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Edição Especial - 1º de Maio: | Do tronco ao contracheque
*por Herberson Sonkha
Vitória da Conquista (BA) – Neste 1º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador e da Trabalhadora, é necessário rasgar o véu da mistificação e olhar a história do Brasil com os olhos de quem a vive debaixo do porrete, da enxada e do salário mínimo. A pergunta que ecoa, cada vez mais estridente, é: por que a maioria que trabalha até a exaustão continua sem casa, sem terra, sem educação plena, sem saúde digna, sem descanso, sem direitos efetivos, enquanto uma minoria que não produz absolutamente nada segue usufruindo do melhor da vida com sobras, luxos e heranças?
A resposta está escrita com sangue nas entrelinhas da história nacional. Desde os primórdios do Brasil Colônia, forjado à custa da destruição dos povos originários tupi-guarani, até a imposição brutal da escravidão de povos africanos trazidos à força, tratados como “peças”, acorrentados, queimados e chicoteados nos porões das galés portuguesas, a espinha dorsal da economia sempre foi sustentada pelo trabalho forçado e pela concentração de renda e terra.
Durante o Brasil Império (1822–1889), a escravidão foi mantida como fundamento do desenvolvimento econômico. A abolição formal, em 1888, nunca foi acompanhada de reparações ou inclusão social: o povo negro foi lançado à marginalização, enquanto os antigos senhores de escravos foram indenizados e absorvidos pelas novas elites da República nascente.
A Primeira República (1889–1930) aprofundou o domínio das oligarquias agrárias. O voto censitário, a negação de direitos sociais e a repressão violenta aos movimentos populares — como a Guerra de Canudos e a Revolta da Vacina — mostram como o Estado sempre agiu como instrumento de proteção dos interesses burgueses.
No século XX, o ciclo Vargas (1930–1945) institucionalizou direitos trabalhistas, não como concessão altruísta, mas como manobra de controle social e apaziguamento das massas urbanas. O desenvolvimentismo militar (1964–1985) reprimiu sindicatos, torturou lideranças e aprofundou a dívida externa, mantendo o operariado em regime de superexploração, agora sob a ideologia da “modernização”.
A Constituição de 1988, chamada de “cidadã”, até hoje não chegou plenamente aos subalternos. Sob a égide do neoliberalismo, do Plano Real aos governos de coalizão, passando pelos cortes de direitos, terceirizações e reformas trabalhistas, a República brasileira segue sendo a república dos ricos, enquanto a classe trabalhadora continua pendurada em dívidas, vivendo nas periferias, comendo o que sobra, calçando o que aperta e morando no que dá.
Mesmo assim, a narrativa dominante tenta convencer os trabalhadores de que sua situação é resultado da “vontade divina” ou de um “carma pessoal”. Alimentam a ideia de que bajular o patrão, rezar mais ou trabalhar o triplo poderá mudar seu destino. Mas a história mostra que só a luta muda a vida. Nada foi dado — tudo foi arrancado com greve, sangue, suor e rebelião.
A verdade é crua e urgente: o Estado brasileiro — fundado sob o latifúndio, a escravidão e o genocídio — nunca foi neutro. Ele é o comitê executivo dos interesses da classe dominante, como já denunciava Marx. Seu braço armado não protege os trabalhadores, mas os vigia, reprime e, quando necessário, os elimina.
No entanto, nem toda opressão é eterna. Povos se levantam. Povos resistem. Povos vencem. De Palmares a Canudos, das greves operárias de 1917 às ocupações do MST, da juventude preta nas quebradas aos povos indígenas que defendem seus territórios, há uma linha histórica de resistência que atravessa os séculos. É ela que sustenta a esperança concreta de um outro mundo possível — construído pela força organizada dos que tudo produzem e a tudo são negados.
Neste 1º de Maio, que a classe trabalhadora recupere a memória de luta que lhe pertence. Que não aceite as migalhas de um sistema que lhe rouba a dignidade. Que rejeite as narrativas de culpa e inferioridade. E que olhe para a história não como uma prisão, mas como trincheira.
Porque quando os de baixo se levantam, os de cima tremem.
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