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Desmilitarização e Federalização da Polícia Militar: Uma urgência social
Foto: Rovena Rosa (publicada em CartaCapital) |
*por Herberson Sonkha
A desmilitarização e federalização da Polícia Militar no Brasil emergem como propostas urgentes diante dos desafios históricos, estruturais e sociais que permeiam a segurança pública no país. A militarização das polícias, herança do regime ditatorial (1964-1985), consolidou um modelo de policiamento que privilegia o combate a "inimigos internos" em detrimento da proteção cidadã. Essa lógica, conforme Silva (2018), contribui para o extermínio da juventude negra, perpetuando práticas repressivas que criminalizam a pobreza e reforçam a desigualdade social.
ESTATÍSTICAS ALARMANTES E O GENOCÍDIO DA JUVENTUDE NEGRA
As estatísticas confirmam que a militarização tem um impacto devastador, especialmente sobre a juventude negra das periferias. Segundo o Atlas da Violência 2023, cerca de 77% das vítimas de homicídios no Brasil são pessoas negras, e a maioria desses casos envolve ações policiais. Essa realidade evidencia o caráter genocida do atual modelo de segurança pública, que não apenas falha em proteger essas populações, mas as coloca como alvos preferenciais da violência estatal. A desmilitarização surge, portanto, como um imperativo para interromper esse ciclo de extermínio.
INEFICIÊNCIA NO COMBATE AO CRIME ORGANIZADO
Outro ponto central é a ineficiência das polícias militares no enfrentamento ao crime organizado. Apesar da atuação ostensiva, a fragmentação e a hierarquia rígida dificultam ações integradas e estratégicas. Ademais, o envolvimento de agentes públicos com organizações criminosas, como as milícias, compromete a credibilidade das forças de segurança. Souza (2022) destaca que modelos menos militarizados, como os do Canadá e da Nova Zelândia, apresentam maior eficiência e confiança popular, apontando caminhos para superar os gargalos brasileiros.
MILÍCIAS, CORRUPÇÃO E DEPENDÊNCIA QUÍMICA
O envolvimento de policiais militares com milícias e atos de corrupção é um problema amplamente documentado. Em regiões como o Rio de Janeiro, milicianos formados por ex-policiais controlam territórios, extorquem comunidades e rivalizam com o tráfico de drogas. Essa corrupção estrutural é agravada pela dependência química de parte dos agentes, que, sem suporte psicológico ou políticas de cuidado, acabam reproduzindo a violência que deveriam combater. Conforme Muniz e Proença (2007), a desmilitarização permitiria reformar a lógica interna das corporações, promovendo uma formação humanizada e voltada para os princípios democráticos.
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E FEMINICÍDIO
A militarização também contribui para a perpetuação da violência de gênero. Dados recentes revelam que uma parcela significativa dos casos de feminicídio tem como perpetradores agentes das forças de segurança. A cultura hierárquica e autoritária dessas corporações reproduz um ambiente de machismo estrutural, onde o uso da força é normalizado e questões de gênero são negligenciadas. Reformar esse sistema é igualmente fundamental para combater a violência doméstica e proteger mulheres vulneráveis em áreas periféricas.
SENSAÇÃO DE INSEGURANÇA E A FALÊNCIA DO MODELO ATUAL
Apesar do policiamento ostensivo, a sensação de insegurança persiste, especialmente nas periferias. As populações dessas áreas convivem diariamente com abusos, arbitrariedades e uma presença policial que, em vez de proteger, intimida. Conforme Foucault (1975), as estruturas de controle refletem e reforçam desigualdades, sendo a militarização uma ferramenta de dominação de corpos e territórios. Superar essa lógica é essencial para promover uma política de segurança que priorize o bem-estar e os direitos humanos.
A PROPOSTA: DESMILITARIZAR E FEDERALIZAR
Uma polícia unificada, nacional e desmilitarizada poderia corrigir essas distorções. Inspirando-se em modelos como o japonês (Takahashi, 2019), essa nova estrutura centralizaria o policiamento ostensivo, reduzindo conflitos de competência e promovendo uma gestão integrada. A federalização garantiria a padronização de políticas, aumentando a eficiência no combate ao crime organizado e fortalecendo a relação entre polícia e comunidade. Além disso, um perfil civil e democrático facilitaria o diálogo com a sociedade, diminuindo práticas violentas e autoritárias.
CONCLUSÃO: UMA MUDANÇA NECESSÁRIA E INADIÁVEL
Apesar das resistências corporativas e políticas, a desmilitarização e federalização da Polícia Militar representam passos cruciais para superar o autoritarismo e a violência sistêmica que marcam o atual modelo de segurança pública. Como destaca Pinto (2020), integrar e humanizar as forças de segurança é essencial para construir um Brasil mais justo e seguro. Essa reforma é mais que uma necessidade técnica; é uma oportunidade histórica de romper com práticas opressoras e inaugurar uma nova era de proteção cidadã, pautada pela justiça social e pelos direitos humanos.
REFERÊNCIAS
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 1ª ed. Petrópolis: Vozes, 1975.
MUNIZ, Jacqueline; PROENÇA Jr., Domício. Segurança pública e democracia: dilemas e perspectivas. Rio de Janeiro: Revan, 2007.
PINTO, Renato Sérgio de Lima. Políticas públicas de segurança no Brasil: entre a fragmentação e a integração. São Paulo: Contexto, 2020.
SILVA, Andreia dos Santos. Militarização e violência policial no Brasil: um legado da ditadura. São Paulo: Expressão Popular, 2018.
SOUZA, Carla. Polícia cidadã: experiências internacionais de desmilitarização. Brasília: Instituto de Pesquisa e Direitos Humanos, 2022.
TAKAHASHI, Hiroshi. O modelo japonês de policiamento comunitário: uma análise para o contexto brasileiro. São Paulo: Almedina, 2019.
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