa luta.

Herberson Sonkha: E como se deu a criação da ANATEC nos estados?

Elson Oliveira: Fomos para Brasília para um encontro, onde foi decidido que haveria a criação da ANATEC nos estados. Assim, nós fomos um dos fundadores e criamos a ANATEC Bahia, intermediados pelo companheiro Abner Gama e Carlos, conhecido como Carlos Lagartixa. A posse da ANATEC Bahia foi programada para acontecer em Vitória da Conquista, onde temos cinco membros atuantes(eu, Nilton, Nivaldo, Paulo e Diego), todos oriundos do movimento sindical e partidário, com uma luta e uma história significativas.

Herberson Sonkha: Você teve algum papel na escolha do local para a posse?

Elson Oliveira: Sim, na posse da ANATEC, conversei com os companheiros e sugeri que a cerimônia fosse em Vitória da Conquista, o que foi aceito. Com a criação da ANATEC Bahia, Carlos tornou-se presidente, e os demais cargos foram preenchidos; posso enviar a lista dos diretores, se necessário. Hoje, a ANATEC Bahia está avançando, tendo fechado um convênio odontológico para os associados, que já podem utilizá-lo. Estamos também trabalhando com a ANATEC nacional para fechar um acordo com um convênio médico.

Herberson Sonkha: Qual é a principal bandeira de luta da ANATEC?

Elson Oliveira: Decidi entrar na associação para unir forças e potencializar a luta dos trabalhadores. A ANATEC está focada em reverter os recursos dos associados para o próprio associado. Essa é a bandeira de luta que estamos defendendo: a união e o bem-estar do trabalhador, buscando acabar com os assédios que ocorrem nas empresas. O trabalhador de base, aquele que está no chão de fábrica, é frequentemente massacrado. A ANATEC Bahia é um reforço para nossos companheiros. Temos o sindicato que representa os trabalhadores, mas a ANATEC veio para somar e fortalecer essa luta.

Herberson Sonkha: E como você vê a reação de ativistas da extrema-direita bolsonarista em relação a essa luta?

Elson Oliveira: A raiva de ativistas da extrema-direita bolsonarista se deve ao fato de que, recentemente, houve um grupo que queimou a bandeira do PT. Embora muitos digam erroneamente que 100% dos funcionários dos Correios votaram em Bolsonaro, na verdade, cerca de 40% votou nulo ou no companheiro Lula. O ódio deles é evidente, pois 95% dos funcionários dos Correios votaram nulo e, na última eleição de 2024, fizeram campanha para Lula, até mesmo aqueles que inicialmente falavam em Bolsonaro.

Herberson Sonkha: Você sente que há um ressentimento pessoal em relação a você?

Elson Oliveira: Sim, o ressentimento deles, especialmente em relação a mim, é porque, durante o governo Bolsonaro, não se falava do PT, pois havia medo. Carlos, por exemplo, não demonstrava sua militância, e eu não sabia que ele era do PT. Dentro da empresa, só havia dois que falavam em nome do PT: eu e um camarada chamado Cabeça. O povo ficava agitado com isso. Os bolsonaristas têm consciência do medo que sentem em relação à reeleição de Lula e sabem que terão que sair, pois não há condições de permanecer nessa situação.

Herberson Sonkha: E qual é a sua expectativa agora sob o governo Lula?

Elson Oliveira: Estamos agora sob o governo Lula, e a questão da governabilidade é fundamental. Precisamos ter paciência, mas também é preciso que cheguemos a um entendimento sobre a necessidade e o tipo de governabilidade. Apesar da crítica correta da categoria a algumas experiências ruins com pessoas que inevitavelmente compõem partidos aliados, a exemplo do que está acontecendo na Bahia e em Vitória da Conquista, sem a governabilidade corre-se o sério risco de cair em um outra tentativa de golpe.

Herberson Sonkha: Agradeço pela sua participação, Elson. Suas palavras são muito importantes para entendermos o cenário atual.

Elson Oliveira: Eu que agradeço pela oportunidade de compartilhar nossa luta.

Herberson Sonkha: Há alguma mensagem que o senhor gostaria de deixar para os nossos leitores?

Elson Oliveira: Sim, eu gostaria de deixar uma mensagem de esperança e mobilização. É fundamental que os trabalhadores entendam a importância da união e da luta coletiva. Cada um de nós tem o poder de transformar a realidade ao nosso redor. Através da solidariedade e da organização, podemos enfrentar os desafios que surgem e conquistar nossos direitos. Nunca subestimem a força que têm quando se juntam em prol de um objetivo comum. A mudança começa com a confiança em si mesmos e na capacidade de lutar por dignidade e justiça. Juntos, somos mais fortes!"


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