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domingo, 15 de junho de 2014

O Hexa é nosso...é daí?...


*por Vinícius


Caro João,

Espero que você tenha conhecimento do respeito que tenho não só pelo historiador, mas pelo ser político que você é. No entanto, ao ler suas pontuações, não tive como conter minha necessidade de ponderar sobre algumas destas e levantar indagações, ainda que meu limitado conhecimento não permita às responder em seu todo.


Vamos começar com a realização ou não da copinha em nossas terras. Como já vi outros pensadores citarem, NÃO, a copa em si não é uma ocorrência que determine algo ruim para o país que a sedie. Porém, não questionar como esforços tão grandiosos se dão para algo de “valor” meramente de curto prazo é algo que não posso compreender. Não ao menos crendo em qualquer razoabilidade prática frente a um país com demandas tão antigas quanto seu dito “descobrimento”.

A copa poderia sim se mostrar uma oportunidade para melhorias em nossa infraestrutura urbana, mobilidade, atração de investimentos, ampliação do turismo e outras. Mas falemos sério, alguém viu algo próximo disto em algum canto desse país? A comandante do prostíbulo federativo do braZil (a fifa disse que é com Z) teve até a cara dura de dizer que os aeroportos ficaram prontos SIM. Os que ainda aparentam (como?) estar em obras, é por conta do atendimento de nossa futura demanda em 2020. Eu nem vou estender isso, pois não conseguiria me lembrar de quantos palavrões conheço e ​são ​aplicáveis ​nessa “informação”.

O ponto que você cita a lucratividade e articulação do tráfico é um fato e disso só prevemos mais mortes e piadas ofensivas como UPP’s e derivados. Daí eu não estender tal ponto, pois recairia em observações minhas sobre a atitude ridícula que é o combate ao tráfico no mundo. Ainda que essa piada seja um tanto pior por aqui.

Sua citação sobre o estabelecimento prévio dos gastos com a copa é clara, mas novamente me faz indagar onde está a cabeça de quem decide isso. Não discutirei entre esquerda e direita, pois os vejo como meros lados de uma mesma MOEDA. Afinal, capital (K) é o único partido político que realmente vejo em operação no mundo.

O ponto em que você cita terem se ampliado os investimentos com saúde e educação eu até posso acreditar que estejam numericamente certos. Porém, como diabos se explica gastar mais, mais e mais tendo resultados tão trágicos como os desse país? Culpar a logística da administração talvez até fosse uma saída, mas como nesse puteiro disfarçado de nação elegemos qualquer analfabeto piadista, não parece ser muito produtivo alongar sobre a incompetência técnica de quem governe para o povo.
​ ​
Para o povo? Com campanhas custando bilhões e sendo patrocinadas por bancos, empreiteiras e toda sorte de interesses privados, só no “coma” profundo de nossa sociedade pseudodemocrática para eu acreditar nisso.
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O ponto sobre royalties e a piada présalina eu também não vou estender, pois não caberia aqui, além disso só me lembrar nossa burrice histórica e cavalar com a vale do braZil (?).

Já a onda do BNDES é foda. Por mais que eu tenha tentado entender se há algum outro lugar no mundo onde uma demência dessas seja feita, em minhas chatas brigas no curso de economia (que nem sei quando acabo), ninguém me deu respostas a contento. Aqui eu falo de um ponto que creio ser motivo de piada entre os que se beneficiam dele. Eu sei, o governo empresta NOSSO dinheiro para os que irão construir, estádios, estradas e o caralho à quatro nesse país.

Sim, o dinheiro SERÁ PAGO. Mas alguém me explica como é que pedem meu dinheiro emprestado, fazem as tais obras e, para pagar, ME COBRAM pedágios, ingressos ou seja lá que porra for. Sei que isso não lhe cabe decidir e é um fato sequer questionado pela massa, ainda que acadêmica. No entanto, o dia que eu achar isso minimamente lógico, provavelmente já terei passado do estado de “coma” para o de interno num hospício.

As demandas por moradia, segurança, emprego e variantes são históricas e nem de longe tratadas. Essas são meramente tapeadas e escondidas por trás de uma cortina de fumaça midiática. Que transformações pontuais e ridiculamente pequenas tenham ocorrido é um fato e contra tais, não há argumentos. O que realmente me incomoda nisso é ver a dita esquerda se contentar com artifícios velhos da direita, ou seja, fazer o povo sorrir agora com um pãozinho dado e impedir que ​este minimamente se questione como aprender a fazer seu próprio pão.

Minha indignação com a linha partidária nesse país não se dá em função de eu ser filiado a nenhum dos lados da “moeda”. O que me deixa puto é sempre ter entendido que a tal “esquerda” é mais estudiosa que a outra face, mas ver que a mesma usou tais conhecimentos para elevar o nível de entorpecimento social a um status aparentemente sem volta.

Um bom reflexo disso são não só as demandas de junho ou as da copa em si. As greves nesse país perderam o sentido em sua grande maioria, e é o conhecimento da esquerda sobre sua construção, seus meios de articulação e seus alicerces que justificam respostas tão duras e “eficientes” (?) CONTRA as categorias afetadas. Daí, só os garis do Rio e sua ação fora do padrão, terem obrigado os que comandam a ouvir seus clamores. O problema é que isso também ensinou novos métodos de combate e não sei se a estratégia inicial destes, terá o mesmo efeito no futuro.

Falando de futebol, é ridículo de nossa parte, defender esse esporte como ele se mostra. Claro, que aos que praticam, amam seus times e creem nos valores do esporte, encontram no mesmo um meio de alegria e distração. Todavia, o histórico criminal da FIFA é inegável e seu pleno desrespeito a qualquer um que se meta no meio é assustador. Vide o caso do braZil achando que proibiria a venda de cerveja nos estádios. Aqui, pra piorar, eu tenho de concordar com um piadista estadunidense: “agradeça pela FIFA ser patrocinada pela Budweiser, pois se fosse pelo cartel da coca, vocês estariam fodidos de vez”.

O hexa é nosso (me cobre depois para vermos), mas percebendo como estes títulos são decididos (não ganhos) e as relações políticas que ele envolve frente ao cenário eleitoral, além das demandas das ruas, fica difícil comemorar qualquer coisa referente a isso. Copa boa ou ruim é algo inútil de se discutir depois de já termos estabelecido as contas e QUEM pagará. Silenciar as ruas, é só pra isso que esse hexazinho de merda servirá. O problema é que o futuro logo se tornará presente e ao sermos lembrados que torramos reservas no meio duma crise do capital mundial só para financiar uma festinha, duas na verdade, que logo chegam as olimpíadas, talvez enxerguemos do pior jeito o estrago que más escolhas resultam.

O texto já ficou longo e provavelmente chato demais, daí eu não adentrar em detalhes sobre a direção midiática das “notícias” e sua distorção em favor do lado que eles preferem na “moeda”. Também não cabe aqui, mas há de se refletir sobre a desesperada, mas burra ação dos black blocs. Afinal, os mesmos ainda parecem não ter notado quem de fato paga a conta (nós todos) dos estragos que eles causam e como eles ensinaram um jeito sacana, mas especialmente eficiente de se distorcer qualquer reinvindicação e acabarem deixando a mídia criminalizar tudo que não agrade ao supracitado lado da moeda.

Há muito para se refletir nesse cenário, mas saiba que meu respeito e admiração por você se mantêm. Só peço vossa ajuda para refletirmos melhor sobre as consequências futuras desse evento nebuloso em curso e o que esperar quando olharmos para o tamanho da crise atual, só que agora com os “cofrinhos” vazios em função das festinhas que priorizamos.



GRANDE abraço,
Vinícius...
“mas eu queria somente lembrar
que milhões de crianças sem lar
são frutos do mal que floriu
num país que jamais repartiu (pátria amada Brasil)
esse é o futuro do país"
                                        Autores Criminalizados




*Vinícius Barbosa de Moraes é graduando em Ciências Econômicas pela UESB.

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