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sábado, 1 de novembro de 2025

A FARSA DO MITO

A FARSA DO MITO:

entre o negacionismo, o golpismo e a destruição da humanidade


*por Herberson Sonkha



Durante quatro anos (2018-2022), o Brasil foi palco de um espetáculo político sustentado pela mentira, pelo moralismo hipócrita e pelo ódio. Jair Bolsonaro, autoproclamado inimigo da corrupção e defensor da moral e dos “bons costumes”, construiu sua imagem pública à sombra de um discurso que prometia restaurar a ordem, combater o crime e proteger a “família tradicional brasileira”. Mas bastou um ano de governo para que a farsa começasse a se desmanchar diante da realidade.


A máscara da moralidade

O bolsonarismo nasceu sob o lema “bandido bom é bandido morto”, exaltando a violência policial e criminalizando a pobreza. Prometia combater o “crime organizado” e acabar com a corrupção endêmica da política nacional. No entanto, os escândalos se multiplicaram dentro do próprio governo.

A família Bolsonaro adquiriu mais de vinte imóveis pagos em dinheiro vivo, enquanto o presidente interferia na Polícia Federal para impedir investigações. O governo se envolveu em casos de corrupção com joias e presentes de luxo recebidos ilegalmente, além de promover privatizações lesivas ao patrimônio público, trocando estatais estratégicas por migalhas e favores.

Até um episódio inusitado e simbólico — o flagrante de cocaína em um voo presidencial — expôs o abismo entre o discurso e a prática. A suposta moralidade revelou-se apenas um verniz encobrindo um sistema corroído por interesses pessoais e esquemas de poder.


Contradições e hipocrisia familiar

O moralismo bolsonarista, sustentado em discursos homofóbicos, religiosos e ultraconservadores, desmoronou diante das próprias contradições do clã presidencial. O “mito” que prometia defender a moral cristã viu sua imagem ruir com polêmicas envolvendo os filhos — um usuário de drogas, outro homossexual — e uma esposa de passado estigmatizado, filha de uma criminosa.

As revelações não seriam, por si, motivo de desonra, não fosse a hipocrisia de quem sempre usou o comportamento alheio como arma política. A retórica familiar, convertida em instrumento de poder, mostrou-se um disfarce para manipular a fé e os preconceitos de uma parcela da população.


A tentativa de golpe e a fabricação do inimigo

O colapso moral culminou em uma das maiores afrontas à democracia brasileira desde a redemocratização. Derrotado nas urnas, Bolsonaro tentou justificar o fracasso eleitoral alegando fraude nas urnas eletrônicas — sem jamais apresentar qualquer prova.

Essa narrativa conspiratória serviu como combustível para ataques ao Estado Democrático de Direito e para a mobilização de grupos golpistas. O ex-presidente incitou a desobediência civil, estimulou o ódio contra instituições e flertou abertamente com a ruptura institucional.

A retórica do “mito traído pelo sistema” não passava de uma tentativa de mascarar a incompetência e o autoritarismo de um projeto político incapaz de conviver com a pluralidade e a crítica.


Negacionismo e morte: a tragédia da pandemia

Nenhum período do governo Bolsonaro foi tão devastador quanto a pandemia de Covid-19. Enquanto o mundo se mobilizava para salvar vidas, o governo brasileiro se negava a agir. Recusou-se a comprar vacinas da Pfizer, atrasou a aquisição de imunizantes, desestimulou o uso de máscaras, boicotou campanhas de vacinação e promoveu medicamentos sem eficácia.

O presidente debochou dos doentes, riu de pacientes com falta de ar e chamou a Covid de “gripezinha”. Enquanto milhares de brasileiros agonizavam sem oxigênio, Bolsonaro incentivava aglomerações e demitia ministros da Saúde que defendiam a ciência.

A postura negacionista, marcada pelo desprezo à vida e pela disseminação de desinformação, transformou a pandemia em uma tragédia humanitária. O discurso antivacina e o terraplanismo presidencial custaram centenas de milhares de vidas — vítimas não apenas de um vírus, mas de um governo que escolheu a morte em nome da ideologia.


O país devastado

Ao final de seu mandato, o rastro de destruição era visível. A fome voltou a assombrar o país; o desemprego e a miséria cresceram. Povos indígenas e comunidades quilombolas tiveram seus territórios invadidos e suas lideranças ameaçadas.

O meio ambiente foi devastado pelo desmatamento ilegal, pela mineração predatória e pelo envenenamento das águas. A Amazônia ardeu em chamas, enquanto o governo desmontava órgãos de fiscalização e incentivava a impunidade.

O ódio racial, a misoginia e a violência contra a população LGBTQIAP+ ganharam força nas redes e nas ruas, impulsionados por um discurso oficial que legitimava o preconceito.


O fim do mito

O que se chamou de “mito” revelou-se apenas uma construção política sustentada por fake news, manipulação emocional e desinformação em massa. O bolsonarismo foi, e continua sendo, um projeto de poder baseado na mentira, na negação da ciência e na destruição dos valores mais elementares de humanidade.

O legado que deixou é o de um país ferido — em suas instituições, em seu tecido social e em sua memória coletiva.

O “mito” nunca existiu. O que existiu foi a farsa de um homem e de um movimento que, em nome de uma falsa moral, flertaram com a barbárie e ameaçaram o próprio futuro do Brasil.

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