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segunda-feira, 30 de junho de 2025

Qual será o caminho do PT conquistense: esquerda ou direita volver?

Imagem: PT Vitória da Conquista

"PT de Vitória da Conquista vive disputa entre continuidade e ruptura em eleição da nova direção municipal. Correntes internas travam embate sobre os rumos do partido; setores de base defendem retomada das ruas, crítica ao capitalismo e alinhamento com a luta de classes."



*por Herberson Sonkha





VITÓRIA DA CONQUISTA/BA-  O processo de escolha da nova direção municipal do Partido dos Trabalhadores (PT) em Vitória da Conquista, na Bahia, expõe uma disputa interna que reflete dilemas mais amplos da esquerda brasileira. De um lado, forças tradicionais que ocupam há décadas os espaços de poder partidário; de outro, candidaturas oriundas das bases sociais que propõem uma guinada estratégica para além dos limites da democracia liberal-burguesa.

O PT segue sendo, para amplos setores populares, um instrumento fundamental na luta coletiva. No entanto, nos últimos anos, experiências internas e externas ao partido têm evidenciado as contradições do modelo de democracia representativa sob o qual se organiza. A crise de legitimidade dos mecanismos tradicionais de participação e decisão política impulsiona setores militantes a defender uma nova orientação partidária, comprometida com uma reorganização radical do projeto de sociedade.

Neste cenário, dois campos de força se consolidaram na disputa pela nova direção petista local. De um lado, a chapa encabeçada pela vereadora Márcia Viviane, que representa a continuidade das correntes internas que historicamente dirigiram o partido no município. Embora responsáveis por avanços relevantes, esses grupos mantiveram-se alinhados a uma política de conciliação de classe que, segundo críticos, desmobiliza as bases e neutraliza o potencial transformador do partido.

Do outro lado, articulam-se duas candidaturas representativas de um campo político alternativo: Carlos Ribeiro, militante histórico, historiador e ex-secretário municipal de Juventude do PT; e Gustavo “Guga”, estudante de Geografia da UESB e militante do movimento JES. Ambos defendem uma linha político-programática ancorada em coletivos como o Movimento Coletivo Ética Socialista (MCOESO), o Coletivo Avante e o Diálogo e Ação Petista (DAP).

A proposta desse grupo é clara: reconstruir o PT a partir das lutas sociais e sindicais, enraizando o partido nas periferias urbanas e nas zonas rurais. Seus apoiadores defendem uma guinada estratégica com horizonte anticapitalista, enfrentando privilégios estruturais mantidos pelas elites econômicas, políticas e culturais do país.

“É necessário devolver o PT às ruas, às bases e às trincheiras da luta de classes”, afirma Carlos Ribeiro. “O partido precisa romper com a lógica da conciliação de classe, que inviabiliza a crítica às desigualdades e preserva os interesses das elites brancas, conservadoras e racistas”.

Para Gustavo, a reconstrução partidária exige a valorização das culturas populares marginalizadas, historicamente excluídas das políticas culturais do município. “Não é possível falar em transformação social sem dialogar diretamente com as juventudes negras, LGBTQIA+, os povos de terreiro e as comunidades camponesas”, argumenta.

A crítica central dos setores alternativos aponta para o esvaziamento político do PT provocado pela adoção de um modelo conciliador com o sistema vigente. Segundo os militantes, essa orientação tem impedido o partido de protagonizar a disputa ideológica e material contra as estruturas que sustentam o atual regime de exploração. O resultado seria o distanciamento das bases sociais e a fragilização do compromisso histórico com a transformação da sociedade brasileira.

“A democracia liberal-burguesa está esgotada. Precisamos de novas formas de participação popular, substantivas, enraizadas nos territórios e capazes de reorganizar a luta por justiça social, econômica e racial”, afirma Ribeiro.

A disputa em Vitória da Conquista, terceira maior cidade da Bahia, assume, assim, um caráter simbólico para o PT em nível nacional. O embate entre o campo da continuidade e o campo da ruptura pode sinalizar os rumos que o partido seguirá diante dos desafios impostos pela crise do sistema político, pelo avanço do conservadorismo e pela necessidade urgente de reconstruir o diálogo com as massas trabalhadoras.

Se prevalecer o modelo tradicional, os críticos alertam para a possibilidade de um novo ciclo de distanciamento das bases. Se a alternativa vencer, abre-se espaço para um PT mais conectado com os movimentos sociais e com a radicalidade das demandas populares — disposto a tensionar os limites da ordem vigente em nome de um novo projeto de sociedade.


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