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sexta-feira, 18 de setembro de 2020

O PSOL saiu sozinho ou foram alguns partidos de esquerda que mudaram o discurso e o curso à direita de seus programas?

"O voto no PSOL é diferente do voto desideologizado que não se compromete com nenhuma pauta histórica da classe trabalhadora e das lutas sociais pela emancipação das populações periféricas e campesinas subalternizadas"


*por Herberson Sonkha

 

Como trabalhador, militante comunista de movimentos sociais e recém filiado ao Partido Socialismo e Liberdade peço vênia ao partido para expressar minha posição sobre a correta e estratégica postura ideopolítica do PSOL nessas eleições municipais. Considero que o voto ideológico da militância crítica, de pessoas cultas, de intelectuais ativistas, artistas e religiosos progressistas no PSOL tem um recado explicito para quem mudou o curso de seus programas de governos à direita.

Isso tem a ver com o vácuo criado pela esquerda institucionalizada, que aos poucos passa a ser ocupada com o fortalecimento de uma esquerda originalmente orgânica que se coloca para a cidade desde meados da primeira década do século XXI.  O recado em forma de advertência vem se tornado cada vez mais forte a cada eleição e conta com o apoio de pessoas não partidárias.

Isto singulariza o crescimento do PSOL como um partido de esquerda com autonomia em relação a esses partidos de centro-esquerda institucionalizados na cidade. Se ergue passo-a-passo numa conjuntura de pós-linchamento moral feito por setores de extrema-direita da burguesia contra partidos, sindicatos e entidades dos movimentos sociais progressistas e de esquerda. Esse marco histórico nos lembra que a extrema-direita não começou agora, mas a partir da sobrevivência da narrativa conservadora depois da derrota eleitoral do presidenciável neoliberal Aécio Neves (PSDB) em 2014.

O voto no PSOL é diferente do voto desideologizado que não se compromete com nenhuma pauta histórica da classe trabalhadora e das lutas sociais pela emancipação das populações periféricas e campesinas subalternizadas pelo capitalismo e sua ordem civil burguesa opressora. Esse voto fluido reflete apenas a posição tênue de manutenção do status quo de quem já possui privilégios. Por isso, prefere se manter solto para circular livremente entre propostas que expressam um desejo ardente de manutenção de poder, em detrimento do voto consciente que cria as condições materiais objetivas para a sobrevivência das populações empobrecidas que estão confinadas nas periferias e zona rural da cidade.

Esse voto líquido, conjunturalmente representado por esse campo ideologicamente mais fluido, se identifica com esses partidos de centro-esquerda com sérias inclinações conciliatórias, sem maiores comprometimentos com as necessárias transformações estruturais de um Estado viciado e corrompido, subserviente ao livre mercado e indiferente com as hostilidades opressoras da sociedade civil burguesa.

Na prática, se traduz na permanecia obsequiosa às elites socioeconômicas, mantendo-se obediente e cordialmente dentro dos limites exigidos pelo falacioso liberalismo da eficiência do Estado mínimo e do mercado máximo, como querem os detratores e perseguidores da esquerda orgânica.

Aliás, é isso o que fazem aqueles pragmáticos despolitizados que comandam a institucionalidade do governo do Estado da Bahia, contra servidores públicos do estado, a classe trabalhadora e as populações subalternizadas. Esses políticos progressistas no discurso, mas neoliberais na prática institucional, expressam exclusivamente o desejo que evidencia o apreço incondicional por candidaturas rarefeitas, baseadas em consensos construídos sem o mínimo de comprometimento ideológico com as lutas sociais.

Esta é a controversa e recusável condição que querem impor ao PSOL, como se o partido tivesse qualquer interesse no trânsito livre entre as alas moderadas de centro-direita que se reivindicam de esquerda para confundir uma população que pouco compreende essas contradições na política brasileira. Mas, não ignoramos o fato de que esse campo ideologicamente flácido neste momento se opõe ao fascismo-miliciano bolsonarista.

No que pese a inevitável crítica a essa fluidez programática que só apadrinha àqueles oportunistas inúteis grudados nas tetas do estado, sobretudo aquele outro à serviço da manutenção da tradicional política exigida pelo liberalismo (social ou econômico),  vê-se em linha geral que esse voto liquido é importante nessa conturbada conjuntura de retrocessos das liberdades democráticas e das conquistas sociais promovida pelo crescimento institucional da extrema-direita de verve fascista.

Contudo, compreende-se que o PSOL não mergulhará nessa aventura da liquidez ideopolítica para abrir mão de sua coerência programática com a esquerda. Não se transformará num trânsfuga de sua própria história, um pária desertor de sua práxis política emancipacionista para se vincular a este ou aquele partido que serve a ordem burguesa só por causa do pontual posicionamento de combate aos fascistas.

Que o faça cada qual em suas próprias fileiras, uma vez que essa posição se torna estratégica e momentaneamente necessária para impedir a consolidação da capilaridade do bolsonarismo no município com a intenção de alavancar uma possível reeleição em 2022.

No campo de visão mais ligado a perspectiva de esquerda, existe uma compressão de que mesmo com essa posição ideologicamente fluida e alinhamento com o centro-direita, percebe-se a possibilidade dessa contraposição ao voto fundamentalista em Herzem Gusmão e David Salomão que representam a genuína extrema-direita na cidade.

Essa oposição circunstanciada se deve a necessidade  de sobrevivência do próprio campo de centro-esquerda, condição exigida para combater este voto fundamentalista com a finalidade de evitar a continuação do clã fascista-miliciano bolsonarista, que tem logrado êxito ao se apresentar a cidade sob a esfinge do conservadorismo patriótico-cristão.

Convenhamos que essa gente não tem absolutamente nada de patriótica ou de cristã e, o maior exemplo disso são os gestos belicosos das mãos como se fossem arminhas é a simbólica réplica da estátua da liberdade na entrada de todas as lojas Havan (do apoiador e financiador da campanha de bolsonaro), símbolo do capitalismo imperialista internacional norte-americano que atua abertamente contra os interesses do Brasil, enquanto nação. Aliás, além de uma religiosidade farisaica esse fundamentalismo tem por finalidade subordinar de modo colonizado a soberania nacional e o povo brasileiro aos interesses imperialista do capital norte-americano.

A população conquistense precisa ser convencida de que esse voto fundamentalista permite ao governo realizar as privatizações, o vilipêndio e o rombo das riquezas da nação; a destruição total do meio ambiente; o fim das liberdades democráticas e de direitos sociais, econômicos e políticos adquiridos com as lutas sociais da classe trabalhadora e das populações marginalizadas das periferias.

Eles estão explorando a simplicidade de nosso povo que ainda não alcança os desdobramentos futuros do voto honesto dado hoje nessas duas candidaturas municipais que se reivindicam herdeiras do bolsonarismo. Essas duas candidaturas representam o movimento nacional de extrema-direita nascidas do golpe de 2016 que empurrou o país para uma crise sem precedentes, uma bancarrota econômica que deixa o país à beira do caos em todas as dimensões da vida socioeconômica e política brasileira.

A sociedade da desinformação criada pelo analfabetismo funcional e político favorece aos políticos lacaios que exploram a inocência de nosso povo simples. Isso ocorre em função de questões estruturais objetivas que eliminam radicalmente nossas populações da vida material e intelectual, condições indispensáveis para compreensão minimamente crítica da gravidade da situação do país. Inclusive, facilitou aos algozes instrumentalizar essas populações contra a esquerda, sobretudo para culpabilizar o PT ou a pandemia do Convid-19.

Nem mesmo os “inteligentes” da academia ficaram imunes a investida da extrema-direita, pois grande parte dessa turma das ciências não se desvencilhara dessa ingrisilha criada para emplacar o discurso anticorrupção, de demonização das massas e criminalização desses partidos de esquerda. Não seria o nosso povo simples (orientados pelo cientifico powerpoint da rede globo), alienados de si mesmo pelos interesses da burguesia que compreenderia a economia a ponto de entender que muito antes da pandemia o Produto Interno Bruto (PIB) de 2019 já apresentava queda de 11,4% no 2º semestre (entre abril e junho) de acordo analistas do Valor Data.

Alcançar o palavreado tecnicista dos economistas do Valor Data que alertavam que o Brasil desde 1996 não havia enfrentado tamanha retração no seu produto interno (PIB) de forma tão acentuada. Certamente, nosso povo simples não iria compreender que essas informações acenavam para uma crise no médio prazo do setor produtivo, em função da política econômica que privilegia multinacionais e a desaceleração do processo industrial do país, com base no sucateamento do parque industrial brasileiro, articulado a uma política cambial que favorece apenas ao aumento das importações, sobretudo de produtos norte-americanos ou seus aliados econômicos.

Por hipótese, suponho empiricamente que o incentivo ao desconhecimento tenha por finalidade motivar a inocência de nosso povo. Isso levaria inevitavelmente a infantilização na política de nossa gente. Isto é perfeitamente compreensível, mas nem mesmo a intelligentsia do establishment questionou essa situação histórica que afeta nosso povo desde sempre. Ao invés disso, internalizaram o discurso do economês da rede globo e bateram o martelo na sentença de que essa situação é algo sem solução.

A tarefa de um partido de esquerda é vocalizar os interesses da classe trabalhadora das populações subalternizadas de pautar as lutas sociais e criar mecanismos que faça a contra informação de modo que a população possa compreender esses movimentos e consiga fazer a devida ligação desse voto com a continuação de todas as mazelas na sociedade.

Mas, o PT e o conjunto de partidos aliados fizeram ao contrário, escamotearam a luta de classes, negaram princípios fundantes da esquerda e realizaram irrefletidamente a “conciliação” entre classes historicamente antagônicas. Induziram a população ao erro de achar que achar que a luta por direitos e as políticas públicas do estado de bem estar social seriam a estação final da humanidade. Os problemas estruturais na sociedade contemporânea, herdados do regime escravocrata persistem e nada fizeram (ou farão) para subverter essa ordem civil burguesa e seu sistema econômico nefasto contra o povo. Só um programa de governo originalmente de esquerda, constituído pelas pautas populares poderão possibilitar a insurgências contra o capital e sua ordem civil burguesa opressora, exploradora e perversamente mantenedora do ódio de classe, do racismo, feminicídio e multifóbica.

 

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Excelente reflexão camarada. Fundamental apontar que o Psol se constitui e constrói na cidade à esquerda, assim como PCB e outras(os) militantes que buscam formas de política que não essa apresentada por uma centro esquerda com flerte até na direita em busca de construções políticas apenas para disputar e vencer eleições. Nossa construção é para além disso, queremos transformações estruturais, embora tenhamos bandeiras e lutas comuns em diversas frentes como a luta contra o fascismo, o racismo e tantos outras práticas espúrias dessa corja que está no poder, mas jamais seremos seguidores das mesmas políticas de conciliação de classe e submissão ao capital rentista e ultraliberal que vem sucateando e precarizando a vida da classe trabalhadora.

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