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quinta-feira, 3 de julho de 2025

Rui Costa: Cavalo de Troia no Governo Lula

Foto: Folha de São Paulo

Rui Costa e o projeto neoliberal de destruição das estatais:

O cavalo de Troia no governo Lula



*por Herberson Sonkha



O mais recente episódio envolvendo o presidente dos Correios, Fabiano Silva, expõe, sem disfarces, as vísceras de um governo que carrega em suas entranhas contradições brutais. A pressão para demitir cerca de 10 mil trabalhadores e vender o patrimônio imobiliário da estatal Correios – proposta articulada diretamente pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa – não é apenas um gesto de ajuste fiscal. É a manifestação clara e perigosa de um projeto neoliberal travestido de governabilidade, que se infiltra no coração do governo Lula para fragilizar empresas públicas estratégicas, corroer direitos sociais e submeter o Estado aos interesses do mercado e de caciques do centrão fisiológico.

Segundo reportagem do jornalista Igor Gadelha, publicada no site Metrópoles em 30 de junho de 2025, Rui Costa, em reunião tensa com o presidente dos Correios, teria sugerido a adoção de medidas drásticas para conter o prejuízo de R$ 2,6 bilhões registrado pela empresa em 2024: cortar pessoal em massa e vender ativos públicos. Essa proposta — rechaçada por Fabiano — se soma a uma movimentação mais ampla e articulada: a ocupação política da estatal por Davi Alcolumbre (União Brasil), presidente do Senado - partido com deputados investigados pelo STF por desvios envolvendo emendas PIX. Seu partido, que já comanda o Ministério das Comunicações, agora mira o controle da empresa postal, dentro de uma lógica de loteamento e aparelhamento de cargos com fins eleitorais e patrimoniais.

Esse cenário revela uma aliança informal, mas profundamente danosa, entre o neoliberalismo tecnocrático de Rui Costa e a política fisiológica de figuras como Alcolumbre. Uma união imoral que atua para transformar estatais em moeda de troca, ao mesmo tempo em que pressiona por medidas de austeridade destrutivas, como se o déficit de uma empresa pública pudesse ser resolvido com corte de gente e entrega de patrimônio público.

O mais grave é que essa agenda neoliberal não é fruto apenas de convicção ideológica — embora Rui Costa tenha dado mostras suficientes de que a tem. Trata-se, também, de uma estratégia política para se projetar novamente como figura majoritária no cenário baiano, agora de malas prontas para o Partido Avante, uma sigla sem identidade ideológica definida, mas conveniente para suas ambições. Sua movimentação rumo a 2026, ao lado de setores do centrão e do mercado financeiro, revela uma traição aos fundamentos históricos do PT, do qual Rui pretende se desvincular formalmente, mas que já abandonou na prática há muito tempo.

A tentativa de impor a privatização branca dos Correios – começando com a redução drástica de quadro e alienação de ativos – não é um caso isolado. É um método. Rui Costa, ao longo de sua atuação, tem defendido, nos bastidores, uma gestão pública guiada por princípios empresariais, que desloca o papel do Estado como promotor do bem-estar social para simples executor de metas fiscais. Sua gestão na Casa Civil tem sido marcada por esse tipo de alinhamento aos interesses do mercado e aos pactos silenciosos com o que há de mais reacionário nas duas casas legislativas federais.

Nesse contexto, a postura de Fabiano Silva deve ser exaltada. Ao resistir às pressões de Rui Costa e Alcolumbre, o presidente dos Correios mostra que há setores do governo que ainda compreendem o valor social das estatais. Fabiano, ao buscar diálogo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, propôs um caminho oposto ao do desmonte: um aporte emergencial de R$ 1 bilhão para reequilibrar as contas da estatal sem sacrificar seus trabalhadores ou seu papel estratégico. Mesmo sem garantias de Haddad, o movimento revela a existência de um campo de resistência dentro do próprio governo, que precisa ser fortalecido.

A crise dos Correios, portanto, é mais do que uma disputa sobre gestão. É o espelho de uma encruzilhada histórica enfrentada pelo terceiro governo Lula. O dilema está posto: manter-se fiel ao projeto popular que construiu os avanços sociais mais significativos da história recente ou capitular, via intermediários como Rui Costa, ao mercado e ao centrão, abrindo as portas para o colapso das políticas públicas e o enfraquecimento do próprio partido.

Rui Costa, ao se aliar com forças conservadoras e articular pela destruição de uma das maiores estatais do país, atua como um verdadeiro cavalo de Troia dentro do Planalto. Sua saída do PT não será uma ruptura — será apenas a formalização de um abandono que já é prático, ideológico e programático. Sua política de desmonte, travestida de realismo fiscal, é, na verdade, um projeto de poder pessoal que instrumentaliza o Estado para fins eleitoreiros e enfraquece a esquerda institucional, pavimentando o caminho para a ascensão de um novo bloco burguês-conservador no Brasil.

A sociedade brasileira, os movimentos sociais e os trabalhadores dos Correios precisam reagir com firmeza. O projeto de Rui Costa é o projeto do Estado mínimo, da terceirização, do arrocho, da privatização e da subordinação nacional ao capital financeiro. Em contrapartida, defender os Correios é defender o Brasil profundo, o serviço postal nas periferias e áreas remotas, o direito à comunicação, o emprego digno e o papel do Estado como indutor do desenvolvimento.

É hora de escancarar as contradições. Ou o governo rompe com o neoliberalismo entranhado em sua cúpula — e afasta de vez os articuladores do atraso como Rui Costa —, ou será ele mesmo o autor de sua própria sangria.


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