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O genocídio “cristão” no Jacarezinho sob a égide da militarização fascista da polícia
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Carlos Santos Fotoarena / Estadão conteúdo |
“Diga não ao racismo. Diga
não ao preconceito. Diga
não ao genocídio do meu povo preto. Diga
não à polícia racista. Diga
não a essa militarização fascista.” (BIA FERREIRA, 2019) |
*por
Herberson Sonkha
Ali bem pertinho do Rio de Janeiro, praticamente do lado, nasce a cantora, compositora e multi-instrumentalista mineira Bia Ferreira que aprendeu a largar a voz intrépida contra os racismos da intelligentsia e o establishment burguês branco brasileiro. Seu canto estremece feito rajada de metralhadora, abalando as estruturas rígidas de um mundo burguês caduco, caótico e austero na direção do constructo mental do patriarcado que instrumentaliza a racionalidade branca para justificar a eugenia social que de uma única vez ceifou a vida de 29 pessoas.
O Auto
de resistência e a mídia burguesa branca jamais vão admitir a letalidade do
braço armado do Estado arrepiando à revelia da lei. Antes, vocifera a
militarização fascista da polícia preparada pela sentimentalidade branca
conservadora que executar sem hesitar a pena capital contra populações negras,
confinadas em imensos adensamentos urbanos.
Se a
cabeça pensante e o capital residissem nessas áreas periferizadas, consideradas
faveladas, não haveriam chacinas. Por isso, tombam milhares de corpos pretos e
outros tantos são recrutados diariamente porque a cabeça pertence a outro corpo
social e vive protegida pelo mesmo Estado liberal burguês que manda matar
preto, pobre, jovens e mulheres negras, lgbtqia+ sob o discurso falsário de
combate as facções criminosas e o crime organizado. Aliás, a quem interessa
deixar o crime se organizar?
Essas
forças policialescas retrogradas e facínoras não avançam nenhum um milímetro na
direção do centro pensante de operações dessas organizações criminosas porque
suas cabeças estão resguardadas nas áreas nobres do Rio de Janeiro, São Paulo
ou Bahia. Lá aonde a militarização da polícia fascista não chega, não
ultrapassa os belíssimos portais dos condomínios de poder luxuosos porque o
capital e os capitalistas que decidem politicamente quem o Estado protege e
quem o Estado extermina.
Você
acha mesmo que as áreas nobres de qualquer lugar desse país são invadidas por
policiais? Neca-de-pitibiriba meu parceiro, porque o papel na sociedade
burguesa da polícia é proteger a propriedade privada, o patrimônio! Esse é o
preço por ignorar o Manifesto Comunista, quando Marx e Engels afirmam lá em
1848 que o Estado é “o comitê administrativo dos interesses comuns da
burguesia”. Ou vocês acham mesmo que a alta burguesia da cidade está
brincando quando diz que a pobreza, baixaria, furto, latrocínio, chacina, boca
de fumo, estupro, fome, cracolândia, sujeira e ruelas malcheirosas é coisa da
periferia? Isso não é uma constatação,
mas sim uma sentença meu parceiro!
Sem
casa, sem emprego, sem transporte, sem saúde, sem educação, sem comida e sem
lugar pra circular livremente, as nossas populações negras foram jogadas nas
ruas e depois nas encostas desde 1888. Adensamentos urbanos vão surgindo
intensificando o uso irregular do solo, ocupando sem que o Estado ofereça
qualquer possibilidade de infraestrutura, causando dificuldades e o risco de
desabamento de terra. Apesar dos problemas que ocasionam ao meio ambiente, não
há outro lugar porque o sistema branco é bruto e a casa cai toda vez que a
senzala resolve botar o pé na parede e mandar a letra contra o andar de cima.
Sejamos
francos, as favelas não deixam de ser um pan-óptico para as elites atrasadas,
um grande laboratório da burguesia que funciona como uma imensa penitenciaria à
céu aberto, ideal para a militarização fascista monitorar e chacinar seus
moradores para justificar a pressão de certos setores contrários ao tráfico.
Você acha mesmo que o filosofo, economista e jurista liberal inglês Jeremy
Bentham utilizou essa palavra porque achou essa expressão bonita? Não mesmo!
Bentham estava de olho na movimentação das massas operária borbulhando que
ameaçava a manutenção da propriedade privada, a luta política a espreitam de
uma convulsão social.
Quem
vai monitorar, controlar e intervir quando a fúria das massas convulsionar à
ordem civil burguesa e derrubar o sistema capitalista? A ideia é transformar o
Estado no eterno vigia noturno, aquele que nunca dorme porque só um vigilante
implacável que observa a tudo e a todos os movimentos saberá quando e como
intervir com eficiência para aplacar a fúria dos prisioneiros, sem que eles
saibam que estão sendo vigiados. Ilude-se quem achar que o Estado não monitora
as favelas, pois como disse o governador cristão, foram 8 meses de intensa
vigilância e de intervenções. Eles sabiam que a operação seria letal e já era
previsto porque a polícia não trabalha com a lógica de redução de danos.
Talvez,
encontremos no debate acalorado do “Vigiar e Punir: nascimento da Prisão” do
filosofo francês Michel Foucault (publicado em 1987 no Brasil), algumas pistas
sobre o pensar e agir da política social do governo carioca fascista que iguala
a todos e todas as pessoas periferizadas como pessoas periculosamente bandidas,
portanto, condenadas à eugenia social. Qual o melhor lugar para se vencer uma
guerra senão invadindo a casa na calada da noite, antes da população acordar.
Invadir casas, assassinar pessoas são dos "males" o menor para essa
militarização fascista da polícia.
A
República liberal burguesa nos forçou a criar os adensamentos no Brasil desde o
início do século 20, quando as elites atrasadas do país aderiram ao modismo do
movimento arquitetônico francês e passou a orientar o estilo urbanístico das
capitais do país para evitar aglomerações grevistas e transformar a cena urbana
bucólica de cidades provincianas num lugar de branco com ares “civilizados”.
Desde então, as populações negras vêm sendo eliminadas, conformadas de maneira
amontoada feito deposito de gente em áreas de risco, dependuradas pelos morros
à baixo, conformadas em favelas, palafitas, presídio ou em macas duras, frias
sem colchonetes e lençol nos hospitais públicos superlotados.
Sempre
imaginei o momento em que a favela desceria para o asfalto e se rebelaria
contra a exploração, o extermínio e as múltiplas formas de violência do
opressor, subvertendo a ordem civil burguesa. Mas, tem sido cada vez mais comum
acontecer o contrário, pois o aparato bélico que é o braço armando do Estado
continua subindo o morro e mandando bala sem hesitar na nossa pretaiada. E nada
acontece! Corpos aqui, ali e acolá e às populações negras sendo exterminadas
feita barata e os plantonistas do ultraliberalismo no Estado brasileiro
silenciam quem ousa levantar a voz como aconteceu com a camarada Marielle
Franco.
Ativistas
liberais até fazem um estardalhaço, mas a rota da estatística da letalidade
segue provando que o extermínio deve continuar aumentando a cada dia mais. Isso
não se explica sem compreender historicamente todos os processos de eugenia
social ocorridos no Brasil e que está presente no DNA civilizacional burguês,
não se elimina isso pintando a faixada do “vigia noturno” com uma marca de
verniz chamado social democracia. Os racismos são estruturais, a exemplo do que
ocorreu nos EUA com o caso do George Perry Floyd Jr. afro-americano assassinado
em Minneapolis. Aconteceu no governo ultraconservador do republicano Donald
Trump, um fascistoide, mas poderá voltar a acontecer no governo liberal social
do democrata de Joe Biden.
Isso
não se resolve efetivamente apenas com eleição de democratas e a realização de
passeatas populares com viés de luta de classes, o enfrentamento político e
ideologicamente organizado da classe trabalhadora e das populações
subalternizadas não é suficiente se não for para superar esse modelo
civilizacional burguês, pois as populações negras são diretamente afetadas pela
política ultraconservadora de eugenização.
A
centralidade está na superação do espectro dominante que hegemoniza a
sociedade, perpassada pela construção política das instituições de classe,
gênero e raça que transforma, e, não a que conforma, aliena, subalterniza,
coisifica e idiotiza a espécie humana.
A
situação do Rio de Janeiro é mais complexa, contraditória e mais avassaladora
por isso exige mais elaboração teórica revolucionária e práxis política
emancipacionista, pois não se pode descartar a infeliz participação eleitoral
das populações periferizadas na vitória de candidaturas bolsonaristas ou de
direita para o governo da cidade e do estado do Rio de Janeiro.
O
governador caiu e o vice já entrou com os dois pés na cara das populações
periferizadas. Nem bem saiu da lua de mel com o Paço de Isabel (Palácio da
Guanabara) e já autorizou a chacina do Jacarezinho que fica há 13,8 quilômetros
de seu gabinete. E o que é pior, sua declaração de pena capital, enviada por
vídeo para evitar ser entrevistado, não hesita em mostrar a desfaçatez de uma
expressão facial que não esboça nenhum arrependimento ou remorso. Aliás,
racionaliza para reafirmar com a convicção de quem está fazendo o que é certo.
Sem
nenhum constrangimento, por causa do posicionamento crítico das principais
nações mundiais signatárias da política de Direitos Humanos sobre o assunto, a
principal voz que ecoa do Palácio da Guanabara reafirma a manutenção do modelo
policialesco fascista ineficiente e negligente com a dignidade da pessoa
humana. É a extensão da tese bolsonarista que ganhou as eleições no Sudeste,
sob o mantra de “bandido bom é bandido morto”. O governo do Rio de Janeiro não
está nem aí se esse mantra de militarização fascista extermina civis inocentes
do Jacarezinho, do Alemão ou da Rocinha.
A
preta musicista advertiu o Brasil sobre os riscos de agravar o quadro de
genocídio de jovens negros e de populações periferizadas pela militarização
fascista. Ei carioca, você não escutou? Não, né? Pois é, enquanto isso não
podemos ficar assistindo e rindo da chacina quando muita gente chora. Mas, só isso
não resolve e nem impede que essa militarização fascista do “bandido dom é
bandido morto” faça mais vítimas. Será que não está na hora de romper
visceralmente com esse modelo econômico, social, cultural e político liberal
burguês, conivente com quem prega a militarização fascista, sobretudo àquelas
pessoas perdulárias que representam na institucionalidade (no parlamento e no
executivo) o bolsonarismo.
Não
consigo conceber que alguém não se indigne com um governador “cristão” que
ironiza em rede nacional que a ação policial no Jacarezinho foi uma estratégia
bem sucedida do serviço de inteligência que passou três meses investigando e
montando a intervenção. Seu ar de missão cumprida se deve ao fato de ter
apreendido “muito” armamento belicoso, sendo isso maior do que a desventura dos
29 óbitos.
Se não
bastasse, o “cristão” das cruzadas considera que esse êxito é resultado da
inteligência do aparato policial do Estado avaliado como sendo um dos mais
corruptíveis do país. Que inteligência é essa que não tem discernimento
suficiente para ler que a política de drogadição é inepta, inadequada,
ultrapassada e seus resultados são 100% letais; que a dependência química é uma
questão de saúde pública; e que existem inúmeras contradições, excessos,
preconceitos, racismos e as fobias que permeiam esse fato social.
Seu
cinismo dissimulado beira a insanidade mental e as suas estultícias são ditas à
sociedade brasileira como se não houvessem baixas e danos colaterais. Me lembra
que o Rio de Janeiro também é o Haiti denunciado na poética de Caetano Veloso e
Gilberto Gil quando dizem "E na TV se você vir um deputado em pânico. Mal
dissimulado".
E diz
como se tivesse dando uma notícia alvissareira a alguém que acabou de acertar
na mega sena. Ignora a triste e incorrigível realidade carioca que assola
familiares e amigos que viram os seus entes tombarem sob o projétil da pistola
ou fuzil policial do Estado, ainda têm que assistir a essa degradante
declaração desse “cristão” fundamentalista, uma excrescência.
A
facção fascistoide da “bala, bíblia e do boi” na Câmara de Deputados Federal
ampliou seus tentáculos para os governos em quase todos os estados do Brasil,
que mostra "(...) deputado em pânico. Mal dissimulado" defendendo a
corrupção, os desmandos, a ineficiência, o desmatamento da Amazônia, extermínio
de populações originária, quase meio milhão de óbitos pelo coronavírus e a
aberração anômala de um governo genocida. Os burgueses brancos sempre
governaram para grandes conglomerados econômicos e corporações financeiras
internacionais, para milicianos e supremacistas, por isso não existe nenhuma
crise moral em institucionalizar a pratica nefanda de eugenia social. Em certa
medida, isso explica o cinismo dissimulado, a ironia e o desdenho do governador
do Rio de Janeiro em relação aos lamentáveis 29 óbitos do Jacarezinho.
Neste
momento de dor e sofrimento de minha gente preta carioca periferizada e subalternizada
pela burguesia branca, quero compartilhar do que agora é o meu canto, na voz
impecável da poética social aguda de Caetano e Gil que nos alerta sobre
"(...) esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital" ou o
canto insurgente da intelectual negra
Bia Ferreira que nos convida rebelar-se e a não pactuar, verbalizando
poeticamente:
“Eu não compactuo com esse jogo sujo Grito
mais alto ainda E
denuncio esse mundo imundo A
minha voz transcende a minha envergadura Com
essa carne fraca Eu sou
do tipo carne dura Diga
não ao racismo! Diga
não ao preconceito! Diga
não ao genocídio do meu povo preto! Diga
não à polícia racista! Diga
não a essa militarização fascista! Diga
não…” |
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