“Os fatores históricos e ideológicos impactam diretamente o financiamento

da saúde pública e a implementação de políticas voltadas aos trabalhadores”

*por Herberson Sonkha

Vitória da Conquista, BA – No 1º Encontro Estadual de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, o Professor Dr. Luis Rogerio Cosme Silva Santos, coordenador da CISTT de Vitória da Conquista, trouxe à tona questões cruciais sobre a saúde e os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras. Com um olhar crítico e histórico, Rogério discutiu as diferentes gerações que participaram da luta pela democratização do Brasil e pela implementação do Sistema Único de Saúde (SUS).

Durante sua palestra, o professor destacou a importância da participação popular na construção da democracia e no fortalecimento do controle social na saúde. Ele observou que a geração mais antiga foi fundamental para a criação e institucionalização do SUS, enquanto sua própria geração se dedicou à consolidação do sistema nos municípios e à descentralização das ações de saúde do trabalhador.

“É preocupante notar que a geração atual parece menos envolvida nas discussões históricas sobre a defesa de direitos e a participação popular crítica”, afirmou Luis. Apesar dessa constatação, ele enfatizou a necessidade de perseverança, otimismo e unidade coletiva na busca por condições dignas de trabalho e saúde. 

Desafios do trabalho digno

Luis também abordou a relação entre trabalho e realização pessoal e social, destacando o impacto do desgaste físico e psíquico sobre os trabalhadores e as trabalhadoras na área de saúde. Ele discutiu as mudanças no modelo de produção, as transformações tecnológicas e a perda de direitos que dificultam o planejamento do futuro. Para o professor Luis, a defesa da dignidade no exercício da atividade de saúde não está alicerçada apenas no conhecimento empírico, mas também na profunda ressonância acadêmica. O conceito de trabalho digno, defendido por autores como Amartya Sen e Martha Nussbaum, é crucial nesse contexto, pois envolve não apenas a remuneração justa, mas também condições de trabalho que respeitem a dignidade humana e promovam o bem-estar.

“Precisamos questionar o conceito de trabalho digno e entender os desafios que enfrentamos em um cenário de precarização”, ressaltou. O professor argumentou que é essencial compreender o sistema econômico e político para estruturar estratégias eficazes de luta e defesa do SUS. Referências a pensadores como Milton Santos, Paulo Freire e Robert Putnam foram utilizadas para enfatizar a relevância do pensamento crítico na busca por justiça social.

O papel das Políticas Públicas

Em sua análise, Luis destacou como as políticas públicas são moldadas por estruturas de poder, discutindo a influência de diferentes bancadas parlamentares em temas como meio ambiente, saúde e direitos sociais. Ele sublinhou a importância do engajamento popular e da união entre movimentos sociais para enfrentar os desafios impostos por decisões políticas e econômicas.

“Os fatores históricos e ideológicos impactam diretamente o financiamento da saúde pública e a implementação de políticas voltadas aos trabalhadores”, observou. O professor enfatizou que a política de saúde está interligada à política econômica e social, apontando os desafios como cortes orçamentários e os impactos do sistema econômico na qualidade de vida da classe trabalhadora.

Reflexão coletiva

Por fim, Luis concluiu sua palestra ressaltando a necessidade de questionar a estrutura do Estado e promover uma reflexão coletiva. “É fundamental combater o individualismo e fortalecer as lutas sociais”, afirmou, convocando todos os presentes a se unirem em prol de um futuro mais justo e solidário para os trabalhadores.

A luta pela saúde do trabalhador não é apenas uma questão de políticas públicas; é uma questão de direitos humanos e dignidade. À medida que as transformações sociais e econômicas avançam, a mobilização e a conscientização coletiva se tornam essenciais para garantir que os direitos conquistados não sejam corroídos. O apelo de Rogério por uma participação ativa e crítica da sociedade civil é um chamado à ação, refletindo a urgência de um engajamento renovado nas questões que afetam a saúde e o bem-estar da classe trabalhadora.