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quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Centro Glauber Rocha e o empobrecimento da cultura pública

Foto: Instagram/Davino

*por Davino Nascimento




VITÓRIA DA CONQUISTA(BA) - O Centro Glauber Rocha – Educação e Cultura constitui hoje o único patrimônio municipal de interesse cultural permanente da comunidade de Vitória da Conquista. Trata-se de um espaço simbólico e material que sintetiza memória, formação crítica e produção cultural. Por isso, a proposta de redução ou descaracterização desse equipamento público, apoiada por vereadores alinhados de forma quase automática à atual gestão municipal, representa um grave desserviço à história e ao legado cultural dos conquistenses.

Nos últimos anos, o Brasil tem assistido a uma escalada de ataques à cultura e à educação promovidos por governos e grupos políticos de orientação extremista. Vitória da Conquista, infelizmente, não foge a esse padrão e se consolida como um exemplo recorrente da destruição cotidiana de políticas culturais. O debate em torno do Centro Glauber Rocha revela, inclusive, o desconhecimento — ou a deliberada desconsideração — da importância histórica do Cinema Novo, movimento surgido nos anos 1960 que redefiniu a linguagem cinematográfica brasileira e projetou o país no cenário internacional.

A tentativa de esvaziar ou diminuir aquele espaço não parece se limitar a uma rejeição estética ou conceitual à chamada Estética da Fome, proposta por Glauber Rocha como forma de denunciar a miséria, o subdesenvolvimento e a dependência estrutural do Brasil. O que se observa é uma concepção de cultura reduzida à lógica do espetáculo, pautada por megacontratos de shows vinculados ao universo do agro pop, que, ao mesmo tempo, invisibilizam artistas regionais e sufocam a diversidade cultural brasileira.

Ao formular a Estética da Fome, Glauber Rocha buscou questionar as estruturas de poder responsáveis pela manutenção do país em uma posição periférica, submetida ao colonialismo cultural e ao imperialismo econômico. Difícil imaginar que, décadas depois, surgiria um movimento anticultural tão articulado entre prefeituras, assembleias legislativas e governos estaduais, frequentemente sustentado por interesses do agronegócio, empenhado em reduzir drasticamente o próprio conceito de arte.

Causa perplexidade que, em plena virada de ano, representantes eleitos optem por priorizar projetos que caminham na contramão do bem viver da população. Podem destruir, demolir ou reduzir o espaço físico do Centro Glauber Rocha; isso será apenas mais um Barravento. Glauber, por sua vez, permanece imortal na história do cinema mundial. O ônus simbólico e histórico dessa decisão recairá sobre a classe política da chamada Suíça Baiana, que insiste em conduzir a cidade a uma permanente Terra em Transe.

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