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KEU SOUZA: Por uma Conquista Negra!
"Esse
é o itinerário de lutas que está repleto de enfrentamentos contra as diversas
formas de exploração e violenta opressão contra a mulher negra trabalhadora em
seu espaço de moradia, laboral e nos diversos outros espaços de poder (público
ou privado) constituído hegemonicamente por homens brancos, judaico-cristãos,
racistas e heteronormativos."
*por
Herberson Sonkha e Davino Nascimento Silva
A força política de Keu Souza, destacada militante do Coletivo Quilombo, um agrupamento interno do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), reside no fato dela ser uma mulher negra, mãe, servidora pública, cantora, feminista, lésbica e de religião de matriz africana. Intrépida, essa perspicaz dirigente atua com plena consciência crítica de mundo, sem se descuidar em nenhum momento de sua pertença negra. Por tudo isso, Keu Souza se tornou uma referência imprescindível na luta política pela emancipação das mulheres, sobretudo da mulher negra conquistense, baiana e brasileira.
Todas
essas características estruturam a militância crítica dessa valorosa feminista,
fazendo parte de sua atuação intelectual qualificada. Com as quais exerce a
atividade política que vocaliza empiricamente o espaço de intervenção do
sujeito histórico social de Keu Souza. Essas experiências acumuladas no
decorrer de sua trajetória, vêm enriquecendo a práxis política
emancipacionista dessa MULHER NEGRA, que se posiciona estrategicamente no
epicentro da luta de classes, alinhada ao movimento revolucionário da classe
trabalhadora e dos movimentos sociais.
O
sentido primevo de suas ações políticas cotidianas é lutar sistematicamente
contra os constantes ataques ultraliberais da extrema-direita
fascista-miliciana às liberdades democráticas, trabalhistas, previdenciárias e
o desmonte das políticas públicas de proteção e promoção para as mulheres
subjugadas pelas condições de múltiplas vulnerabilidades, principalmente as
Mulheres Negras.
A
amplitude e reconhecimento da organicidade de sua militância no PSOL (no
município, no estado e no país), um partido que se coloca na luta do povo
brasileiro sempre à esquerda, é resultado de seu comprometimento ideológico com
as tradicionais bandeiras defendidas originalmente por esse mesmo campo. Isso
faz de Keu Souza uma militante com a singularidade necessária para dialogar com
as forças sociais em processo de organização (ou desorganizadas) no cotidiano
da vida sociopolítica do município marginalizadas por governos neoliberais de
extrema-direita em áreas periféricas, campesinas e quilombolas.
A sua
posição político-partidária bem definida no tabuleiro do xadrez da
sociopolítica, contrária a despolitização da direita praticada pelas elites
liberais burguesas ou a necropolítica do conservadorismo de extrema-direita,
revela de modo incontestável o seu lado no front de batalha e mostra a sua
combatividade em todos os espaços societais, a exemplo de sua atuação
ideopolítica como estudante de História na Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia, campus de Vitória da Conquista.
Sua
trajetória está sinalizada por inúmeras construções de espaços coletivos de
resistência e combate ao capital, pautados pela insurgência ao sistema
capitalista e seu regime econômico baseada no modelo de exploração servil de
mais-valor que brutaliza a humanidade com a maximização da espoliação de força
de trabalho para extração de riquezas, em detrimento de profunda pauperização
material e degradação psicossocial das massas trabalhadoras. Não obstante, essa
mesma sociedade do capital exercer simultânea opressão contra essas populações,
aliás, com violência beligerante de aparelhos coercitivos de Estado para
conformá-las de modo subalterno à ordem civil liberal burguesa – racista,
machista-misógina, xenófoba, multifóbica e patriarcalista.
Esse é
o itinerário de lutas que está repleto de enfrentamentos contra as diversas
formas de exploração e violenta opressão contra a mulher negra trabalhadora em
seu espaço de moradia, laboral e nos diversos outros espaços de poder (público
ou privado) constituído hegemonicamente por homens brancos, judaico-cristãos,
racistas e heteronormativos.
A
conjuntura atual de sucessivas crises para reprodução do capital exige da
política governos com coragem para adotar medidas mais extremistas à direita e
isso vem imprimindo na humanidade essas intensas dores-de-parto (espero que
seja do socialismo). Cria-se tipologias bizarras com comportamento
institucional fascista como esse envelopado no Brasil por forças de
extrema-direita que vem se tornando a principal túnica do capitalismo no mundo
contemporâneo.
No
Brasil a proeminência dessa engenharia política começa com neoliberalismo dos
fernandos (Fernando Collor de Mello-PRN e Fernando Henrique Cardoso-PSDB) entre
os anos de 1990 a 2001. Após um breve intervalo de uma década e meia, retoma-se
de forma agressiva em 2016 com um impeachment montado por representações
políticas das forças do capital (internacional e nacional) imperialista
norte-americano, que possibilita o avanço da agenda neoliberal do golpista
Michel Temer-MDB, aprofundada pelo ultraliberalismo de extrema-direita do
fascista-miliciano Jair Bolsonaro-PSL a partir de 2018.
Esses
diligentes governos de extrema-direita instaurados pelas elites brasileiras
depois do golpe, agiram a serviço da ideologia capitalista que é sustentada por
uma teoria etnocêntrica baseada na ideia de pseudoautoridade exercida por
grupos supremacistas, única capaz de comandar as múltiplas relações de poder no
mundo (público e privado).
Para
além desse diminuto espectro burguês que hegemoniza toda a sociedade
contemporânea, amparada pelo paradigma irreversível de sociedade da exclusão,
da pobreza, da miséria e do medo, subsistem a classe trabalhadora e as
populações subalternizadas, classificadas pejorativamente pelas elites como
horda inútil.
Esse
discurso liberal antigório de indolência da classe trabalhadora e das populações
subalternizadas serve para justificar a ideia de estado-mínimo, com
aquiescência da intelectualidade da classe média de afirmar que o Estado é um
monstrengo (Leviatã) que hospeda corruptos que aumentam descontroladamente as
despesas com o social. Por isso, não tem qualquer serventia mínima que
justifique o “astronômico” investimento na forma de financiamento de políticas
reparatórias, de proteção e de promoção social.
A
burguesia liberal encontrou a melhor forma de exercer a dominação,
transformando ideologicamente a massa trabalhadora e as populações em escória
de inúteis, portanto sujeitas sem nenhum direito a reclamar da brutalização
socioeconômica e política importa pela classe dominante (as elites atrasadas).
As mulheres triplamente exploradas e oprimidas devem ser criminosamente
silenciadas com a finalidade de coagi-las a aceitarem “docilmente” a tais
circunstancias degradantes. As vítimas se tornam invisíveis diante da sinistra
“naturalização” do espetáculo do horror que impõe formas brutalizadas de
dominação das mulheres.
Tudo
isso é internalizado com a maior tranquilidade pelos homens como sendo apenas
um pequeno sacrifício necessário para a “honra e glória” do reino dos machos,
preterindo a parte dos atributos inerentes a própria natureza do processo de
reprodução, alienação, coisificação necessárias ao desenvolvimento do
capitalismo. Dessa maneira, alimenta-se o senso-comum com esse veneno como se
fosse um mal “necessário”, convenientemente compatível com a cultura
patriarcal. Aliás, patriarcalismo nada mais é do que o alheamento criminoso da
dominação misógina-machista das mulheres com base em maus-tratos, exploração,
expropriação, racismos, opressão, estupro e feminicídio.
Nem
mesmo as irrefutáveis marcas da violência (psicológica, física, emocionais e
morais), visivelmente tatuadas brutalmente no corpo de uma mulher conseguem
despertar à consciência crítica das mentes mais brilhantes acerca dos males da
civilização burguesa, desiderato dos machos-monstros que se estabelecem impondo
a sua selvageria. Mais emblemáticas são aquelas violências simbólicas
praticadas sem palavras e sem gritos, apenas com gestos, olhares e o silencioso
exercício do poder de opulência reputam e condenam milhões de mulheres ao
confinamento em relações perversamente sutis do patriarcado, instituídas pela
ala dos que têm instrução escolar superior e muito dinheiro.
Esses
aspectos são praticamente imperceptíveis para muitas mulheres porque ganham
dimensão psicossocial com a vantagem de se propagar por meio de sólidos aquedutos
ideológicos quase indestrutíveis, quando não são compreendidos. E na maioria
das vezes não são alcançados por parcelas significativas das mulheres por uma
questão objetiva: as mulheres, sobretudo as mulheres negras foram ao longo de
toda a trajetória desse país violenta e efetivamente excluídas do acesso a vida
material e intelectual.
Por
isso, as mulheres ainda são vulneráveis a esses agentes ideológicos que cumprem
o papel programado pelo patriarcalismo de plugar mentes e corações fragilizados
na mesma frequência onde inocula e modula o medo, escamoteado como consciência
do perigo, antes um mecanismo de dominação.
Essa
central invisível de comando do patriarcado emite pulsões diárias para
fragilizar as estruturas psicoemocionais, para subverter a consciência crítica
do real e a faculdade (analítica comparativa entre o real e ilusório) de
insurgir-se contra o sistema e toda e qualquer forma de opressão, alienação e
coisificação da mulher trabalhadora negra e das populações subalternizadas.
O
patriarcado é um nefando sistema psicossocial mantido pelo primado masculino
que as tornam fragilizadas e suas inquietações quase inaudíveis. Essa sensação
de não serem percebidas por estarem involuntariamente confinadas no calabouço
causam nas mulheres um sentimento de incapacidade, desenvolvendo um tipo de
mecanismo de defesa que comprometem a criticidade de suas percepções cognitivas
e sensoriais, de modo que as subordinam automaticamente ao modo de vida
atemorizado, temendo a própria vida.
Na
maioria das vezes passam a assumir de maneira arbitraria a tarefa de reproduzir
as expectativas e interesses ideopolítico de quem sempre existiu como classe
opressora dominante, apenas para sobrevier. No que pese a importância de
coexistir narrativas críticas que se contrapõe esse criminoso sistema arcaico
do primado masculino, é preciso construir urgentemente espaços e lutas que
organizem as mulheres contra essa nefasta hegemonia.
A
égide dessa elite liberal burguesa consiste em comandar na base da força bruta
e da opulência econômica, estendida para política institucional no sentido de
burlar o Estado para impedir que ele exerça seu papel de poder coercitivo para
classificar como crime hediondo e extirpar essas diversas práticas de
violências e o feminicídio da vida em sociedade.
Não há
outro caminho senão a radicalização da luta das mulheres negras contra o
sistema capitalista e sua ordem civil liberal burguesa, cuja etiologia revela a
natureza do domínio do patriarcado machista-misógino. Além de organizar as
mulheres para disputar essa hegemonia, vislumbra-se a possibilidade real de
crescimento de lideranças imprescindíveis para assumir esse processo e ocupar
todos os espaços de poder.
É
nesse complexo mundo comandado por homens brancos patriarcais que a dirigente
do Coletivo Feminista Obá Elekó se mostra preparada, combativa e pronta pera
fazer o enfrentamento ao establishment liberal burguês capitalista e seu
estamento machista-misógino, convencendo-nos de que é perfeitamente possível
romper com esse domínio a partir da desconstrução diária da ação militante.
Essa intervenção política factível das
mulheres, no âmbito da esquerda orgânica, poderá se estender à
institucionalidade visando esgarçar essa modelagem de democracia liberal
burguesa formal que não alcança essencialmente as mulheres negras. Esse
movimento de mulheres deve construir a participação efetiva das mulheres por
meio de um projeto bem definido de sociedade, sobretudo para disputar um pleito
eleitoral sem amarras com o campo ultraconservador, com a direita liberal e nem
com conchavos com um suposto campo de esquerda progressista bastante conhecida
na cidade porque atua há mais de duas décadas.
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*Davino Nascimento Silva é
docente da rede pública municipal e estadual, Ogã da casa Ilê Axé Kossíonilê de
Pai Cely, poeta, compositor e linguista graduado em Letras pela UESB, campus de
Jequié. Estudou ensino médio em Jequié no IERP e na Emarc de Uruçuca. O
professor Davino Nascimento foi vice-presidente do Sindicato do Magistério
Municipal Público de Vitória da Conquista (SIMMP) e milita no Coletivo
Quilombo, agrupamento do Partido Socialismo e Liberdade – PSOL.
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