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sábado, 22 de maio de 2021

Lobos em pele de carneiro na oposição da Câmara Vereadores de Vitória da Conquista?


"E convenhamos, nenhum negacionista genocida deveria ter seu nome numa placa de um lugar politicamente simbólico como o Terminal da Lauro de Freitas, palco de inúmeras lutas políticas da população conquistense pela quebra do monopólio no transporte coletivo." 


"Dê a todas pessoas seus ouvidos, mas a poucas a sua voz". (William Shakespeare)

 

*por Herberson Sonkha

 

Não se deixa de ser a mesma pessoa de antes só porque conquistou uma cadeira no parlamento, especialmente porque cada voto recebido é uma voz renitente ao encontro desta ou daquela pessoa que o fez crê que o defenderia, portanto encontrou naquela candidatura uma oportunidade de ser ouvida. Aliás, é neste momento que se passa a conhecer de fato as "boas intenções" de alguém como sugere a frase "Se quiser pôr à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder".

Com toda a grandeza de Abraham Lincoln para a América do século XIX, lamentavelmente essa frase não lhe pertence, ou pelo menos, não existe qualquer registro que confirme. Sabe-se que foi encontrado algo parecido no ensaio de Robert G. Ingersoll (1885). A voz renitente de Lincoln na América serve como exemplo de coragem, coerência e compromisso para enfrentar os supremacistas brancos e contribuir com o fim do sistema escravagista norte-americano. Não é à toa que uma das vozes mais confiáveis na Europa, a da Associação Internacional dos Trabalhadores lhe enviou felicitações pelo que representava a sua reeleição.

A revista “The Bee-Hive Newspaper”, nº 169, de 7 de janeiro de 18651 trazia uma carta de Karl Marx à Abraham Lincoln escrita entre 22 e 29/11/1864 que ele diz "Senhor, felicitamos o povo americano pela sua reeleição por uma larga maioria. Se a palavra de ordem reservada da sua primeira eleição foi resistência ao Poder dos Escravistas [Slave Power], o grito de guerra triunfante da sua reeleição é Morte à Escravatura". Uma nota2 explicativa do filólogo português José Barata-Mouro informava que a mensagem foi escrita por Karl Marx por decisão do Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores à Abraham Lincoln.

Se a carta à Abraham Lincoln não servir para mostrar a expectativa do movimento operário mundial no mandato, expressando a diferença entre o discurso e a prática de um mandatário, cabe perfeitamente no comportamento da oposição parlamentar no município de Vitória da Conquista, ninguém mais o fará. Óbvio que Karl Marx não concebia o papel das forças de esquerda como mera oposição ao adversário vencedor (ou perdedor) no processo eleitoral democrático.

Igualmente, não se pode conceber que qualquer vereança que se admite de esquerda se apequene com a arte de enganar alguém ou lograr êxito com pautas bombas contra a população, sustentadas com argumentos estrepitosamente emocionais, intervenções na tribuna com retoricas eloquentes que são verdadeiras peças teatrais impecáveis e retumbantes.

A Revista Eletrônica Arma da Crítica nº 4, dezembro de 2012, traz um artigo intitulado "Marx e a literatura – um estudo à luz do capital", dos doutos Fábio José C. de Queiroz e Frederico Costa, nos oferece a liga político-literária entre o filósofo alemão e a literatura inglesa moderna. Marx tinha essa profundidade de conhecimento que permitia transitar em várias áreas do conhecimento, a exemplo dos “Grundrisse” em que Marx da voz a “Timon de Atenas” (Shakespeare) para tratar de temas nada poéticos como dinheiro, enriquecimento e acumulação (QUEIROZ & COSTA,2012, p.14).

Estamos nós às voltas com a dramaturgia da sinecura de alguns parlamentares opositores ao governo genocida da prefeita eugenista. Ninguém melhor que o inglês William Shakespeare, ator e dramaturgo mais influente do mundo moderno, o poeta de “Bardo do Avon” para nos dizer algo sobre a comoção que levou o parlamento municipal Conquistense a legitimar um carrasco das populações empobrecidas. Diria Macbeth, a tragédia shakespeariana, aos opositores vaidosos, cujo reinado se acham intocável por causa das bruacas superlotadas de votos.

Shakespeare diria que não subestimem a possibilidade de um regicídio e suas implicações, excepcionalmente quando essa população ainda não experienciaram o real significado da necessidade de uma comoção, pois segundo ele "O poder é a escola do crime". A saber, Macbeth é uma tragédia shakespeariana escritas (1603 e 1607) sobre a morte de reis e rainhas e suas consequências.

Portanto, interpretar sentimentalidade alheia é um papel para atores/atrizes e, com a necessária sobriedade, dos profissionais de comunicação. Na política existe uma racionalidade sim e precisa que seja usada com sobriedade para impedir que a população sofra mais do que já vem sofrendo.

Isso não tem relação com a força da maioria na bancada de situação, formada em sua maioria por bolsonarista de extrema-direita fascista, pois tem a ver com a coerência política, conhecimento dos fatos sóciohistóricos, domínio da legislação municipal e compromisso com as pautas da cidade que qualquer parlamentar de ESQUERDA deve ter, independente de perder ou não uma votação porque não tem maioria. Como diria Macbeth, é preciso destruir cada reinado para que os mandatos prestem conta à sociedade pelos seus atos politicamente criminosos contra o povo.

A tragédia conquistense, a lá Macbeth, nos diz muito sobre a verdadeira comoção dos servidores públicos municipais perseguidos, da classe trabalhadora explorada-oprimida e das populações pauperizadas do campo e da cidade em relação à morte de Herzem Gusmão. Não exatamente àquela dramaturgia dissimulada que resulta do uso indiscriminado da máquina municipal para mobilizar protestantes judaico-cristãos conservadores, contratados temporários, empresários capitalistas e cargos de confiança do governo genocida e negacionista de Vitória da Conquista. 

É preciso identificar qual a vereança opositora no parlamento municipal comeu bola e engoliu a mentira de parlamentares de situação, existe um vácuo que apesar do tempo e das contradições pertence a verdade, por isso virá à tona: oposição em bloco legitima a dramaturgia cínica que ressignifica o algoz das populações pauperizadas e oprimidas como herói do povo. Por que esse parlamento não tem nenhuma comoção em relação à expulsão eugenista dos trabalhadores e das trabalhadoras da economia informal, os camelôs, do Terminal da Lauro de Freitas?

A resposta está no fato de que a comoção é um sentimento inesperado que estoura no seio da sociedade toda vez que algo estranho à natureza humana de uma pessoa é manchada, aviltada, criminalizada ou terrivelmente assassinada. Isso sim, causa grande comoção na comunidade, na cidade, no estado ou no país independente de quem seja. Mas, foi isso que aconteceu com o Sr. Herzem Gusmão? Não, né? Até pode ser “compreensível” que a situação vele pelos seus monstrinhos algozmente fascistas, mas a oposição que diz ser de esquerda jamais deveria ter ignorado a história porque isso é grave.

Deve ser absolutamente normal que a oposição na Câmara Municipal da cidade se paute por esse senso de justiça e tomasse todas as medidas cabíveis a favor de alguém injustiçado, afinal de contas pensa-se no parlamento municipal como um lugar “conectado” aos anseios da sociedade, sobretudo dos mais prejudicados, necessitados e perseguidos. A doce-ilusão de que a voz parlamentar precisa estar a serviço da defesa dos pauperizados, famélicos, carentes, oprimidos, perseguidos e explorados. Ledo engano!?

Pensando rapidamente nessa “conexão sensível” da oposição aos anseios da população conquistense, me veio à memória algumas situações históricas de truculências que condiz mais com o Herzem Gusmão, o sujeito politicamente decrépito, incivilizado que agia com tamanha brutalidade e desrespeito aos servidores e pessoas simples com má-criação. Isso tem mais a ver com ele do que a inexplicável comoção que levou a aprovação do nome sem qualquer discussão de um logradouro público com o nome do açodado e tosco Herzem Gusmão.

E convenhamos, nenhum negacionista genocida deveria ter seu nome numa placa de um lugar politicamente simbólico como o Terminal da Lauro de Freitas, palco de inúmeras lutas políticas da população conquistense pela quebra do monopólio no transporte coletivo. Além do mesmo ter desmontando o Sistema Municipal de Transporte Público para favorecer seus cabo-eleitorais e apadrinhados que financiaram sua campanha eleitoral em 2016. Houve até desvio de recurso da saúde já sucateada para atender acordos espúrios com grupos do transporte clandestinos, além de deixar de fora algumas rotas para justificar o transporte clandestinos de passageiros em vans caindo aos pedaços.

O nome no pórtico do terminal faz jus à péssima qualidade da frota ultrapassada e a inoperância do sistema municipal de transporte público, contradizendo essa movimentação que levou o parlamento municipal à comoção. A oposição mais uma vez comeu mosca expondo sua fragilidade ao transformar um algoz em “herói”, rescrevendo de maneira mistificadora a história para legitimar um carrasco, o carnífice de homens, mulheres e crianças sem teto.

Numa matéria veiculada pelo site "Combate ao racismo ambiental" em dezembro de 2017, intitulada "Trabalhadores Sem Teto sofrem truculência policial durante despejo em Vitória da Conquista”, revela o verdadeiro caráter desse político impostor:


"Um verdadeiro cenário de terror foi montado na manhã desta segunda-feira (4), na ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), durante despejo contra as famílias da ocupação Cidade Bonita, localizada às margens da BR 116, em Vitória da Conquista.". (RACISMO AMBIENTAL, 2017) 


O texto afirmou que várias famílias residiam na área da prefeitura há mais de um ano, sendo despejadas duas vezes pelo então prefeito Herzem Gusmão (PMDB), acusado pelos movimentos sociais de má gestão, incompetência, truculência e descaso com as pautas sociais. A oposição ignorou mais uma vez o fato de o carrasco das famílias pauperizadas nunca ter sido bem visto pelos movimentos e organizações populares, sindicato, associações ligadas ao MST.

Igualmente, se esqueceram que esses movimentos ocuparam a prefeitura (17/12/2017) com 150 pessoas que expuseram faixas, cartazes e muitas palavras de ordem denunciando retirada de direitos dos(as) trabalhadores (as) do campo e da cidade e o alinhamento ideopolítico do prefeito golpista Herzem Gusmão ao correligionário golpista do Michel Temer contra o PT que ele chamou de ladrão e petralha várias vezes.  Isso não comove a oposição?

Soma-se a isso a derrubada da barraca de Dona Eny Rocha, no começo da Avenida Juracy Magalhães, uma trabalhadora autônoma que sustentava a família com o dinheiro que ganha na barrada desde a época que aquela rua era conhecida como Rua do Gancho. Truculento e arrogante, o patriarca prepotente gritou e esbravejou contra uma mulher trabalhadora que ganha a vida honestamente naquele lugar há décadas, para favorecer ao empresário capitalista que certamente deve ter dando uma generosa e gorda contribuição à sua campanha eleitoral em 2016.

Outra situação estranha, que parece ter desaparecido da vida política conquistense nas duas últimas décadas foi o corte de salário de duas servidores municipais concursadas, Aliny e Nívia. Esse caso repercutiu em função da desumanidade do carrasco dos profissionais da educação, causando verdadeira comoção, pois a Associação dos Docentes da UESB (ADUSB) publicou em seu site no dia 01/09/2020 uma matéria intitulada “Prefeitura corta salários de diretoras do SIMMP em Vitória da Conquista” em que sua presidenta Soraya Adorno diz que:


“demonstra mais uma vez o caráter autoritário e antidemocrático de sua gestão. São duas trabalhadoras, mães, uma delas inclusive gestante, que foram eleitas democraticamente para compor a diretoria do seu sindicato, para exercer seu direito legítimo de se organizar sindicalmente para lutar em defesa dos seus direitos. Mas, numa medida machista, desumana, o governo Herzem persegue essas duas trabalhadoras, na tentativa de lhes cercear o direito de organização e o da liberdade de sindicalização. Não podemos nos silenciar diante de mais esse ataque. A diretoria da ADUSB manifesta seu apoio e solidariedade as companheiras, profissionais de educação e lutadoras, Aliny e Nívia.” (ADORNO, 2020).


 Mais uma vez eu fico a pensar criticamente sobre os discursos retorico retumbante, alguns até inflamados sobre certas “defesas de interesses” da classe trabalhadora e das populações subalternizadas. Observado a motivação que levou a oposição a legitimar um algoz do povo, um comportamento considerado historicamente como sendo de direita.

Fico analisado se de fato essas declarações são verossímeis, pois como categoria analítica me sirvo da tese marxiana que sugere “a prática como critério de verdade”. Portanto, vejo nessa prática a repetição dos mesmos motivos políticos que levaram os inúmeros edis da tradicional direita conquistense a nominar logradouros públicos como nome de carrascos: transformar algozes em “heróis”. Penso que foi isso que aconteceu e que vai continuar acontecendo, pois me leva a crer que não existe VERDADE na práxis política da oposição na Câmara de Vereadores de Vitória da Conquista.

Na perspectiva do pensamento marxiano3, com a finalidade de investigar os meandros das contradições entre as decisões e os discursos no parlamento municipal, considero que não existe oposição na acepção da palavra, o que existe mesmo é a pré-ocupação com a dança das cadeiras e que se dane a população conquistense.

A comoção da população é um fenômeno sociológico muito diferente do que vem acontecendo no Brasil que transforma diariamente falsas-notícias em “verdades” inconteste e que se tornou cada vez mais comum com o advento da tecnológica das mídias e redes sociais.

Mas, nunca houve de verdade qualquer comportamento que pudesse ser considerado socialmente justo, de modo que a morte seria algo que pegasse todos de surpresa, evolvendo fortes e repentinas emoções. Geralmente, é identificado pelo caráter de motim, revolta ou agitação popular em defesa ou contra alguém que cometeu uma injustiça contra alguém que não merecia.

O que houve mesmo foi o movimento inflacionado da situação bolsonarista para causar a impressão de que houve comoção popular, mas não passa de medo de situacionistas do que estaria por vir. Além das retaliações com as canetadas da “força” daquela que não fora eleita porque não tem estofo. Não é por acaso que dizem que “deus quis assim”, matando o prefeito para que ela pudesse governar a cidade.

A direita e a extrema-direita entendem que a melhor forma para desviar atenção da população para uma trama criminosa e suas consequências, que expõe as fragilidades e melindres de um governante mentiroso é transformar à morte em algo comovente, é um martírio que dá dignidade e status de “herói". Essa narrativa cinicamente mentirosa viralizou como se fosse uma situação de injustiça, e, que só o seu nome num pórtico repararia essa injustiça.

Mesmo que isso custe a desconstrução da história de um povo sofrido, perseguido, explorado e oprimido. Para eles o que importa é eternizar para fazer justiça ao “homem de bem, protetor da família e temente a Deus”. A oposição vacilante, não viu passar a boiada porque está desapercebida e incerta de sua tarefa política de proteger os interesses da população contra os lobos bolsonaristas algozes...

 

 

 

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[1] Fonte: “Obras Escolhidas” (Editorial Avante!/Edições Progresso Lisboa-Moscou, 1982, tradução de José Barata-Moura), de Karl Marx. A carta foi escrita entre 22 e 29 de novembro de 1864, em plena Guerra Civil Americana. Foi publicada em “The Bee-Hive Newspaper”, nº 169, de 7 de janeiro de 1865. Extraído de: http://www.revistabula.com/157-carta-de-karl-marx-para-abraham-lincoln/

[2] NOTA 1 “A Mensagem da Associação Internacional dos Trabalhadores ao presidente Abraham Lincoln dos Estados Unidos, por ocasião da sua reeleição, foi redigida por Marx por decisão do Conselho Geral. No auge da Guerra Civil nos Estados Unidos esta mensagem teve uma grande importância. Sublinhou a enorme importância da guerra contra a escravatura na América para os destinos de todo o proletariado internacional. Apoiando todos os movimentos progressistas e democráticos, Marx e Engels educavam no proletariado e nos seus elementos de vanguarda na Internacional uma atitude verdadeiramente internacionalista em relação à luta dos povos oprimidos pela sua libertação.”

[3] Obras de Karl Marx e Friedrich Engels, particularmente durante o período de 1843 e 1846 da escrita das Teses sobre Feuerbach.

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