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segunda-feira, 11 de novembro de 2024

A vitória da extrema-direita e o recrudescimento da luta de classes



A vitória da extrema-direita e o recrudescimento da luta de classes:
Uma abordagem marxista-leninista sobre o futuro da esquerda brasileira


*por Herberson Sonkha




Logo após a realização do "Curso de formação: A organização dos revolucionários", realizado em Vitória da Conquista pela direção da UP e UJR e o camarada Gregório Gould, no dia 07/11/2024, assistimos os resultados eleitorais nos EUA. A ascensão global de lideranças de extrema-direita, simbolizada pela eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e pela força do bolsonarismo no Brasil, representa uma ruptura significativa na configuração política do capitalismo contemporâneo. Conforme Frei Betto argumenta em seu artigo (Vitória de Trump e o futuro da esquerda), este contexto requer uma profunda reflexão e ação por parte da esquerda. Entretanto, para compreendermos o alcance real desses fenômenos e traçarmos um caminho para a esquerda brasileira em 2025, precisamos ancorar nossa análise nas categorias analíticas marxistas-leninistas.


A extrema-direita como reflexo do aprofundamento das contradições do capitalismo

Em uma leitura marxista, a ascensão da extrema-direita não é um simples "desvio" ou "retrocesso". Ela é um reflexo direto das contradições internas do capitalismo em sua fase neoliberal. Karl Marx já explicava em O Capital que a acumulação de capital gera crises cíclicas e intensifica a exploração das classes populares, o que leva inevitavelmente a formas mais intensas de repressão estatal contra os trabalhadores (MARX, O Capital, 1867, Vol. 1, Cap. 25).

Além disso, com o enfraquecimento das economias nacionais, aumento da precarização do trabalho e o colapso das proteções sociais que marcaram o estado de bem-estar social, a burguesia encontra na extrema-direita uma ferramenta para intensificar a repressão contra as classes populares e reforçar os interesses imperialistas. Como destacou Lenin, as elites capitalistas, quando se sentem ameaçadas, recorrem ao "terrorismo de Estado" e ao autoritarismo como mecanismos para sustentar sua hegemonia (LENIN, O Estado e a Revolução, 1917, p. 41).

Os governos de extrema-direita oferecem à burguesia uma falsa resposta para a crise econômica e social, ao sustentar políticas de repressão, exploração e militarização voltadas contra as massas trabalhadoras. Para a extrema-direita, as instituições democráticas e as liberdades civis não têm valor intrínseco, e sua postura autoritária é, portanto, apenas um reflexo da necessidade do capital em suprimir qualquer organização popular que desafie suas bases (GRAMSCI, Cadernos do Cárcere, 1929-1935, p. 146).


A naturalização do capitalismo e o papel da ideologia

A análise de Frei Betto sobre "Maria", a trabalhadora diarista que encontra apoio social e psicológico nas igrejas neopentecostais, levanta pontos cruciais. No entanto, é importante avançar na crítica ao papel ideológico que essas comunidades religiosas desempenham ao promoverem a naturalização do sistema capitalista. Em termos marxistas-leninistas, a adesão de trabalhadores ao discurso de mérito e prosperidade individual reflete o funcionamento dos "aparelhos ideológicos do Estado", como formulado por Louis Althusser (ALTHUSSER, Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado, 1970, p. 27). Esses aparelhos, como as igrejas, a mídia e a educação, reproduzem a hegemonia burguesa ao inculcar valores e explicações que culpabilizam o indivíduo e negam as causas estruturais da desigualdade.

Para que o trabalho de base se torne efetivo, a esquerda deve questionar e desconstruir essas narrativas burguesas, mobilizando militantes que compreendam a fundo as condições materiais de vida das massas e que possam construir laços de confiança baseados na solidariedade de classe e na visão crítica. Aqui, é fundamental o método de conscientização de Paulo Freire, que propõe uma educação emancipadora e dialógica, embora Freire precise ser complementado com uma análise de classe mais profunda (FREIRE, Pedagogia do Oprimido, 1970, p. 79).


Educação popular revolucionária e organização de classe

Frei Betto sugere que a ausência de uma educação popular com bases freirianas tem afastado as classes populares da luta política organizada. Concordamos em parte, mas devemos avançar e afirmar que a ausência de uma educação política rigorosa, comprometida com a formação revolucionária de quadros, compromete a capacidade da esquerda de conduzir uma transformação estrutural.

Em 2025, o trabalho de base precisa superar o simples "esclarecimento" político e atuar na organização de comitês populares nos bairros, sindicatos e escolas. Para Lenin, a organização política precisa ser um instrumento para a formação ideológica e prática dos trabalhadores como sujeitos revolucionários (LENIN, O Que Fazer?, 1902, p. 34). É necessário organizar escolas de formação ideológica e política que transformem os trabalhadores em sujeitos revolucionários, conscientes da exploração capitalista e dispostos a lutar pela transformação radical da sociedade. Não basta trazer o "povo" para a política; precisamos construir uma militância comprometida com a ruptura revolucionária.


O papel do partido de vanguarda e a Unidade Popular (UP) para o Socialismo

A esquerda brasileira se encontra fragmentada, com partidos e movimentos incapazes de se unirem em torno de um programa mínimo de lutas populares. A fragmentação e o sectarismo têm enfraquecido a capacidade de mobilização popular e deixado o campo aberto para a hegemonia da extrema-direita. Inspirados no modelo de partido de vanguarda de Lenin, a esquerda precisa construir uma unidade estratégica baseada no centralismo democrático, onde a diversidade ideológica não comprometa a ação coordenada (LENIN, O Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo, 1920, p. 33).

Apesar das contradições sociohistóricas que essa tática encerra, é imperativo que se crie taticamente uma Frente de Esquerda Popular que seja capaz de centralizar as reivindicações das massas, lutar por reformas estruturais e orientar a classe trabalhadora rumo ao socialismo. Isso implica construir uma aliança entre os partidos progressistas, movimentos sociais e sindicatos combativos. No entanto, é essencial que essa frente não se perca em alianças com setores da "direita moderada" ou do "centro" que buscam preservar o status quo, mas se fortaleça como um bloco anticapitalista com uma proposta revolucionária (GRAMSCI, Hegemonia e Sociedade Civil, 1926, p. 112).


O Socialismo como alternativa inadiável

Para que a esquerda enfrente o desafio que o avanço da extrema-direita impõe, é necessário um compromisso inabalável com o socialismo. A partir de 2025, a esquerda precisa abandonar qualquer ambiguidade em relação a suas metas e propor uma saída socialista clara e concreta para os problemas do povo brasileiro. Como Marx e Engels escreveram no Manifesto do Partido Comunista, "os trabalhadores nada têm a perder a não ser suas correntes" (MARX & ENGELS, Manifesto do Partido Comunista, 1848, p. 34). Isso inclui, além do trabalho de base e da organização popular, uma luta efetiva contra a exploração capitalista e o imperialismo, por meio de uma política internacionalista que conecte a classe trabalhadora brasileira aos movimentos de libertação em todo o mundo.

A tarefa da esquerda brasileira em 2025 é explícita: retomar o trabalho de base, fortalecer a organização popular e consolidar a unidade em torno de um programa socialista que ofereça ao povo brasileiro uma verdadeira alternativa ao caos e à miséria promovidos pela burguesia e pela extrema-direita. Como ensinou Lenin, a luta pelo poder deve ser uma luta intransigente e organizada, com uma liderança revolucionária que compreenda as contradições do capitalismo e esteja disposta a avançar para além das limitações da democracia burguesa (LENIN, O Estado e a Revolução, 1917, p. 53).

O futuro da esquerda reside em sua capacidade de liderar, educar e organizar as massas para a construção de uma sociedade livre de exploração, onde o poder e a riqueza não estejam concentrados nas mãos de uma elite, mas pertençam ao povo trabalhador.




REFERÊNCIAS:

ALTHUSSER, Louis. Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado, 1970.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 1970.

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere, 1929-1935.

GRAMSCI, Antonio. Hegemonia e Sociedade Civil, 1926.

LENIN, V.I. O Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo, 1920.

LENIN, V.I. O Estado e a Revolução, 1917.

LENIN, V.I. O Que Fazer?, 1902.

MARX, Karl & Engels, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista, 1848.

MARX, Karl. O Capital, 1867.





*Herberson Sonkha, membro da UP de Vitória da Conquista (BA), militante negro marxista-leninista da Frente Negra Revolucionária (FNR).


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