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Editorial | A arte que insiste em existir
*por Herberson Sonkha
Vitória da Conquista vive um tempo de silêncio forçado. Seus equipamentos culturais — o Teatro Municipal, o Ginásio de Esportes, a Casa Glauber Rocha, o Cine Madrigal — permanecem fechados ou em estado de abandono. O que deveria pulsar como espaço de encontro, de criação e de cidadania foi transformado em ruínas visíveis de um projeto de cidade que não reconhece a cultura como direito.
Esse abandono não é acidente. Ele traduz uma política pública incapaz de compreender que a cultura não se resume a espetáculos ocasionais ou festivais esvaziados de sentido. Cultura é trama, memória, linguagem comum. É um modo de existir e de narrar a si mesma. Quando o poder público a negligencia, não apenas precariza o trabalho dos artistas: empobrece a experiência coletiva e mutila a imaginação de um povo.
Foi nesse contexto que o Sarau A Estrada, com seus quinze anos de caminhada, promoveu uma reunião extraordinária. O gesto vai além da pauta de reivindicações: é uma convocação. A cena artística da cidade decidiu que não se calará. Um Sarau de Rua, previsto para os próximos meses, ocupará a Praça Barão de Rio Branco como ato simbólico de resistência. O espaço urbano, tantas vezes esvaziado, será reconquistado pela palavra, pela música e pela presença coletiva.
Essa mobilização mostra que a arte não depende exclusivamente da tutela do Estado para existir. Ela nasce do gesto dos que insistem em criar, mesmo contra a maré. Mas a cidade, como organismo vivo, precisa de mais que resistência: precisa de políticas públicas sérias, capazes de garantir continuidade, acesso e dignidade aos trabalhadores da cultura.
Em tempos de abandono, a arte se revela como linguagem de sobrevivência. O Sarau A Estrada lembra que criar é resistir, e resistir é não ceder ao silêncio imposto. Vitória da Conquista, por meio de seus artistas, mostra que a cultura não é ornamento: é a própria respiração da cidade.
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