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Os novos paradigmas da guerra no século XXI
Drones, mísseis hipersônicos e os novos paradigmas da guerra no século XXI
*por Tadeu Quadros
Os conflitos armados do século XXI já não se assemelham, em dinâmica ou em composição, àqueles que dominaram o século XX. A guerra, tal como estamos vendo se desenrolar em seus mais recentes capítulos, sobretudo após o início do conflito na Ucrânia, passa por uma transformação radical. Trata-se de uma verdadeira revolução na arte da guerra, marcada por novos dispositivos, novas táticas e, sobretudo, novas assimetrias.
Segundo observadores mais imparciais do cenário geopolítico, Israel mantém hoje a força aérea mais sofisticada do Oriente Médio. No entanto, é o Irã que detém a maior capacidade de dissuasão da região: trata-se do único país do entorno com mísseis hipersônicos plenamente operacionais. Isso o posiciona como a principal força de mísseis do Oriente Médio, uma realidade que reconfigura todo o equilíbrio regional e limita substancialmente a margem de ação das potências ocidentais.
Com o surgimento dos mísseis hipersônicos — artefatos capazes de viajar a mais de cinco vezes a velocidade do som, com trajetória imprevisível e capacidade de romper sistemas antimísseis convencionais —, o campo de batalha terrestre e marítimo tornou-se exponencialmente mais letal. A marinha norte-americana, por exemplo, cuja projeção de poder sempre esteve associada à invulnerabilidade de seus porta-aviões, hoje enfrenta um novo grau de ameaça.
Mas a transformação mais notável no teatro bélico contemporâneo talvez não venha do alto investimento tecnológico, mas sim da simplicidade funcional dos drones militares. O drone passou a ser, hoje, o que o tanque de guerra representou na Primeira Guerra Mundial: um divisor de águas. Com baixo custo de produção — variando entre alguns milhares de dólares — e ampla capacidade de penetração, esses equipamentos se tornaram protagonistas nas frentes de combate.
A lógica da guerra assimétrica encontra, nos drones, um instrumento altamente eficaz. Eles podem ser usados para saturar os sistemas de defesa antimíssil, confundindo radares e consumindo munições defensivas. Após essa sobrecarga inicial, entram em ação os mísseis de maior impacto, agora enfrentando um sistema menos eficiente e mais vulnerável. É uma tática que alia inteligência, economia de recursos e capacidade destrutiva — algo que poucos exércitos tradicionais estavam preparados para enfrentar até poucos anos atrás.
É nesse ponto que a análise estratégica deve considerar o papel do Irã. Embora subestimado e sistematicamente demonizado pela mídia ocidental, o país não apenas detém mísseis hipersônicos como também abriga uma das maiores fábricas de drones do mundo. Em um contexto onde cada míssil balístico pode custar entre 1 e 3 milhões de dólares, a utilização massiva de drones representa uma alternativa economicamente viável e militarmente eficaz.
Caso estivéssemos nos anos 1990, a supremacia aérea norte-americana teria permitido uma intervenção rápida e unilateral contra o Irã. No entanto, a realidade hoje é outra. A capacidade de retaliação iraniana, baseada em mísseis de precisão e armamentos hipersônicos, tornou qualquer ação desse tipo arriscada — mesmo para a maior potência militar do planeta.
A guerra, portanto, adentra uma nova era. Diante de um mundo multipolar, com novos polos de poder tecnológico e novas formas de combate, os paradigmas bélicos do século XXI exigem outra leitura. Trata-se não apenas de poder de fogo, mas de estratégia, adaptabilidade e domínio das novas ferramentas de guerra — sejam elas digitais, autônomas ou hipersônicas.
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*Tadeu Quadros é economista graduado pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e militante do Movimento Coletivo Ética Socialista (MCOESO).
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