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Tarifa de Trump contra o Brasil
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Imagem: Paul Krugman |
Tarifa de Trump contra o Brasil:
Paul Krugman denuncia ataque à
democracia e sugere impeachment
"Em publicação extraordinária, Nobel de Economia afirma
que decisão tarifária de Trump é perversa, megalomaníaca e
sem qualquer base econômica — uma retaliação contra
o julgamento de Bolsonaro e um ataque à soberania brasileira"
*por Herberson Sonkha
10 de julho de 2025
Antes de abordarmos o texto de Paul Krugman que viralizou nas redes sociais e forçou até a GloboNews a dedicar uma matéria especial à posição do economista norte-americano e Prêmio Nobel de Economia, é fundamental compreender a escola de pensamento à qual ele é vinculado.
De acordo com o economista brasileiro Paulo Gala, Krugman adota uma abordagem pragmática e progressista, centrada na intervenção estatal como instrumento de correção das falhas de mercado e de promoção do desenvolvimento. Reconhecido por ter revolucionado a teoria do comércio internacional, Krugman superou os modelos clássicos baseados em vantagens absolutas, defendendo que países devem se especializar em setores com vantagens comparativas dinâmicas e ganhos de escala. Sua teoria da geografia econômica também explica como fatores como localização, aglomerações urbanas e externalidades locais impactam o crescimento regional.
Com esse arcabouço teórico e um compromisso público com a democracia e a justiça social, Krugman publicou nesta terça-feira (9), em seu perfil no Substack, um texto extraordinário e contundente, denunciando o novo movimento do ex-presidente Donald Trump, que anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. O motivo, segundo o próprio Trump, seria o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil — processo conduzido por instituições democráticas em resposta à tentativa de golpe após sua derrota nas eleições de 2022.
Medida sem base econômica e motivada por ideologia autoritária
Krugman classifica a decisão como "perversa e megalomaníaca", afirmando que ela representa uma perigosa ruptura com a tradição diplomática e econômica dos Estados Unidos. Em vez de usar o comércio como instrumento de promoção da paz e da democracia — como fizeram os governos do pós-guerra ao criar o GATT e, posteriormente, a OMC —, Trump estaria convertendo tarifas em instrumentos de chantagem política para proteger aliados autoritários. “Agora, Trump está tentando usar tarifas para ajudar outro aspirante a ditador”, escreve Krugman, em referência direta a Bolsonaro.
Ao longo do texto, Krugman argumenta que não há qualquer justificativa econômica para a medida. O Brasil exporta uma fração relativamente pequena de seu PIB para os Estados Unidos — menos de 2%, segundo dados da Organização Mundial do Comércio. Assim, o impacto econômico direto da tarifa é limitado, mas seu significado político é profundo: trata-se de um ato simbólico de guerra ideológica contra um país soberano que está exercendo seus mecanismos de justiça democrática.
“Trump mal finge que há uma justificativa econômica para essa ação. Trata-se apenas de punir o Brasil por levar Jair Bolsonaro a julgamento”, afirma o economista.
Ataque à soberania brasileira e crise da democracia global
Krugman reconhece explicitamente a legitimidade e a soberania do povo brasileiro em julgar seus ex-presidentes. A decisão do governo Lula de apoiar institucionalmente os trâmites que levaram Bolsonaro ao banco dos réus é vista por ele como coerente com os princípios democráticos e constitucionais.
Nesse contexto, o ataque de Trump é mais do que uma ação de política externa: é uma afronta direta ao processo de justiça democrática brasileira. Krugman vai além: “Se ainda tivéssemos uma democracia em funcionamento, essa manobra do Brasil seria, por si só, motivo para impeachment”, dispara. Para ele, Trump está utilizando o aparato estatal norte-americano para proteger um golpista estrangeiro e punir um país que escolheu democraticamente sua liderança — uma conduta que rompe com qualquer padrão institucional minimamente aceitável.
A democracia como estrutura civilizatória e seu avesso
Para Krugman, a democracia não é apenas um mecanismo eleitoral. É uma estrutura civilizatória de contenção ao autoritarismo. Ele estabelece um paralelo entre a tentativa de golpe de Bolsonaro e a invasão do Capitólio em 6 de janeiro de 2021, por apoiadores de Trump. Ambas expressam a mesma lógica autoritária: a recusa da derrota eleitoral como princípio legítimo da vida democrática.
O julgamento de Bolsonaro, nesse sentido, é uma reafirmação da democracia brasileira. A resposta de Trump, ao contrário, subverte esse marco. “Usar tarifas para combater a democracia”, escreve Krugman, é transformar a política econômica em ferramenta de apoio a projetos autoritários — uma inversão perversa dos valores republicanos.
Nesse ponto, cabe lembrar que Krugman é um dos mais duros críticos da austeridade fiscal em tempos de crise. Para ele, cortar gastos públicos durante recessões aprofunda o desemprego e reduz ainda mais a demanda agregada. Sua defesa da ação estatal ativa, inclusive com medidas extraordinárias como a flexibilização quantitativa, sustenta-se na ideia de que o Estado deve garantir o bem-estar coletivo e proteger a ordem democrática.
Uma denúncia com peso histórico
A publicação de Krugman tem caráter excepcional. O próprio autor admite que normalmente escreve apenas uma vez por dia, mas que a gravidade do caso exigiu “um boletim especial”. Trata-se de um gesto raro, vindo de um intelectual respeitado, ex-conselheiro de governos democratas e voz crítica constante do neoliberalismo.
Ao chamar Trump de “megalomaníaco”, Krugman escancara o descolamento da realidade geopolítica da medida tarifária. Tentar intimidar um país com mais de 200 milhões de habitantes e uma economia diversificada por meio de tarifas inócuas revela, segundo ele, um delírio autoritário motivado por vaidade e ressentimento.
Impeachment como resposta institucional
Ao final do texto, Krugman é direto: em qualquer democracia funcional, a conduta de Trump justificaria um processo de impeachment. Ele elenca quatro fundamentos jurídicos e políticos para essa medida:
Desvio de finalidade da política tarifária, utilizada como arma de chantagem ideológica pessoal;
Interferência indevida em assuntos internos de um país soberano, atacando o direito de autodeterminação do povo brasileiro;
Apoio explícito a um ex-presidente acusado de tentativa de golpe, configurando cumplicidade com atos antidemocráticos;
Rompimento da tradição diplomática dos Estados Unidos, que historicamente utilizou o comércio como ferramenta de estabilidade global.
Um alerta ao mundo democrático
A crítica de Krugman não se restringe ao contexto norte-americano. Ela ecoa como advertência à comunidade internacional. O uso de instrumentos econômicos como instrumentos de vingança política pessoal inaugura um perigoso precedente global. Quando a maior potência do mundo converte sua política comercial em extensão de projetos autoritários pessoais, toda a arquitetura da ordem democrática internacional é colocada em xeque.
Krugman encerra com um alerta sombrio: essa tarifa não visa proteger a economia dos EUA, mas proteger um projeto transnacional de poder autoritário que une lideranças como Trump, Bolsonaro, Orbán e Putin. “Estamos diante de mais um passo terrível na espiral descendente do nosso país”, conclui.
Conclusão
O texto de Paul Krugman é, sem dúvida, um dos mais contundentes já escritos por um economista contra o uso político das tarifas internacionais. Ele denuncia o uso abusivo do poder estatal dos Estados Unidos para interferir na democracia brasileira, expõe a ausência total de fundamento econômico na medida anunciada por Trump e propõe — sem rodeios — que essa conduta justifica um processo de impeachment.
Mais do que proteger o Brasil, trata-se de proteger os fundamentos da democracia diante de uma nova geração de autoritarismos globais. E, nesse embate, Paul Krugman se posiciona com firmeza ao lado da soberania dos povos, da justiça democrática e do bem-estar coletivo.
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Fontes de pesquisa:
https://open.substack.com/pub/paulkrugman/p/trumps-dictator-protection-program?utm_campaign=post&utm_medium=web
Resumo do pensamento econômico de Paul Krugman - Paulo Gala / Economia & Finanças https://share.google/1f4VYJ9MIJxmxLFOq
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