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quarta-feira, 11 de junho de 2014
EDUCADOR IRANILDO:O FREIRE de Anagé
junho 11, 2014
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por
Vinícius...
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"Apaixonei-me pela história e pela proposta do PT!" |
Aos 45 anos, distante dos holofotes da institucionalidade, todavia militante, ex-vereador e ex-chefe de gabinete fala pela primeira vez ao Blog do Sonkha sobre os bastidores da política, movimento sindical e da tajetória do PT de Anagé.
Iranildo Freire Oliveira, 45 anos, católico de convicção revolucionária, considerado referencia para qualquer geração dos anos 90, dono absoluto de gestos bem articulados, parlamentar atuante e combativo, gestor eficiente e oratória impecável, Freire fez parte de uma geração de bons intelectuais com formação superior e atuação política de esquerda. Professor graduado em Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), campus de Vitória da Conquista, Freire iniciou suas atividades pedagógicas como educador nos anos 80, lecionando no primeiro grau antigo, (fundamental I e II de hoje) e nos anos 90 começou lecionar na rede pública estadual o ensino médio.

BLOG DO SONKHA: O Senhor é natural do Município de Anagé?
Iranildo Freire: Sou filho de Anagé, criado às margens do rio Gavião; apenas o meu registro de nascimento foi lavrado em Vitória da Conquista, devido ter vindo ao mundo através de um parto complicado (Cesariana) realizado no hospital São Geraldo na vizinha cidade de Vitória da Conquista.
BLOG DO SONKHA: A mentalidade das lideranças políticas históricas de Anagé é conservadora?
Iranildo Freire: Pelo viés da pergunta, sim. As lideranças políticas históricas anageenses sempre apresentaram práticas conservadoras, posturas e ações direitistas; no sentido de defender a qualquer custo à força do capital e os capitalistas; apoiar e incentivar a grilagem de terras praticadas por ricos que chegam de outras cidades para Anagé; também historicamente disseminou o ódio aos militantes de partidos políticos de esquerda, a perseguição aos adversários políticos, ou seja, sempre praticaram todos os “ismos” – clientelismo, fisiologismo, paternalismo, nepotismo, entre outros tantos.
BLOG DO SONKHA: O que fez o Senhor romper com estas ideias?
Iranildo Freire: Todo mundo carrega um pouco o ranço do conservadorismo político dentro de si. Uns conseguem romper logo cedo, outros mais tarde e outros nunca. Eu optei pelo rompimento sem fanatismo e sem sectarismo. A minha participação e engajamento nas pastorais da Igreja Católica na segunda metade da década de 1980 foi à condição “sine qua non” para o meu discernimento entre o trigo e o joio – a leitura dos documentos resultantes das Conferências do Episcopado Latino-Americano de Medellín e Puebla me guiou para uma caminhada de opção pela causa dos pobres e dos oprimidos. A Leitura dos livros: Jesus Cristo Libertador, de Leonardo Boff e a Força Histórica dos Pobres, de Gustavo Gutiérrez marcaram o meu despertar para novas ideias – ideias de solidariedade e preocupação com o outro.
BLOG DO SONKHA: O Senhor atribui a quem a responsabilidade por sua mudança de pensamento?
Iranildo Freire: Eu tive a sorte de participar de um momento efervescente da Igreja Católica em Anagé. Por muitas vezes fui encaminhado pela Paróquia São João Batista, para realizar os mais variados cursos promovidos pela Diocese de Vitória da Conquista: método ver-julgar-agir como parte do ensino e prática sociais católicos (1987); Constituinte (1987), Teologia para leigos (1989). A formação, o incentivo e o apoio inicial foi totalmente da Igreja Católica.
BLOG DO SONKHA: O que motivou o Senhor a envolver-se em política?
Iranildo Freire: Inicialmente o deslumbramento com as leituras e as conversas sobre o tema – Política. Depois a consciência e a necessidade de participar e contribuir de forma direta dos rumos do meu Município, que, desde sua emancipação política em 1962, sempre teve como modelo de gestão pública a política do mandonismo e clientelismo. Comecei a enxergar os “nossos dignos” representantes como simples “fazedores de favor”, que historicamente governaram Anagé, de forma equivocada, transformando o que é dever do poder público e direito do cidadão em meros favores que nem de longe aproximavam da promoção da dignidade da pessoa humana e muito menos de uma proposta decente de política.
BLOG DO SONKHA: Quando o Senhor iniciou suas atividades políticas?
Iranildo Freire: Exatamente em abril de 1989 – ano que participei bravamente da primeira campanha de Lula – Presidente. Filiei-me ao Partido dos Trabalhadores – PT, neste mesmo ano, integrando um grupo denominado naquela época pela comunidade anageense de “Os meninos do PT”.
BLOG DO SONKHA: Quais foram às dificuldades enfrentadas pelo Senhor ao fazer a opção pelo PT?
Iranildo Freire: Muitas. Na época que me filiei ao PT, final da década de 1980 não era fácil desenvolver uma militância por um partido de esquerda em Anagé. A primeira dificuldade foi à resistência no seio da família, em seguida o forte preconceito, por pertencer a esta mesma família que tradicionalmente sempre apoiou um formato de política conservadora e mandonista; sentir por diversas vezes na pele os olhos de desconfiança e de discriminação pela minha origem político-familiar. Sofri diversas perseguições vindas da parte do governo local, entre elas, me lembro de uma que foi esdrúxula, fui demitido da minha profissão de professor provisoriamente em 1993 por causa de uma atividade partidária, denominada por nós de - passeata do feijão, evento este, que andamos pelas ruas da cidade e nos concentramos em frente da Prefeitura, buscando garantir de forma justa a distribuição de um feijão que veio para o município para ser repartido entre os mais pobres, e, o prefeito da época estava fazendo exatamente o contrário. O feijão era para os mais pobres do município e o prefeito estava distribuindo com os seus cabos eleitorais.
Sou também professor da Rede Estadual e fui enxotado em 1998 para Vitória da Conquista quando o Município acabou um convênio com o Estado da Bahia. Todos os demais professores da Rede foram acolhidos em Anagé, enquanto, que, eu recebi a frieza do desprezo e a ação da “política” nefasta da crueldade e da perseguição.
BLOG DO SONKHA: Como a sociedade anageense via o PT quando o Senhor se filiou?
Iranildo Freire: Via de forma equivocada, preconceituosa e deformada. Eram muitos os pejorativos colocados no nosso PT: partido de baderneiros – partido de maconheiros – partido da Xuxa, só de meninos – partidinho de “merda” – partido sem voto – partido de analfabetos metidos a besta, enfim, a visão da sociedade anageense naquela época era de descaso e desdém, ou seja, não nos levavam a sério. Diziam alguns, “até gosto desses meninos, mas detesto o PT; detesto tudo: a cor da bandeira, a barba de Lula, o número 13”.
BLOG DO SONKHA: Por que o Senhor optou pela militância petista?
Iranildo Freire: Apaixonei-me pela história e pela proposta do PT. Um partido fundado em fevereiro de 1980 por sindicalistas, intelectuais de esquerda e católicos ligados à Teologia da Libertação. Um partido que se organizou, a partir das lutas do povo humilde e desfavorecido financeiramente, da aproximação com os movimentos sindicais e com antigos setores da esquerda brasileira. O meu encantamento pelo PT se deu principalmente pela convivência tolerante com as suas intensas disputas internas, havia as formulações de intelectuais marxistas, mas também as ideologias espontâneas dos sindicalistas, a exemplo de Lula, Jair Meneguelli e outros; também admirava demais o trabalho que o PT realizava junto às Comunidades Eclesiais de Base; e que trazia desde a sua fundação um viés socialista democrático, com claras recusas aos modelos já então em decadência, como o soviético e o chinês.
BLOG DO SONKHA: Qual é a história do PT de Anagé?
Iranildo Freire: Uma história de muita luta em prol da classe trabalhadora anageense. Começa timidamente. Em 1985, Ednilton Lopes começa as primeiras conversas sobre o PT, lança uma carta aberta contra a política agrícola do Banco do Brasil, em 1986 faz campanha político-eleitoral para Railda, candidata a deputada estadual e Walter Pinheiro, candidato a deputado federal; eu diria que o começo do PT de Anagé se dá através de campanhas eleitorais e do “cartismo” de Ednilton, que por diversas vezes escreve cartas contra a política mandonista do prefeito Bibi, contra a Lei dos três fios de arame e contra os fazendeiros grileiros oriundos de outras cidades. O seu nascimento oficial ocorre no paredão da Barragem de Anagé, onde é criada a primeira comissão provisória em 1988, com a participação e filiação de moradores das comunidades da Passagem do Chiqueiro (atual Barragem), Poço da Vaca, Caçote e alguns familiares e amigos de Ednilton. O PT nasce da luta pelo reassentamento das famílias atingidas pela construção da Barragem de Anagé – 1987 a 1989; aproxima das Comunidades Eclesiais de Base e do movimento sindical rural, com a participação de militantes guerreiros como Diacísio Ribeiro, Diocílio Damasceno, Tavinho do Caçote. Aproxima do movimento estudantil e do movimento dos professores do CERV, do primeiro através de Rildo Querino e Mazinho de Lalaô, do segundo através do professor Iranildo Freire. O PT sempre lançava candidaturas próprias a prefeito (1988 – Euflávio, prefeito e Darci, vice; 1992 – Ednilton, prefeito e Orlando, vice e 1996 – Iranildo Freire, prefeito e Ednilton, vice) e de vereadores, mas não fazia alianças com outros partidos. Optava até a eleição de 1996 em caminhar sozinho sem se misturar com lideranças locais de mentalidade política conservadora. Também participou de todas as campanhas eleitorais do partido: 1990, 1994, 1998, 2002, 2006, 2010, em todas elas os militantes foram aguerridos, voluntários e apaixonados pela defesa dos projetos em voga. Com a eleição de Lula em 2002 – presidente do Brasil e de Wagner – governador da Bahia, o PT de Anagé pôde finalmente sonhar com a possibilidade de chegar ao governo municipal. Sonhamos e chegamos. Em 2007, a convite do prefeito Rubinho e de comum acordo com o PT fui ser chefe de gabinete do seu governo e lá tive a oportunidade de relacionar com outras pessoas, entre elas, a professora Andrea, que a convite meu aceitou filiar-se ao PT e se tornar a candidata à prefeita indicada por todo o grupo do governo Rubinho nas eleições de 2008. Perdemos a eleição, mas consolidamos um nome forte no partido, o nome da professora Andrea, que quatro anos depois se sagrou prefeita eleita pelo partido dos trabalhadores, numa aliança com o PSDB e assim tivemos a primeira mulher prefeita do município.
BLOG DO SONKHA: Qual a importância do PT de Anagé nas lutas sociais e dos trabalhadores do campo e da cidade?
Iranildo Freire: O PT foi fundamental em todas as lutas travadas pelos trabalhadores do campo e da cidade ao longo de sua existência em Anagé. O PT e os seus militantes souberam mobilizar a classe trabalhadora do Município para lutar e conquistar direitos sociais e melhores condições de vida. Teve participação direta na luta dos ribeirinhos da Barragem de Anagé pelo reassentamento das famílias atingidas; esteve presente na tomada do Sindicato dos Trabalhadores Rurais das mãos da direção pelega – 1991, participou juntamente com os moradores da Lagoa Torta contra o cercamento da lagoa por um fazendeiro de Vitoria da Conquista; defendeu a família de Vitório Teles contra a truculência de um fazendeiro grileiro de terras na região do Peixe – Barragem. Foi o maior incentivador e apoiador da fundação do Grêmio Livre do CERV - 1987; apoiou o movimento grevista dos professores do CERV – 1991. Foi sempre um árduo defensor aqui no município de bandeiras históricas, como a luta pela terra, por uma educação de qualidade, transporte escolar para os alunos do campo, melhores salários para os servidores municipais, pela defesa das minorias e contra todo e qualquer tipo de discriminação, enfim, foi um partido que se colocou incondicionalmente a serviço dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade.
BLOG DO SONKHA: Qual foi o seu projeto desenvolvido no legislativo de Anagé?
Iranildo Freire: Foi um projeto pautado em três partes. Primeiro, abertura da Câmara de Vereadores à participação popular com a realização de audiências públicas com temas de interesse da população; segundo, atualização dos marcos legais da Casa Legislativa - Regimento Interno, Lei Orgânica, para permitir um melhor trabalho dos vereadores e, terceiro, fazer valer o principio constitucional do papel de um legislativo independente – propor leis e ser o órgão principal de fiscalização dos atos do executivo. Além de ter lutado bravamente e conseguido em 2003 a independência financeira da Câmara.
Blog do Sonkha: Como foi seu mandato de vereador?
Iranildo Freire: Segundo o professor de economia da UESB, Darci Rodrigues, foi um mandato de vereador possível de ser avaliado, isto porque ao concluí-lo em dezembro de 2004, apresentei um relatório contendo todas as ações desenvolvidas, intitulado: Vereador Iranildo Freire Freire Oliveira – PT (Mandato: 2001 a 2004) - Debate – Luta – Cidadania. Neste relatório faço uma prestação de contas aos eleitores que confiaram em mim o mandato de vereador, ao PT e a população anageense como um todo.
Nos quatro anos de mandato, ausentei-me apenas em duas sessões ordinárias. Uma para acompanhar a cirurgia do meu irmão na cidade de Salvador, no dia 16/09/2003; e a outra por ter sido adiada da data regimental sem nenhuma explicação plausível por parte da Presidência. Foram 72 (setenta e dois) discursos; 5 (cinco) projetos de lei; 3 (três) projetos de resolução; 1 (um) projeto de emenda; 34 (trinta e quatro) indicações; 8 (oito) requerimentos; 7 (sete) palestras ministradas; 14 (quatorze) participações, entre cursos, seminários e encontros; 25 (vinte e cinco) visitas ao Tribunal de Contas dos Municípios que visavam fiscalizar a administração do Executivo Municipal; 22 (vinte e duas) comunidades rurais contactadas com realização de 34 (trinta e quatro) reuniões e 28 (vinte e oito) visitas; várias reuniões com categorias, entidades, autoridades, movimentos sociais, órgãos do governo estadual e federal, articulação e participação em 3 (três) atos públicos e diversas audiências com secretários municipais e com os dois prefeitos: (Elbson Dias Soares - 01/01/2001 a 03/12/2003 e Rubens Oliveira Dias - 04/12/03 a 31/12/2004). Ajudei na viabilização dos primeiros meses do Governo de Rubens Oliveira, (empossado em 04/12/2003). Conseguir como líder do seu Governo, através de uma árdua articulação aprovar projetos vitais que garantiu a governabilidade da gestão que ora iniciava.
Fui relator da Comissão Mista que elaborou o novo Regimento Interno da Câmara.
BLOG DO SONKHA: Por que o Senhor foi eleito? Quem o elegeu?
Iranildo Freire: Fui eleito numa estratégia bem sucedida realizada pelo PT de Anagé e o PT de Vitória da Conquista. Fizemos uma coligação com uma frente de partidos progressistas que apoiaram a candidatura de Rubinho para prefeito em 2000. Contei com a militância dos companheiros do PT de Anagé (Branco, Diacísio, Mazinho, Napoleão, Nova, Ednilton, Lero, entre outros) e companheiros do PT de Vitória da Conquista, a exemplo de Wilton Cunha, Rivaldo, Sonkha e Almir Pereira. Também foi decisiva para minha eleição o apoio das comunidades do Caçote e Poço da Vaca. Fui votado em quase todas as sessões eleitorais do Município. Recebi o apoio da minha família, colegas professores e estudantes da Sede.
BLOG DO SONKHA: Quais foram os projetos aprovados pelo Senhor?
Iranildo Freire: Foram aprovados por unanimidade no Plenário da Câmara os seguintes Projetos de minha iniciativa: PL n.° 05/2001 de 15/02/01 - Projeto Cultural Jirceal Alves Portugal, PL n.° 010/2004 de 17/02/04 - Programa de Garantia de Renda Familiar Mínima para famílias com filhos ou dependentes matriculados na Rede Municipal de Ensino e/ou que se encontrarem em situação de risco e o PL n.° 011/2004 de 27/04/04 - Concurso Literário no Município de Anagé-Ba; PR n.° 006/2004 de 27/04/04 - Concede o Título de Cidadã Anageense à Sr.ª Dolaci Maria de Souza, pelos relevantes serviços prestados ao longo de uma vida ao povo de Anagé; PE n.° 01/2002 de 05/03/02 - Altera o Parágrafo 1.° e os incisos I, II, III e IV do Parágrafo 2.° do Art. 18 da Lei n.° 186/98, denominado Estatuto e Plano de Carreira do Magistério Público Municipal de Anagé, Estado da Bahia. Ainda conseguir aprovar por unanimidade requerimentos importantes para a municipalidade, que foram os seguintes: De solicitação de transcrição aos anais da Câmara de Vereadores uma nota do Partido dos Trabalhadores – PT de Anagé, sob o título: Projeto Gavião: a que serve... de 19/02/02; De solicitação de Sessão Especial para debater o São João de Anagé – com o tema: Festa de São João em Anagé: Mudanças e Permanências. Convidados para debater sobre o assunto: Blândson Viana Soares, Ednilton Lopes Costa e João Batista Oliveira dos Anjos, de 16/04/02; De votos de pesar ao Sr. Joaquim Ribeiro dos Santos e família, residente na Fazenda Caçote pelo falecimento do seu filho Joanito Ribeiro Rocha, ocorrido em 01 de junho de 2002 na Cidade de São Paulo, de 11/06/02; De votos de pesar à Rede Globo de Televisão pelo desaparecimento e assassinato brutal do jornalista Tim Lopes, ocorrido em 02/06/02 na Cidade do Rio de Janeiro, de 11/06/2002; De convocação da Secretária de Educação e Cultura, Sr.ª Amália Oliveira Saraiva Soares para prestar esclarecimentos sobre o Conselho Municipal de Educação, de 08/06/04. Tive também muitas indicações executadas, principalmente pela pressão popular das comunidades beneficiadas, a exemplo de limpeza de açudes, conservação de estradas e construção da escola da região do Caçote, distante 25 Km da Sede do Município.
BLOG DO SONKHA: Seu mandato teve um caráter participativo e popular?
Iranildo Freire: Sim, pois todos os projetos de lei, de resolução, de emenda, requerimentos, indicações, antes de apresentá-los no Plenário da Câmara, primeiro apresentava às comunidades interessadas e possivelmente beneficiadas. Até para preparar os meus discursos antes eu ouvia as pessoas nas reuniões que promovíamos.
BLOG DO SONKHA: O Senhor não quis concorrer à reeleição por quê?
Iranildo Freire: Com dois anos de mandato procurei a direção do PT e coloquei o meu desejo de não concorrer a outro mandato de vereador. Entendia naquele momento que quatro anos seriam o bastante para propor mudanças na mentalidade política daquela Casa Legislativa, ou pelo menos, provocá-las. Também sempre acreditei na renovação de nomes dentro do PT. E quatro anos depois aconteceu o que eu acreditava, exemplo foi o mandato de João Aguiar que realizou um mandato no seu estilo, mas com a desenvoltura de um parlamentar petista.
BLOG DO SONKHA: A Câmara de Vereadores de Anagé melhorou o desempenho e a qualidade depois que o Senhor deixou o legislativo?
Iranildo Freire: Acredito que sim. Quando eu assumi o mandato de vereador não existia um parlamento municipal em Anagé. A Câmara de Vereadores era apenas um apêndice do Executivo. Estava vinculada ao Executivo de todas as formas: politicamente e financeiramente. Era subserviência total ao prefeito, o vereador recebia o seu subtraído na folha da prefeitura. O prefeito não repassava o duodécimo da Câmara. Era uma vergonha. Mudamos esta situação dando independência financeira ao Legislativo, e hoje percebo que isto é coisa de um passado que os atuais edis nem têm conhecimento desse episódio fatídico que tanto prejudicou a democracia no nosso município. Vejo que a Câmara de Vereadores de hoje tem consciência do seu papel e os vereadores também são mais conscientes do processo legislativo. Porém, a barganha e a negociata apenas sofisticaram.
BLOG DO SONKHA: O que o Senhor acha do sindicalismo brasileiro atualmente?
Iranildo Freire: O “velho Lênin”, dizia que o sindicalismo pode ser uma escola de guerra ou de socialismo. No Brasil de hoje ele não é nem uma coisa nem outra. Ultimamente ele tem deseducado politicamente os trabalhadores. Em alguns casos, é o Estado capitalista que realiza o papel do sindicato, causando dessa forma um grande prejuízo político para o movimento dos trabalhadores, prejudicando-os, até mesmo no plano da luta reivindicatória, pois a estrutura do Estado fica responsável e com poder para proteger as lideranças sindicais que lhes são mais próximas, enquanto que a organização dos trabalhadores nos seus locais de trabalho e a luta reivindicatória fica inibida e abandonada.
BLOG DO SONKHA: O Senhor acredita em Sindicato? Por quê?
Iranildo Freire: Fico com o poeta: “um sindicato deve ter sensibilidade para perceber estrelas e consciência para sacudir o chão”.
Tudo muda. O mundo fica mais rápido, mais mercantilizado, mais frenético, porém, o capitalismo continua com as mesmas práticas de quando nasceu lá na Inglaterra na segunda metade do século XVIII, sempre reduzindo o trabalhador a um mero vendedor de sua força de trabalho, ou seja, houve apenas uma sofisticação nos métodos, mas a exploração é a mesma. O sindicato nasce da necessidade de garantir a sobrevivência do trabalhador diante desse sistema excludente.
O sindicato que acredito não se limita a uma pauta de reivindicação e que se esconde atrás de fábulas de ações trabalhistas, e que os sindicalistas se protegem nas abas dos governos, municipal, estadual e federal. Defendo um sindicato crítico e criativo, que produza uma instância de poder coletivo que estimule a solidariedade, o companheirismo e a prática da liberdade pela valorização da vida do trabalhador e da trabalhadora. Que trate o trabalhador como um ser humano e não apenas como pagador do imposto sindical compulsório e da contribuição sindical, que não o veja apenas como um possível reclamante de uma ação trabalhista para engordar a conta do sindicato e encher os bolsos dos advogados com o pagamento de honorários.
BLOG DO SONKHA: O Senhor é filiado ao SINSERV? Por quê?
Iranildo Freire: Já fui. Atualmente não. Porque o atual papel do Sinserv se reduz a agenciar causas trabalhistas cobrando altos percentuais dos servidores em ações vitoriosas na justiça. Recentemente numa ação que o Sinserv ganhou na justiça ele cobrou de cada servidor filiado 15% sobre o valor recebido e, 30% do servidor não filiado. Um absurdo, para não utilizar a palavra mais apropriada para tal atitude.
BLOG DO SONKHA: Qual é a história do SINSERV em Anagé?
Iranildo Freire: O Sinserv – Delegacia de Anagé se instalou oficialmente no município no ano de 2007. Fui eu o principal articulador da assinatura do documento que garantiu a consignação, o imposto sindical e a liberação de dois servidores para atuar no referido sindicato. Foram as professoras, Aurenice Cardoso e Edacileide que compuseram a primeira direção do Sinserv. A atuação das novas sindicalistas iniciou no Governo do prefeito Rubinho, a partir de 2005, até então, não se conhecia a participação dessas pessoas em lutas sindicais travadas em governos passados.
A postura política da direção do Sinserv inicialmente foi muito dúbia e vulnerável. No mesmo momento que assumiram a direção do Sinserv, também assumiram a comissão provisória do PCdoB no município.
No ano de 2008, o PCdoB fechou apoio à candidatura do PT nas eleições municipais; após a homologação das candidaturas na justiça eleitoral, as professoras Aurenice e Edacileide debandaram e foram apoiar a candidatura de Bibi, que há alguns meses atrás o Sinserv fez um ato de repúdio a ele e a presidente da câmara, Lúcia Helena. Estranho. Mais estranho ainda foi o comportamento agressivo que passaram a ter com o Governo Rubinho, com o PT e sua candidatura. Em plena campanha eleitoral se juntaram com outros adeptos do “Bibisismo” e exigiram o imediato envio do Plano de Carreira do Magistério para aprovação no Plenário da Câmara, por puro oportunismo eleitoral; atitude tomada com o único objetivo de prejudicar a candidatura do PT. Romperam de forma abrupta a boa relação que vínhamos mantendo. Deflagram uma greve às vésperas do pleito eleitoral. Sem falar, que dias antes da eleição as duas sindicalistas rodaram numa moto o município todo pedindo as pessoas, principalmente alunos, professores e pais de alunos para que não votassem no 13.
Após o pleito eleitoral, encaminhamos o Plano de Carreira para ser votado na Câmara, quando surpreendentemente, as mesmas professoras acompanhadas de Cosme, do Sinserv de Cândido Sales retiraram o plano da pauta de votação, diziam eles à época: “Bibi em dois meses de governo fará um plano bem melhor do que este apresentado por esse governo derrotado”.
Bibi terminou o seu governo e não fez o plano fruto de uma promessa eleitoreira ao Sinserv. Em 2010 o sinserv todo esfacelado promoveu uma greve que durou 14 dias. Foi uma greve sustentada pelos professores do CERV. Esta mesma greve que motivou a ação trabalhista vitoriosa no mês de maio. De 2010 até os dias de hoje a única atuação do Sinserv é administrar o seu patrimônio e continuar agenciando as ações trabalhistas para os servidores, diga-se de passagem, que não são poucas – é uma verdadeira avalanche de ações.
BLOG DO SONKHA: O Senhor também é filiado a APLB-Sindicato? Desde quando?
Iranildo Freire: Sim. Desde 1993.
BLOG DO SONKHA: A APLB-Sindicato tem alguma ação realizada em Anagé? Qual?
Iranildo Freire: Já teve, durante a segunda metade da década de 1980 e toda a década de 1990. Existia um núcleo aqui em Anagé, em que eu era o seu coordenador. Fui por muito tempo o coordenador desse núcleo, mas nunca conseguimos fazer a consignação junto à prefeitura. Os prefeitos da época, Bibi e Valdete nunca respeitaram o principio constitucional que faculta ao servidor filiar em um sindicato de sua categoria. As greves dos professores da rede estadual e municipal eram articuladas por esse núcleo. Era o núcleo mais forte da região de Vitória da Conquista. Bem articulado e com boa formação político-sindical. Foi abandonado e em seguida desativado pela própria APLB de Salvador.
BLOG DO SONKHA: Por que a APLB-Sindicato aqui em Anagé é dirigida pelo grupo ligado ao Ex-prefeito? O que houve?
Iranildo Freire: Pela mesma forma que o Sinserv é dirigido e orientado pelos quadros orgânicos do PT de Anagé. Já que os “bibisistas” ficaram órfãos da agremiação que eles tão bem souberam apropriar num passado próximo recente, então, a saída encontrada foi buscar outro sindicato, de preferência com a mesma característica - o peleguismo, para poder aporrinhar a vida do Governo da Renovação, pois, acreditam eles, que se tudo acontecer como imaginam que vai acontecer, eles retornam com o Governo da Reconstrução, e assim a vida vai sendo vivida às margens do rio Gavião.
BLOG DO SONKHA: O “Portal de Noticias.net” veiculou matéria acusando o presidente da APLB- Sindicato, Senhor Rui Oliveira candidato pelo PCdoB a deputado estadual, de desvio de representatividade e de receber jetons do Governo do Estado em 2013 na ordem de R$ 24.747,00. Como o senhor avalia isso?
Iranildo Freire: Essa tem sido ultimamente a prática dos diretores sindicais dos diversos sindicatos - o enriquecimento ilícito. Está na hora do Ministério Público e da Polícia Federal dá na “xandanga” dessa turma. Também sou a favor do fim do imposto sindical compulsório, eis a razão de tantas brigas entre os sindicatos e os sindicalistas. É a força da grana destruindo uma coisa tão bela – a maior ferramenta que a classe trabalhadora já possuiu outrora: o sindicato de luta.
BLOG DO SONKHA: Recentemente o Blog do Sonkha publicou um artigo polêmico do Senhor sobre a sentença favorável ao SINSERV, impetrada em 2010, indenizando os servidores que participaram da greve contra o Governo do Senhor Elbosn Soares (Bibi) e tiveram seus salários cortados. O Senhor manifestou seu desconforto em relação à decisão judicial ou em relação à lista que senhor compara com sendo uma nova edição da lista nazista de Schindler? Por quê?
Iranildo Freire: Eu não seria louco de ir de encontro com uma decisão judicial tão importante para os servidores do município de Anagé. A citada decisão judicial reparou injustiças históricas com muitos servidores contemplados com a ação. Eu fiquei indignado com a negligência da direção passada do Sinserv, que não observou atentamente os nomes dos servidores que deveriam fazer parte e não fazer parte da lista. Mas como, diria, Nelson Ned: “Mas tudo passa, tudo passará”... Obrigado pela oportunidade histórica!
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