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sábado, 12 de setembro de 2020

KEU SOUZA: Por uma Conquista Negra!

"Esse é o itinerário de lutas que está repleto de enfrentamentos contra as diversas formas de exploração e violenta opressão contra a mulher negra trabalhadora em seu espaço de moradia, laboral e nos diversos outros espaços de poder (público ou privado) constituído hegemonicamente por homens brancos, judaico-cristãos, racistas e heteronormativos."

 

*por Herberson Sonkha e Davino Nascimento Silva

 

A força política de Keu Souza, destacada militante do Coletivo Quilombo, um agrupamento interno do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), reside no fato dela ser uma mulher negra, mãe, servidora pública, cantora, feminista, lésbica e de religião de matriz africana. Intrépida, essa perspicaz dirigente atua com plena consciência crítica de mundo, sem se descuidar em nenhum momento de sua pertença negra. Por tudo isso, Keu Souza se tornou uma referência imprescindível na luta política pela emancipação das mulheres, sobretudo da mulher negra conquistense, baiana e brasileira.

Todas essas características estruturam a militância crítica dessa valorosa feminista, fazendo parte de sua atuação intelectual qualificada. Com as quais exerce a atividade política que vocaliza empiricamente o espaço de intervenção do sujeito histórico social de Keu Souza. Essas experiências acumuladas no decorrer de sua trajetória, vêm enriquecendo a práxis política emancipacionista dessa MULHER NEGRA, que se posiciona estrategicamente no epicentro da luta de classes, alinhada ao movimento revolucionário da classe trabalhadora e dos movimentos sociais. 

O sentido primevo de suas ações políticas cotidianas é lutar sistematicamente contra os constantes ataques ultraliberais da extrema-direita fascista-miliciana às liberdades democráticas, trabalhistas, previdenciárias e o desmonte das políticas públicas de proteção e promoção para as mulheres subjugadas pelas condições de múltiplas vulnerabilidades, principalmente as Mulheres Negras.

A amplitude e reconhecimento da organicidade de sua militância no PSOL (no município, no estado e no país), um partido que se coloca na luta do povo brasileiro sempre à esquerda, é resultado de seu comprometimento ideológico com as tradicionais bandeiras defendidas originalmente por esse mesmo campo. Isso faz de Keu Souza uma militante com a singularidade necessária para dialogar com as forças sociais em processo de organização (ou desorganizadas) no cotidiano da vida sociopolítica do município marginalizadas por governos neoliberais de extrema-direita em áreas periféricas, campesinas e quilombolas.

A sua posição político-partidária bem definida no tabuleiro do xadrez da sociopolítica, contrária a despolitização da direita praticada pelas elites liberais burguesas ou a necropolítica do conservadorismo de extrema-direita, revela de modo incontestável o seu lado no front de batalha e mostra a sua combatividade em todos os espaços societais, a exemplo de sua atuação ideopolítica como estudante de História na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, campus de Vitória da Conquista. 

Sua trajetória está sinalizada por inúmeras construções de espaços coletivos de resistência e combate ao capital, pautados pela insurgência ao sistema capitalista e seu regime econômico baseada no modelo de exploração servil de mais-valor que brutaliza a humanidade com a maximização da espoliação de força de trabalho para extração de riquezas, em detrimento de profunda pauperização material e degradação psicossocial das massas trabalhadoras. Não obstante, essa mesma sociedade do capital exercer simultânea opressão contra essas populações, aliás, com violência beligerante de aparelhos coercitivos de Estado para conformá-las de modo subalterno à ordem civil liberal burguesa – racista, machista-misógina, xenófoba, multifóbica e patriarcalista.

Esse é o itinerário de lutas que está repleto de enfrentamentos contra as diversas formas de exploração e violenta opressão contra a mulher negra trabalhadora em seu espaço de moradia, laboral e nos diversos outros espaços de poder (público ou privado) constituído hegemonicamente por homens brancos, judaico-cristãos, racistas e heteronormativos.

A conjuntura atual de sucessivas crises para reprodução do capital exige da política governos com coragem para adotar medidas mais extremistas à direita e isso vem imprimindo na humanidade essas intensas dores-de-parto (espero que seja do socialismo). Cria-se tipologias bizarras com comportamento institucional fascista como esse envelopado no Brasil por forças de extrema-direita que vem se tornando a principal túnica do capitalismo no mundo contemporâneo.

No Brasil a proeminência dessa engenharia política começa com neoliberalismo dos fernandos (Fernando Collor de Mello-PRN e Fernando Henrique Cardoso-PSDB) entre os anos de 1990 a 2001. Após um breve intervalo de uma década e meia, retoma-se de forma agressiva em 2016 com um impeachment montado por representações políticas das forças do capital (internacional e nacional) imperialista norte-americano, que possibilita o avanço da agenda neoliberal do golpista Michel Temer-MDB, aprofundada pelo ultraliberalismo de extrema-direita do fascista-miliciano Jair Bolsonaro-PSL a partir de 2018.

Esses diligentes governos de extrema-direita instaurados pelas elites brasileiras depois do golpe, agiram a serviço da ideologia capitalista que é sustentada por uma teoria etnocêntrica baseada na ideia de pseudoautoridade exercida por grupos supremacistas, única capaz de comandar as múltiplas relações de poder no mundo (público e privado).

Para além desse diminuto espectro burguês que hegemoniza toda a sociedade contemporânea, amparada pelo paradigma irreversível de sociedade da exclusão, da pobreza, da miséria e do medo, subsistem a classe trabalhadora e as populações subalternizadas, classificadas pejorativamente pelas elites como horda inútil.

Esse discurso liberal antigório de indolência da classe trabalhadora e das populações subalternizadas serve para justificar a ideia de estado-mínimo, com aquiescência da intelectualidade da classe média de afirmar que o Estado é um monstrengo (Leviatã) que hospeda corruptos que aumentam descontroladamente as despesas com o social. Por isso, não tem qualquer serventia mínima que justifique o “astronômico” investimento na forma de financiamento de políticas reparatórias, de proteção e de promoção social.

A burguesia liberal encontrou a melhor forma de exercer a dominação, transformando ideologicamente a massa trabalhadora e as populações em escória de inúteis, portanto sujeitas sem nenhum direito a reclamar da brutalização socioeconômica e política importa pela classe dominante (as elites atrasadas). As mulheres triplamente exploradas e oprimidas devem ser criminosamente silenciadas com a finalidade de coagi-las a aceitarem “docilmente” a tais circunstancias degradantes. As vítimas se tornam invisíveis diante da sinistra “naturalização” do espetáculo do horror que impõe formas brutalizadas de dominação das mulheres.

Tudo isso é internalizado com a maior tranquilidade pelos homens como sendo apenas um pequeno sacrifício necessário para a “honra e glória” do reino dos machos, preterindo a parte dos atributos inerentes a própria natureza do processo de reprodução, alienação, coisificação necessárias ao desenvolvimento do capitalismo. Dessa maneira, alimenta-se o senso-comum com esse veneno como se fosse um mal “necessário”, convenientemente compatível com a cultura patriarcal. Aliás, patriarcalismo nada mais é do que o alheamento criminoso da dominação misógina-machista das mulheres com base em maus-tratos, exploração, expropriação, racismos, opressão, estupro e feminicídio.

Nem mesmo as irrefutáveis marcas da violência (psicológica, física, emocionais e morais), visivelmente tatuadas brutalmente no corpo de uma mulher conseguem despertar à consciência crítica das mentes mais brilhantes acerca dos males da civilização burguesa, desiderato dos machos-monstros que se estabelecem impondo a sua selvageria. Mais emblemáticas são aquelas violências simbólicas praticadas sem palavras e sem gritos, apenas com gestos, olhares e o silencioso exercício do poder de opulência reputam e condenam milhões de mulheres ao confinamento em relações perversamente sutis do patriarcado, instituídas pela ala dos que têm instrução escolar superior e muito dinheiro.

Esses aspectos são praticamente imperceptíveis para muitas mulheres porque ganham dimensão psicossocial com a vantagem de se propagar por meio de sólidos aquedutos ideológicos quase indestrutíveis, quando não são compreendidos. E na maioria das vezes não são alcançados por parcelas significativas das mulheres por uma questão objetiva: as mulheres, sobretudo as mulheres negras foram ao longo de toda a trajetória desse país violenta e efetivamente excluídas do acesso a vida material e intelectual.

Por isso, as mulheres ainda são vulneráveis a esses agentes ideológicos que cumprem o papel programado pelo patriarcalismo de plugar mentes e corações fragilizados na mesma frequência onde inocula e modula o medo, escamoteado como consciência do perigo, antes um mecanismo de dominação.

Essa central invisível de comando do patriarcado emite pulsões diárias para fragilizar as estruturas psicoemocionais, para subverter a consciência crítica do real e a faculdade (analítica comparativa entre o real e ilusório) de insurgir-se contra o sistema e toda e qualquer forma de opressão, alienação e coisificação da mulher trabalhadora negra e das populações subalternizadas.

O patriarcado é um nefando sistema psicossocial mantido pelo primado masculino que as tornam fragilizadas e suas inquietações quase inaudíveis. Essa sensação de não serem percebidas por estarem involuntariamente confinadas no calabouço causam nas mulheres um sentimento de incapacidade, desenvolvendo um tipo de mecanismo de defesa que comprometem a criticidade de suas percepções cognitivas e sensoriais, de modo que as subordinam automaticamente ao modo de vida atemorizado, temendo a própria vida.

Na maioria das vezes passam a assumir de maneira arbitraria a tarefa de reproduzir as expectativas e interesses ideopolítico de quem sempre existiu como classe opressora dominante, apenas para sobrevier. No que pese a importância de coexistir narrativas críticas que se contrapõe esse criminoso sistema arcaico do primado masculino, é preciso construir urgentemente espaços e lutas que organizem as mulheres contra essa nefasta hegemonia.

A égide dessa elite liberal burguesa consiste em comandar na base da força bruta e da opulência econômica, estendida para política institucional no sentido de burlar o Estado para impedir que ele exerça seu papel de poder coercitivo para classificar como crime hediondo e extirpar essas diversas práticas de violências e o feminicídio da vida em sociedade.

Não há outro caminho senão a radicalização da luta das mulheres negras contra o sistema capitalista e sua ordem civil liberal burguesa, cuja etiologia revela a natureza do domínio do patriarcado machista-misógino. Além de organizar as mulheres para disputar essa hegemonia, vislumbra-se a possibilidade real de crescimento de lideranças imprescindíveis para assumir esse processo e ocupar todos os espaços de poder. 

É nesse complexo mundo comandado por homens brancos patriarcais que a dirigente do Coletivo Feminista Obá Elekó se mostra preparada, combativa e pronta pera fazer o enfrentamento ao establishment liberal burguês capitalista e seu estamento machista-misógino, convencendo-nos de que é perfeitamente possível romper com esse domínio a partir da desconstrução diária da ação militante.

 Essa intervenção política factível das mulheres, no âmbito da esquerda orgânica, poderá se estender à institucionalidade visando esgarçar essa modelagem de democracia liberal burguesa formal que não alcança essencialmente as mulheres negras. Esse movimento de mulheres deve construir a participação efetiva das mulheres por meio de um projeto bem definido de sociedade, sobretudo para disputar um pleito eleitoral sem amarras com o campo ultraconservador, com a direita liberal e nem com conchavos com um suposto campo de esquerda progressista bastante conhecida na cidade porque atua há mais de duas décadas.

 

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*Davino Nascimento Silva é docente da rede pública municipal e estadual, Ogã da casa Ilê Axé Kossíonilê de Pai Cely, poeta, compositor e linguista graduado em Letras pela UESB, campus de Jequié. Estudou ensino médio em Jequié no IERP e na Emarc de Uruçuca. O professor Davino Nascimento foi vice-presidente do Sindicato do Magistério Municipal Público de Vitória da Conquista (SIMMP) e milita no Coletivo Quilombo, agrupamento do Partido Socialismo e Liberdade – PSOL. 

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